Si hortum in biblioteca habes deerit nihil

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14 de março de 2012

O Que viu Lady Jackson?



                                    
                                                 Imagens de Portugal rural da época, retratadas pelo percursor
                                                 do Naturalismo em Portugal - Silva Porto

As uvas de Porto da Lage que Lady Jackson admirou

Chegamos a Payalvo (Paialvo) estação da interessantissima cidadesinha de Thomar. Os arrabaldes são bonitos, com graciosas estradas enverdecidas, e toda a campina em redor ás ondulações graciosas. O arvoredo é magnifico. Como os olhos se refrigeram n'aquellas copas de folhagens! A terra faz muita differença do que é lá para Santarem. Aqui não ha aquelle faiscar cauzado pelas scintillações do saibro branco tão incommodas para a vista. Feracissima vegetação, flores e fructos por toda a parte em abundância. Desejava que visse os esplendidos cachos de uvas que comprei n'esta estação, a uma rapariga rozada, de ollios ardentes e chapéu desabado e empennachado de murtha e cravos. O cacho estava mais perto de pesar dous arráteis que um. Os bagos todos perfeitos e grandes, verdes e levemente tintos de azul. «Quanto é?» perguntei eu quando ella m'o chegou a portinhola da carruagem, «é uma pataca, minha senhora». Uma pataca é quarenta reis.

Eu poderia obte-lo por trinta, se regateasse, mas apenas encolhi os hombros, a la portugaise, e respondi: «Caro, muito caro».                                    Ao que ella redarguiu com razão:« Porém, é tão boa». Estufa nenhuma ainda produziu mais perfeita pintura, nem mais delicioso sabor. Tencionara eu, n'esta direcção, estender a minha viagem a Thomar, que contém diversos edifícios antigos, e outras relíquias do passado.
Trecho de «A Formosa Lusitânia» por Lady Jachson,  tradução de Camilo Castelo Branco1878

Lady Jackson em Porto da Lage em 1873

Em 1873, de Junho a Outubro, Catherine Charlotte Jackson viaja por Portugal.
Das suas impressões sobre o nosso país resulta um livro "Fair Lusitânia" que será traduzido para português por Camilo Castelo Branco.
Também Porto da Lage faz parte deste "livro digno e honrado", como lhe chamou aquele escritor, embora o considere cheio de "inexactidões" e "excentricidades".

Gervásio Lobato em Porto da Lage em 1885


"Finalmente, como tudo passa n'este mundo, passaram-se os vinte minutos d'espera do Entroncamento e d'alli a coisa d'um quarto d'hora chegavamos a antiga estação de Payalvo, agora tão abreviada por Thomar que ate Ihe tirou o seu velho nome, e apeavamo-nos a correr.
A estação é pobre e modestissima.
A porta, - do outro lado - estacionam tres char-a-bancs medonhos, cremos que ainda da epocha dos templarios, e onde uns conductores mal vestidos accomodavam os passageiros com o mesmo carinho como que em Nantes se accomodavam sardinhas em latas.



char-a-banc
Com menos ainda, porque os fabricantes das conservas fazem certo capricho em que as suas sardinhas fiquem bem acariciadinhas e os homens do char-abancs importavam-se pouco com isso.
Gragas a Deus, e a um barbeiro da travessa da Victoria nós tinhamos mandado prevenir o Prista, o dono do melhor hotel de Thomar, para que enviasse à estação umas carruagens.
Essas carruagens são boas, commodas, tem bom

gado e fazem excellente serviços

A estrada da estação de Payalvo a Thomar é uma bella estrada real, cheia de excellentes pontos de vista, mas parece que não tem fim.
E comprida como o demónio, o caminho da estação à cidade, e ao cabo de boa meia hora de andar a bom andar, chegamos à cidade
".[extracto do artigo "Três dias em Thomar" publicado na revista "O Occidente"-1885] 

A Fonte 2

Hoje, já não somos, nem nos julgamos, obrigados a agradecer ...só desrespeitamos...

A Fonte 1

Num tempo  em que, apesar do esforço ser nosso, ainda se agradecia respeitosamente (a quem de direito?) ....

A Fonte

A fonte foi construída por iniciativa da população, para prover às suas necessidades.