Si hortum in biblioteca habes deerit nihil

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5 de maio de 2013

Recordações da Nossa Aldeia


(continuação)

Quem se lembrará do “Pena Verde”? Penso que o Henrique João Mota não se esqueceu desse brinquedo que ele conduzia com quinze anos. Esse carrito verde pertencia ao empregado da União Fabril, mas por razões desagradáveis deixou de lhe pertencer. Quem ficou com o dito “Pena Verde” foi o fiador que era tio do Henrique João. Como o fiador não tinha garagem o brinquedo foi para casa do irmão. Lembra-me de uma ocasião o “Pena Verde” passar à minha casa conduzido pelo Henrique João e levava um tal senhor Quintas idoso reformado da CP, penso que o irmão do condutor, o Augustito ou outro dos mais novos também ia no carro a caminho do Paço da Comenda. Este Henrique João era o menino da terra assim como o irmão Augustito. Eram os dois primeiros filhos do médico.
Os rapazes da época já eram devotos de jogar à bola, mas não tinham espaço livre onde pudessem chutar com toda a força. Juntavam-se numa estrada sem saída que servia a estação dos comboios, a farmácia e um estabelecimento de comércio geral.
Um dia à hora errada eu precisei de lá passar, apanhei com uma bolada nas costas que até vi estrelas. Mas nenhum jogador teve a educação de pedir desculpa. Eu é que não devia passar porque os meninos estavam a jogar.
Nesse mesmo local uns dez anos antes dois garotos, o Henrique António e o Zeca Brás cada um no seu triciclo faziam gincanas em círculos. Eram os únicos meninos que tinham a felicidade de possuir um triciclo.
                                          

Outro divertimento dos rapazes era mandar cartas pelo Carnaval. A vítima desta vez foi uma rapariga magra, alta, de 22 anos, de ar empertigado, muito senhora do seu nariz. Ora uma noite pelo Carnaval os rapazes estavam em amena cavaqueira junto ao espaço da bola, quando apareceu a esvoaçar uma borboleta escura e maior do que o normal.
 
O grupo compunha-se de sete rapazes com várias idades o mais novo talvez com quinze anos. Cada um deu uma opinião sobre o destino a dar ao animalzinho nocturno. Entre todos resolveram meter a borboleta numa carta e escrever uma dedicatória em versos e enviá-la à tal rapariga.
 
(continua)