Si hortum in biblioteca habes deerit nihil

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8 de maio de 2013

Histórias de Porto da Lage



A ÚLTIMA CORRIDA...DE BURROS EM...PORTO DA LAGE


Não foi a última nem a primeira. Não houve mais nenhuma porque, no encerramento, houve quem se sentisse despeitado na sua condição de adulto, industrial e chefe de família. Outros sentiram-se enganados e reagiram com atitudes insultuosas. No entanto, aqui vai o relato do acontecimento datado do Verão do ano de 1934 ou 1935. Para quem irá lê-lo, não terá qualquer importância. O objectivo é retratar um pouco a maneira de estar das gentes de Porto da Lage, desses anos já tão afastados.

O Centro Cultural, Social e Recreativo de Porto da Lage ou, mais simplesmente, Grémio de Porto da Lage, foi inaugurado em 1933; para festejar a efeméride a direcção, encabeçada por um Dinâmico e prestigiado portalegence (do que eles se haviam de lembrar!) programou e enviou arautos – os cartazes eram dispendiosos – pelas povoações vizinhas anunciando uma corrida de burros tendo como prémio uma albarda de luxo confeccionada por um famoso albardeiro.















Local aproximado da meta



 

















À hora do dia marcado de um Domingo, compareceram os poucos concorrentes dispostos a conquistar o valioso prémio. Seriam rapazes já bem crescidos de algures. O local da concentração das montadas e condutores era na estrada, de fronte do portão da padaria, assim como a meta de partida e chegada.

Como local reservado para um pequeno número de espectadores, havia um pequeno patamar de lajes da frente da casa que ladeava o “burricódromo”. 


Alinhados os “puro-sangues”, aos quais se juntou à última da hora o burro da padaria, único concorrente da terra, foi dado de viva voz o início da corrida. Lá partiram muito contrariados na direcção da ponte de cimento onde retornavam à meta.
O primeiro burro a chegar foi o do padeiro, como já se esperava. Tinha a morada oficial mesmo ao lado da meta...


Terminada a corrida, seguia-se a entrega do troféu. Para isso, o local mais apropriado era o salão do Grémio, ali muito perto. Para lá se dirigiram os organizadores, os participantes e o escasso público. Chegados que estão, o presidente da assembleia sobe ao patamar do palco, confirma o vencedor e exibe o prémio: uma minúscula miniatura de uma albarda! Os participantes não gostaram da brincadeira e o vencedor muito menos. Ouviram-se “raios e coriscos” e juramentos eternos.

Muitos anos depois, a miniatura da albarda conserva-se dentro dum armário-estante, num pequeno compartimento ao lado do palco. (Ilidio Mota Teixeira)