Si hortum in biblioteca habes deerit nihil

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2 de setembro de 2013

Recordar é Matar Saudades 6

                                Serenata a Fungalvaz

No inicio do Grémio a juventude masculina andava muito motivada com a cultura. Havia quem os estimulasse. Então, talvez por volta de 1935 ou 36 formaram um grupo de alunos de música. Violinos, guitarras, violas, cavaquinho e não sei que mais. Quando os futuros elementos da banda de Porto da Lage já sabiam arrancar os sons dos seus instrumentais combinaram ir uma noite até uma povoação que se chama Fungalvaz que dista daqui uns três quilómetros.
O que iam os jovens de Porto da Lage fazer a Fungalvaz de noite? Uma serenata às jovens de lá!
Mas correu muito mal! Os jovens de lá não aceitaram a visita dos vizinhos românticos. Correram-nos com pedras e paus.
Os nossos para lá foram estrada fora, no regresso vieram a corta-mato, camuflados com as hortas e vinhas. Um perdeu o arco do violino, outro estragou a guitarra. Chegaram a porto salvo arranhados e rotos.
Esses jovens hoje teriam cem anos, uns mais outros menos. O meu irmão este ano completava 90 anos, era dos mais novos, não sei se participou nesta serenata. O seu violino esteve intacto muitos anos em casa dos pais, levaram-no para o Porto e não sei que caminho levou.
Não sei as letras das canções desta época mas recordo-me de ouvir as minhas irmãs mais velhas cantarolar: “ A chita da minha blusa já não se usa…”, outra era a do Zé Ninguém …”Soldado lá das trincheiras, se vires o porta-bandeira …, outra ainda “…oh Ribatejo pai do meu Tejo, já te não vejo sempre a cantar…”
Ainda hoje quando há programas de canções de sempre volto à minha infância tão distante! (Dulcinda Mota Teixeira)


Fungalvaz by night (foto tirada da net). Haveria luar naquela noite?