Si hortum in biblioteca habes deerit nihil

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8 de outubro de 2013

Largo da Estação


Nas duas décadas de 1930 1940, este largo foi ao centro da actividade económica da pequena população que emergiu com chegada do comboio na segunda metade do século XIX.

À sua volta estabeleciam-se uma oficina de barbearia, um estabelecimento, bem amplo, com venda de produtos de mercearia, vinho, posto de correio e telefone, uma outra mercearia também muito bem implantada, uma farmácia com técnico farmacêutico permanente, um depósito-armazém de adubos e uma pequena loja de panos com um armazém de sal anexo.



Algumas casa do "largo" hoje.


O movimento que por aqui se fazia era de notar. Passageiros que chegavam e outros que partiam, mercadorias chegavam consignadas à destilaria do álcool, ao forno de tijolo ou cerâmica de barro vermelho, ao armazém do sal, ao depósito de adubos, um ou outro vagão com fardos de palha para alimento de animais. Da região do Pombal chegavam também vagões com desperdícios das serrações de madeira, para serem queimados nos fornos da padaria da cerâmica.

Das povoações vizinhas - Outeiros, do concelho de Torres Novas, vinham os peleiros com os saldos dos animais que não haviam conseguido colocar durante o mercado semanal de Tomar. Traziam cabritos, coelhos e galinhas. Quando conseguiam comprador, que não era fácil, matavam o animal, penduravam-no nas grades de ferro, esfolavam-no e tirava-lhe as vísceras, que davam aos cães que por ali vagueassem. Estes negociantes, geralmente rapazes entre os 15 e os 20 anos, deslocavam-se cavalgando asnos, de aldeia em aldeia, pregoando a compra de peles, ceras, metais, trapos, lãs e outras sucatas.


Largo da estação nos anos 80 (o mais antigo que consegui arranjar)
 


Ainda no largo da estação nos anos de 30, estacionava algumas vezes nas tardes de sábado, um automóvel dos anos de 20, que vinha de Tomar. Sobre banco de trás trazia um estrado de madeira com alguma carne de bovino. Quando chegava tocava uma corneta. Trazia uns ossos que temperavam muito bem a sopa de massa que se comia ao domingo.


Largo da Estação hoje.






Nos anos de 1943 e 1944, em pleno conflito mundial de 39/45, a estação de Paialvo teve movimento extra com candongueiros que vinham do Porto e outros que se dirigiam a Lisboa.

 Vinham em pequenos grupos nos comboios da madrugada, com uma ou duas malas de viagem para ocultarem as embalagens que traziam dentro. Abasteciam-se onde melhor lhes parecia e partiam no comboio que os levasse ao Porto. Algumas vezes eram perseguidos pelos fiscais da Intendência Geral de Abastecimentos que lhes aprendiam o que transportavam. O exercício da candonga era arriscado mas compensava. (Ilídio Mota Teixeira)