Si hortum in biblioteca habes deerit nihil

Si hortum in biblioteca habes deerit nihil
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14 de março de 2015

Dia de Aniversário

Frederick Daniel Hardy (1827-1911)- Baby's Birthday (1867)

-Sobre Porto da Lage? Mas o que é que há a dizer sobre Porto da Lage? -Espantava-se um jovem quando transmiti a minha ideia peregrina sobre o blog. Hoje, três anos passados sobre o primeiro post, sou eu quem se espanta por ainda aqui andar. É certo que nem sempre o que aqui se publica é sobre Porto da Lage, que, às vezes, não resisto e lá me desliza o pé para a chinela daquilo que me rodeia. Uma inevitabilidade de estarmos vivos e de termos esta tendência para pensarmos e mostrar a nossa opinião. Mas enfim, faço por me conter e a maioria dos posts são sobre o tema e se não são, paciência, afinal quem manda sou eu. Outro motivo para a "duração" do blog são os longos períodos de intervalo; afinal, em três anos só foram publicados 290 posts (estatística do blog diz, e eu acredito), o que, feitas as contas para mostrar serviço, até nem seria assim tão mau, equivalendo, sensivelmente, à saída de um post de quatro em quatro dias (estatística minha que vale muito pouco pois este é um dos casos em que a média não se aplica, por não representar quase nada). As "paragens" foram, de facto, longas e só não se tornaram definitivas graças a quem me lê. Não fosse o interesse manifestado por quem faz o favor de acompanhar este blog e ele já teria chegado ao seu destino.
Dei inicio a este blog porque tinha recolhido um pequeno acervo sobre as origens de Porto da Lage e sobre a estação de Paialvo e achava que devia partilhá-lo.
Porto da Lage é um dos casos raros do nosso velho Portugal, uma povoação da qual, escarafunchando bem, quase se pode saber em que dia nasceu. É um produto da revolução industrial, do tardio desenvolvimento dos transportes, do Fontismo, depois, do condicionamento industrial do Estado Novo. Num país como o nosso, onde as preocupações com as origens mais recentes ascendem aos Godos e as mais antigas aos dinossauros (não, não estou a confundir as coisas, na história de todos os dias, já não se estabelece diferença entre gente e "não gente"), questões destas são irrelevantes. Ao contrário dos países novos da América e da Austrália, por exemplo. Basta procurar na net para encontrarmos inúmeros blogs com a história de cidadesinhas brasileiras, nascidas no sec.XIX, em que, para eles uma velha fotografia ou um ferrolho de porta é uma peça histórica de valor incalculável.
Este meu interesse "académico" por Porto da Lage, que se esgotaria em pouco tempo porque eu pouco mais teria a dizer, foi, felizmente, acompanhado pelas emoções e pela memória de quem lia o blog. Embora este blog não seja, não quero que seja, "um roteiro da saudade" (será "de memórias" senão puder ser outra coisa - o facto de não viver em Porto da Lage dificulta trazer para aqui coisas do presente) pois recuso-me a meter Porto da Lage algures, noutra dimensão, e pôr este blog a fazer  de máquina do tempo para lá ir em visita. Porto da Lage existe no espaço e teve, tem e terá uma vida, como todos nós, que se desenvolve no tempo. Não existe no tempo de quem lá viveu esse tempo. Ou existirá, mas eu não partilho essa vivência. Por isso digo que este blog não é "um roteiro da saudade", não porque tenha qualquer hostilidade contra a saudade ou contra quem tem saudades. Exemplo vivo desta forma de ver as coisas é, já o disse aqui, Dulcinda Mota Teixeira, com uma memória prodigiosa sobre Porto da Lage e uma profunda preocupação com Porto da Lage e há mais como ela, afinal de contas Porto da Lage é habitada, não é propriamente Pompeia.
Expressa a origem do blog e a sua intenção, que ainda não tinha aqui referido, resta-me agradecer a todos os que contribuíram para que ele se mantenha. A todos os que enviaram comentários, sugestões e felicitações, quer directamente para o blog quer de outras formas, muito, muito obrigada, espero não os vir a desiludir. Aos que colaboraram, também agradeço, reconhecida, o esforço e a generosidade. Não posso, ainda, deixar de mencionar três pessoas especiais: os irmãos Dulcinda e Ilídio Mota Teixeira que, com as suas crónicas, não deixaram morrer este blog em determinado momento e H.C.M (como nunca sei como hei-de escrever, primo, desta vez vai com siglas) que, com a sua simpatia, várias vezes me incentivou a continuar. Bem hajam todos.(MFM)