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24 de outubro de 2016

II As Azenhas

II- As Azenhas


A ribeira da Beselga no seu ancestral percurso, deparou-se com um obstáculo de rochedos calcários num local, mais tarde denominado sítio de Porto da Lage, que transpôs e vem a formar uma bela cascata de águas claras quando são passadas as violentas enxurradas periódicas no Inverno.


.....e vem a formar uma bela cascata de águas claras... 


Em data desconhecida, a Ordem de Cristo fez construir sobre a barreira de rochedos um muro de lajes, ligadas entre si por grampos de ferro firmados por chumbo, em toda a largura da ribeira, criando assim um açude com duas comportas para eventuais descargas.
Esta obra teve como finalidade o aproveitamento da energia hidráulica para movimentar as mós duma azenha a cerca de quinhentos metros a jusante. Para conduzir as águas até ela, valeram-lhe o declive do terreno, canalizaram-nas através duma levada emparedada por muros de pedra, cal e motas.
À saída do açude houve que construir um túnel, também de pedra e cal, sob a estrada que margina a ribeira e conduz às vizinhas povoações de Beselga e Assentis. Sob mesma estrada e a curta distância, há outro mais pequeno para esvaziamento completo da levada, quando necessário. 


Já perto da azenha atravessa de novo a mesma estrada sob
lajes de pedra.
Já perto da azenha atravessa de novo a mesma estrada sob lajes de pedra. A água depois de movimentar as mós da azenha, volta ao leito da ribeira, retomando a sua marcha interrompida a caminho do mar na companhia do Nabão, seu mais próximo vizinho, do Zêzere e do Tejo.






Esta obra não pode deixar de ser atribuída senão à Ordem. Era dona e senhora de todos os curso de água e…dos ventos.
....as azenhas e os lagares do rio Nabão, em Tomar...

O último operador desta azenha até à década de 50 do último século, era filho de um indivíduo natural da povoação de Cem Soldos que no início do século XX adquiriu as azenhas e os lagares do rio Nabão, em Tomar, as quais haviam sido vendidas em hasta pública depois de terem sido confiscadas à Ordem em 1836, pelo poder político de então.








Subindo-se o curso do ribeiro da Longra, também conhecido pelo ribeiro da Quinta, desde a foz, encontra-se a pouca distância uma pequena represa construída de pedra e cal com uma pequena comporta de ferro, edificada no topo duma pequena queda do leito do ribeiro. 


Subindo-se o curso do ribeiro da Longra...desde a foz ...



Desta represa parte uma estreita vala, pela encosta duma elevação, que conduz a água que vai fazer rodar as mós duma moenga.
Observando-se os pormenores da sua construção, é de admitir sem dúvida, ter sido edificada há muitos anos e por quem tinha bons conhecimentos destas fontes energéticas; os frades da Ordem tinham-nos.
Continuando a subir e seguindo o curso do mesmo ribeiro, já muito próximo duma das suas nascentes, existe outro ressalto encimado com uma laje de pedra. Neste local funcionou há muito tempo uma pequena azenha que veio emprestar o nome à propriedade em que está inserida, bem como à mina e à fonte que lhe fornecia água.



A água que movia o moinhoto, brotava duma fenda num maciço rochoso no sopé dum pequeno monte e que era retida num grande reservatório, de grossas paredes de pedra e cal, fundo lajeado, durante a noite e parte do dia. Depois era encaminhada por uma vala até à azenha.
A Ordem, na procura de maior caudal, minou a rocha maciça numa extensão de cerca de dez metros em forma de túnel com dimensão para uma pessoa adulta de estatura normal, poder entrar de pé, de braços estendidos lateralmente e percorrê-la até ao fim.



A obra é digna de ser apreciada, não só pela sua utilidade como também pelo seu enquadramento paisagístico. Facejaram uma área do rochedo, delinearam a entrada e seguiram-na até ao fim, com uma ligeira curva, à força de picão e marreta.
Na minagem da fonte longos anos terão sido necessários para a realizar. Qual a data da sua execução? Era tradição popular dizer-se que é do tempo dos mouros, quando se desconhecia a idade dum monumento.
A completar a excelente obra que é a mina e o grande tanque, está outro mais pequeno, distante do maior cerca de trezentos metros, com as mesmas características de construção e que se destinava à rega dos terrenos vizinhos. A água para o abastecer era encaminhada por uma regadeira desde o tanque grande.

Há ainda que referenciar no âmbito das azenhas e nas mesmas terras, duas construções com alguma importância: uma casa de pedra e cal sem qualquer revestimento nas paredes, de cércea baixa, que terá sido utilizada para redil de ovelhas e outros animais. O último proprietário destruiu-o e vendeu a pedra: defronte desta casa havia duas ou três cerejeiras de grande porte que tiveram o mesmo destino. A outra construção é um muro de pedra solta em forma de L no terreno defronte do grande tanque; um dos lados encaminhava a água da fonte para o moinhoto, o outro impede o arrastamento das terras pelas águas das chuvas que no inverno descem das vertentes circundantes.(IMT)

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