Si hortum in biblioteca habes deerit nihil

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24 de dezembro de 2016

Natal

Neste tempo de incertezas, ou de certezas cada vez mais assustadoras, resta-nos a esperança e a memória, do que vivemos ou do que ansiámos ter vivido. 
Que se cumpra o BEM que aguardamos há dois mil anos é a prece habitual da época, mas nunca, como hoje, ela foi tão necessária. Junto-me assim, com toda a humildade, à oração comum e rogo para que consigamos permanecer unidos nos valores fraternos e solidários da nossa civilização e repudiemos o medo como o nosso pior inimigo.
No aconchego e inocência que a quadra suscita, não consegui arranjar nada mais eloquente do que o pequeno texto de Ilídio que aqui reponho. Que ele vos transporte à magia da vossa infância ou aos idílicos Natais com que alguma vez sonharam!

Um Bom Natal para todos. O melhor ano de 2017! M.F.M


....Natal quando o menino Jesus entra aqui em casa pela chaminé e vem deixar nos sapatos que lá deixamos uma simples peça de roupa ou um tosco brinquedo. 


Neste tempo as minhas duas irmãs mais velhas fazem uns doces de abóbora com farinha e outros de massa de pão distendida. 

Depois de fritos à lareira são polvilhados com algum açúcar e canela. Estas “iguarias” são preparadas na noite que antecede o dia de Natal. 





Na manhã seguinte é dia santificado vamos todos à missa menos o meu pai, que por norma, nunca vai a alguma. É oficiada na igreja de S. Silvestre, às nove horas, que fica perto se formos por atalhos.
Quando a missa termina, o padre dá o menino a beijar no pezinho. As pessoas vão em fila, um por um, dão o beijinho no pé do menino que o sacerdote limpa com um paninho impregnado de álcool e depositam uma moeda, nem todos, numa bandeja pousada numa mesa. Dizem as pessoas mais velhas para iludir os inocentes infantis que o dinheiro oferecido se destina à compra das prendas que o menino fará para vir depositar no sapatinho, no próximo Natal.
Não compreendo que haja todos os anos um menino Jesus. Os meninos só nascem uma vez. Perguntei à minha mãe mas não me respondeu(IMT)

25 de novembro de 2016

Miguel Cervantes em Tomar


Miguel de Cervantes Saavedra (1547,1616), autor de D.Quixote, considerado o primeiro romance moderno,  cujas celebrações do quarto centenário de morte têm decorrido durante este ano, passou dois anos da sua intensa vida, em Portugal entre 1581 e 1583,   Terá, aliás, começado a viagem pelo nosso país, precisamente em Tomar, segundo nos conta M. Rodrigues de Carvalho neste pequeno artigo, abaixo identificado, publicado em 1983.




14 de novembro de 2016

Porto da Lage e a onda laranja


Nota Prévia: Os factos abaixo referidos como ocorrentes em Porto da Lage foram-me contados; como não os fui confirmar junto dos protagonistas,esta,pode ser, eventualmente, uma narrativa ficcionada, o que, em vernáculo, quer dizer que vos posso estar a impingir, embora não propositadamente, uma grande aldrabice. Nada,porém, me deixaria mais feliz,pois provaria que a terra do meu avô continua a ser habitada por gente civilizada, respeitadora do próximo e das leis do país. Levar-me-ia, também, a pedir, para além de  desculpa aos visados, a sua compreensão e a de todos os outros, para esta minha tentativa atabalhoada de mostrar que não há nada  que se passe no Universo que não se passe também nas nossas pequenas vidinhas. (MFM) 



Os americanos (do EUA), condenados a escolherem entre um burgesso malcriadão e uma senhora com boas maneiras, escolheram o primeiro.

Como diria o portuguesíssimo Raul Solnado: Gostos!
Eu, cá por mim, concordo, até porque a respeito de gostos americanos percebo pouco e do que conheço, francamente,não tenho lá grande opinião. A diferença entre os dois candidatos, tirando a que saltava à vista, que reconheço ser alcançável ao longe, via-se muito mal ao perto. Mas isso digo eu que reconheço as minhas limitações oftálmicas. Porque, sendo desempoeirado e jovem, independente da idade cronológica, o pessoal bem pensante não precisa de óculos, pelo que se   fiou no que viu, viu o que quis e concluiu e julgou como é seu costume e como sempre. Porém, os americanos, coitados, já agora que-tinham-que-ser-eles-a-votar não é? são capazes de ter olhado com mais atenção, verificado que a senhora não valia o esforço de se portarem bem e resolveram abandalhar tudo, assim estilo, o que é que a gente tem a perder, é prá desgraça é prá desgraça. E pronto, o orange sempre é o new black e a ver vamos,esperemos que não como o cego.
Mas não foi para isto que eu cá vim.  O que me aqui trás são as interpretações/conclusões deste grande episódio ocorrido no país mais poderoso deste nosso belo e único planeta e compará-las com, calculem lá, compará-las com o que se passa na nossa rua,quer dizer, com a nossa querida PL. 
Voltando ao energúmeno, o homem, percorrendo direitinho todos os passos e regras a que era institucionalmente obrigado, lá foi ganhando tudo e a todos e no fim, declarado vencedor. Acabou, está feito, é o presidente. 
Os analistas, comentadores, gente que gosta de falar e mais de se ouvir and so on, afligidos com esta da coisa não encaixar com coisa nenhuma e muito menos com as suas doutas previsões, toca de arranjar justificações entre as quais destaco a impreparação da larga maioria dos eleitores da criatura. Segundo eles, aquela foi eleita por gente, coitada temos muita pena, mas que não sabe o que faz e não sabe porque é rural,  é velha e pouco instruída. 
Eu, que não me choco com a vitória do homem (dos americanos do norte, e, já agora, também do sul, francamente já espero tudo) fico aterrada com observações destas! Iguais às do nosso ditador de serviço durante quarenta anos, quando considerava os portugueses incapazes  de viver em democracia, às dos regimes totalitários inimigos do que chamam democracia burguesa e até de incontestados e incensados revolucionários domésticos, e cito um, no caso uma delas, heroína da República Ana de Castro Osório, que considerava que a maioria das mulheres portuguesas não estava suficientemente educada para votar em consciência pois sendo maioritariamente analfabetas, politicamente incultas, dominadas pelo obscurantismo do preconceito e influenciadas pelo conservadorismo religioso, o seu voto seria contrário e prejudicial à República. E ia mais longe, considerando a maioria dos maridos, republicanos entenda-se, muito permissivos pois permitiam[repare-se no permitiam] que as mulheres continuassem a praticar a religião católica sem entraves e a educar os filhos nessas crenças!  (1)
Para além de preconceituosas e nada democráticas, aquelas afirmações carecem de ser provadas, pois não se afigura real que estes velhos, ignorantes e rurais tenham surgido na América apenas nos últimos oito anos e não tenham impedido a última eleição sabe-se em quem (pelo contrário, muitos condados que elegeram Obama, votaram agora republicano) e, por outro lado, cá no burgo assistiu-se à insistente eleição para presidente da Câmara em um condenado pela justiça, precisamente num concelho cuja população é, maioritariamente, superiormente instruída.
Mas, centremos-nos, finalmente, em Porto da Lage. Já aqui falei neste assunto  há três anos e, aparentemente, continua tudo na mesma. A Associação Cultural e Recreativa de Porto da Lage (salvo erro é este o nome oficial) herdeira do Grémio e do Clube que lhe sucedeu, de tão cara e nostálgica memória aos portalegenses que viveram os períodos de ouro daquela colectividade, está fechada há anos. A última direcção eleita, cujo mandato cessou há muito (ao que ouço dizer), para além de não abrir as instalações e não promover iniciativas (o que posso testemunhar) também não promove eleições (também oiço dizer). Há, ou havia há três anos, interessados em candidatar-se à direcção, os comentários do post anterior provam-no, mas eleições nem vê-las, ao que me dizem. 
Segundo pessoa neutra no processo me informou, a  direcção cessante não promove eleições porque "já sabe quem vai ganhar" e não quer que essas pessoas "para lá vão, pois não inspiram confiança no sentido de acautelarem a preservação das instalações, dos equipamentos e mobiliário e, sobretudo, do espólio", quer dizer, não põem em causa qualquer programa ou estratégia futura dos candidatos, temem simplesmente pelo  comportamento  físico deles, em suma, têm medo não que estraguem, mas que destruam tudo! 
A serem verdadeiras, quer as afirmações daquela direcção quer as suas apreciações acerca dos candidatos à mesma, estes não passam de uns verdadeiros selvagens (conclusão e léxico de minha autoria)! 

Tratam-se, porém, de selvagens sócios da Associação (de outro modo não aspirariam a serem candidatos), pelo que, dispensando-me de perguntar como atingiram tal posição (também me contaram não ser fácil ser aceite como sócio), a menos que os estatutos prevejam a inelegibilidade de pessoas abaixo de um determinado grau civilizacional (o que não me espantaria dada a sensatez e cautela dos portalegenses mas que seria inédito, até as constituições mais avançadas, a dos E.U.A. por exemplo, dispensam essa restrição), pois, a menos que isso aconteça só estou a ver uma forma de impedir seres destruidores de cadeiras e frigoríficos de fazerem parte da futura direcção da Associação: Não votar neles!
Qualquer outra escolha é  anti-democrática, retrógrada e conducente a excessos, pior que deixar partir portas por desleixo e ignorância, é proporcionar que elas sejam partidas à pedrada por revolta nascida da injustiça.
Considerar que selvagens vão ganhar eleições e por isso impedi-las é desconsiderar uma maioria que os apoia e que lá terá as suas razões.Temos o direito de impedir essa maioria de votar? Quem somos nós para menorizar alguém no seu direito individual de escolher? Democracia é mais do que uma palavra e, com todos os seus defeitos, temos muito que aprender com a América.

A ser verdade tudo isto que me contaram, apelo à distinta direcção cessante, que desconheço, que ponha os olhos naquela grande nação, promova eleições e aguarde serenamente. Os grunhos, de modo geral e em conformidade com a ordem natural das coisas, nunca vencem. Mas se, também aqui, o mundo resolver desgovernar-se e ganharem, se a América e o resto do mundo aguentam, o que é que Porto da Lage tem a menos que eles? (MFM)




(1) Ana de Castro Osório defendia o voto apenas para as mulheres instruídas, economicamente independentes e politicamente esclarecidas. No entanto, outra distinta repúblicana, Maria Veleda,  opunha-se, para ela as mulheres, ricas ou pobres, intelectuais ou analfabetas, deviam votar em igualdade de circunstâncias com os homens, pois não se compreendia que a ignorância e o analfabetismo fossem invocados para restringir os direitos cívicos e políticos das mulheres e não os dos homens

11 de novembro de 2016

VII A Arte de Bem Cavalgar Sobre Um Selim (continuação)

Atropelo Biciclístico na Figueira da Foz

Por razões que a razão desconhece, meu pai, com a aquiescência de minha mãe, lembrou-se nesse ano que os quatro filhos mais novos precisavam de ares marítimos. banhos não eram necessários. Pegou em si, meteu-se no comboio que fica à mão, vai à Figueira da Foz, aluga dois quartos e regressa no mesmo dia. Tudo isto em segredo dos deuses para mim.
Foi traído por uma das minhas irmãs que me disse:

  “O pai vem no catorze “ – número do comboio que circulava naquela via cerca das oito horas da tarde com paragem na estação – “Foi alugar uma “casa” à Figueira.”
   





Sem mais qualquer informação, a um Domingo do mês de Agosto, terá sido no primeiro desse, ao alvor do dia, minha mãe e nós, os quatro filhos, entrámos num pequeno automóvel, propriedade da destiladora de álcool, conduzido pelo motorista de camiões da proprietária. Meu pai foi de comboio porque não cabia.

A viagem foi feita sem anormalidades. Saímos pela estrada da Beselga, Assentis. Aqui entrámos na nacional, passando por Ourém, Leiria e daqui à Figueira onde chegámos cedo. Meu pai chegou depois de nós.
Juntos dirigimos-nos à “casa”. Era uma pequena habitação de um só piso rés-do chão, numa rua à saída da cidade à distância da praia. Ocupámos dois quartos. A cozinha onde minha mãe preparará as simples refeições e o cubículo dos despejos são utilizados em comum com o casal de velhotes donos da casa.
Depois da confirmação física da nossa chegada fomos todos  para a esplanada da frente marítima que dá acesso à praia. O espaço é amplo com pavimento ensaibrado. Movimentam-se por aqui sorveteiros, caramileiros, fotógrafos “à-lá-minute” e os banhistas a caminho dos ares e das refrescantes ondas aquosas do mar.


Figueira da Foz - postal de 1930

O motorista que havia conduzido o automóvel estava connosco - regressaria a casa nesse mesmo dia com o meu pai - foi comigo a um dos alugadores de biciclos que operavam naquela esplanada e alugou uma para mim. 
Sem qualquer excitação, aí vou eu a pedalar pela esplanada fora que servia de pista velocipédica à mistura com peões. 
Nisto, o que era o mais provável aconteceu! Choco com uma senhora de largas ancas e volumoso peito que atravessava a esplanada. A senhora cai por terra e sofre um pequeno ferimento na testa entre as duas sobrancelhas. É socorrida no posto da polícia de trânsito existente no local e eu sou “detido” pelo polícia do posto onde sou levado à presença da senhora, que inquirida pela autoridade se pretendia responsabilizar-me, me desculpou...
Causa do acidente: não me lembrei de travar. Fiz soar a campainha... (IMT)

                                                        ---------



E é assim, com este  aparatoso acidente, que termina o "pequeno ensaio literário" do Ilídio, assim lhe chama a sua filha que aqui deixou um interessante comentário sobre o pai e a sua obra, do qual  reproduzo um extracto, para aqueles a quem passou despercebido:

«... Este livro que foi intitulado de “Terras da Minha Memória”, foi a única e tardia obra que alguma vez produziu. Que produziu, disse bem. Porque tudo o mais estava bem presente e registado na “sua memória”. E não só os factos mas sobretudo a forma peculiar como recordava e interpretava, deduzia e teorizava, humorizava e comovia, criticava e sensibilizava.
Embora pequeno é exemplificativo e é com esse espírito que espero que todos o entendam....»


Quero também recordar, para quem já se esqueceu ou só agora conheceu o Ilídio, as suas crónicas sobre Porto da Lage que podem ser lidas neste blog de 8 a 19.04.2013de 8 a 10.05.2013 e 8 a 25.10.2013 (MFM)

9 de novembro de 2016

VII A Arte de Bem Cavalgar Sobre Um Selim


Desenho de Maria Keil
Em simultâneo com a arte de bem cavalgar em toda a sela, aprendi a arte de bem pedalar em qualquer selim, sem mestre. 
Biciclo não havia, nem sonhar. Só as famílias abastadas de agregados reduzidos tinham possibilidade de agraciar os filhos com estes brinquedos. Que fazer? Quando me deslocava a Tomar em missão própria ou em serviço, montava na garrana. Umas vezes seguia pela estrada nacional, em macadame, outras vezes ia pelos caminhos dos pinhais.
Estacionava o animal no parque gratuito com serviço de substituição de ferraduras na entrada da cidade e seguia a cumprir com a missão. 
Quando porventura me encontrava com o meu primo mais velho que eu ano e meio, o tal que me disse para empurrar a pedra, íamos a uma das duas oficinas que reparavam e vendiam ou alugavam biciclos. Escolhíamos o mais condescendente com o tempo de aluguer. Cinquenta centavos – cinco tostões – era o custo por um quarto de hora. 

e aí íamos nós a pedalar pelas ruas da cidade,
nessa época sem automóveis






















Entregávamos a moeda, pagamento adiantado, e aí íamos nós a pedalar pelas ruas da cidade, nessa época sem automóveis. O meu primo era já “pedalista” consumado, ao passo que eu ainda mal me equilibrava. Precisava de mais treino.
Acabada a velocipedia e realizados os afazeres de que havia sido incumbido, regressava a casa pelos mesmos meios e caminhos como tinha ido. (IMT)

(continua)

8 de novembro de 2016

86 anos



                                Parabéns Ilídio 
                                                  




                                                                                                                                 Muito Obrigada  

....Nasci no sítio de Porto da Lage a 8 de Novembro de 1930. Registaram-me na conservatória de Tomar com o nome de Ilídio Mota Teixeira. Minha mãe, Ana Mota Rosa, filha de Soledade de Sousa Rosa, natural da freguesia de Assentiz, era neta e afilhada por baptismo dos nossos avós [Ana e Manuel de Sousa Rosa].









 E hoje, dia 8 de Novembro, completaria 86 anos. Que melhor forma de os celebrar que esta de ver a sua memória apreciada? Parabéns Ilidio, parabéns meu Pai    luísa mota teixeira


                           

7 de novembro de 2016

VI Arte de Bem Cavalgar em Toda a Sela




Tínhamos um garrano fêmea que servira para meu irmão se transportar, todos os dias, a Tomar, onde frequentava uma escola comercial. Quando esta utilização o tornou desnecessário, o animal passou a ser usado, unicamente, para puxar ao engenho que tirava água do poço para regar a horta ou encher um tanque grande onde a roupa era lavada semanalmente. Para qualquer outra utilidade, era impróprio, era esquivo.
Por esta data três irmãos haviam saído de casa, na direcção do Norte. Ficara a mais velha, eu e mais duas e a vida continuava até que foi necessário encher o tanque com água para a minha irmã lavar a roupa. É necessário ir ao estábulo que fica um pouco distante, trazer a égua com a coleira enfiada no pescoço e engatá-la ao engenho. Não havia ninguém nessa hora capaz de executar este serviço.     Fui eu fazê-lo. Fui ao local onde o estábulo se situava. O carroceiro que tratava os outros animais desprendeu a égua da manjedoura, enfiou-lhe a coleira no pescoço e, para a dominar, pôs-lhe a cabeçada com freio. Preparava-me para a levar pela mão quando ele, com o devido cuidado, pega em mim e coloca-me no dorso, entrega-me as rédeas, prepara melhor o freio e…aí vou eu com o animal a passo até ao engenho. Ordem cumprida e primeira lição, sem mestre, da arte de bem cavalgar…sem sela. Desse dia em diante não precisei mais de ajuda. Passei a cavalgar com albardão e estribos a galopar por matos e caminhos, a fazer recados de meus pais a Tomar, às feiras de gado em Santa Cita e no Entroncamento.


Também fui uma vez a Ferreira do Zêzere. Foi a maior distância que eu percorri em um só dia, no total de cerca de 50km ida e vinda. Iniciei a viagem de manhã cedo e cheguei horas depois. Para quê esta ida a Ferreira do Zêzere? O governo nesse ano publicou um edital a intimar os possuidores de animais cavalares e muares, que deviam apresentar-se com eles, marcando a data e período do dia, na vila de Ferreira do Zêzere. A meu pai era impossível ir. Não tinha meio de transporte para se deslocar; o animal era impróprio para ser atrelado a qualquer veículo. Solução: “amanhã, domingo, levas a égua a Ferreira do Zêzere, à inspecção. Está lá o tio Manel Augusto! Passas a Tomar! Depois de Tomar passas ao Pintado” estava a indicar-me o caminho, “depois do Pintado tens uma estrada à direita que diz: Ferreira do Zêzere. Segues por aí.”. 
Ordem dada sem mais qualquer recomendação. 






Nesse domingo de Outubro ou Novembro de 1941, levantei-me mais cedo que o habitual, vesti o fato domingueiro, casaco e calças compridas provenientes de algum fato de adulto já usado, aparelho a égua com o albardão e a cabeçada e aí vou eu a galope ou a passo acelerado a caminho de Ferreira do Zêzere, seguindo as simples indicações de meu pai. 
Terei chegado pela uma hora da tarde. Encontrei, no recinto da concentração, o carroceiro do meu tio com a carroça e as bestas que ele havia conduzido. Algum tempo depois aparece meu tio, que meu pai me recomendara, a ordenar o regresso a casa. Os nossos animais não foram mobilizados! No regresso, a caminhada foi vagarosa, a passo lento.


O meu convívio com este animal durante cerca de quatro anos fez nascer em mim uma atracção natural por esta espécie, e que ainda perdura. Acontecia algumas vezes, presenciar a passagem de grupos de cavalaria do exército em digressão pelos caminhos dos pinhais circunvizinhos da povoação. Para mim eram os melhores cavalos do mundo!... (IMT)


                                                       

5 de novembro de 2016

V Duas Semanas a Banhos no Agroal (continuação)


continuação....

Estamos no tempo das uvas, dos figos, dos melões, das melancias. A ribeira já não corre há muito tempo. As cigarras já deixaram de cantar. Hoje deve ser domingo. As pessoas não trabalham e vestem roupas melhores: sapatos de cor, calças e casacos de fazenda, gravata e chapéu de feltro e barba feita. Os mais velhos, roupa da semana, lavada, botas cardadas, boina, boné, barrete preto e barba feita.
Vamos ao Agroal! Nunca lá fui. Tenho ouvido dele aos mais velhos. Alguns dizem Abroal. Surge o meu tio e a minha tia, irmã de meu pai, num automóvel com capota de pano que eu conheço há muito tempo. É da fábrica que destila álcool. As minhas irmãs e eu entramos e ocupamos o banco de trás e um pouco tempo depois iniciamos a viagem. Seguimos pela estrada do Paço. No sítio das Sobreiras viramos à direita pela dos Galegos até ao topo de Santa Margarida, onde existe uma capelinha muito antiga, onde algumas vezes venho aprender doutrina acompanhado das minhas duas irmãs mais novas. A estrada é muito pedregosa e estreita. Depois de Santa Margarida passamos por Casal do Pote, Fonte da Longra e Val do Calvo. O automóvel levanta muito pó, que fica para trás e se espalha pelos pinhais. O caminho depois do Val do Calvo é saibroso, levanta menos pó. Nos pinhais circundantes vêem-se paveias de mato seco que será utilizado para fazer a cama do gado. Vou a ver o meu tio a conduzir. Ele faz um sinal com o braço esquerdo. Aproximamo-nos de uma estrada alcatroada. Há uma pequena paragem e viramos à direita. A pouca distância vejo um letreiro no início de uma estrada, no lado esquerdo, que indica uma direcção. Vamos por aí. O piso é em macadame e o automóvel levanta pouco pó. Continuo a ver pinheiros e alguns eucaliptos. Há umas pequenas subidas e descidas e chegamos ao cimo de uma encosta. No sopé vejo um pequeno areal do leito de uma ribeira por onde corre alguma água e, numa das margens, um grande charco de água onde algumas pessoas se banham. Tenho um ligeiro sobressalto, sem saber porquê. Talvez por antever os banhos forçados…
O automóvel inicia a descida aproximando-se do fundo do vale. Há uma curva apertada para o lado esquerdo; mais uns metros e a estrada termina na frente de um enorme penedo redondo, escavado na base onde estacionam umas carroças com os respectivos muares presos a apascentarem-se. O charco que eu avistei do cimo da colina está na outra margem da ribeira. Vejo uma tosca ponte de madeira assente em estacas que principia na margem direita onde estou e vai terminar no charco.
Estamos no Agroal (talvez de agrial ou agriogal), nascentes fortíssimas de água doce do rio Nabão. Para montante é a ribeira de Alvaiázere ou da Sabacheira. Na Mendacha, a jusante, juntam-se outras grandes nascentes.








O automóvel, depois de nos deixar, voltou ao ponto de partida para realizar nova viagem com mais elementos da família, de tias, primas e primos. Nós, os da primeira leva, fomos instalar-nos no “chalet” construído em madeira com dois pisos: rés-do-chão e o primeiro andar. Ocupamos todo o primeiro que é dividido em pequenos quartos.
O primeiro grupo que chegou, o meu, é constituído por seis pessoas: a minha tia, irmã de meu pai e promotora da estadia, as minhas cinco irmãs e eu. O segundo grupo que vai chegar na segunda viagem é de oito pessoas: duas irmãs cunhadas da minha tia, o meu irmão e quatro primos. As duas cunhadas da minha tia são a nós, uma tia e a outra prima.
Todo o grupo é distribuído pelos quartos consoante as convivências de cada um. Dormimos sobre colchões no sobrado.

                                                                *
 É chegada a hora de cumprir a receita aquosa da minha tia, a promotora. A minha irmã mais velha veste-me o fato de banho de confecção doméstica e aí vou eu contrariado e renitente a caminho do charco, pela mão da minha irmã. Atravessamos a ponte de madeira que avistara do cimo da colina e vejo a minha tia, a promotora, toda vestida de preto com a água pela cintura, em mergulhos rápidos e sucessivos, a quem a minha irmã me entrega. Entro em aflição e apelo à Senhora dos Aflitos que desça do céu à Terra e venha em meu socorro. Mergulha-me e torna a mergulhar-me. Abro os olhos debaixo de água e penso que é o fim de tudo. Seguem-se mais uns mergulhos forçados nos braços de um banheiro ocasional. Não estou a gostar deste veraneio com mergulhos forçados no charco. Quando me dão banho semanal lá em casa é num alguidar grande de folha zincada.
Regresso choroso ao chalet. É chegado o grupo da segunda viagem com as tias e os primos. 

                             
                                                                 *


Desenho de Maria Keil
Os dias vão passando sem mergulhos forçados e banhos voluntários. 
Acompanho, com o meu irmão, os primos mais velhos quando vão pescar com um cesto nas margens com águas muito baixas do rio.
Assim como lá em casa, a iluminação é com candeeiros a petróleo. Deitamos-nos e levantamos-nos cedo. Gosto do ar da manhã daqui do vale. É fresquinho, luzente e cheira a mato orvalhado. 



Desenho de Maria Keil






Gosto do aroma do café que as minhas irmãs e demais adultos preparam em fogareiros a petróleo. Leite não há porque não há cabras nem vacas. Bebemo-lo com sopas de pão.
Já estamos aqui há alguns dias. Não sei quantos. Vem aqui pouca gente e quando vêm, banham-se no charco e vão embora (a). O chalet onde estamos é único. Junto às nascentes estão umas construções. Uma delas tem uma taberna, a outra exibe na parede pegada ao charco o letreiro “Banhos Quentes”.
Ouvi dizer a uma das minhas irmãs que ontem à noite, na barraca de madeira que fica ali um pouco mais abaixo, houve cinema. Foi exibido o filme mudo “A Matança dos Inocentes”. Houve quem chorasse quando os soldados do Herodes cortavam os pescoços dos meninos.

                                                                      *

Hoje é domingo. Está aqui no rés-do-chão do chalet um sargento com a família. Deve ter vindo de Tomar num veículo puxado por duas muares e conduzido por dois soldados que estão sentados num muro em frente da casa e sobranceiro ao rio. O sargento sai do interior da habitação com um prato de batatas cozidas, mais que cheio, já temperadas com azeite e talvez vinagre, duas postas de bacalhau, uma de cada lado e coloca-o entre eles. Cada um, com um garfo, serve-se.
Não sei que horas são. Não há relógio e se o houvesse, não traria qualquer informação. Não sei ler as horas e muito menos os dias. Estou em casa, no chalet, na parte da tarde do dia e vejo a prima Marquinhas, prima da minha mãe, sentada numa cadeira ao fim do corredor e o sobrinho, mais velho que eu um ano e meio, de joelhos diante dela.




a prima Marquinhas, ... sentada numa cadeira ao fim do corredor 

“Peça perdão à sua tia!” diz a prima Marquinhas. O sobrinho agita-se para um lado e para o outro mas não obedece. A prima Marquinhas insiste:

“Peça perdão à sua tia!”. Não sei se pediu.

              











....o irmão [em pé à esquerda] é bem-
comportado e vai para o seminário
 de Santarém...
Já sei o que aconteceu. Ontem, ao fim da tarde, o grupo todo foi passear pelos arredores. Subimos até à meia encosta do monte sobranceiro às nascentes. Seguimos em fila pelo carreiro com as tias e os mais velhos na frente.
Atrás, na cauda, vou eu. 
À minha frente vão os dois meus primos. O mais velho põe uma pedra achatada na vertical e continua a caminhar; o irmão mais novo diz-me: “empurra!”…e eu empurrei. A pedra rolou pela encosta, atravessou uma horta, partiu não sei quantas couves e só parou dentro do poço. A dona da horta veio aqui ao chalet queixar-se do prejuízo. Não lhe foi difícil encontrar os vândalos. Somos os únicos veraneantes hospedados.
Em minha opinião, a prima Marquinhas não inquiriu, convenientemente, o acontecimento, porque houve um autor, um instigador e um executor, e só o instigador é que está a ser julgado. 
É um cadastrado... o irmão é bem-comportado e vai para o seminário de Santarém e eu sou o inimputável. Tenho seis anos…


                                                                           




                                                                                       *

Não sei que dia da semana é hoje. Domingo não é. Também não sei há quantos dias estou aqui, mas vamos regressar a casa. Além na estrada, junto ao penedo, espera-nos o meu irmão junto de uma charrete puxada por uma mula. Vamos partir. Do grupo só nós aqui estamos. As minhas irmãs colocam a pouca bagagem dentro da charrete. No início da encosta a estrada é muito íngreme e exige muito esforço ao animal. Vamos todos a pé até ao cume. O regresso faz-se pelo mesmo caminho da ida mas demora mais tempo. Chegámos. O Sol pôs-se há pouco tempo. Minha mãe está no cais da Empresa a escolher figos secos de uns tabuleiros onde estiveram a secar, para arrecadar e, no Inverno, comermos com amêndoas ou nozes. Não houve qualquer manifestação de regozijo. Meu irmão desatrelou o animal da charrete e levou-o para o estábulo. Nós, subimos as escadas, entrámos em casa. À noite comemos a sopa e fomos dormir… amanhã será outro dia sem banhos no charco, sem ares aromáticos da manhã no vale do Nabão.

Este menino, agora com 81 anos, que regista estas lembranças em jeito de missiva, voltou às mesmas águas no automóvel com capota de pano, com a tia que dava mergulhos e o mergulhava no charco. (IMT)


(a)
  


Agroal hoje
                                     

3 de novembro de 2016

V Duas Semanas a Banhos no Agroal




V- DUAS SEMANAS A BANHOS NO AGROAL

1937! Ano da graça de Nosso Senhor Jesus Cristo. Tenho seis anos. Sou o sexto numa escala de sete filhos. Vivo no sítio de Porto da Lage muito perto do açude da ribeira da Beselga, numa casa muito grande que faz parte de um conjunto de edificações empresariais implantadas, contíguas à estação de Paialvo da linha de caminho-de-ferro do Norte. A área que ocupa é grande. É cercada por um muro alto com um portão e paredes de armazéns do lado da estrada que vai a Beselga; parede de armazém e casa de habitação orientada para nascente do lado do olival e um muro encimado por uma grade de ferro, do lado Norte, de frente à linha do caminho-de-ferro.
As edificações são ocupadas por uma saboaria desactivada, um armazém contíguo com caldeiras para a destilação de figos secos e extracção de água-ardente, dornas de madeira para fermentação e tulha de figos secos para destilar. Na ala oposta, outro armazém em todo o comprimento do terreno. Cerca de metade é dividido em dois pisos. O superior destina-se a habitação, o rés-do-chão a escritório e a depósitos de cimento armado para armazenamento de água-ardente ou vinhos.
Por esta parte deste armazém sob a habitação, entra a linha de caminho-de-ferro vinda do cais de mercadorias da estação. Entra por um grande portão, atravessa o edifício, sai de outro lado por outro portão e vai encostar a um cais contíguo, de lado.
Com o começo no muro da frente da estrada, parte em paralelo a esta edificação um alpendre que se estende até ao início de pavimento da habitação. No seu começo foi construído um estábulo de pedra e cal, com capacidade para recolher os animais que eram usados nos veículos de transportes de pessoas e materiais diversos.
No seguimento de estábulo e só como alpendre meio aberto recolhiam-se as carroças, as galeras, a charrete e um cabriolé de dois lugares, “tílburi”, com rodas de rasto de borracha. Ainda no seguimento do alpendre e em paredes-meias com o edifício da habitação, existe uma pequena casa de um piso elevado que teve como objectivo a acomodação do vigilante.


No exterior destas edificações existe um edifício bem construído, de pedra e cal, na margem direita da ribeira, contíguo ao açude cuja utilidade é desconhecida e que, certamente, fez parte do mesmo conjunto empresarial. A casa em que vivo tem cinco quartos, uma cozinha com uma grande chaminé, uma sala para refeições, um quarto de banho com sanita em grés, um corredor comprido para acesso a todas as divisões e um salão onde tenho um baloiço de corda atada a uma trave do telhado. 
                                         

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Passo os dias sem saber como. Corro atrás de um arco feito de uma pega de ferro de um balde da sucata adaptado por um ferreiro a pedido do meu irmão; cavalgo uma cana cortada da ribeira onde há muitas; vejo homens no pátio a rachar lenha e a empilhá-la para secar; vejo mais homens a conduzir carroças, a alimentar o gado, a retirar o estrume dos estábulos, a destilar figos nas caldeiras aquecidas com lenha. 

Conheço-os todos pelos nomes ou alcunhas. Em alguns tenho alguma confiança e até me ensinam a posicionar armadilhas para apanhar passarinhos. 

Também apanho ratos. Encontrei em casa uma armadilha para os caçar. Há muitos por aqui e alguns muito grandes, tão grandes que enfrentam os gatos. Vi um a arrastar um pinto para o interior do buraco. A galinha mãe tentou defendê-lo mas não conseguiu. Preparo a armadilha com um pedacinho de toucinho chamuscado para os atrair com o cheiro. Espeto-o no gatilho que está dentro e deixo a porta aberta, premida por uma mola, presa ao gatilho. Quando o rato entra para comer o isco a porta fecha-se. Assim preparada, é colocada junto dos buracos, na arrecadação das farinhas, dos cereais, dos fenos, etc. Quando os apanho cometo uma barbaridade inocente: mergulho-os na ribeira dentro da gaiola.

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De quando em quando faço recados a mando das minhas duas irmãs mais velhas. Vou à loja que fica em frente da estação do caminho-de-ferro; vou pelo carreiro da levada. Outras vezes vou ao padeiro, pela estrada porque é mais perto. Vou e volto sempre a correr. Quando os recados são complexos, as minhas irmãs dizem-me: vai a canta-los! Quando algum falha…volta pelo mesmo caminho!
As pessoas mais velhas, os adultos, por comodidade ou para se ocuparem, unicamente, de afazeres de elevada importância, valem-se dos mais novos para os menores. Eu, na família, sou o mandarete e gosto de o ser.



Fiz agora um recado que me valeu uma moeda de dois tostões, vinte centavos. Estava ali na borda da ribeira a tentar pescar um peixinho quando um homem me chamou da estrada que passa aqui perto. Larguei a cana e fui ter com ele que me disse: vais ao correio, que é na loja em frente da estação do caminho-de-ferro, e perguntas se há correio para mim, e disse-me o nome. Parti a correr pelo carreiro da levada, não me esqueci do nome, e entrei na loja. Não havia carta. Voltei pelo mesmo caminho, sempre a correr, e disse ao homem de preto que tinha ficado ali à minha espera. Tirou do porta-moedas uma moeda de 2 tostões e deu-ma. Fui guardá-la a casa e voltei à margem da ribeira onde havia deixado a cana e continuei a tentar pescar um peixinho.


O homem vestido de preto deve ser seminarista ou padre. Sei que os rapazes que frequentam o seminário usam roupas pretas. Alguns são da Beselga, das Moreiras ou da Assentis. Vejo-os passar pela estrada quando se dirigem ao comboio.

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Na ribeira, antes do açude, há muitos peixinhos que eu tento pescar. O meu irmão que frequenta uma escola comercial em Tomar comprou um anzol em alguma loja da cidade e eu, com uma linha branca de coser roupa que retirei do açafate de costura atada a uma ponta de uma cana seca que retirei de um molho delas que estão reservadas para armar nos canteiros dos feijões e algumas minhocas que desenterrei com uma enxada na terra húmida de uma estrumeira, tento pesca-los mas é difícil: mordiscam o isco sem abocar o anzol.



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Não sei o que significam os meses do ano. Só sei que há o tempo das cerejas, das favas, das ervilhas, das ceifas do trigo, das debulhas nas eiras, das uvas 


e vindimas, da feira de Santa Iria em Tomar onde fui uma vez com os meus pais numa carroça, o dia de todos os santos em que se cozem no forno bolinhos doces com erva doce e canela e se anda de porta em porta a dizer: bolinho, bolinho em louvor do seu santinho. 


Da azeitona e do Natal quando o menino Jesus entra aqui em casa pela chaminé e vem deixar nos sapatos que lá deixamos uma simples peça de roupa ou um tosco brinquedo. Neste tempo as minhas duas irmãs mais velhas fazem uns doces de abóbora com farinha e outros de massa de pão distendida. Depois de fritos à lareira são polvilhados com algum açúcar e canela. Estas “iguarias” preparadas na noite que antecede o dia de Natal. Na manhã seguinte e dia santificado vamos todos à missa menos o meu pai, que por norma, nunca vai a alguma. É oficiada na igreja de S. Silvestre, às nove horas, que fica perto se formos por atalhos.
Quando a missa termina, o padre dá o menino a beijar no pezinho. As pessoas vão em fila, um por um, dão o beijinho no pé do menino que o sacerdote limpa com um paninho impregnado de álcool e depositam uma moeda, nem todos, numa bandeja pousada numa mesa. Dizem as pessoas mais velhas para iludir os inocentes infantis que o dinheiro oferecido se destina à compra das prendas que o menino fará para vir depositar no sapatinho, no próximo Natal.
Não compreendo que haja todos os anos um menino Jesus. Os meninos só nascem uma vez. Perguntei à minha mãe mas não me respondeu. (IMT)

continua....

Desenhos de Maria Keil e Júlio Pomar em papel e azulejo.