17 de julho de 2012

O sol é grande, caem co'a calma as aves








O sol é grande, caem co'a calma as aves,
do tempo em tal sazão, que sói ser fria;
esta água que d'alto cai acordar-m'-ia
do sono não, mas de cuidados graves.

ó cousas, todas vãs todas mudaves,
qual é tal coração qu'em vós confia?
Passam os tempos vai dia trás dia,
incertos muito mais que ao vento as naves.

Eu vira já aqui sombras, vira flores,
vi tantas águas, vi tanta verdura,
as aves todas cantavam d'amores.

Tudo é seco e mudo; e, de mestura,
também mudando-m'eu fiz doutras cores:              
e tudo o mais renova, isto é sem cura!

Francisco Sá de Miranda 1481, 1558

1 comentário:

  1. O sol é grande, caem co'a calma as aves,
    do tempo em tal sazão, que sói ser fria;

    Já há 500 anos não se podia confiar no tempo
    que não se muda já como soía.
    Sem pegada ecológica, sem buraco de ozono nem gases com efeito de estufa conhecidos,
    resignavam-se – isto é sem cura.

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