10 de maio de 2013

Histórias de Porto da Lage


O ACTOR CONVIDADO NÃO QUIS SUBIR AS ESCADAS


Esta história que vos vou contar, ouvi-a há muitos anos a uma pessoa que participou nela. Tem um cunho anedótico mas não deixa de ser interessante para quem gosta de ler e saber o que aconteceu em certa época em Porto da Lage.

Tinha decorrido ou estava a correr uma revista num dos teatros de Lisboa, com o nome de cartaz “Arre Burro”. Entre os vários números do programa, havia um em que a Beatriz Costa, artista de teatro de revista e cinema muito badalada na época, entrava em cena a tocar um burro, de carne e osso, dirigindo-lhe uns piropos em versos musicados, trajando à moda das saloias de Caneças de outros tempos e com uma pronúncia da região muito acentuada. Alguns versos eram estes:



Em cena com Beatriz Costa no Teatro Variedades
em 1936.

“É um burro com chalaça
O estafermo do animal!
É sabido que por onde ele passa                        
Deixa sempre algum sinal

....“Vem cá, mê estapor
Tu tens má valor
Que munto senhor casmurro!
Ê digo-te aqui
Q`há homes pr'aí  más bestas  qua'ti
mê burro!”                                                 
 


Os encenadores de Porto da Lage acharam que o modelo da revista tinha a medida que se ajustava ao gosto do público local e arredores. Intérpretes não faltavam. Porém, havia uma dúvida: estará o actor convidado disposto a colaborar? Para se saber há que consultá-lo.

A um Domingo – nos outros dias da semana havia afazeres obrigatórios – levaram-no para conhecer a sala de espectáculos onde iria actuar. Chegado ao local, depara-se-lhe uma íngreme escada com uns vinte ou trinta degraus de pedra. Com solicitude disfarçada, foi convidado a subir. Perante a negativa, recorre-se a meios extremos: empurra de lado, puxa da frente, empurra detrás até que venceu dois ou três degraus. Puxa mais, empurra mais, até que o convidado a actor, mais do que aborrecido, dita a decisão final: um par de coices!

Perante esta atitude do actor convidado, os encenadores portalagences derivaram para outro modelo de revista com encenação menos espectacular. (Ilídio Mota Teixeira)

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