10 de setembro de 2013

Recordar é Matar Saudades 8

A diáspora portuguesa, na qual se insere, à sua medida, a portalegense, trouxe sempre o seu reverso – os torna-viagem mais os de fora arrastados por aqueles. É o caso que, desta vez, Dulcinda Teixeira nos conta. José Pereira da Mota, natural das Sobreiras onde nasce em 1908, filho de mãe portalegense, parte, rapaz novo, no final dos anos vinte do século passado à procura de vida melhor para a distante colónia de Moçambique. Por lá prospera e se liga por casamento a uma família de origem mauriciana. Por sua influência, um sobrinho da mulher vem frequentar o colégio em Tomar e assenta arraiais nas férias por Porto da Lage e Paço da Comenda. Parece que a simpatia e o desprendimento africanos encantam de modo geral os nativos, fascinam as raparigas, contendem as mães e provocam, por fim, casamento. O estudante moçambicano constitui então família com uma local e com ela regressa à terra de partida, com passagem por outros mundos. Por fim, a volta derradeira. José Pereira da Mota, a causa do rumo destas vidas, repousa, por vontade expressa, no cemitério de Cem Soldos.(MFM)


Quem era Luís Charles Dupont?

Luís Dupont com um grupo de PL em 1952

Se não estou em erro de memória nos finais do verão de 1948 chegou a Lisboa um jovem vindo de Moçambique com destino ao velho colégio Nun’Alvares em Tomar ainda situado na Av. Dr. Cândido Madureira, em frente ao hospital da Misericórdia.
Esse jovem era sobrinho da esposa de um senhor natural das Sobreiras, de seu nome José Pereira da Mota (filho de uma Brigida Rosa Motta, das Sobreiras e de um António Pereira, dos Gaios) o qual, muito jovem nos finais dos anos 20, emigrou para Moçambique. Sei que em rapaz tinha sido empregado na mercearia da tia Anita e do tio António da Quinta.
Ora o Luís Dupont ao chegar à Metrópole como ainda não havia aulas veio para casa da mãe de José Mota. Quando começou o ano lectivo foi interno para o Colégio e vinha nas férias para as Sobreiras.
O Luís era muito comunicativo, atencioso, vestia calção branco e camisa branca, tinha mesmo um ar de África e lá no Paço da Comenda havia uma ou duas raparigas que andavam encantadas com ele.
O Luís morou ainda, durante as férias, em casa de uma senhora D.Conceição que devia pesar mais de cem quilos e morava ao lado do José Alfaiate na estrada para Torres Novas e também nas águas furtadas da casa do Dr. Henrique Mota, por cima do Taxa, pai da Estela. Depois houve confusão entre as mães da Estela e da Lurdes Nunes e o Luís deixa aquela casa. Agora não sei se ele veio das Sobreiras para a casa da D. Conceição ou se foi das águas furtadas para a D. Conceição.
Aquela D. Conceição não era de cá, veio da freguesia das Olalhas concelho de Tomar, não sei como vieram aqui parar. O Quim Bernardo, seu neto, deve saber. A mãe do Quim era filha da D. Conceição. Não me lembro do Quim ser bebé, recordo-me de ele ser menino de três/ quatro anos a caminho de Paialvo no meio da mãe e da avó, íamos para a missa. Gentes de fora que vieram para a nossa terra por várias razões.
Em 1951 ou 1952 o Luís frequentava Medicina na Universidade em Coimbra e já namorava com a Lurdes cuja família se mudou para o Paço da Comenda, eu já pouco o via embora ele viesse aqui passar férias.
Formou-se em Medicina, casou e nasceu o primeiro filho, passados dois ou três meses foi para os EUA 5 anos com uma bolsa. Em 1964 regressou com a família a Lourenço Marques, nasceu lá a filha em 1967. O Luís e a Lurdes em Lourenço Marques foram muito meus amigos. Ele tinha consultório numa avenida da baixa. Quando eu podia ia lá um bocadinho conversar com a Lurdes.
Também em Lourenço Marques conheci os pais do Luís, os dois irmãos e a irmã. Conheci também o José Pereira da Mota de que falei atrás, a esposa, que era tia do Luís, irmã da mãe, e as três filhas. Enfim, conheci os Dupont todos. O pai do Luís era natural das ilhas Maurícias, a mãe era uma mistura de África com Ásia, pelo menos parecia-me. A esposa de José Mota era uma bonita mulher. Cabelos negros muito encaracolados, pele branca mimosa, com traços (nariz) africanos. O Luís em Lourenço Marques era mais mauriciano do que africano. Os filhos do Luís, o mais velho e o mais novo já tinham traços europeus. A filha que faleceu depois da mãe quinze anos, quem a conheceu aos vinte anos, diz que era uma beleza exótica. O filho do meio, o Tony, é o retrato vivo do pai. Tinha todo o orgulho em dizer “eu sou americano”. Nasceu em Boston, um ano depois da minha filha.
Os dois rapazes filhos do casal devem viver ainda no Porto. Casaram, descasaram, voltaram a casar, etc.
Em 1974 regressámos todos às origens. A família Dupont instalou-se na cidade do Porto. Quando eu regressei da África do Sul a Lurdes já estava doente tendo vindo a falecer vítima de câncer da mama, a mesma fatalidade que levou há 13 ou 14 anos a filha que deixou um bebé com um ano.
Em 1976 ainda vi os cinco em casa do Ilídio no Porto.
A doença do Luís agravou-se muito algum tempo depois de ter casado 2.ª vez com uma médica da Figueira da Foz. O Luís faleceu no princípio de 2012, diabetes ao mais alto grau.
A última vez que o vi foi há uns treze anos, no tribunal quando do divórcio de uns amigos nossos.
A estória do percurso do casal Dupont foi muito cheia de trabalho, nome, bem-estar, economicamente um sucesso, mas infelizmente não lhes faltaram doenças. (Dulcinda Mota Teixeira)

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