Pelos anos de 1930 e 1940, era frequente aparecerem em Porto da Lage pequenos grupos nómadas, vagabundos, estropiados, vadios, indigentes. Os ciganos erguiam as tendas na margem da Ribeira, estacionavam a carroça, apascentavam os animais na relva da Ribeira e, por ali ficavam durante alguns dias. Os vagabundos aproveitavam o que o abrigo lhes oferecia. Os pedintes esmolavam de porta em porta, anunciando-se com rezas e lamúrias. Os vagabundos vagueavam durante o dia e desapareciam durante a noite.
Espantando os pardais da seara, José Malhoa |
Pelos anos de 1930 e 1940, era frequente aparecerem em Porto da Lage pequenos grupos nómadas, vagabundos, estropiados, vadios, indigentes. Os ciganos erguiam as tendas na margem da Ribeira, estacionavam a carroça, apascentavam os animais na relva da Ribeira e, por ali ficavam durante alguns dias. Os vagabundos aproveitavam o que o abrigo lhes oferecia. Os pedintes esmolavam de porta em porta, anunciando-se com rezas e lamúrias. Os vagabundos vagueavam durante o dia e desapareciam durante a noite.
Roque Gameiro, Ilustração das Pupilas do Senhor Reitor |
Desta gente anónima, sem eira nem beira, havia uma figura que se destacava pelas suas qualidades artísticas e conduta social. É o Luisinho das flores. Tinha 20 e poucos anos, estatura média, franzino, semblante afável e levemente formoso. Não pedia coisa alguma. Vendia os seus méritos de artista nato. Tocava maravilhosamente músicas populares com um pífaro feito de folha de Flandres, mais conhecido como pífaro de lata que era muito vulgarmente vendido em qualquer feira anual. Exibia-se a pedido de qualquer pessoa cobrando-se de uma moeda de 50 centavos em níquel. À sua aptidão natural para a harmonia dos sons, juntava-se a de esculpir em papel de cor as pétalas de uma flor, uma rosa ou um cravo, formava-a sem qualquer ferramenta de corte. Usava as unhas dos dedos das mãos. Pelo mesmo preço da tocata a solo, vendia a flor. Foi esta capacidade artística que lhe valeu o cognome, das flores. O diminutivo vinha da sua pouca idade e aparência física.
O Ilídio é um notável contador de histórias; cada uma melhor que a outra.
ResponderEliminarNão serão bem histórias mas recortes de histórias de gente que passou por nós como se viajasse no combóio que parou uns minutos na estação. Instantâneos que me causam uma dor retrospectiva: lembro-me dos factos mas não da empatia que me (não) terão causado.
Como que para me redimir, proponho que cada um procure reconstruir, recriar uma história verosímil para cada uma destas pessoas - a velha do chá, o Luisinho das flores, a pedinte que todos os sábados pedia boleia no regresso do mercado de Tomar, o que teria levado o Presidente da Junta a brincar com a laranja e outros