4 de abril de 2013

Sinais





Sinal triste, mesmo trágico, foi esta casa sempre (e o sempre já vai longo) para mim. Passava por aqui e as paredes e ombreiras nuas enegrecidas pela passagem do fogo, sugeriam-me vidas subitamente acometidas pela adversidade, gente feliz a quem o azar brusco interrompera a esperança e quebrara o alento para recomeçar. Razões para estas minhas fantasias residiam, talvez, em ter ouvido que a casa era nova quando ardeu e em verificar a imponência da estrutura restante que, apesar de danificada, parecia facilmente reparável. Mais tarde, vi-a já de telhado arranjado e vidros postos, pouco mais ou menos como se apresenta na figura mas em novo. Porém, o ar desgraçado mantinha-se, como se um destino funesto se tivesse apoderado da essência do edifício e o obrigasse, através das imensas janelas ogivais, a transmitir uma imperecível melancolia. E lá está ela, vê-se, eterna testemunha de que, às vezes, as obras dos homens, mais do que eles pois são mais duradoiras, perpetuam as marcas de sofrimento de quem as fez nascer.(MFM)


Em memória de A.M. “a melhor pessoa do mundo e a quem mais desgraças aconteceram, mesmo depois de morto”, como muito bem o ouvi definir. Eterna recordação de um adulto adorável presente na minha infância.