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O Cortejo nupcial segue para a igreja. Os homens à frente, encabeçados pelo noivo, vestido de preto com farta gola branca, de flor em punho. Atrás a noiva, também de preto, no grupo das mulheres. Ao longe já se ensaiam as danças da boda.
Passa-se a cena numa alegre e garrida aldeia da Flandres onde a prosperidade transparece nos trajes ricos dos camponeses, nas altas casas bem edificadas e na geral boa disposição dos presentes. Tudo brilhantemente reproduzido na nova temática da pintura "nórdica" (como lhe chamavam os italianos) que se inicia nos fins do sec.XVI: a paisagem e os momentos do quotidiano.
[Estas e outras obras-primas de grandes mestres do sec.XVII, provenientes do Museu do Prado, podem ser vistas até ao final de Março no Museu de Arte Antiga.]
Não nos costumamos lembrar disto, mas, a partir de 1580, Portugal , os Países Baixos e a Flandres faziam todos parte do "Império onde o sol nunca se punha" que fora o Grande Império de Carlos V, imperador do Sacro Império Romano-Germânico, na época já herdado por seu filho Filipe II (I de Portugal filho de Isabel de Portugal, filha de D. Manuel).
Fazendo embora parte do mesmo "império" penso que pouco teriam em comum as nossas aldeias com as industriosas das províncias neerlandesas que, não obstante a guerra incessante contra Espanha - "A Guerra dos 80 anos ou Revolta Holandesa" decorrente de 1568 a 1648 - eram prósperas e dinâmicas de tal forma que, após a independência, conseguiram criar uma Holanda que se transformou numa potência mundial, ameaçadora dos interesses portugueses e herdeira daqueles em muitos casos.
Pois neste período, em 1609 mais precisamente, a vida também corria, mais pobre e não tão colorida, digo eu, no "nosso território" ao norte da freguesia da Madalena, no "canto" entre Beselga e Assentis. Tanto quanto se pode observar nos movimentos registados em casamentos, era esta zona muito pouco habitada, ao contrário da restante onde pontificavam o Marmeleiro, Machial, Carvalhal grande e pequeno, etc. De Cem Soldos (lugar pequeníssimo) para cá, Porto Mendo seria o único "lugar", com pouco mais de meia dúzia de vizinhos, sendo o restante território ocupado por "casais", casal do Negro, casal dos Galegos, casal dos Gaios, casal da Velida, casal de Nicolau Dias, cada um deles ocupado por uma família ou gente ligada à família, aparecendo também a menção a "casais da ribeira" de modo genérico, às vezes mencionando gente já designada anteriormente como moradora num dos outros casais, outras vezes designando pela primeira vez, outras pessoas. O Paço, ou Paço da ribeira é mencionado duas vezes entre 1597 e 1625, com dois casamentos lá ocorridos, em que os quatro noivos não têm, aparentemente, nada a ver uns com os outros, isto é, não seriam família, ao contrário do que é habitual nos "casais". Ao todo, Porto Mendo incluído, contei 44 casamentos ocorridos no período de tempo que referi atrás nesta zona da freguesia, enquanto em toda a Madalena se realizaram 232 no mesmo período.
Porque Porto da Lage só aparece muito mais tarde em 1697, em registos desta natureza, os noivos, neste caso a noiva, mais perto que consegui arranjar, foi no já inexistente Casal da Belida.
Talvez que os festejos deste casório entre a Maria, da Belida e o Manuel, da Golegã, não fossem tão vibrantes como os que Brueghel nos mostra, apesar de lá estar "quase toda a gente da freguesia", mas de duas coisas estou certa: a alvura da igreja da Madalena com a sua pitoresca galilé (1) e o luminoso céu de São Martinho não deixaram a desejar nenhum templo cinzento calvinista nem a fria claridade do norte. Sempre o sol e o abençoado céu azul a reconciliar-nos com o pouco que tínhamos e temos! (MFM)
« Aos oito dias do mês de Novembro foram recebidos em face da igreja pelo padre frei Aleixo frei coadjutor conforme o sagrado concilio Tridentino constituinte desta jurisdição Manuel Vaz filho de Simão Alvares já defunto e de Catarina Vaz moradores na vila da Golegã com Maria Nunes filha de Domingos Dias e de Maria Nunes já defunta desta freguesia de Sta Maria Madalena moradores no Casal da Velida testemunhas Pero Nunes Diogo Dias o velho e o novo e Simão Fernandes Francisco Lopes e quase toda a gente desta freguesia e por ser verdade fiz este que assinei dia e mês supra era de 609 anos. Frei Manuel Fernandes (?)» (TT- assentos de casamento da Madalena, Tomar, Santarém)
(1) Sim, eu sei. A igreja actual da Madalena consta ser de 1660. Será. Mas no mesmo sitio havia outra desde quatrocentos. Se tinha galilé ? Se ninguém sabe, porque é que eu não posso achar que tinha?
Velida
ResponderEliminarSignificado: bela, formosa
D. Dinis
Levantou-s'a velida,
levantou-s'alva,
e vai lavar camisas
eno alto,
vai-las lavar alva.
Boa tarde,
ResponderEliminarVejo que tem muitas informações sobre famílias de Assentiz, principalmente dos Rosa. Eu ando a procurar mais informações sobre alguns antepassados, e descobri uma trisavó de nome Justina Rosa, que acredito ser da freguesia. Será que não tem informações sobre alguém com esse nome?
Desde já agradeço a disponibilidade.
Cumprimentos,
Ana Ferreira
Obrigada por seguir "Porto da Lage". É verdade que tenho alguma informação sobretudo sobre os descendentes de Manuel de Sousa Rosa, mas Justina não tenho ninguém na minha base de dados. Não poderá fornecer mais pormenores: nome dos pais, data de casamento e com quem,etc?
ResponderEliminarPeço desculpa pela demora.
EliminarJustina Rosa casou com António Pereira, e tiveram um filho com o mesmo nome do pai.
Obtives as informações através da certidão de nascimento do meu avô, mas a qualidade da letra não é a melhor. Justina Rosa poderá ser antes Juliana Rosa.
Obrigada pela resposta mas não me poderá acrescentar a data de casamento de Justina Rosa com António Pereira ou, pelo menos, a data de nascimento do filho? Ajudava. Bom 2015.
EliminarBom dia,
EliminarA data de casamento não sei, e o ano de nascimento do filho fopi 1891.
Espero que seja uma ajuda.
Bom ano.