(continuação)
[É isto que me irrita, anda um tipo há anos a tentar criar leitores e vem-me um ex-ministro e não só consegue manter em suspense (leia-se como se lê suspensórios) os “meus” magros leitores, como uma imensidão de gente, Payalvo em peso, a banda perfilada, Portalagem que embora com muito pouco peso actualmente, tem uma data de gente que por lá passou ou vai passando, e tanta gente mais que a polícia teve de cortar o trânsito da estrada real nº 15.Se fosse eu a escrever, não conseguia nem uma parcela deste suspense que faz com que os autores possam manter viva nos leitores a chama das suas novelas.Começa a apoderar-se de mim um pecado, não sei se mortal, se capital, se real mesmo, o da inveja!Começo a sentir uma necessidade imensa de desacreditar o orador que me chamou mentiroso.Começo a tentar a introduzir o veneno da suspeita no seu auditório, será real este ex-ministro?Começo a tentar adivinhar como vai ele descalçar a bota de demorar mais de meio século a percorrer um caminho que mesmo a passo de cavalo não leva mais que algumas horas.
Recordo que ficámos no “Só que...” e aqui estamos nós ainda no mesmíssimo impasse.
É que nem é pr'a ver a banda passar, que ela, a de Payalvo, continua perfilada, imóvel, o mesmo acontece ao maestro, mas, pasme-se, também acontece a toda aquela multidão; até eu estou sem fala...Sim estou estático fisicamente, que o meu cérebro fervilha, antecipando o que ele vai dizer.
........a de Payalvo continua perfilada e imóvel enquanto o cérebro do autor fervilha |
Passou por aqui? Viu este marco? Não o viu? Fez que não viu?
Não passou por aqui? Enganou-se? Foi retido? Voluntária ou involuntariamente? Voltou atrás?
Já viram a quantidade de hipóteses a que tenho de saber responder?
Espero que não recorra a Einstein, e à teoria da relatividade, isso não sei eu rebater.
O mesmo acontece se aventar algum rapto por extra-terrestres (OVNI/UFO), ou mesmo almas doutro mundo.
Continuo convencido de que só tentou prolongar o pagamento das ajudas de custo, daí ter aparecido a reivindicar a inauguração. Sim que sendo outro a inaugurar, quem lhe pagaria as ajudas de custo por tal tarefa?
Mas não posso falar disso sem primeiro o ouvir até ao fim; e ele pôs-nos em suspense; e assim estamos... firmes e hirtos...
Mas, no meu caso, com os neurónios a ferver.
Veio por aqui?
E não viu, dir-nos-á ele com olhos doces? E que, ao passar na fronteira dos distritos, estavam a colocar um indicativo disso mesmo e não viu este enorme marco?
Na verdade, a placa que em ambos os lados diz: “Direcção de estradas do distrito de” e dum lado acrescenta “Santarém” e do outro, “Leiria”, fica do lado contrário da estrada; Se duvidam, andem 100 metros na direcção de Leiria; Acresce que já lá passei muitas vezes e nunca vi este marco...
Mas se passou e não viu, terá muito que contar do tempo que resta, havemos de lhe pedir para mostrar os recibos que espera apresentar para justificar as ajudas de custo.
Mas se passou e viu, o caso muda de figura, queremos tudo muito bem contado, quero vê-lo a meter os pés pelas mãos. Quero ver como descalça esta bota (ou será “esta luva”?).
Ainda nos vai cantar a canção do ceguinho, que não podia proceder à inauguração sem a pompa que se impõe, sem uma banda à altura; que não tinha pensado na banda de payalvo, mas que até era boa ideia; que tinha andado todo este tempo a recolher as necessárias licenças; e com esta era bem capaz de nos convencer; a falar em licenças, espero que o presidente da junta tenha tratado disso, que eu só pensei no improviso (e nas palmas que lhe sucederiam).
Fez que não viu?
Acho que essa hipótese nunca ele vai usar, mas tenho de estar preparado para tudo; e o povo aqui presente não comeria qualquer justificação.
Não passou por aqui?
Enganou-se?
Passou por outro lado? Mas [...] indicou-lhe tão bem o caminho: Não há que enganar, segue esta estrada até Ourém, atravessa a vila e segue a estrada para Leiria...
Agora me lembro que Vila Nova de Ourém, como o próprio nome indica, não é Ourém; que já foi Aldeia da Cruz. Só há pouco tempo (estou a falar ao tempo da inauguração inaugural) a sede do Concelho mudou de Ourém para a Vila Nova, o facto pode não ter sido pacífico. Imagino que tenha perguntado a alguém se a terra era Ourém e que lhe respondessem que Ourém ficava no cimo do monte, e lá tivesse ele ido ao engano e que tenha tomado outro caminho para chegar a Leiria. Isto seria desculpa suficiente, não fora o tempo. Esse enorme gigante que ele engoliu. Espero pela explicação. Ai perde pela demora, perde!
Foi retido? Voluntária ou involuntariamente?Numa pequena aldeia como a minha, rapidamente se saberia da presença duma real figura na terra; Ainda por cima um ex-ministro. Imagino que muita gente quisesse recebê-lo, ou por ele ser recebido...
Estou a imaginar que passaria pela Junta de Freguesia, pela Câmara Municipal de Vila Nova de Ourém...cujo povo teria barrado a estrada para não deixar passar tão ilustre figura, na junta ofertar-lhe-iam um livro “Seiça, a terra e o povo”, de David Simões Rodrigues, que não deixará de relatar os pormenores do sucedido.Mas continuaríamos a desconhecer o que lhe sucedeu em todo este tempo.
Continuo com muitas suspeitas sobre o homem, que querem? Roubou-me o suspense!
Na verdade o que me roubou, foi o silêncio, mas acho que fica melhor deixar o “suspense”.
Estamos num tempo em que mesmo um ex-ministro podia ser preso sem culpa formada; não imaginam a quantidade de gente que desaparecia sem sequer ser presente a um juiz; é evidente que a polícia política nada temia dos monárquicos, mas primeiro tinha de garantir a realeza do ex-ministro; se um ministro pode ser perigoso, imaginem um ex à solta!
Mas a polícia política finou-se com o 25 de Abril e daí até agora há muito tempo para justificar.
E aqui continuamos nós ainda num impasse, tudo o que aventei, nada acrescenta; continuamos no mesmo espaço/tempo.
Não, não me sugiram que viajou no espaço/tempo; que algures à saída de Seiça haverá um portal espaço-temporal? Será assim que se diz?
Só assim se explica que a besta seja a mesma. Falo da alimária, não do ex-ministro, nem sequer do cocheiro, que não é por não falar dele que ele deixa de existir; ou quem julgam que tem tratado do cavalo? Estão a imaginar um ex-ministro a fazê-lo? Julgam que aparelhar um cavalo a uma carroça é fácil? Eu que já andei por essa “escola”, garanto que não sei se o saberia ainda fazer.
Quem julgam que ele mandava aos recados, se disso carecesse? Lembrem-se que nem secretário já tem.Não é que esteja preocupado com os seus problemas logísticos, mas isso poderá dar-me algumas luzes sobre o que mais poderá ele vir a dizer? ]
(lm)
(lm)
(continua)
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