11 de novembro de 2016

VII A Arte de Bem Cavalgar Sobre Um Selim (continuação)

Atropelo Biciclístico na Figueira da Foz

Por razões que a razão desconhece, meu pai, com a aquiescência de minha mãe, lembrou-se nesse ano que os quatro filhos mais novos precisavam de ares marítimos. banhos não eram necessários. Pegou em si, meteu-se no comboio que fica à mão, vai à Figueira da Foz, aluga dois quartos e regressa no mesmo dia. Tudo isto em segredo dos deuses para mim.
Foi traído por uma das minhas irmãs que me disse:

  “O pai vem no catorze “ – número do comboio que circulava naquela via cerca das oito horas da tarde com paragem na estação – “Foi alugar uma “casa” à Figueira.”
   





Sem mais qualquer informação, a um Domingo do mês de Agosto, terá sido no primeiro desse, ao alvor do dia, minha mãe e nós, os quatro filhos, entrámos num pequeno automóvel, propriedade da destiladora de álcool, conduzido pelo motorista de camiões da proprietária. Meu pai foi de comboio porque não cabia.

A viagem foi feita sem anormalidades. Saímos pela estrada da Beselga, Assentis. Aqui entrámos na nacional, passando por Ourém, Leiria e daqui à Figueira onde chegámos cedo. Meu pai chegou depois de nós.
Juntos dirigimos-nos à “casa”. Era uma pequena habitação de um só piso rés-do chão, numa rua à saída da cidade à distância da praia. Ocupámos dois quartos. A cozinha onde minha mãe preparará as simples refeições e o cubículo dos despejos são utilizados em comum com o casal de velhotes donos da casa.
Depois da confirmação física da nossa chegada fomos todos  para a esplanada da frente marítima que dá acesso à praia. O espaço é amplo com pavimento ensaibrado. Movimentam-se por aqui sorveteiros, caramileiros, fotógrafos “à-lá-minute” e os banhistas a caminho dos ares e das refrescantes ondas aquosas do mar.


Figueira da Foz - postal de 1930

O motorista que havia conduzido o automóvel estava connosco - regressaria a casa nesse mesmo dia com o meu pai - foi comigo a um dos alugadores de biciclos que operavam naquela esplanada e alugou uma para mim. 
Sem qualquer excitação, aí vou eu a pedalar pela esplanada fora que servia de pista velocipédica à mistura com peões. 
Nisto, o que era o mais provável aconteceu! Choco com uma senhora de largas ancas e volumoso peito que atravessava a esplanada. A senhora cai por terra e sofre um pequeno ferimento na testa entre as duas sobrancelhas. É socorrida no posto da polícia de trânsito existente no local e eu sou “detido” pelo polícia do posto onde sou levado à presença da senhora, que inquirida pela autoridade se pretendia responsabilizar-me, me desculpou...
Causa do acidente: não me lembrei de travar. Fiz soar a campainha... (IMT)

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E é assim, com este  aparatoso acidente, que termina o "pequeno ensaio literário" do Ilídio, assim lhe chama a sua filha que aqui deixou um interessante comentário sobre o pai e a sua obra, do qual  reproduzo um extracto, para aqueles a quem passou despercebido:

«... Este livro que foi intitulado de “Terras da Minha Memória”, foi a única e tardia obra que alguma vez produziu. Que produziu, disse bem. Porque tudo o mais estava bem presente e registado na “sua memória”. E não só os factos mas sobretudo a forma peculiar como recordava e interpretava, deduzia e teorizava, humorizava e comovia, criticava e sensibilizava.
Embora pequeno é exemplificativo e é com esse espírito que espero que todos o entendam....»


Quero também recordar, para quem já se esqueceu ou só agora conheceu o Ilídio, as suas crónicas sobre Porto da Lage que podem ser lidas neste blog de 8 a 19.04.2013de 8 a 10.05.2013 e 8 a 25.10.2013 (MFM)

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