16 de março de 2016

Cardeal e Governador Civil em Paialvo - Festa em Santa Maria dos Olivais


A igreja de Santa Maria dos Olivais nos finais do sec. XIX

Já aqui tínhamos visto que a Igreja de Santa Maria dos Olivais ameaçava ruína quando em 1895  fora visitada por uma  Comissão dos Monumentos Nacionais, composta por  Gabriel Pereira, Ramalho Ortigão e Júlio Mardel, a qual se comprometera a diligenciar os seus arranjos. 
E assim aconteceu, como as notícias abaixo revelam.
Nesta conformidade,  numa madrugada (que desconchavo de horários de comboios, santo Deus) de um domingo de Maio, lá se encontraram na nossa Estação de Paialvo sua Eminência o sr. Cardeal Patriarca e o sr. Governador Civil (note-se que, na notícia, nem a ordem de apresentação das duas individualidades é esta, sendo a contrária,  nem se prima pelo uso de maiúsculas - o que significa que até a redacção e a grafia variam conforme a importância que se vai dando, no tempo, aos personagens; na época o clero era coisa de somenos face ao poder civil, situação que teve altos e baixos,como sabemos, ao longo destes cem anos decorridos. Actualmente, atendendo ao lugar ocupado pelos políticos na graduação social, tudo lhes passa à frente,coitados!).
Pois lá foram estes dois dignatarios, que vinham a Tomar proceder à inauguração da igreja renovadarecebidos na gare pela câmara municipal, administrador do concelho, alguns eclesiásticos e muitos cavalheiros, enquanto a filarmónica de Paialvo os saudava com o Hino da Carta e subiam ao ar muitos foguetes. Nada de novo até aqui.
Também pressentimos o costume quando lemos que a Filarmónica Tomarense os recebe à entrada da cidade. Confere. Porém, a coisa começa a descondizer  quando vemos que aquela acompanha o sr. Cardeal Patriarca até à residência do sr. Padre José Martins da Silva Conceição, onde ficou hospedado. Sem mais. Só!? Então e o resto, e a minha marche aux flambaux? A padralhada, como então se dizia, não tinha direito a um cortejosinho "todo iluminado"? E não é que não tinha mesmo!! Então não querem saber que depois de arrumarem o pobre do cardeal e mais o padre seu anfitrião, em casa deste,  desatinam no tal "delírio" de que já temos conhecimento, pelas ruas habituais, até ao hotel onde a outra filarmónica, a Nabantina, toca o  hino e se seguem as girândolas e tal e tal!?
Mas estou quase esclarecida. Aqui há dias eu pedia ajuda para compreender esta intrigante e radiante marcha nocturna. Apesar das achegas, que agradeço, não cheguei lá. Parece-me, agora, que a alegre marcha assentava em muito cozinhado  com avental onde não costumava caber o clero, pelo menos o institucional. O que, pensando bem, até se compreende em terra de Templários. A propósito, tenho também que agradecer ao meu irmão J.J., quando me dizia que isto era um exemplo de como os tomarenses mantinham o gosto por marchar à luz de archotes. Pois fazem bem, até talvez representem a pureza original do que quer que seja. Mas sem Filarmónicas, nem vivas, nem damas à janela? Com todo o respeito, uma sensaboria! Prefiro as minhas, "as legítimas" de finais de oitocentos, quero lá saber se andavam ou não a desfilar com esquadros e compassos debaixo do braço.  (MFM)

4.04.1897



23.05.1897