8 de outubro de 2018

O Guia Oficial e o Serviço de Diligências directamente de Paialvo



Retirado também da entrada da Wikipédia que já aqui referi, foi este Guia Oficial dos Caminhos de Ferro de Portugal, de Outubro de 1913. Na única publicação autorizada pelas direções, pela módica quantia de 60 réis, obtinham-se 162 páginas repletas de toda a informação nacional e internacional (ah pois! quer ir a Londres a negócios, a Nice "vivre la vie", directamente, com todo o conforto? dizemos-lhe como) sobre linhas de comboios, horários, preços, tudo o que podia interessar a um viajante da época e que agora faz vibrar um amante destas coisas. O que, sempre vou adiantando porque tenho muito medo de ser mal-entendida, não é o meu caso. A bem do rigor histórico que desejo que impere em Porto da Lage (nos dois, blog e localidade) lá vou pesquisando sobre estações e comboios, mas q.b. com o sofrível imprescindível interesse, pois, tenho que confessar que, quer umas quer outros (embora me encante toda a iconografia associada, e a infantil sobremaneira) não são propriamente "a praia" das minhas paixões e o meu conhecimento sobre eles é muito diminuto.
Parêntesis feitos, adianto que o "Guia Oficial", acho eu, só por si, é capaz de contemplar todos os gostos e de animar quem o folheia, por diversos motivos, entre eles aquele que aqui nos trás .







Pois imaginem que, em 1913, e sem recurso, por exemplo, ao mappy, um dos meus leitores, morador em Porto da Lage, queria sair de sua casa, apanhar o comboio e dirigir-se, quem sabe, vamos lá ver, à Rua. Perfeitamente natural, nada do outro mundo, querer-se ir a Rua, tem-se lá amigos, parentes, negócios. Mas como? Muito simples, consulta-se o "Guia Oficial", procura-se Rua no Serviço de Diligências, fácil, vai-se ao "r" , está por ordem alfabética. Lá está: Rua. Pronto, fica a saber que só tem que  tirar um bilhete para Celorico, na sua estação e meter-se no comboio. Lá chegado (os entretantos também se consultam no "Guia" mas, por favor poupem-me, eu já contei das minhas fraquezas, os senhores farão o favor de ir ver de horários, linhas, transbordos e demais incómodos necessários), lá chegado, dizia eu, bastará tomar a diligência, que vos esperará no horário da chegada do comboio, quase garanto, apesar de se estar avisado da impossibilidade da precisão do mesmo, há-de ser assim, de outra forma para que servirá a diligência? será o lógico, ou então este é uma batata (andava ansiosa para pôr isto em qualquer lado- saudades da juventude sabem? dizia-se assim quando eu era jovem, que já foi depois de 1913, mas não tanto, por isso não sei se ainda se usa).





                                        









De igual modo, quem queria dirigir-se a Certã, Cercal, Maçãs de D.Maria, Cernache do Bonjardim, Valles (caso de Alfredo Keil, anteriormente, pois morreu em 1907), Águas de Todo o Ano, etc, proveniente de  qualquer local do país, ou da Europa, só tinha que vir de comboio até Paialvo e aqui apanhar a sua diligência.

Voltando ao nosso Guia Oficial o que nele atrai, mal o folheamos, é todo o apelo ao prazer, à distracção, ao cosmopolitismo, a uma boa vida, enfim. O que não é de estranhar. Trata-se de um guião com finalidade turística e lembremos-nos que se vivia então a Belle Epoque, quem podia vivia um clima intelectual e artístico novo com toda a promessa de inovações culturais, cientificas, de desenvolvimento, em particular dos meios de comunicação e transporte que aproximavam o mundo todoOs "Grande hotel" de cidades grandes, pequenas, das termas, sucedem-se, os "vapores" partem semanalmente para todos os continentes, com os seus telégrafos instalados, " Os específicos de Henrique E.N.Santos" garantiam, com o Lindacutis, o Dermor e o Blenol, o tratamento das mais variadas maleitas e a "Casa Chineza" os melhores chás e cafés, que já não vende, é certo, mas está perdoada, porque, no ano da graça de N.S.J.C. de 2018, ainda lá continua, com o mesmo símbolo, em frente do Monte Pio, e com as melhores Brisas de ovos de Lisboa!(MFM)