Si hortum in biblioteca habes deerit nihil

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13 de maio de 2023

O Artigo 62.º na Freguesia da Madalena

Nota prévia: A 24 de Dezembro último o Pai Natal (eu, o menino Jesus da minha infância não me atrevo a chamar aqui) pôs uma prenda no sapatinho deste blog (por meio de um comentário) a qual, depois de devidamente desembrulhada, ainda não tinha tido, até hoje, oportunidade de ser mostrada. Cá vai agora, espero que o resultado agrade e aí chegue, à Lapónia ouço dizer, em condições.(MFM)


A 21 de Abril de 1911 o Governo Provisório da República Portuguesa publica a Lei da Separação do Estado e das Igrejas. Definia esta nos seus primeiros artigos os principios  da liberdade de consciência e liberdade religiosa para todos os cidadãos, determinava o fim do Catolicismo como religião oficial do Estado, explicitando que "A República não reconhece, não subsidia nem custeia culto algum" colocando em pé de igualdade todos os credos e todas as igrejas. Apartava, deste modo, a organização do Estado e a política do campo de atuação próprio das organizações religiosas, quaisquer que elas fossem. 
 Os louváveis avanços civilizacionais preconizados  nos principios da Lei  acabaram por não ter os significado e resultado relevantes que mereceriam devido ao restanto articulado daquela e, sobretudo, à sua execução, que conduziram à  despropositada, selvagem e carnicenta perseguição de que a Igreja Católica foi alvo depois.
Pois que esta medida de Afonso Costa, suportada no Republicanismo anti-clerical que  culpava a influência da Igreja Católica de todos os males da vida social portuguesa, visando  assim restringi-la, acabou por não trazer nenhum bem nem à República nem, como é costume, a Portugal. A proibição do ensino religioso a um povo maioritariamente católico assim como das ordens religiosas, que na época se dedicavam sobretudo à providência social a um povo também faminto, a fiscalização do culto religioso (o culto público necessitava de prévia autorização, foram proibidos o uso de hábitos ou vestes talares fora dos templos, bem como as procissões religiosas e o toque de sinos nas igrejas), a nacionalização de todos os bens e rendimentos da Igreja deram origem ao descontentamento de grande parte do país. 
A esta decisão peregrina o partido no poder  juntou outras duas de igual vulto, mandar milhares de jovens camponeses analfabetos serem assassinados na Flandres e não atender as reivindicações e reprimir violentamente as lutas do operariado urbano. Foram estas, em suma, cumulativamente, as três principais razões que levaram o movimento republicano a perder toda a sua base de apoio e a tornar bem vindo o regime que lhe sucedeu.
Mas não é para discutir a bondade ou falta dela da primeira República que este post se destina. Desculpem o desvio da conversa. Voltemos à  Lei da Separação do Estado e das Igrejas e a um artigo da mesma que está relacionado, já adivinharam claro, com o que a dita prenda nos trouxe. Trata-se do famoso artigo 62.º que determinava que todos os bens até aí afectos à Igreja Católica passariam a ser pertença do Estado e como tal deveriam ser arrolados e inventariados, sem necessidade de avaliação remetendo-se os bens móveis de valor "cujo extravio se recear" ou às Juntas da Paróquia ou a museus. Com vista a essa inventariação o diploma prevê a criação em cada Concelho de uma Comissão Concelhia de Inventário.


  

Artigo 62.º da Lei da Separação do Estado e das Igrejas

E chegamos finalmente ao momento, que já tarda, de abrirmos a nossa prenda. Consiste esta nos documentos que comprovam o inventário e arrolamento feitos ao abrigo do dito Artigo 62.º na freguesia da Madalena.

Referem aqueles que a 13 de Outubro de 1911, os cidadãos António Mathias de Araújo, administrador do Concelho de Tomar, José Gomes dos Santos Regueira membro da Junta da Paróquia e José da Silva Pereira d'Albuquerque, Secretário da Comissão Concelhia de Inventário para os fins previstos no Artigo 62.º, compareceram "nos edificios denominados" Igreja de Santa Maria Madalena, Capela de Santa Marta e Capela de Santa Margarida, principiaram e arrolaram "o inventário da forma seguinte" ...

 Descrevem depois todos os bens móveis existentes dentro dos tais "edifícios" e que constam das imagens abaixo (a abertura do link proporciona melhor leitura).

         

Igreja da Madalena









Capela de Santa Marta - Marmeleiro






Imagem de Sta Margarida.






Como podem ler, do inventário consta além do edificio de cada templo com as respectivas confrontações, todos os bens supostamente encontrados no interior, sendo naturalmente os da igreja matriz em maior número, e que variam desde as imagens dos santos, aos quadros com pinturas sem autor, até aos paramentos clericais, casulas, alvas e estolas, etc. passando pelas 17 copas da irmandade e acabando nos panos môscas de cobrir os santos. Tudo foi arrolado, pelos vistos bem guardado e conservado a ponto de ser impecavelmente devolvido  em 28 de Agosto do ano da Graça de Nosso Senhor de 1942. Afinal tudo acabou em bem, embora pela minhas contas um pouco tarde. Não acham? 1942, só? O homem era mesmo cuidadoso, safa!!
Esta devolução deve ter sido formal pois a própria Lei deixava, salvo excepções, à guarda de Confrarias, Irmandades,  Fábricas da Igreja, quer os templos usados em culto quer o que constava no interior.
O Inventário faz ainda menção aos rendimentos da Igreja católica provenientes da freguesia: terrenos arrendados ou aforados, os quais são depois vendidos, sendo-o também alguns foros, e às "oliveiras em terra", distribuídas por 196 parcelas de terra de particulares, numa média de uma a três oliveiras por parcela. Estas oliveiras serão também vendidas por grosso em hasta pública. "Puxando a brasa à nossa sardinha" verifiquei que Porto da Lage é mencionada através de dois proprietários, Augusto Pereira da Motta que tinha sete oliveiras nas suas terras que teriam pertencido anteriormente à Igreja, uma no Casal dos Pretos, três na Fonte do Picoto, duas no Casal do Negro e uma em Porto da Lage, enquanto que a viúva de Manuel de Sousa Rosa, também moradora em Porto da Lage, tinha três em Porto da Lage e uma na Ribeira (?). 

Por último, tenho de referir ainda a estranheza por não fazerem parte deste inventário as capelas de Cem Soldos e  de Porto Mendo. Ou houve extravio dos respectivos documentos ou seriam capelas cuja propriedade não era do patriarcado de Lisboa (então a autoridade eclesiastica local), situação que o artigo 62.º excepcionava da nacionalização. (MFM)



Capela de S.Sebastião, Cem Soldos
Capela da Senhora da Saúde - Porto Mendo













                                             

24 de abril de 2020

A Família a que Pertenço



« Nasci em Porto da Lage, bem no Centro do País, aldeia criada pelo Caminho de Ferro – entre os Milagres de Fátima e os Fenómenos do Entroncamento. Esta importante “Linha do Norte” unia o Norte ao Sul e – a partir dali - abastecia o Leste (Castelo Branco, Alvaiázere, Tomar) e o Oeste (Nazaré) por galeras M.A.M., do Tio Manuel Augusto Mota.


A Ribeira de Beselga era a hipotenusa do triangulo rectângulo, cujos catetos eram o Caminho de Ferro e a estrada Tomar-Torres Novas. 





Originalmente, a aldeia ocupava essa área triangular, mas foi crescendo para fora do triângulo, o que obrigava a população a atravessar 1 de 3 obstáculos:






. a estrada, pelas inexistentes passadeiras;
. o Cº Ferro, pelas passagens de nível;e
. a Ribeira, pelas Pontes. 




Destas, a mais próxima era a Ponte de Cimento na Estrada Real, que nós usávamos para ir à Escola. No meu imaginário, teria conduzido a Minha Mãe (da Família Carmona, Bragança) à aldeia natal do meu Pai Henrique Pereira da Mota, onde ele foi Médico, desde 1933. 



As outras pontes eram de Sul para Norte: A sólida ponte de Pedra e 









e a ponte do Tio João dos Olivais, que evocava o Poeta Miguel Torga: 
“Sobre a ponte insegura é que épassar…
 É sentir o rio correr dentro das veias”…







Esta aldeia deu-nos uma sólida plataforma de apoio: Mãe, Pai, Avós, Irmãos, Tios, Primos…
Porto da Lage, Centro do País! A minha primeira contribuição científica! Achei um mapa das estradas e dobrei-o cuidadosamente, segundo as duas diagonais! O Cento lá estava, era óbvio! Por isso, Porto da Lage não vem no mapa… Não precisa! Vê-se a linha preta da CP, a linha azul da Ribeira e a linha vermelha da estrada TMR-TN. Nessa confluência está PdL! 
Há invejosos que disputam essa honra: Vila de Rei e Chorente! 
Vila de Rei até tem um Marco Geodésico gigante.

 Nós, um modesto “Marco da Paciência”, também geodésico, mas nada temos a ver com o Rei! 
Chorente. Há também um mapa, APÓCRIFO, mandado elaborar pela sua Morgadinha – Mapa de Portugale como ele deberia sere – que, para atingir os seus objectivos, remove a Mouraria (TUDO a Sul do Mondego) e acrescenta o Reino da Galiza, ao Norte. 
Assim Chorente se vai aproximando do Centro…. Invejosos!

A ESFERA SOCIAL ONDE ME INSERI onde compreendi as noções de: 
INTERDEPENDÊNCIA, pois havia um só profissional por cada ofício e todos nós dependíamos uns dos outros; 
ERGONOMIA, o exemplo do Relógio da Estação da CP – mais caro - com 2 faces para servir os utentes, sem risco para eles;
COMUNICAÇÕES, físicas – como se disse acima - ou orais e do uso de MODELOS que construía com Cubos, pedaços de madeira substituindo o Mecano, hoje LEGO! 
Não tínhamos TELEFONES, nem ÁGUA CORRENTE, nem ENERGIA ELÉCTRICA, mas nós concentrávamo-nos no que tínhamos. 

Escrevi “O ABECEDÁRIO DE PORTO DA LAGE” que espelha as 30 actividades únicas da aldeia, donde destaco o trabalho por turnos (da Fábrica do Álcool a partir do Figo, da Guarda Fiscal e da Estação do Cº de Ferro).





foto de guarda-fiscal retirada daqui















ABECEDÁRIO de PORTO DA LAGE (idealizado por miúdo de 5 anos, mas escrito 75 anos depois!):


ÁLCOOL+AGUARDENTE DE FIGO, turnos na Fábrica e material de escritório no dito.
BARBEARIA, O Zé Vasconcelos “Cocó” criava cocós, dava injecções, reparava bicicletas, e tinha luz a Carbureto.

COMPANHIA PORTUGUESA dos CAMINHOS de FERRO – CP, Turnos e o tal relógio ergonómico de 2 faces. 
DOMÉSTICAS, Falo mais à frente na Engrácia, mas há muito mais exemplos: Celeste Pequena, Maria dos Anjos, por ex.
ESCOLA PRIMÁRIA, onde fiz os 4 anos de Instrução Primária, com Professora de eleição: D. Amélia.
FARMÁCIA, hoje não existe; foi “ALFA”, antes “AFRICANA” pois o Sr. Oliveira fez o seu Pé de Meia em Moçambique.
GRÉMIO, Grupo Recreativo, mais tarde Clube, onde havia Teatro, Bailes, Ping Pong, Rádio etc.
HORTAS, Toda a gente tinha a sua, donde tirava as verduras com que se alimentava.
IGREJA, Apenas a 1ª pedra. A 2ª nunca apareceu. Mas o Padre Nicolau – um santo - compensava. ..Muito mais tarde fez-se a Capela nos Vales, com material cedido pelo Tio João Pereira da Mota, o tio João dos Olivais.
JORGE/JÚLIA, exploravam a Padaria, alimentando várias freguesias. Dali a noção de contrapeso! Pais da Mª Augusta e do Artur.
KREMLIM, Alguns exilados em Porto da Lage que preferiam o Norton de Matos ao Carmona. Daí o meu 1º discurso!

LAGARES DE AZEITE, 
Fascinantes: as mós a moer as azeitonas, bem espremidas depois. Havia dois: Tio António Mota e Tio Augusto Rosa.





MÉDICO, Dr. Mota, Consultas das 9 às 12… e das 12 às 9! Correspondente de “O SÉCULO”, diário do João Pereira da Rosa.





NITRATO DO CHILE, A Cª União Fabril,  representada pelo snr. Carlos Nunes -vendia adubos, fazendo lucros com cocó das aves do Chile.









OLEOS FISKE'S & PNEUS INDIA, do João Peixoto. Só 2 vezes na minha vida encontrei referências a tais marcas!
PASSAGENS DE NÍVEL, 3, tipo lição de geometria fazendo ângulos: 1 agudo, 1 obtuso e 1 recto.
QUIXOTESCO, O Marco da Paciência que era impaciente, mudando de lugar consoante a largura da camionete da Serração…
RIBEIRA DE BEZELGA, Dantes atravessada a vau o que se chamava Porto, e tinha uma estalagem, daí PORTO ESTALAGEM … Porto da Lage com “G.”


SERRAÇÃO DE MADEIRAS, cheia de cascas de pinheiros, (barcos) e os peças de madeira (cubos e paralelipipedos).


SERRALHARIA, O serralheiro Carlos Sousa fixava aros de ferro nas rodas de madeira, aquecendo-os!
TELEFONES, 3, privados: A CP, uso interno; Fábrica do Álcool, uso interno e o Secreto, do vinho a martelo.
UTÓPICO, A água canalisada que só chegou em 1950. A fonte é o ex-libris do Portodalage.blogspot da Prima M.F.M.
VELOCÍPEDE, 2 irmãos ciclistas (Seixos) tinham oficina de reparações e vendas. O Zé Cocó era rival.
WHISKY, A preferência local era pelas equivalentes: a aguardente: de alambique ou a abafada (Jeropiga), fortíssimas. O álcool etílico era desnaturado!
XAROPE, O Dr. Lopes (Farmácia) tinha 2 produtos “sui generis”: o Hemon Bê (tosse) o Fosfoglucer (memória.
YYY = INCÓGNITAS, A “Velha do Chá” e o “Pobre Alegre” faziam 1 lindo par mas evitavam-se!
ZINCO, O Latoeiro e Pastor Adventista João Pena, foi o 1º a descansar ao Sábado e ao Domingo! Também fazia graxa.

Aprendi a noção de contrapeso duma maneira drástica: O Sr Jorge amassava o Pão, mas nem sempre conseguia o pão de 1 quilograma, o tabelado! Assim a D. Júlia, tinha um pão extra, donde cortava a fatia para contrapesar. Eu – dedicado – oferecia-me sempre para ir buscar o Pão. Era tempo do racionamento!
Um dia, vinha encantado a saborear o contrapeso, quando o meu inimigo “Cão do Talho”, se atirou a mim, cobiçando o pão. A minha empregada Engrácia, não achou graça à brincadeira e com um pedaço de tijolo, afastou a fera. Daí a minha afeição pela cor de tijolo… Por gratidão decidi seguir Engenharia, cujas insígnias académicas são as fitas cor de tijolo!
O problema não acabou ali. Ao fugir do cão, fui atropelado por um carro de bois que seguia - em flagrante excesso de velocidade -na Estrada Principal, hoje Rua Dr. Henrique Pereira da Mota.



Assisti a um enterro de pessoa corpulenta. Todos diziam: “Ali vai uma grande Alma!” Será que Alma e Nadegueiro são sinónimos? Na catequese não fui esclarecido…

ANO SABÁTICO, EM COIMBRA Os jovens de agora, gostam de ter um ano sabático a separar o Curso Liceal, do Curso Universitário. Para amadurecer? Tal não é original, pois eu tirei um ano sabático, em Coimbra - entre os 5 anos de observação do meio ambiente, com tempo de sobra para ver os “ninhos” - e a Escola Oficial. Fui fazer companhia aos meus Avós maternos, que por sua vez, acompanhavam o Estudante de Direito e meu Tio, António João. .. No seu 1º ano a sós, vindo do Colégio Nun´Álvares, vulgo Colégio das Caldinhas, Santo Tirso, não atinou com o caminho para a Universidade…
Quando cheguei, o Tio já sabia os caminhos e levou-me a ver a UNIVERSIDADE de Coimbra (Enorme), a Sede da Associação Académica de Coimbra (para quê mesas com panos verdes?), o campo de Santa Cruz, quando a Briosa Académica (AAC) defrontou o Sporting Clube de Portugal, com os 5 Violinos, e por fim, levou-me de “CHORA” (Eléctrico) a ver o Portugal dos Pequeninos, que me encheu as medidas, em especial a universidade!
(De lá veio o Mapa, mostrando a epopeia marítima dos navegadores portugueses. Eu sonhei emular os navegadores, mas tal não aconteceu… Descendentes meus – em meu nome - já cobriram Angola, Espanha (Par de netos), França, Escócia, Inglaterra (1 neto), Holanda, Omã (2 netos), Brasil (1 neta), Dinamarca, Estados Unidos (1 neta), etc.
De Coimbra, importei o jogo de mesa: Futebol de Botões, que poucos conhecem, aparte dos PortoLagenses e do Ançanense Zé Veloso, que também o aprendeu! A vantagem era nossa pois tínhamos uma fonte inesgotável de matéria prima: os “Trapos”, onde a roupa velha - destinada a fazer pasta de papel - era espoliada de todo o corpo estranho, mormente botões!

Nasci no ano do triunfo da Académica sobre o Benfica, nas Salésias para a 1ª Taça de Portugal.

ESCOLA PRIMÁRIA DE PORTO DA LAGE 1945-49 Sou o #2 dum conjunto de 9 crianças – 7 rapazes e 2 meninas. 6 dos 7 rapazes – um morreu cedo - foram alunos da Professora D. Amélia Silva Santos, que nos aturou durante cerca de 20 anos (1943/63). Sendo o 2º, tive a tarefa facilitada: bastava seguir as pisadas do mais velho. Ali aprendemos as primeiras letras e os números.
Minto! O Henrique, aprendeu as letras, ao colo do Pai, lendo os cabeçalhos do jornal “O Século”, dando-lhe nomes mais apropriados: “T”= martelo, “O” = roda, o “C”= roda partida… Até escreveu o que poucos conseguiram ler correctamente: HVTA (A gaveta!).
O meu irmão mais novo, o Luís Manuel, preferia os números, fossem eles árabes ou romanos. Desde tenra idade, se sentava no seu poleiro preferido, ardósia sobre a mesa, molhava a ponta do lápis de pedra com saliva, punha a língua de fora e esperava o desafio… “Escreve o 3” e ele olhava para o horizonte, para se inspirar e gatafunhava o “3” e desenhava o “III” e assim por diante… Até que, convencidos que ele dominava a técnica, lhe pedimos o “13”. Debalde,,, É que o nosso relógio de sala, convenientemente colocado na linha de horizonte, só tinha no mostrador os números de “1” a “12” tanto em algarismos como em números romanos!
# Também reforcei o meu entendimento da noção de contrapeso, só que aqui não davam côdeas mas sim “bolos” da menina dos 5 olhos!
Fiz o exame da 4ª classe da Instrução Primária, em Tomar e antes do exame de Admissão ao Liceu, no Liceu Nacional de Santarém, recebi o prémio raro, que também tinha sido dado ao Henrique: Aulas de Condução, dadas pelo Pai! “Vai à Mamã e pede uma almofada…”
Naquele tempo, em que não havia motor de arranque, deixar o motor ir abaixo implicava usar a manivela. Isso exigia um certo cabedal! Felizmente o Austin MN-36-95 era fácil! Para dosear o ar, puxava-se um botão que se mantinha na posição correcta entalando uma caixa de fósforos… O uso prolongado revertia nos “Malefícios do Tabaco”, doença de que o meu Pai só curou aos quarenta e tal anos!»
                                                                                  Augusto Carmona da Mota
                                                              ( Extracto do discurso do seu 80º aniversário, 03.03.2019)
   

17 de outubro de 2019

O Elefante Branco



                                                                    
Gravura de Hanno em um Panfleto de Roma (retirado da Wikipédia)







"14 de fevereiro de 1570 faleceu nicolau dias morador em beselga por ser freguês se mandou enterrar no adro da igreja de santa maria madalena fez testamento a que me reporto por sua alma mandou que ao enterramento se dissessem(?)  ? missas uma? cantada e duas rezadas _? ofertadas com pão vinho(?) cada um? segundo costume da igreja e um oficio inteiro de nove lições de sete salmos tudo segundo do costume da igreja e ao mês outro tanto e ao ano outro tanto cumprindo-se(?) a vontade do defunto e no cabo d(?) a quitaram conforme feito? ut supra. [aa] S.Lousado"(1)





"aos doze de fevereiro de 1576 faleceu simão fernandes pouzão fez testamento que mandou que ao dia de .... se dissessem quatro missas três rezadas e uma cantada ...... um oficio inteiro de nove lições  segundo do costume da igreja ..."


Nicolau Dias é meu 11.º avô pelo menos duas vezes, por via de seu filho António Dias, o preto (morador no "seu casal" ou no "casal de Nicolau Dias"), cujos  filhos Manuel Dias e Antónia Dias foram ascendentes, respectivamente, de meu bisavô Augusto Mota e de minha bisavó Maria José Sousa Rosasua mulher. Manuel casou-se, em 22.11.1620, com Domingas Jorge, do Paço, e, entre esta localidade e Além da Ribeira se desenvolveu a sua geração, enquanto sua irmã Antónia já teria casado com Álvaro Nunes, das Moreiras Grandes, em 27.11.1610, e dado origem a uma dinastia em Assentis que veio, no fim do sec. XIX, a  encontrar-se com os descendentes do irmão, em Porto da Lage.

Simão Fernandes Pouzão (de família talvez proveniente dos Pouzos, cujo nome terá adoptado como apelido para se distinguir de outros Fernandes contemporâneos), natural dos Casais, onde toda a sua geração permaneceu até 1712, quando se ligou a Catarina Lopes, do Carvalhal Pequeno, é meu 12.º avô, também por via de Augusto Mota .

Ambos, Nicolau e Simão, são homens da primeira metade de quinhentos. Nicolau morreu cedo, ainda com filhos pequenos, Simão já com netos, pelo que deveria ser mais velho. Já teria nascido quando, pelas ruas de Roma as multidões olhavam extasiadas o deslumbrante desfile, nunca visto, de jóias e tecidos exóticos, das onças, das panteras, dos leopardos, dos coloridos papagaios e do albino elefante Hanno? E, os dois, teriam sabido desta aparatosa "Embaixada" oferecida ao Papa pelo seu rei D.Manuel, para demonstrar a riqueza e a glória do seu país? E, alguma vez, terão dado conta de tanta grandeza ou terão beneficiado alguma coisa dela?
Tanto um como outro terão vivido a lutar com a natureza, a fazê-la produzir e a louvar o Senhor quando o conseguiam. O Senhor que não os poupava, que lhes trazia fome, seca, intempéries e doenças, lhes levava os filhinhos e a mulher de parto, deixando os restantes órfãos. Mas com Quem não deixavam  de contar na desgraça, a Quem agradeciam na bonança e se encomendavam quando partiam para o lugar que lhes traria, finalmente, a prosperidade eterna pela qual tinham esperado e penado neste mundo. Nenhum deles terá abandonado a sua terra ou a freguesia, não terão pertencido àquele povo néscio enganado pela Fama e Glória soberana, sagaz consumidora conhecida, de fazendas, de reinos e de impérios,  " Por quem se despovoe o Reino antigo, se enfraqueça e se vá deitando a longe?" como profetizava o sábio  velho do restelo.
Estes avós, meus e de milhares que os desconhece, fazem parte do povo que ficou, que não embarcou, mas que viu irmãos e filhos partirem,  em busca dos Hanno e dos papagaios em terras longínquas. Que esperou, velando pela pobre pátria, e os viu voltar,  às vezes, outras nem isso, ricos, pobres, estropiados, heróis ou mártires, e os acolheu. Ontem e sempre (MFM)




Nota: Extractos de assentos de óbito retirados daqui

(1)Agradeço a ajuda na leitura deste assento a Edmundo Simões, profundo conhecedor e estudioso das genealogias de Torres Novas e outras, aproveitando a ocasião para lhe agradecer, publicamente, a disponibilização de grande parte da árvore dos meus antepassados de Assentis, muitos dos quais se cruzam com os seus. 

6 de outubro de 2016

Quinta de Porto da Lage I



Continuando o tema do último post sobre a  Quinta de Porto da Lage trago hoje aqui a apresentação gráfica possível (quero dizer, dentro das minhas possibilidades- feita por mim!) da quinta, tendo como base os mapas por satélite google.
A primeira imagem representa o desenho do limite total da quinta e dos restantes terrenos propriedade de João Manuel de Sousa, este teria também terrenos do lado de "lá" da linha do caminho de ferro, que não estão aqui assinalados por não serem considerados importantes, neste caso.
A segunda é uma imagem aproximada de parte de terrenos da quinta e de outros, que deram origem à "parte urbana" de Porto da Lage.




Linha vermelha -contorno de parte da quinta; Linha amarela -contorno de outros terrenos de João Manuel de Sousa; A-terrenos comprados por Manuel de Sousa Rosa em 1883; B-terrenos comprados por Manuel de Sousa Rosa em 1895; C-outros terrenos; 1-casa de Manuel de Sousa Rosa Júnior construída em 1886; 2- casa de Augusto Mota construída em 1889; 5-taberna de Faustino dos Santos adquirida em 1893; 3- casa de Ana Sousa Rosa construída em 1898; 4- casa de António Sousa Rosa Júnior construída cerca de 1900.


Através desta figura podem ver-se as construções originais da quinta, o moinho e a casa de morada da quinta (casa dr. Sousa) que teriam outras pelo meio, como podemos ver  neste post . O edifício seguinte seria, novo ou aproveitamento de anterior, aquele onde se instalou a CUF na data ainda lá inscrita 1877?. Vieram depois, após a venda da quinta, as casa de Manuel Sousa Rosa Júnior (contou-me há anos a Isaura Rosa que a sua seria a primeira casa de PL, segundo lhe tinham dito no licenciamento de obras da Câmara Municipal, seria a primeira a ser licenciada?) e de Augusto Mota, que continuarão sós até 1893, data em que serão acompanhados pela taberna de Faustino dos Santos, a qual foi instalada numa construção pré- existente.
Estava, portanto, certo o Dicionário Postal e Chronographico do Reino de Portugal ao referir como três o número de fogos existentes em Porto da Lage em 1894. 
No inicio do século XX mais construções surgem: outras duas casas de filhos de MSR e a casa de Mendes Godinho construída no local (ou próximo) do Moinho, que será a única a não pertencer à família de MSR  em todo o território da antiga quinta, durante muitos anos.
Nesta década faz-se notar também em Porto da Lage um casal que vai tendo vários filhos - os Sousa Orfão, o qual, pela localização das casas actuais desta família, se deve ter instalado na zona denominada na figura como C.
A partir de meados da segunda década de XX assiste-se ao crescimento da povoação, a rua principal começa a tomar forma com a construção de casas destinadas à nova geração, filha dos donos das primeiras.





Anais do Município de Tomar de Amorim Rosa, vol. 1901-1925


"1906 - 4 de Outubro - a câmara deliberou proceder a pequenas reparações no caminho público de Porto da Lage (fls. 130)
1907 -7 de Fevereiro - o vereador João Mendes Godinho foi autorizado a proceder às reparações do caminho público de Porto da Lage (fls. 137)
1908 - 20 de Fevereiro - a câmara deliberou proceder à reparação do caminho público de Porto da Lage ao Paço até à quantia de 50$000 réis (fls.180)
1918 - 20 de Maio - a junta da Madalena pediu com urgência, a reparação da estrada que passa por dentro do lugar de Porto da Lage e que vai desde a estrada de macadame até à ribeira da Beselga. (fls. 443)"





Pelos anos trinta os baixos das casas já são, nalguns casos, destinados a comércio, a pequenas industrias (sapateiro, latoeiro) e serviços, enquanto se assiste à edificação de casas destinadas a arrendamento e ao alindamento das já existentes, integrando portões que ostentam letras com iniciais dos nomes dos proprietários e datas.

Em 1928 tem início o funcionamento do ensino primário, o que significará  não só a existência de crianças suficientes na localidade em idade escolar, como o reconhecimento da centralidade de Porto da Lage como um futuro centro educativo da freguesia. Apesar de, precisamente nesse ano, a estação de Paialvo ter deixado de ser a principal via de acesso a Tomar, não parece, no meu ponto de vista, que Porto da Lage tenha perdido algo da sua vitalidade e crescimento com esse facto. A fábrica do álcool e a consolidação da localidade como centro comercial da região, contribuíram, mais do que a estação, para o fulgor de Porto da Lage, de cuja  vida social já falaram como ninguém, neste blog, Dulcinda e Ilídio Teixeira, que durou até ao fim dos anos sessenta e que tanta nostalgia traz ainda a tanta gente. (MFM)
 ...continua ...

17 de setembro de 2016

Quinta de Porto da Lage *


Ao meu avô que aqui nasceu completam-se hoje 124 anos.

                                                                       Prólogo

A designação porto da Lagem aparece no século XVII associada ao seu moinho de fazer farinha. Sabe-se o nome do moleiro daquela época, da mulher, da data do baptismo dos filhos. O pequeno território, situado na margem direita da Ribeira da Beselga, ladeado  pela estrada real proveniente de Coimbra desde a ponte onde o Ribeiro da Longra desagua naquela Ribeira e o local onde a estrada se começava a afastar para Paialvo e deixava de ser termo de Tomar, tudo indica ser a base do que se passou a chamar no final do século XVIII, também, quinta de Porto da Lagem. 
De acordo com os registos paroquiais da freguesia da Madalena, no século XVIII verifica-se alguma vida social em Porto da Lage: os moleiros e família, os administradores e criados da “quinta” e mais, "os assistentes" e o pessoal de passagem pela estalagem que, sabemos, tem autorização de funcionamento em 1747 embora existisse antes. Assiste-se nesta época a grande confusão: indiferentemente se chama Quinta de Porto da Lage à propriedade de Manuel Pereira de Sousa – o Casal ou Quinta da Belida (ou Velida) - ou à Quinta de Porto da Lage ou moinho de Porto da Lage de Raimundo José de Sousa.

                                                               I
                                                       Os Sousa 

Raimundo de Sousa, natural de Paião, hoje Figueira da Foz então Montemor-o-Velho, terá herdado a quinta ainda criança, tendo, no entanto, apenas passado a habitá-la por volta de 1780, já desembargador aposentado, quando se casa. Dos seus numerosos filhos será o mais novo, João Manuel de Sousa, nascido em 1798, o que vem a ficar com a quinta. 
De João Manuel conhece-se além das datas de nascimento e da morte (1871) que terá vivido com falta de dinheiro (as hipotecas e as dívidas em dinheiro à Misericórdia de Tomar provam-no) e terá mantido relação marital com uma rapariga dos Vales, Maria José (ou Maria da Piedade) de quem tem quatro filhos e com quem casa em 1861, data a partir da qual legitima os filhos (até então expostos). Desconhece-se porque não se casou antes e mais, por que só legitimou os filhos sendo estes já adultos. Será coincidência mas o certo é que, pouco depois do seu casamento, um cunhado, um tal Bacalhau irmão da agora mulher, lhe paga uma avultada hipoteca. Concluir que o pagamento desta dívida terá servido, também, para pagar a moralização da família é especulação que abonará pouco o carácter do senhor, que já Lá está há muitas décadas, pelo que ficaremos por aqui. Mas que a coisa está mal explicada está.
Dos quatro filhos é sobejamente conhecido João Maria de Sousa (n.1836), o médico e historiador, cujo nascimento a tradição atribui ter sido em Porto da Lage, o que eu acredito embora nenhum dos documentos relevantes da sua vida o ateste; consta como nascido em Tomar (o que fará sentido pois foi baptisado como exposto em S.João Baptista) no assento de casamento, e como nascido em Paialvo na certidão de óbito. O seu irmão Henrique será o primeiro chefe da estação de caminho-de-ferro de Paialvo, não tendo as duas irmãs, Maria da Conceição e Margarida da Glória, que se saiba, algo que se destaque nas suas vidas.
Após a morte de João Manuel, a viúva e três dos filhos continuam a morar em Porto da Lage, enquanto João Maria, casado, vive em Tomar, até que, em 1879, a família decide vender a quinta. Após a morte da mãe, que terá ocorrido cerca de 1893, tem-se notícia que Henrique é funcionário das alfândegas no Porto e as irmãs vivem em Coimbra, enquanto João Maria permanecerá em Tomar até à sua morte, que ocorrerá em 1905. Por essa época já terá acabado, de vez, a ligação da família Sousa a Porto da Lage. Por aqui viveram pouco mais de cem anos.

Jornal "Emancipação" -28.12.1879

                                                                II
                                                    Os Sousa Rosa

Em 1883  Manuel de Sousa Rosadono da Quinta da Belida,  compra uma propriedade rústica e urbana denominada Quinta de Porto da Lage, próxima à estação da via férrea de Paialvo, na freguesia da Madalena neste concelho [Tomar], que consta de terra de semeadura, vinha, uma morada de casas e diversas acomodações agrícolas e um moinho ou azenha na Ribeira, confrontando a Norte com António Gonçalves, Poente e Sul com estradas, Nascente ...  pagando um conto dezasseis mil seiscentos e trinta e dois réis aos vendedores e ficando com o encargo da hipoteca à Companhia Geral do Crédito Predial Português no valor de um conto, novecentos e oitenta e três mil trezentos e sessenta e dois réis.


Assinaturas do representante dos vendedores e do comprador, na escritura de compra e venda  da Quinta de Porto da Lage.


     A propriedade rústica e urbana denominada Quinta de Porto da Lage, conforme consta da escritura que transcrevemos, para além de não ser um corpo, pois tem três números matriciais, também, pela forma como é caracterizada - "propriedade denominada quinta ...",não parece ser, "institucionalmente" uma quinta, antes se chamará assim por tradição e hábito. A "quinta" também é mais pequena do que se julgaria, pois alguns terrenos contíguos, embora do mesmo dono, não fazem parte dela. É o caso de uma terra de semeadura com árvores denominada a Carreira separada da quinta pela estrada, que Manuel de Sousa Rosa também compra  e que consta da mesma escritura da quinta. Igualmente a casa que, suponho, terá sido a antiga estalagem não integra a quinta, continua na posse dos Sousa e só será vendida a Faustino dos Santos em 1893 para que este nela instale uma taberna, permanecendo os antigos donos ainda com o pátio mas comprometendo-se a não o utilizar de forma a fazer concorrência ao negócio de Faustino! 
Outro caso é aquele em que, em 1884 um tal Bernardino dos Santos Carneiro, de Lisboa, comprara à família Sousa " um talho de terra de semeadura no sitio limite da Quinta de Porto da Lage em cujo terreno está construído um prédio com fábrica de destilação e adega e mais arrecadações que confronta a norte e poente com a estrada .... a nascente com o ribeiro".Esta propriedade (1)será também comprada, em 1895, por Manuel de Sousa Rosa e por um tal Sousa, da Beselga. 
Aquele Bernardino teria também vendido, a Manuel Mendes Godinho, um ano antes, o armazém que conhecemos hoje como "da União Fabril" o qual, atendendo à data que ainda ostenta, deverá ter sido comprado por si, Bernardino, cerca de 1877, à família Sousa, também ele não fazendo  parte da quinta, conforme está comprovado.
Estranhos contornos tinha a famigerada quinta!
Manuel de Sousa Rosa e a mulher são agora donos e senhores da chamada Quinta de Porto da Lage e de alguns terrenos adjacentes, da Quinta da Belida e de outras fazendas avulsas dispersas pelas Sobreiras, Gaios, Galegos,etc. São grandes lavradores à moda antiga, com grandes olivais e figueirais, terras de semeadura, vinhas e hortas na várzea da ribeira, mas será que os tempos ainda correm de feição para quem só depende da agricultura e pretende deixar este modo de vida aos filhos? O casal pensa que sim e quer ajudá-los proporcionando-lhes já os meios necessários enquanto são novos, pelo que em 1894 faz uma escritura de doação de parte dos seus bens, entre eles a quinta de Porto da Lage, a quatro dos seus sete filhos: Manuel, Maria José, António e João, sendo que os dois primeiros já viveriam na quinta desde 1886, no valor de 750 000 réis para cada um (420 000 euros?). Mas os seus planos saem gorados, afinal os tempos, e os planos dos filhos, já são outros.
O filho João, a quem calhara a “fatia” correspondente ao moinho, poucos meses depois vende  a sua parte ao irmão Manuel e ao sogro Manuel Mendes Godinho. O que terá pensado (e até dito!) o pai desta apressada vontade do filho se desfazer do que lhe fora oferecido, embora enterrado nos segredos do passado, pode imaginar-se! enfim, pelo menos a cidade de Tomar terá lucrado com o desplante (seria graças a isso que foi financiada aquela a que hoje se chama Casa dos Tectos?).
Contas feitas, a antiga quinta, e só essa, passa a estar, nos finais do sec.XIX, dividida entre Manuel de Sousa Rosa filho, Maria José casada com Augusto Mota e Manuel Mendes Godinho, cujo filho construirá o casarão cujas ruínas ainda são bem visíveis, presumindo-se que Manuel de Sousa Rosa tenha conservado ainda alguma parte, como a "morada de casas" pois será uma outra sua filha, Ana, quem as virá a possuir (doação posterior ou herança). As propriedades resultantes da divisão da quinta deverão ter sido, então, sujeitas a novos registos cadastrais, os quais, por sua vez, serão subdivididos na geração seguinte (só a parte de Augusto Mota terá sido dividida em outras quatro ou cinco partes), forma em que permanecem, acho eu, até hoje. A Quinta é uma memória.  Os descendentes de Manuel de Sousa Rosa, casando entre si, trocando e vendendo entre si, vão preservando, embora divididos, a maioria dos terrenos da antiga quinta até aos anos oitenta do sec. XX, período a partir do qual começaram a alienar os bens. Mais cem anos.                                               

                                                              Epílogo 

 ... ao contrário dos Sousa, que desapareceram da face de Porto da Lage, os descendentes dos Sousa Rosa, o sobrenome actual não importa, ainda se agitam por ali, em corpo ou em espírito, fixos ou nómadas, almas errantes estrebuchando, aflitas, à procura das raízes. Se alguém, depois de 2080, continuar esta história que diga o que lhes aconteceu. (MFM)

(1)- onde fica, quem sabe?