Si hortum in biblioteca habes deerit nihil

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13 de outubro de 2015

13 de Outubro - Aniversário do Passamento de Gualdim Pais







Há 120 anos, em Abril, o tomarense Vieira Guimarães, que agora conhecemos por nome de casa, mas que foi médico, professor liceal e historiador, sugeria no periódico A Verdade que se comemorasse o sétimo centenário do "passamento" de Gualdim Pais em 13 de Outubro desse ano. Assim aconteceu, nomeou-se uma comissão com as mais gradas figuras da terra, fez-se uma subscrição popular para a construção de uma estátua ao fundador da cidade, organizou-se uma exposição industrial do concelho, ao jeito do que se fazia mundialmente à época, alindou-se a cidade, encheram-se os hotéis, lançou-se fogo de artifício, a estátua, essa, ficou para ... 45 anos depois. Acabou por ser inaugurada no tempo da "outra senhora", que se seguiu ao tempo imediatamente a seguir, com  acompanhamento da Legião Portuguesa e toda a circunstância que a época obrigou, passando o patriota, irmão, confrade, quiçá camarada, Gualdim Pais dos tempos de liberdade da monarquia, ao respeitável D.Gualdim Pais que o Estado Novo tratou de integrar nas comemorações dos centenários.
Ilustramos aqui os preparativos da efeméride de que A Verdade, como grande órgão impulsionador, foi dando conta ao longo do ano de 1895. Ficamos a saber que Ramalho Ortigão, na qualidade de membro da Comissão dos Monumentos Nacionais, visitou acompanhado por outros elementos da mesma comissão a arruinada igreja de Santa Maria dos Olivais e que todos concordaram com a necessidade de obras de reparação daquele curioso e notável monumento, que foram realizados convites a outras cidades e localidades para assistirem à gloriosa festa em honra do herói único e consensual,  Pelo meio não podiam faltar as diatribes políticas contra a Câmara, o governo e até a Misericórdia. Nem o pobre do Santo António se salvou, convertido, diziam,  nas comemorações do respectivo centenário (pelos vistos era moda) em protector de jesuítas e reaccionários de toda a casta. Mas no fim, todos se uniram em torno do grande patriota,  a Câmara cedeu o espaço para a grande exposição concelhia e o governo cedeu quilos de bronze para a construção da futura estátua em honra do homem a quem tanto deve a nossa terra. (MFM)



28.04.1895

23.06.1895

25.08.1895



8.09.1895




29.09.1895

13.10.1895


"ornamentação da rua Serpa Pinto para os festejos de D.Gualdim Pais ...



27.10.1895




                          ,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,, QUARENTA E CINCO ANOS DEPOIS ...............................




Montagem e colocação da Estátua de Gualdim Pais no local onde está hoje, Julho de 1940




Cidade de Tomar, 14.07.1940


Imagens de recortes de imprensa e fotografias retirados de Memória Digital de Tomar.

7 de outubro de 2015

O Último Conde de Tomar



Falámos, no outro dia, a propósito da passagem do marquês de Tomar pela Estação de Payalvo e, consequentemente por Porto da Lage, no seu neto, o último conde de Tomar. Era uma figura muito querida e respeitada na cidade, segundo ouvi dizer a quem com ele privou. Desses, já hoje poucos estão connosco. O Coronel Vasco da Costa Salema num dos seus livros (1) fala-nos dele nestes termos:






O 2.º Conde de Tomar, António Bernardo da Costa Cabral,
pai do 3.º conde, referido nestes artigos. Faleceu em
19.03.1905,  segundo notícia no Occidente






A  "Cerca do Conde" ficava por trás das casa à esquerda, derrubadas depois da aquisição pelo Estado,a fim de construir o largo actual. As duas casas da direita, ao cimo, ainda hoje lá estão

As velhas casas vistas de frente, segundo um desenho do arq. Costa Rosa.




O decurso das obras no Largo, já sem as velhas casas.



A construção do muro da Cerca




A cerca já vedada com o grande muro e enormes portões (provenientes de umarmazém da Alfândega de Lisboa reestruturado). Nasce um novo largo, ao cimo da Rua da Graça, ainda sem a estátua do Infante D. Henrique.


A Estátua do Infante D.Henrique inaugurada em 1960.




A imponente entrada da Cerca que hoje conhecemos.
Eu nasci aqui ao lado. Posso dizer que este portão me viu crescer, literalmente. As fotografias eram-nos tiradas aqui, ao longo dos anos, todos em fila, com o portão como fundo. Um dia destes vou lá tirar uma para colocar ao lado da dos quinze anos. Assim consiga convencer os meus irmãos!


(1) Coisas e Loisas de Tomar,Coronel Vasco da Costa Salema, Empresa Editora Cidade de Tomar, Lda, Tomar, 1993




5 de outubro de 2015

O 5 de Outubro, A República e o MEU 5 de Outubro




Declaração de interesses:
1- Eu gosto do regime em que vivo. Reconheço que passo os olhos, de vez em quando, pela Holla, que me deixo encantar, às vezes, pelas toilettes, que as critico inexoravelmente, outras tantas, que até vou sabendo quem se foi casando, baptizando e mesmo, não me orgulho disso, mas o que é que eu hei de fazer, é mais forte do que eu!?,tomo partido como quando vejo o safado do rei andar a divertir-se lá com os elefantes e não só, enquanto a pobre da Sofia aguentava galhardamente o lugar e aturava a pindérica e plebeia da nora (plebeia, apesar de não achar bem- que mania que deu agora na realeza de misturar-se com todo o gato sapato!- enfim, concedo, mas uma flausina!?) - bem feita que ficou coxo e sem reino, o da caçada aos elefantes, claro! Aguenta-te Sofia! E aproveita os anos que te restam sem o estronço do Bourbon!
Pois, apesar deste entretenimento inocente e decorativo, dispenso-o no meu país. Prefiro a D.Maria em Belém, que é mulher simples e bem casada, quanto mais não seja porque o seu excelso esposo se vai embora daqui a dias, à semelhança de todos os antecedentes que lá estiveram e se foram, e virá outro com outra Maria, ou então virá uma Maria e trará o seu Manel (e se for outro casal com outra composição, também já estou por tudo) mas também porque, além de não ficarmos à mercê desse mistério insondável que é o nascimento de criancinhas filhas de antecessores perpétuos, sempre dizemos, os portugueses, alguma coisa sobre o assunto. É que, para mim, poderá ser displicente nestes tempos de democracia entendida à vontade do freguês e de quem berra mais, antiga como sou, ainda acho importante os portugueses pronunciarem-se.
2- Sendo portanto a favor do regime político chamado República não acho graça nenhuma, para não dizer que repudio veementemente, a demagogia em que vamos sendo alimentados de sacralização da primeira República. A coisa correu mal, mesmo muito mal, veja-se abaixo a lúcida análise de Fernando Pessoa, a falta de democracia e de liberdade, as perseguições e a constante desordem (já não falo da crise económica que vinha de trás, continuou e parece que é endémica)levaram ao regime que se seguiu, plenamente consentido por quem o viveu (tu sabes lá o desassossego em que se vivia filha!? - passámos a viver no Céu, calava-me a minha avó perante qualquer contestação minha, perdoável devido à minha tenra idade) e que deu o resultado que sabemos!
3- Quero lá saber da contradição face ao atrás dito: Em defesa da minha saúde, do meu relógio biológico que, nesta idade, não está cá para acertos ao segundo quanto mais aos dias, quero de volta o meu FERIADO DO 5 DE OUTUBRO em que nasci e fui criada. Todo o meu corpo se rebelou hoje ao ser obrigado a vir apresentar-se ao trabalho.Estou aqui contrariadissima! quero ir para a Praça do Municipio festejar a República com ou sem Presidente da dita, ou então fazer outra coisa qualquer como sempre fiz!!! (MFM)

 


«...O observador imparcial chega a uma conclusão inevitável: o país estaria preparado para a anarquia; para a República é que não estava. Grandes são as virtudes (de) coesão nacional e de brandura particular do povo português para que essa anarquia que está nas almas não tenha nunca verdadeiramente transbordado para as coisas!

Bandidos da pior espécie (muitas vezes, pessoalmente, bons rapazes e bons amigos – porque estas contradições, que aliás o não são, existem na vida), gatunos com seu quanto de ideal verdadeiro, anarquistas-natos com grandes patriotismos íntimos, de tudo isto vimos na açorda falsa que se seguiu à implantação do regime a que, por contraste com a Monarquia que o precedera, se decidiu chamar República.
A Monarquia havia abusado das ditaduras; os republicanos passaram a legislar em ditadura, fazendo em ditadura as suas leis mais importantes, e nunca as submetendo a cortes constituintes, ou a qualquer espécie de cortes. A lei do divórcio, as leis de família, a lei de separação da Igreja do Estado — todas foram decretos ditatoriais, todas permanecem hoje, e ainda, decretos ditatoriais.
A Monarquia havia desperdiçado, estúpida e imoralmente, os dinheiros públicos. O país, disse Dias Ferreira, era governado por quadrilhas de ladrões. E a República que veio multiplicou por qualquer coisa - concedamos generosamente que foi só por dois (e basta) - os escândalos financeiros da Monarquia.
A Monarquia, desagradando à Nação, e não saindo espontaneamente, criara um estado revolucionário. A República veio e criou dois ou três estados revolucionários. No tempo da Monarquia, estava ela, a Monarquia, de um lado; do outro estavam, juntos, de simples republicanos a anarquistas, os revolucionários todos. Sobrevinda a República, passaram a ser os republicanos revolucionários entre si, e os monárquicos depostos passaram a ser revolucionários também. A Monarquia não conseguira resolver o problema da ordem; a República instituiu a desordem múltipla.
É alguém capaz de indicar um benefício, por leve que seja, que nos tenha advindo da proclamação da República? Não melhorámos em administração financeira, não melhorámos em administração geral, não temos mais paz, não temos sequer mais liberdade. Na Monarquia era possível insultar por escrito impresso o Rei; na República não era possível, porque era perigoso insultar até verbalmente o Sr. Afonso Costa.
O sociólogo pode reconhecer que a vinda da República teve a vantagem de anarquizar o país, de o encher de intranquilidade permanente, e estas coisas podem designar-se como vantagens porque, quebrando a estagnação, podem preparar qualquer reacção que produza uma causa mais alta e melhor. Mas nem os republicanos pretendiam este resultado nem ele pode surgir senão como reacção contra eles.
E o regime está, na verdade, expresso naquele ignóbil trapo que, imposto por uma reduzidíssima minoria de esfarrapados morais, nos serve de bandeira nacional – trapo contrário à heráldica e à estética porque duas cores se justapõem sem intervenção de um metal e porque é a mais feia coisa que se pode inventar em cor. Está ali contudo a alma do republicanismo português – o encarnado do sangue que derramaram e fizeram derramar, o verde da erva de que por direito mental devem alimentar-se.
Este regime é uma conspurcação espiritual. A Monarquia, ainda que má, tem ao menos de seu o ser decorativa. Será pouco socialmente, será nada nacionalmente. Mas é alguma coisa em comparação com o nada absoluto que a República veio (a) ser.»

Fernando Pessoa

Da República, Editora Ática, Lisboa, 1978

3 de outubro de 2015

Bailes e Kermesses



Não! Não estou a desrespeitar o período de reflexão (nunca este blog se atreveria dada a sua influência)! O Centro Socialista Thomarense não se candidata a estas eleições. Já teve o seu tempo. E, ao que parece, um tempo animado, de festejos com kermesses, número de prendas razoável e bailes campestres. Nada que um burguês acomodado desdenhasse! Afinal temos sido sempre tão iguais! Começa a ser secante aguentar tanto despique pela pretensa diferença!



12-06-1698
O Baile, imagem do filme O Leopardo de Luchino Visconti

3 de Outubro - Criação da Feira de Santa Iria


E já lá vão 389 feiras. É muita Feira,muito carrossel, muita fartura ...


Filipe III de Portugal, IV de Espanha
«Eu, El-Rei, faço saber ...que havendo respeito ao que se me
representou por parte dos Oficiais da Câmara da Vila de Tomar:
Hei por bem e me praz de conceder à dita Câmara que se possa fazer na dita Vila uma feira cada ano por dia de santa Iria, pagando-se nela os direitos de tudo o que se vender, pelo que mando ao Provedor da Comarca da dita Vila de Tomar, a faça apregoar pelos lugares dela, e às mais justiças e pessoas a quem o conhecimento disto pertencer não impidam fazer-se a dita feira, pelo dito dia, e cumpram e guardem este como nele se contém
   ..........Rei ...em Lisboa a 3 de Outubro de 1626»

(reproduzido dos Anais do Municipio de Tomar, vl. 1581-1700, pg.159)








2 de outubro de 2015

Os Srs. Marqueses de Thomar de passagem por Payalvo



28.05.1880



                                               Fotografia de José Leitão Bárcia, Arquivo Municipal de Lisboa.

Infelizmente não encontrei fotografias que ilustrem a recepção na gare, dos Exmos Marqueses e sua filha, pela Câmara Municipal e diversos cavalheiros, abrilhantada pela música da Banda dos Carrascos e o fulgor das girândolas de foguetes a subirem no ar. Mas tenho pena, apesar da riqueza da prosa não deixar nada a desejar, devia ser coisa linda de ser vista. Porém, tenho muito mais pena de não encontrar qualquer imagem da estação de Paialvo destas épocas. Quem me arranja uma?! Acredito que haverá, com tanta gente ilustre, até reis e rainhas, a embarcar e desembarcar por ali! Enquanto não aparecem as desejadas fotos, imaginemos-las com recurso a esta, da vizinha Chão de Maçãs, roubada do blog AUREN. (MFM)

Imagem publicada no Occidente em 21.09.1889

António Bernardo da Costa Cabral (1803-1889) governou Portugal entre 1842 e 1846 e depois por mais um curto período compreendido entre 1849 e 1851. Apesar de ter tido sempre contra si uma oposição tenaz, pelas medidas tomadas, o que fazia com que os seus inimigos o apelidassem de "segundo marquês de Pombal", a rainha manteve-se persistentemente a seu lado, o que originou boatos de romance entre os dois. Estes rumores atingiram foros de verdadeiro escândalo quando a soberana o tornou "Conde de Tomar", precisamente numa visita que fez com o marido aos novos domínios de Costa Cabral - O Convento de Cristo. Em 1837, após as nacionalizações dos bens conventuais, o agora Conde havia adquirido o Convento e a cerca, com construções e muralhas, por cinco contos de réis numa venda, dizia-se, favorecida politicamente.
Àquele filho de uma família modesta de Fornos de Algodres, licenciado em direito em Coimbra, não lhe bastava o título, desejava ser um conde à séria, como os antigos, queria um "condado", pelo que continuou comprando terras que anexava às primeiras, como o convento e a quinta da anunciada Velha.
Após deixar o governo, o  desterro nos seus domínios em Tomar, foi entremeado pela vida diplomática, tendo, no fim da vida , entre 1870 e 1885, sido responsável pela embaixada de Portugal na Santa Sé, na época do estertor dos Estados papais e da reunificação italiana tendo desempenhado papel de relevo na intermediação da chamada Questão Romana (1). Pelos seus serviços recebe a Torre e Espada e é elevado a Marquês de Tomar em 1878. Terá sido numas férias do seu desempenho diplomático em Roma que desceu  e foi recebido com toda a pompa, na estação de Paialvo, a caminho de Tomar, como refere pormenorizadamente a noticia.
Foi por seu intermédio que a vila de Tomar foi elevada a cidade em 1848, mas hoje , parece-me, só por lá será lembrado por ser nome de rua e, talvez, pela existência de inúmeros Costa Cabral, pessoas sérias e penso que orgulhosas do seu nome, descendentes do último conde, neto do primeiro, e de várias e bonitas camponesas, moradoras nas suas terras, às quais reconhecia os filhos e agraciava com uma casa e subsistência vitalícia. Dizia deste conde, a minha avó, sua vizinha, que,  para além de um belo homem, era um cavalheiro e uma boa alma. Das suas conversas destacava as preocupações com o estado do mundo e o futuro dos filhos. Teria razões para isso. Todos os seus bens estavam hipotecados e acabaram comprados em hasta pública, em 1934, pelo Estado. (MFM)

(1) Muito interessante o trabalho sobre este assunto de António Pinto de França "Costa Cabral nos dias da queda da Roma Papal em 1870", Separata de Cultura-revista de história e teoria das ideias. Vol.XI, 2ª série, Centro de História da Cultura,Universidade Nova de Lisboa.

30 de setembro de 2015

Minas de Prata


No final do sec.XIX já só existiam indícios da alegada exploração de minas de prata em Porto da Lage, de que nos fala J.M. de Sousa (1). Alguém tem mais notícias sobre este assunto?





                                         
"...na encosta que fica fronteira à estação ...., foi ali também que apareceram alguns pedaços de minério..."

(1) Em  Notícia Descritiva e Histórica da Cidade de Tomar pag. 213.

14 de setembro de 2015

E isto ajuda?

Este não era um blog de estados de alma. Até hoje. Há um dia em que o peso que a vida nos obriga a suportar sozinhos tem de ser partilhado com o resto do mundo, que não é possível calar-mo-nos mais e o grito entalado não só na garganta, mas em todos os átomos do nosso corpo,se expele e revolta e ecoa por tudo o que está à nossa volta, blog incluído. É hoje o dia! Resolvi partilhá-lo com os meus irmãos na desdita. Quem nunca andou doido atrás das chaves do carro? Quem nunca guardou aquele documento importantíssimo num lugar inalcançável por terceiros e não se lembra do bendito sitio? Quem nunca se esquece, depois de chegar, todo apressado, à cozinha, do que lá ia fazer? Esses, os felizardos que não sabem o que isto é, escusam de continuar a ler. Não entenderão a razão de ser  desta angústia crescente e irrevogável, em que consciencializamos que o que estava aqui se escondeu ou fugiu, que as coisas, matreiramente, mudam de lugar, que o lugar se desloca, inesperadamente, de sitio.E que, para esquecer este jogo de escondidas com as coisas, se vai ao cinema.
E o que é que lá está para nos animar? Uma criatura que, dado o estado cronológico da sua existência, tendo mais do que obrigação de se sentir como nós, não senhor,salta, dança, toca e canta, senhores, CAAAANNNTA metendo os Jagger e Springsteen desta vida num chinelo!!! Digam-me, isto ajuda??? Não, faz mal à saúde, deprime mais ainda, devia ser proibido! Como não é, só peço à Nossa Senhora dos Invejosos (acredito que neste mundo crente e cristão há-de haver, pecaminosamente, uma por aí, algures) que, pelo menos, faça a mulher, lá, na sua magnífica mansão do Connecticut, à semelhança dos outros miseráveis mortais, perder alguns minutos desesperados, várias vezes ao dia, à procura dos óculos!!!! ao menos isso, para a gente acreditar, senão que é humana, que nasceu em 1949!! (MFM)




A "Amante do Tenente Francês" e "África Minha" continuam a ser os meus 
preferidos por "no particular reason", só porque sim,pois a senhora é sempre
 uma actriz perfeita, este "Ricki and the Flash" é mais um exemplo de talento e 
vitalidade.



11 de setembro de 2015

A Feira de Santa Cita




Andor de Santa Cita que desfila na procissão do Senhor Jesus das Necessidades

Segundo nos conta J.M.Sousa (1) pelos anos 155, da era cristã, durante o domínio dos romanos, viviam perto do local onde hoje se situa a povoação de Santa Cita (2), Caio Atílio, cidadão bracarense e Cássia sua mulher. Tinham em sua companhia uma formosa donzela, de nome Cita que se convertera ao Cristianismo. Perseguida por causa das suas crenças religiosas, fugiu para um ermo, lugar onde os seus algozes a descobriram e lhe deram morte afrontosa.
O seu corpo foi insepulto, como era costume fazer-se por desprezo  para que as feras ou aves de rapina o viessem devorar. Teriam então vindo os cristãos da Nabância, às ocultas, dar sepultura àquele corpo santificado pelo martírio e abençoado por Deus. Sobre o seu sepulcro erigiram mais tarde uma capela, transformada depois em igreja.
Aqui teria sido erguido um  Convento de Frades Franciscanos, não se sabe exactamente em que data (3), embora se conheça a sua confirmação como Convento Franciscano em 1440 pelo Papa Eugénio IV (ver os postes sobre a história do convento neste excelente blog), convento esse que transitou em 1628 para um novo, da mesma Ordem, construído de raiz, nos terrenos da Várzea Grande, em Tomar.
No entanto, em Santa Cita deverá  ter continuado um pequeno convento pois o Padre Carvalho da Costa na sua Corografia Portuguesa e Descrição Topográfica do Famoso Reino de Portugal (1706-1712) refere, no Tratado IV Da Comarca de Tomar, Capítulo I,  Tomo Terceiro daquela obra,  que o  Convento de Santa Cita de Religiosos da Ordem de São Francisco está junto ao Rio Nabão, são seus Padroeiros os Senhores do Morgado e Quinta da Beselga, que tomou o nome da dita ribeira, que passa junto dela nesta Freguesia de Santa Maria Madalena. Diz a memória popular que, após a mudança, no velho convento ficaram apenas três frades "para a guarda das relíquias da Santa". 
E, em 1834 o convento ainda lá existia pois, na sequência da extinção das ordens Religiosas em Portugal, aquele foi mais um dos encerrados, sendo os seus bens secularizados e incorporados na Fazenda Nacional, à excepção dos vasos sagrados e paramentos que seriam entregues aos ordinários das dioceses (4), conforme o registo que se pode ler no ANTTA 19 de Julho de 1834, João António da Fonseca, juiz ordinário, o ex-guardião frei José da Conceição Pinto, António Pereira Mendes, escrivão dos Órfãos da Repartição da vila de Tomar, entre outros, procederam à posse e inventariação dos bens do dito Convento do Senhor das Necessidades no Lugar de Santa Cita na Vila da Asseiceira. 
À época em que J.M.Sousa escreveu sobre o martírio de Santa Cita já o convento estava em mãos de particulares.
Mas a  povoação que nasceu à volta da velha igreja cresceu, manteve até aos nossos dias o nome da Santa e Mártir e continuou com a devoção ao Senhor Jesus das Necessidades, dedicando-lhe uma festa anual. Em 15.06.1926 foi criada uma Confraria com este nome que, ainda hoje, se encarrega da procissão que todos os anos tem lugar em 11 de Setembro.
Nos finais do século XIX era famosa a Feira de Santa Cita (feira do ano, para se distinguir da mensal feira do gado que também aí se realizava), a ponto de suscitar negócios próprios para a ocasião como podemos ver abaixo, com todas as comodidades, incluindo para cavalgaduras, e a preços sem competência. Isto apesar dos eventuais contratempos, das inevitáveis desordens, de anos menos bons e até de grandes epidemias de cólera, em Espanha. 
Os transportes, os trens, os chars-à-bancs, eram providenciados, os normais e os extraordinários para que o público em geral ali chegasse prontamente. Porém, com a chegada do comboio passaram a ser mais fáceis as deslocações e por isso também a ida dos tomarenses à "procissão de Santa Cita " se tornou uma obrigatória e agradável rotina de fim de Verão, de que me fizeram (e muito bem, reconheço hoje) tomar parte, a qual, segundo as notícias, continua cheia de vida e para durar. (MFM)

(1) Autor da obra Notícia Descritiva e Histórica da Cidade de Tomar
(2) Localidade próxima de Tomar, situada na freguesia de Asseiceira, é também nome de uma estação de Caminho de Ferro do Ramal de Tomar.
(3)No sec.XIII  é doado aos Franciscanos pela Ordem do Templo, o Casal do Vale Bom para aí fundarem um convento ao lado da igreja.
(4) Artigos 2.º e 3.º da Lei da Extinção das Ordens Religiosas, da autoria de Joaquim António de Aguiar, promulgada por D.Pedro IV e publicada em 30.05.1834.




7.09.1879
                                                      31.08.1879


14.09.1879


                                    
                                                           
14.09.1880


14.09.1891




11.08.1895
6.09.1896






A Capela de Santa Cita ontem e hoje.

O cruzeiro ainda existente é a últma
 reminiscência do antigo Convento.

10 de setembro de 2015

Fruta da Época


Jan Roos, 1591-1638

Considerando que há eleições em Portugal, embora não universais, desde há quase duzentos anos, podemos dizer que evoluímos muito.
Os portugueses já não desfilam como ovelhas atrás do cacique regional pelas Corredouras do seu país, não votam movidos a vinho e a carneiro com batatas, sabem o que é um comício e já nem lhes ocorre que campanha pode ser militar. Quanto a brigas, brigam à mesma, mas agora é o futebol que os divide, como em qualquer Inglaterra cultíssima e democratiquissima
 deste mundo.


Podemos portanto concluir que Salazar, a Democracia e a Europa, cada qual à sua maneira, nos tornaram bem-comportados, civilizados e prontos a usar a própria cabeça.
Sem ironia, estou convencida que cada português é livre quando, em frente do boletim de voto, coloca a cruz naquilo que lhe parece ser o melhor para si e para a sua vida, consciente do que está a fazer, informado e sem se sentir pressionado, sem medo.

Esta é uma situação perfeitamente pacífica, hoje em dia, na sociedade portuguesa – o voto resulta da livre escolha individual de cada um e, como tal, é respeitável e respeitado por todos.
Há que aplaudir e ter orgulho no comportamento do povo português enquanto eleitor.
Resta agora esperar que os eleitos, aqueles que pretendem ter um lugar à frente deste povo exemplar,  se coloquem ao nível cultural de quem os elege, deixem de ser broncos e caudilhos trauliteiros (agora com palavras de mais ou menos verniz,: não fui eu, foi o senhor, não fui eu, se não foi o senhor foi o seu pai, etc), sob pena de continuarmos, cada vez em maior número, a ficar em casa por não termos em quem votar .(MFM)