Si hortum in biblioteca habes deerit nihil

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18 de abril de 2016

Mudam os tempos e as paisagens, apenas.


                                                  


À espera de alimentos na noite do Porto.

                                                   
15.02.1885






31.10.1886

























                                           10.02.1889


26.04.1896



11 de abril de 2016

Alfredo Keill



Alfredo Keill,o autor da nossa Portuguesa também, já aqui o dissemos,  deve ter entrado algumas vezes na estação de Paialvo, como desta vez, em que escolheu o local dos Valles, na Sertã, para veranear e trabalhar. Talvez fosse por aqui que encontrou este Telheiro do ferrador e decidiu passá-lo à tela.




20.09.1896

Telheiro do Ferrador, Alfredo Keill



1.12.1895





8 de abril de 2016

Adães Bermudes, mais excursionistas e sempre Paialvo


A tipologia geral das escolas Adães Bermudes.

Adães Bermudes  (1864-1948) foi um arquitecto neo-romântico, divulgador da arte nova em Portugal, vencedor do prémio Valmor, autor de muitos edifícios das chamada Avenidas Novas e de outros distribuídos por Lisboa e pelo país, co-autor do Monumento ao Marquês de Pombal em Lisboa, etc. Porém, é hoje em dia lembrado por o seu nome estar ligado à tipologia de escolas primárias projectadas nos finais de oitocentos. Em Tomar existiu uma destas escolas, a da Várzea-Grande, aquela onde durante décadas as crianças de todo o concelho iam fazer o velho exame da 4.ª classe. Foi demolida nos anos oitenta do sec.XX. Desconheço os motivos que levaram a edilidade tomarense a tomar esta decisão, hoje em dia estes edifícios são as meninas dos olhos das localidades que os possuem. Teria talvez, já um bocado fora de tempo, a “embirração” do escritor Fialho de Almeida que, quando morreu em 1911, deixou em testamento dinheiro para a construção de uma escola com a condição de não ser em "estilo Bermudes”.(MFM)


29.12.1895





14 08 1898


Fotografia da Várzea Grande de 1934 (parada de bombeiros) , onde se pode ver a antiga Escola Primária de tipologia Adães Bermudes. As fotografias abaixo são de autoria desconhecida e não se encontravam datadas.











O interior de uma sala de aula. Um festival de luz.
                                                           

6 de abril de 2016

Cipriano Martins



A Escola de Desenho Industrial Jacome Raton foi criada em Tomar em 1884 juntamente com mais outras sete em todo o país.



14.12.1884
19.10.1884
                                                   


26.07.1885


                       
9.11.1890

                                                     
                                                                                                 
Foi seu primeiro director outro pintor do Grupo do Leão José Joaquim Cipriano Martins (1841-1888) um paisagista, mas sobretudo retratista, que viveu em Tomar e se inspirou na paisagem tomarense para realizar algumas das suas obras.


Capela Real de S.João BaptistaJosé Joaquim Cipriano Martins, 1886
                                                           


13.12.1885





















4 de abril de 2016

Manuel Henrique Pinto

                                                       

Manuel Henrique Pinto (1853-1912) foi também um pintor naturalista, integrante do Grupo do Leão e grande amigo de Malhoa. A sua ligação a Tomar deve-se ao facto de, entre 1888 e 1911, ter sido director da Escola Industrial Jacome Raton. Alguns dos seus quadros retratam conhecidas paisagens urbanas da cidade.
Como sempre, especulamos quando dizemos que este pintor foi, como outros, e neste caso acompanhado pelos seus quadros, um passageiro da Estação de Paialvo. Mas este postal de aniversário ,que o seu amigo Malhoa lhe enviou, de certeza que passou por aqui. 


14.04.1895



















Desenho de pormenor da Janela da Sala do Capitulo, 1901







1 de abril de 2016

Malhoa

                         

A passagem do comboio, José Malhoa,1896 .
Teria sido em Porto da Lage, quando chegou para se dirigir a Figueiró dos Vinhos,ou quando de lá vinha e apanhou o comboio na estação de  Paialvo, para voltar para Lisboa,que o pintor se inspirou para esta obra?

José Malhoa (1855-1933) é pintor residente deste blog, ele e mais outros pintores naturalistas portugueses seus contemporâneos ou mesmo alunos. As suas cenas de género e de costumes, o país rural de fins de oitocentos e do princípio do SEC.XX (que não terá diferido muito do Portugal que conhecemos há cinquenta anos), que tão bem retrata, ilustram bem, acho eu, os textos que por aqui temos mostrado. As suas figuras de gente simples cheia de sentimento e humanidade, sempre envolvida na cor e na luz de Portugal, sensibilizam-me muito.
Mas, além da paisagem e do quotidiano do homem do campo, Malhoa pintou retratos da aristocracia, nus e aventurou-se no bas- fond urbano, retratando, em cores mais fortes e sem sol, os Bêbados e o famosíssimo Fado. "o mais português dos quadros a óleo" como lhe chama a letra do fado propriamente dito que o imortalizou e ao autor. Sobre aquele vale a pena, pelo pitoresco, conhecer os modelos Amâncio e Adelaide da Facada e a forma como foram protagonizando o retrato final.
Ainda em vida, Malhoa conheceu a glorificação do seu trabalho, foi homenageado pelo poder, considerado pela crítica em 1907 como o «mais nacional de todos os pintores portugueses», sendo, simultaneamente admirado pelo público em geral e extremamente popular. Conta-se que, depois do 5 de Outubro, quando republicanos empedernidos se preparavam para esfaquear a tela com o príncipe Luís Filipe exposta na Liga Naval, um popular se atravessou – Aqui ninguém toca, é um quadro do Malhoa!
O seu caminho estético não acompanhou o dos seus contemporâneos internacionais, dizem uns que por não ter podido estudar em Paris, para onde, por duas vezes, lhe foi negada uma bolsa. Mas a maioria da critica considera que pintava assim porque queria, numa época apaixonada por valores abstratos, ele foi, serenamente, um concreto valorizador*, diz dele José- Augusto França. Uma vez tentou aproximar-se dos Impressionistas com o Outono, mas parece que foi só para mostrar que o sabia fazer, não continuou. Não deixou, no entanto, de ser ele próprio um percursor nos anos 1880, integrando o Grupo do Leão, tornando mais agressivo o naturalismo, afastando-o do romantismo, mas sempre à sua maneira sem classificações, apesar de ser considerado o "pintor das gentes portuguesas" nunca lhe chamaram pintor "nacionalista", nenhuma ideologia se sobrepôs à criação de Malhoa: ele amava a sua terra e a sua gente, e pintava-a por isso mesmo*, conclui José- Augusto França.
Na década de 80 do SEC.XIX adquire uma casa em Figueiró dos Vinhos, virá, talvez, daí a sua ligação a Tomar e, de passagem, a obrigatoriedade de conhecer a Estação de Paialvo. Entendamos, portanto, que o grande Malhoa se apeou e subiu, durante mais de trinta anos, na nossa gare e calcorreou, igual número de vezes, de chars –à-bancs ou de carruagem a velhinha estrada, esburacada e desconfortável, Paialvo -Tomar seguindo ainda, depois, para o seu Casulo. (MFM)



8.10.1893
                                                                 

15.07.1928

Outono, José Malhoa 1918
*FRANÇA, José-Augusto, 1990, A Arte em Portugal no Século XIX, vol. II, pag.297, Lisboa, Bertrand Editora

29 de março de 2016

Ilídio Mota Teixeira (1930-2016)


Eu tenho a fantasia de imaginar os homens como as árvores e por isso acreditar que a inteireza e a verticalidade dependem da estrutura do tronco, sim, mas que este, por si, rebenta com a ajuda do carácter das raízes. Tenho assim a tendência para arrumar as gentes (ia a dizer classificar mas pode confundir-se com ordenar e não é essa a minha intenção) de acordo com a importância que dá às origens. Há quem não lhes ligue nenhuma, quem viva tão ávido de “folhas, flores e frutos” que nem chega a ter raízes superficiais, está tão ao sabor do vento que corre o risco não de viver desenraizado mas desenterrado. Também existe o oposto, quem só viva à custa e pelas raízes, mas esses são grandes tubérculos, batatonas imensas cheias de vaidade, condenadas a vaguear sem a claridade que presenteia as árvores desta vida. E há outros, que vivem fazendo gosto em carregar consigo o berço, seja ele de que matéria for tecido, e transmiti-lo, à família e até a outros, sem que nada a isso os obrigue, só porque sim, porque são árvores altas e frondosas e a sua sombra todos acolhe. É o caso de Ilídio. Ele teve a generosidade de partilhar o que a sua memória trouxe de menino mais o que outros antes dele lhe contaram, e que a sua sensibilidade e inteligência souberam reproduzir. Tive a sorte de beneficiar dessa nobreza de alma.  A minha eterna gratidão. Graças a ele conheci alguma história e reflexões sobre a história de Porto da Lage, aquilo a que chamou lembranças e conjecturas a "pequena história" desta localidade na primeira metade do sec. XX, os seus tipos   trágicos e cómicos que mais do que uma geração conheceu, os dramas  locais e os  grandes acontecimentos, os pontos de encontro diversão, com o grémio à cabeça, e a grande marca da terra, a família,  as características especiais  dos tios , de primos e de primas. De tudo nos falou Ilídio Mota Teixeira, nos posts publicados com a colaboração de sua filha  no ano de 2013, com graça, talento e um  amor visível pela terra que o viu nascer. Guarda desta forma, este blog, as marcas de alguém que passou por nós cumprindo a missão de perseverar e transmitir heranças. Saibamos nós honrar a sua confiança legando-as a outros. (MFM)



Ilídio Mota Teixeira com a idade de 22 anos na colina da Ermida de Sta. Margarida

Ilídio Mota Teixeira nasceu em Porto da Lage em 8 de Novembro de 1930, sexto e penúltimo filho do casal  Luís Pereira Teixeira e Ana Rosa Mota. A irmã Doce recorda-o como uma criança alegre, grande caçador de grilos que trazia para casa em quantidades apreciáveis, dentro do boné. Era também um cavaleiro apaixonado, tendo chegado a ir até Ferreira do Zêzere montado numa égua propriedade da sua casa. Depois da  primária em Porto da Lage, na escola sua vizinha de rua, fez o Liceu na cidade do Porto, localidade onde exerceu toda a sua actividade profissional na empresa familiar da qual era sócio, onde viveu o resto da sua vida, tendo-se apenas afastado para cumprir o serviço militar em Tavira e Tomar. Faleceu, igualmente no Porto, no passado dia 23 de Março.Deixa duas filhas e uma neta.

Nota: Fotografia e dados biográficos fornecidos pela irmã, Dulcinda Mota Teixeira.

23 de março de 2016

Volta de Novo à Terra



Pablo Picasso -1930



A Jesus Crucificado


Volta de novo à Terra,
Alvo e manso Cordeiro,
Vem resgatar os homens
De pecados sem fim.

O preço do resgate
Só o teu corpo e o teu sangue
O poderão pagar.

Nesta hora de fé,
Eu te prometo e juro
Que hás-de tornar a ser
Por nós crucificado.

Ao cimo do Calvário,
Maria nossa Mãe,
A açucena da Terra
E o arco-íris do Céu,
Há-de estar a teu lado.

E o azul do seu manto,
Ao pé de ti, será
O luar reflectido
Sobre o esplendor do Sol.

Américo Durão (1893 -1969)

20 de março de 2016

Primavera





Primavera ,Veloso Salgado (1864-1945)


Provincianas

Olá! Bons dias! Em Março,
Que mocetona e que jovem
A terra! Que amor esparso
Corre os trigos, que se movem
Às vagas dum verde garço!

Como amanhece! Que meigas
As horas antes de almoço!
Fartam-se as vacas nas veigas
E um pasto orvalhado e moço
Produz as novas manteigas.

Toda a paisagem se doura;
Tímida ainda, que fresca!
Bela mulher, sim senhora,
Nesta manhã pitoresca,
Primaveril, criadora!

Bom sol! As sebes de encosto
Dão madressilvas cheirosas
Que entontecem como um mosto.
Floridas, às espinhosas
Subiu-lhes o sangue ao rosto.

Cresce o relevo dos montes,
Como seios ofegantes;
Murmuram como umas fontes
Os rios que dias antes
Bramiam galgando pontes.

E os campos, milhas e milhas,
Com povos de espaço a espaço,
Fazem-se às mil maravilhas;
Dir-se-ia o mar de sargaço
Glauco, ondulante, com ilhas!

Pois bem. O Inverno deixou-nos.
É certo. E os grãos e as sementes
Que ficam doutros Outonos
Acordam hoje frementes
Depois duns poucos de sonos.

....................................


Cesário Verde





18 de março de 2016

Excursionistas de Passagem por Paialvo

Em 2 de Abril de 1897 o Periódico Branco e Negro dedicava na sua secção Viagens no Paiz sete páginas a Tomar que começavam assim:


                                           

 e terminavam desta maneira:


                                            


A viagem em comboio expresso à pitoresca e histórica cidade de Tomar seria, pouco mais ou menos,como o descrito abaixo na imprensa tomarense.


O Coreto onde a Banda do Regimento de Infantaria 11 tocou e alguns dos monumentos que os excursionistas terão visitado, em baixo (página do  Branco e Negro )












11.04.1897


18.04.1897

16 de março de 2016

Cardeal e Governador Civil em Paialvo - Festa em Santa Maria dos Olivais


A igreja de Santa Maria dos Olivais nos finais do sec. XIX

Já aqui tínhamos visto que a Igreja de Santa Maria dos Olivais ameaçava ruína quando em 1895  fora visitada por uma  Comissão dos Monumentos Nacionais, composta por  Gabriel Pereira, Ramalho Ortigão e Júlio Mardel, a qual se comprometera a diligenciar os seus arranjos. 
E assim aconteceu, como as notícias abaixo revelam.
Nesta conformidade,  numa madrugada (que desconchavo de horários de comboios, santo Deus) de um domingo de Maio, lá se encontraram na nossa Estação de Paialvo sua Eminência o sr. Cardeal Patriarca e o sr. Governador Civil (note-se que, na notícia, nem a ordem de apresentação das duas individualidades é esta, sendo a contrária,  nem se prima pelo uso de maiúsculas - o que significa que até a redacção e a grafia variam conforme a importância que se vai dando, no tempo, aos personagens; na época o clero era coisa de somenos face ao poder civil, situação que teve altos e baixos,como sabemos, ao longo destes cem anos decorridos. Actualmente, atendendo ao lugar ocupado pelos políticos na graduação social, tudo lhes passa à frente,coitados!).
Pois lá foram estes dois dignatarios, que vinham a Tomar proceder à inauguração da igreja renovadarecebidos na gare pela câmara municipal, administrador do concelho, alguns eclesiásticos e muitos cavalheiros, enquanto a filarmónica de Paialvo os saudava com o Hino da Carta e subiam ao ar muitos foguetes. Nada de novo até aqui.
Também pressentimos o costume quando lemos que a Filarmónica Tomarense os recebe à entrada da cidade. Confere. Porém, a coisa começa a descondizer  quando vemos que aquela acompanha o sr. Cardeal Patriarca até à residência do sr. Padre José Martins da Silva Conceição, onde ficou hospedado. Sem mais. Só!? Então e o resto, e a minha marche aux flambaux? A padralhada, como então se dizia, não tinha direito a um cortejosinho "todo iluminado"? E não é que não tinha mesmo!! Então não querem saber que depois de arrumarem o pobre do cardeal e mais o padre seu anfitrião, em casa deste,  desatinam no tal "delírio" de que já temos conhecimento, pelas ruas habituais, até ao hotel onde a outra filarmónica, a Nabantina, toca o  hino e se seguem as girândolas e tal e tal!?
Mas estou quase esclarecida. Aqui há dias eu pedia ajuda para compreender esta intrigante e radiante marcha nocturna. Apesar das achegas, que agradeço, não cheguei lá. Parece-me, agora, que a alegre marcha assentava em muito cozinhado  com avental onde não costumava caber o clero, pelo menos o institucional. O que, pensando bem, até se compreende em terra de Templários. A propósito, tenho também que agradecer ao meu irmão J.J., quando me dizia que isto era um exemplo de como os tomarenses mantinham o gosto por marchar à luz de archotes. Pois fazem bem, até talvez representem a pureza original do que quer que seja. Mas sem Filarmónicas, nem vivas, nem damas à janela? Com todo o respeito, uma sensaboria! Prefiro as minhas, "as legítimas" de finais de oitocentos, quero lá saber se andavam ou não a desfilar com esquadros e compassos debaixo do braço.  (MFM)

4.04.1897



23.05.1897