Si hortum in biblioteca habes deerit nihil

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19 de abril de 2020

José da Graça II - Testemunho.




«Eu conheci o Sr José da Graça e muitos dos seus 10 filhos. Muitos deles  após a Escola Primária - onde foram meus colegas - vivem agora na Grande Lisboa; as primas gémeas são a melhor referência pois vivem perto da Mãe Gracinda, uma das filhas do Sr. José da Graça.






Trabalhei nos escritórios da Fábrica, durante umas férias. Lembro-me do Sr. Zé da Graça como ajudante de motorista. Este era o benfiquista Sr. Pombo, que tinha uma teoria imbatível em relação à condução sob os efeitos do álcool. Ora ambos só transportavam Álcool do figo.Dentro dos estomagos não iam figos. 

Aqui vem a lenda. O Sr Pombo achava que os acidentes eram devidos não ao excesso de álcool mas a pequena quantidade deste. Com pouco vêm-se duas estradas e é difícil saber qual a certa. Com excesso vêm-se 3 estradas e todos sabem que a do meio é a certa. Por isso se diz no meio está a virtude....


Eu lembro-me da mais velha, a Maria dos Anjos, que trabalhou lá em casa. Era uma moça bonita e despachada. Esteve um pintor de tabuletas a trabalhar no escritório cedido pelo Dr. Mota e ali ele pintava nomes no vidro para os diferentes clientes. Era muito boa pessoa mas tinha uma perna bastante mais curta o que o obrigava a ter uma sola muito mais grossa que a outra. De qualquer maneira  eles apaixonaram-se, casaram e foram para perto da Nazaré.... 

Perdi o contacto. Julgo que agora a Mª dos Anjos regressou ao Paço da Comenda.»

                                                    

                                                                                              Augusto Carmona da Mota

17 de abril de 2020

José da Graça I ou Outra História com Final Feliz ou Coisas de Tempos de Quarentena e ainda uma breve incursão pelos enjeitados




( O Post publicado antes a que dei o nome de Notícia Verdadeira, por querer pôr o enfâse no facto de a verdade ter prevalecido, não obstante tudo a dar como falsa, e de a voz do povo, às vezes, não reter tudo o que Deus quer, parece que afinal, vai ficar conhecido como o post  dos dois tostões. De facto a obra não é do autor, é de quem lê! -bela e modesta frase, caso não tenham reparado!- Pois que assim seja!
Os valiosos comentários que se seguiram e que vamos ler -cronologicamente por ordem de chegada- por estes dias, não vão ser só para entreter a quarentena, como disse o mais ilustre leitor deste blog, mas, sim, sobretudo, para mostrar que o que não falta é gente, com muito valor, na escrita, na criatividade e no conhecimento sobre Porto da Lage. A esses, que costumam ser sempre muito amáveis comigo e agradecer o que aqui publico, sem querer ser ingrata, só lhes digo que não precisam de o fazer, ninguém tira mais prazer do que eu no que faz. Mas já que tanto insistem, há uma maneira de compensar o que dizem gostar. Retribuam!)





Depois do último post, o meu irmão JJ telefonou-me a perguntar se o Joaquim da Graça seria um dos filhos da notícia. O Joaquim da Graça? Quem diabo era o Joaquim da Graça? Então eu não me lembrava que …. ? E eu: é verdade! Sabem aquelas histórias contadas inúmeras vezes pelos nossos pais e que a gente, enjoada, jura que vai lembrar cem anos que viva, de cor e salteado e com todos os pormenores visíveis e invisíveis? Pois, trata-se de uma dessas, mas as coisas, no final de contas, como vão ver, não se passam bem assim. 







Contava o meu pai que, uma vez em que entrava, a toda a pressa, no pátio lá nos Olivais, onde ele não esperava encontrar, a brincar, as criancinhas Graça, filhas de um trabalhador do meu avô, não sucedeu uma tragédia terrível ficando uma delas debaixo de uma roda de carroça (diz o JJ), do tractor (digo eu) que o meu pai conduzia, por lhe valer o irmãozito Joaquim que, num ápice, corajosamente, se atirou para a frente e a puxou. O Joaquim era, positivamente, o herói do meu pai! A forma viva como ele contava aquilo, o suspense, o ritmo, a cara aflita e resoluta do grande salvador, fazia-nos transportar a todo o drama daquele dia. Eu consigo, ainda hoje, vejam lá, ouvir o grito apavorado do meu pai por cima do barulho ensurdecedor do tractor, que era grande e verde, ao deparar-se com o pequenino à sua frente, prestes a ser esmagado! E depois, sentir o seu alivio e gratidão, quando tudo acabou em bem, graças ao grande Joaquim! Mas qual tractor? o pai tinha lá um tractor em 1950? contrapõe o JJ, era uma carroça, ele trazia, naquele dia, não sei o quê de Tomar!!! Mas como é que se vê alguém ser atropelado por uma carroça, não é primeiro pelo burro, pelo cavalo, seja o que for que puxa? digo eu cuja memória já é toda motorizada? (e depois se há coisa com que eu engalinho é que me desarranjem as memórias, o que com a idade piorou, aquilo não são construções ideais, são já factos, constituem provas, criminais, se for preciso!) Bom, questão em aberto, concluo que ser pai é, de facto, tarefa inglória, esforçam-se eles (e chegou a nossa vez de sermos eles), entre outros esforços, a contar-nos as mesmas histórias milhares de vezes a ponto de nos aborrecer mortalmente, para acabarem, os filhos, a discutir detalhes desta natureza! Mas, ao menos, duas coisas ele conseguiu que persistissem na nossa memória, o ambiente dramático vivido então, como numa canção, em que só ficou a música e a letra há muito se foi, e o Joaquim da Graça, figura que, enquanto foi vivo, o nosso pai nos mostrou, literalmente, ao vivo e a cores, sempre que a ocasião se proporcionava. – Olha quem ele é! – parava o carro, fosse onde fosse, perto ou longe, desde que o visse, o Joaquim não se livrava nem dele nem da própria história! Viu-o a última vez há poucos anos, num quintal da Beselga, onde eu fora tratar de arranjar quem me fizesse um portão de ferro. Estava eu a falar com o artífice em questão quando lhe chega o sogro, era o Joaquim da Graça, que logo me reconheceu, eu, de imediato nem tanto, mas bastou o inicio da história, para reatarmos a nossa amizade, velha de tantos anos, anterior ao meu nascimento!

Mas o telefonema do JJ trazia outra preocupação, sabia ele que a casa do Joaquim se situava no concelho de Tomar e o terreno adjacente em Torres Novas (ou seria o contrário? não interessa) tanto que pagava dois IMI, um a cada município. Mais, como por necessidades familiares o Joaquim se vira obrigado, em tempos, a alargar o espaço de habitação para o referido terreno, morava agora numa casa que fica metade dela em cada um dos dois concelhos! Este meu irmão que, além de saber tuuuuuudo (fosse este um blog de má língua....), é pessoa apoquentada por natureza, para não dizer cismática (não tens culpa, está-te na massa do sangue, uma coisa e outra!) inquietava-se como é que o Joaquim teria gerido a sua vida doméstica nestes dias de proibição de transição entre concelhos! Eu disse-lhe que não se ralasse pois não seria provável que as autoridades o autuassem , até porque não estariam lá, por o homem sair de um concelho, mantendo-se debaixo do mesmo tecto, para ir a outro, dormir ou à casa de banho. Mas, pegando-lhe na deixa, sugeri-lhe que fosse lá a casa, saber como as coisas se estavam a passar, dando-lhe as seguintes instruções: 1.Que não se esquecesse (o mais importante), de lhe dar cumprimentos meus,  2. Perguntar como estava a correr a quarentena inter-concelhos, 3. Tirar a limpo se a roda em questão era de tractor ou de carroça, 4. Saber se o pai tinha comprado a casa por dois tostões. Era tudo e não lhe custava nada. O que ele me respondeu, por não ser bonito, não conto, mas também não adiantou porque não me demoveu. Insisti. Que não, que uma pessoa não se apresenta, por esses motivos, em casa de outra (tretas, tens muito mais lata do que eu!) e, por fim, para me calar (pelo menos, isso, consegui!), que era grupo de risco e não podia sair de casa!

Pelo que, por falta de informação, não posso dizer, aqui, se esta família Graça, também com muitos filhos, cujo pai trabalhou para o meu avô, é a mesma da noticia dos dois tostões! Também não posso afirmar que, por serem Graça, fossem aparentados. Porque, se há apelido, como muitos aliás, que não têm raízes de sangue comuns, este é um deles. Também eu sou Graça e não tenho nada a ver, com estes, por exemplo, ou com outros que tenho encontrado por esse país fora. 




retirado daqui

Mas uma coisa em comum tenho descoberto entre as pessoas com este sobrenome. Temos um antepassado nascido, ou criado como dantes se dizia, em Tomar ou no seu concelho (ou, antes ainda, no seu termo), alguém que foi entregue aos cuidados da Misericórdia e que, em Tomar recebia o apelido da sua patrona, Nossa Senhora da Graça. No meu caso um Vasco, entregue na roda da Misericórdia de Lisboa, com a indicação de ter nascido em Sacavém (que se chamou Vasco, por, no dia em que chegou, o “livro de entradas” ir na letra V), depois entregue a uma ama de leite da Pedreira, Tomar (a “base de dados” das amas da  Misericórdia de Lisboa estendia-se por toda a antiga Extremadura até à fronteira, singular como aquelas mulheres se punham em Lisboa, a buscar as crianças, em menos de dois dias, sem contar que alguém as teria que ter avisado!) e, a partir dele, se formaram os Graças de que faço parte. Muitos mais há, um famoso é Fernando Lopes Graça, filho de um exposto, criado na Longra, freguesia da Beselga. Por isso, em Tomar, dantes se dizia, à boca pequena, tão pequena que se perdeu o dito (já quase ninguém o conhece, quando o proferi, há tempos, perante um Graça, mais novo que eu, muito ele se ofendeu, e põs-me no meu lugar declarando-me que, eu que falasse por mim, pois ele era filho e neto de gente muito bem casada!), mas tive a compensação de ter encontrado, há muitos anos, em Lisboa, a Teresa Graça, que o sabia por o seu pai ter remotas origens em Tomar, o que nos fez aproximar e ficar amigas até hoje “Graça é nome de Enjeitado”. (MFM)

Nota: já depois de ter escrito fiquei a saber que o Joaquim era filho do João, não do José da Graça. Eram três os irmãos Graça: José, o da casa dos 2 tostões, João (que trabalhou muitos anos para o meu avô, tendo o filho mais velho nascido nos Olivais) e Manuel, todos nascidos lá por inicio de XX, no Paço da Comenda  filhos de um ferroviário, cujo nome não apurei, e de mãe chamada Ludovina.


16 de abril de 2020

Rubem Fonseca










A Grande Arte é o último dos grandes livros que a língua portuguesa produziu. Recomendo tão vivamente como recomendo o grande Camilo. O sentido de humor, a ironia e a escrita seca e objectiva encantam-me. A violência e a brutalidade, para mim, já são um pouco demais e, por isso, alguns outros livros dele, francamente, não consegui....mas o mal é meu. Tinha 94 anos, era filho de portugueses, e, talvez por isso, ou não, escrevia como já ninguém. Estou sempre a repetir-me. (MFM) 



13 de abril de 2020

Noticia Verdadeira




                                   
Jornal "O Século" 10.01.1947







A notícia acima esteve quase, quase, a não o ser. Aqui no blog, evidentemente. No tempo devido foi-o e bem, nada mais que na primeira página de O Século. Ao fundo, canto inferior da última coluna do lado esquerdo, naquelas folhas enormes que a gente de hoje nem imagina como a gente as lia, nem eu já me lembro bem como era. Pois andava eu nas minhas pesquisas sobre um assunto que, talvez, aguma vez interesse a mais alguém além de mim, veremos, quando deparei com o que acima consta. 
Estranhei, estranhei muito. Não propriamente o insólito do relatado, que, não sendo propriamente normal ainda está nas coisas possíveis desta vida, mas estranhei sim, calculem, nunca ter ouvido falar em tal. Imaginem a minha petulância, agora já me arrogo o direito de saber todo o passado de Porto da Lage e arredores! É que fui, e estou, mal habituada! Tive a sorte, acompanhada de alguma curiosidade infantil e memória, de ter ouvido muita história em criança, que já aqui reproduzi (as reproduzíveis), tive, depois, a imensa ventura de ter a contribuição, neste blog, de pessoas extraordinárias que me encantaram, a mim e a todos, com as suas recordações de vida que nos transportaram para um tempo que ficaria para sempre esquecido, sem elas. Mas esta história nunca eu a tinha ouvido, nem da minha avó, grande transmissora de tudo o que sabia de pequena, nem de outras fontes mais recentes. Daí a minha dúvida. E, como sempre que dúvidas destas me assaltam, recorri à minha assessora certificada para as mesmas. E a Dulcinda deu razão às minhas suspeitas, estávamos perante fake newes, coisa velha como o Homem! Na época, os grandes jornais nacionais tinham correspondentes em todo o lado, gente empenhada, amiga de escrever, mostrar trabalho e levar o nome humilde e desconhecido da sua terra ao conhecimento do país! Nem sempre pelas melhores, ou verdadeiras razões, pelos vistos. Pois a Dulcinda conhecia a dita família Graça, (e, também eu fiquei a saber que conhecia uma das filhas, dona, juntamente com o marido, da primeira casa vizinha da nossa nos Olivais, construída num bocado de fazenda que também era nossa) e a respectiva casinha  no Paço da Comenda, casinha essa que ela, Dulcinda, sempre conhecera como propriedade do José da Graça sem este ter pago nenhum tostão por ela. A tal senhora Brasoneira também tinha existência certificada, mas, tudo o resto era falso. Acabava-se, portanto, por aqui, a notícia, que este é um blog sério, no que ao presente e ao passados diz respeito, quanto ao resto não posso garantir, que o futuro a Deus pertence.
Mas eis que a reviravolta se deu!  Não é que a Dulcinda, ao jeito de graça (esta língua portuguesa....), contou a alegada não-notícia a uma das descendentes Graça, e não é que esta a confirmou? Que era verdade, que o pai comprara a casa por dois tostões nas circunstâncias descritas no jornal! Perplexa (não posso imaginar o quanto, ainda hoje se deve interrogar como tal lhe escapou!) a nossa memória viva local  telefonou-me! Contrita, apresentei, de imediato, as minhas desculpas mentais ao correspondente portodalegense de O Século, fosse ele quem fosse. Se for vivo, terei todo o gosto em lhas apresentar de viva vóz! Grande correspondente que deu a conhecer ao Portugal de então, que ia do Minho a Timor, o exemplo de generosidade que dispensava comentários que partira do local pequenino que seria a sua terra.
Mas uma dúvida continua a atormentar-me. Por que motivo um acto desta grandeza morreu na memória popular enquanto outros, carregados de tristeza, mesquinhez e desgraça, persistiram e chegaram vivos até nós, como dignos de serem contados? Será que, colectivamente, só recordamos o que nos fez doer, que só o que deixa cicatrizes perdura? (MFM)


Nota: Esta notícia é antiga na minha posse, estava à espera de novos tempos para a publicar com mais ênfase, por exemplo, ter oportunidade de conseguir depoimentos dos descendentes de José da Graça. Mas, não sei quando voltarei a Porto da Lage e decidi que de hoje não passava. Não quero que estes tempos esquisitos vos impeçam de ter conhecimento desta intemporal, bela e esperançosa noticia, comprovativa de que o ser humano é o melhor que Deus, ou o que quiserem, inventou.

11 de abril de 2020

Páscoa




"Com flores de rododendro cor de fogo
anuncio aos sentidos
o milagre
da ressurreição.
E o Cristo vivo, em que se transfigura
a mais vil criatura
que atravessa a praça,
é como uma graça
a mais da primavera.
Ah, quem pudera
todos os dias
olhar o mundo assim, repovoado
de fraternidade,
quente de um sol desabrochado 
em cada pétala da realidade!"

Miguel Torga (1907-1995)






«Si hortum in biblioteca habes, deerit nihil»



Ilustração retirada de  "Cantares de Todo o Ano"(selecção de cantigas populares portuguesas), 2.ª edição, Colecção Educativa, Série F, número 6, Ministério da Educação Nacional, Direcção Geral do Ensino Primário,1971

7 de abril de 2020

Abril




Eu sou o Abril,
Sou o mês das flores, 
Cantam as aves, 
Despertam amores.


                                              Em Abril, águas mil coadas por um funil.




                         

«Si hortum in biblioteca habes, deerit nihil»






Quadra, provérbio e ilustração retirados de  "Cantares de Todo o Ano"(selecção de cantigas populares portuguesas), 2.ª edição, Colecção Educativa, Série F, número 6, Ministério da Educação Nacional, Direcção Geral do Ensino Primário, 1971.


13 de março de 2020

Desta vez não vou para Porto da Lage




Na  Gripe Asiática, toda a família adoeceu em Tomar excepto o meu pai, que se ocupava a ir ao restaurante diariamente buscar comida e distribuí-la não só pela nossa casa, onde a minha mãe estava muito doente, mas também pelas de outros familiares, nas quais estava tudo de cama. Nunca perguntei quem lavava a loiça ou a roupa (só o nosso presidente poderia fazer lembrar-me destas minudências), mas o meu pai não foi de certeza. Eu, com meses, e o meu irmão mais velho fomos enviados para Porto da Lage, porto seguro onde, pelo menos aos Olivais, nada chegou.
Um outro meu irmão, que ainda não existia então, informou-me há horas, que está a pensar em "barricar-se" em Porto da Lage com o que mais lhe importa, a sua neta. Não perguntei se, com ou sem, o aval dos pais da criancinha, mas pareceu-me que o barricar-se queria dizer, também, dos ditos. Porto da Lage continua, assim, a ser, sempre, o nosso porto de abrigo, mesmo de medos imaginários. Eu, daqui da capital, tão linda, cujo belo céu azul só pode estar incrédulo com o que está a suceder debaixo de si, desejo-vos a todos muita, muita saúde e que seja breve, muito breve, este tempo mau que nos anunciam. (MFM)





2 de março de 2020

Março





Eu sou o Março,
Que sempre marcejo,
Farto as terras,
De água a desejo.




                                               Em Março, tanto durmo como faço

Pereira em Flor, 1910, José Malhoa




«Si hortum in biblioteca habes, deerit nihil»






Quadra e provérbio retirados de  "Cantares de Todo o Ano"(selecção de cantigas populares portuguesas), 2.ª edição, Colecção Educativa, Série F, número 6, Ministério da Educação Nacional, Direcção Geral do Ensino Primário, 1971.

1 de março de 2020

Foi-se o Entrudo







«Si hortum in biblioteca habes, deerit nihil»






Fonte: "Cantares de Todo o Ano"(selecção de cantigas populares portuguesas), 2.ª edição, Colecção Educativa, Série F, número 6, Ministério da Educação Nacional, Direcção Geral do Ensino Primário, 1971.


25 de fevereiro de 2020

À Maria para Cantar este Entrudo


A quem possa interessar, directamente ou como inspiração, aqui vai esta publicação que a Biblioteca Nacional fez o favor de desenterrar do seu vasto espólio e dar a conhecer, pelo menos a mim, neste Entrudo.  (MFM)

                                                         

                                      Se quiser continuar a ler...

24 de fevereiro de 2020

Vasco Pulido Valente



                                           



Deixa-me saudades a lucidez, a erudição e a escrita. Eu, que tenho um entranhado amor pela minha língua, não acredito que, em minha vida, volte a ler algo novo com tanta qualidade. Resta-me, cada vez mais, reler. (MFM)

1 de fevereiro de 2020

Fevereiro





Eu sou o Fevereiro,
Mês dos temporais,
Descubro as casas,
Esborralho os portais.









«Si hortum in biblioteca habes, deerit nihil»




Fonte: "Cantares de Todo o Ano"(selecção de cantigas populares portuguesas), 2.ª edição, Colecção Educativa, Série F, número 6, Ministério da Educação Nacional, Direcção Geral do Ensino Primário, 1971.

20 de janeiro de 2020

Mosaico Romano





A obra Agiólogo Lusitano dos Santos e Varões Ilustres em Virtude do Reino de Portugal e suas Conquistasdo Padre Jorge Cardoso (Lisboa 1606-1669) refere a pags. 761 do Tomo III, como se pode ler na cópia do original, abaixo:  « ...toda a campina de S.Silvestre é povoada de casais, vinhas, pomares e terras de pão. E contra toda a diligência humana cada dia se descobre quantidade de telhões, pórticos e colunas que o tempo lança fora da terra. E no Carvalhal está uma fonte cuja água ia ter à Beselga por canos de chumbo, os quais apareceram há poucos anos junto à estrada que vai para a igreja, de que tiraram algum proveito seus pobres moradores.»

Sensivelmente 300 anos mais tarde o jornal "O Século" publica a seguinte notícia:


Jornal "O Século" 28.07.1959

Nos três séculos que mediaram entre as duas noticias, e antes, muito antes, percebe-se o proveito que estes e outros "tesouros" (leia-se o resto da transcrição do "Agiólogo") trouxeram aos "pobres moradores", as moedas minorariam a fome, os telhões, pórticos e colunas ajudariam no reforço das paredes e muros de casas e fazendas e até a guarnecer o leito alteroso da ribeira. Mas após 1959 o que foi feito? (MFM)


                                                 ....

...


   in Padre Jorge Cardoso, Agiólogo Lusitano dos Santos e Varões Ilustres em Virtude do Reino de Portugal e suas Conquistas, 1652-1666, edição facsimilada da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, com estudo e índices de Maria de Lurdes Correia Tavares, Porto 2002.                                           

16 de janeiro de 2020

Janeiro


Eu sou o Janeiro
Que espalho o meu grão
E peço a Deus
Boa Conjunção







                                                                                 «Do Natal ao fim de Janeiro
                                                                                                Crescem os dias um salto de carneiro.»

«Si hortum in biblioteca habes, deerit nihil»



Fonte: "Cantares de Todo o Ano"(selecção de cantigas populares portuguesas), 2.ª edição, Colecção Educativa, Série F, número 6, Ministério da Educação Nacional, Direcção Geral do Ensino Primário, 1971.

12 de janeiro de 2020

Os Meses do Ano







                                                                                                      



Fonte: "Cantares de Todo o Ano"(selecção de cantigas populares portuguesas), 2.ª edição, Colecção Educativa, Série F, número 6, Ministério da Educação Nacional, Direcção Geral do Ensino Primário, 1971.

«Si hortum in biblioteca habes, deerit nihil»


6 de janeiro de 2020

Saco Trazemos






Janeira pedimos,
Saco trazemos;
Deem-no-lo cá,
Que nós nos iremos.
Saco trazemos,
Saco levamos;
Venham-no-lo dar,
Que nós já nos vamos.

                                                                                                         

Si hortum in biblioteca habes deerit nihil


Fonte: "Cantares de Todo o Ano"(selecção de cantigas populares portuguesas), 2.ª edição, Colecção Educativa, Série F, número 6, Ministério da Educação Nacional, Direcção Geral do Ensino Primário, 1971.

3 de janeiro de 2020

Vigiando as Libras e os Dobrões






Excerto de " Coisas e Loisas de Tomar", pag.9, do Coronel Vasco da Costa Salema.



Seria desta perspectiva, encostado ao marco da direita que Vieira Guimarães "assistiu a todo o arrasar da casa, abrigado pelo chapéu de sol cinzento" (a)guardando a hipotética "panela com libras e dobrões"?


A nova "casa conventual", pouco depois de pronta.




A «Casa Conventual» com o J entrelaçado com o E de Emília.

Si hortum in biblioteca habes, deerit nihil.




31 de dezembro de 2019

A Vida do Espírito e os Pés de Barro


O Dr. Vieira Guimarães


Já falámos neste blog do Dr Vieira Guimarães a propósito do Aniversário do Passamento de Gualdim Pais , de que foi grande impulsionador, da recepção apoteótica na nossa estação e em Tomar, por ocasião da sua formatura e também aqui .
Vieira Guimarães, é actualmente  conhecido pela casa que leva o seu nome, na Corredoura (cuja história abordámos em anterior post), e por a sua obra histórica sobre Tomar, que começa agora a ser divulgada pelas novas gerações. Mas nem sempre foi assim, se, a fazer fé na leitura da imprensa da época, parece ter sido idolatrado pelos seus contemporâneos,  não me consta que o mesmo tenha sucedido nas gerações  imediatamente seguintes. No inicio dos anos setenta não era popularmente reconhecido em Tomar, não me recordo que fosse lembrado com saudade por aqueles que o tinham conhecido e que escreviam habitualmente na imprensa (as redes sociais do meu tempo), ao contrário do que sucedia, por exemplo, com o "Dr. Sousa", o qual teve mesmo a sua obra reeditada nos anos oitenta, o que nunca aconteceu, que eu saiba, com as de Vieira Guimarães.
Talvez a diferença de tratamento, pelas gerações seguintes, destes dois tomarenses contemporâneos resida, precisamente, na diferença entre os dois, enquanto João Maria de Sousa, falando de história (não ei se será um historiador), fá-lo com alguma objectividade e sentido critico, embore arrase os cavaleiros de Cristo vendo apenas neles seculares exploradores e opressores do povo, toda a história de Vieira Guimarães é panegirica, o seu estilo encomiástico exalta os cavaleiros, puros e sem mácula, exalta Costa Cabral, estadista exemplar e incompreendido, enfim, ele só conhece heróis e vilões, e as gerações recuadas, de que eu ainda faço parte, impregnadas consciente, ou inconscientemente, pelo materialimo dialético, para além de não se reverem nem no estilo nem na metodologia (mesmo na ideologia, no caso de alguns, uma dezena de anos mais novo e V.G. não escaparia de levar com o epíteto de fascista em cima de si) tinham pouca paciência para encontrar, entre tantos elogios, louvores, angústias patrióticas, muita gente angélica e outra tanta digna de subir ao altar, algum valor de carácter histórico nas obras de Vieira Guimarães.
E atenção, eu era dos poucos jovens da minha idade que sabia da existência de um senhor chamado Vieira Guimarães, sabia-o através da minha avó, ela conhecera-o, contava que era professor no Liceu Camões e lembrava-se, com saudade, da insistência, mal sucedida, que aquele fizera junto do seu pai para que a deixasse ir para Lisboa continuar os estudos.
Uma prova, penso eu, da indiferença a que este historiador da Ordem de Cristo esteve votado, foi a proposta de demolição da sua casa, de que já  falei aqui, quem a teria ou não construído ou lá teria vivido, não era coisa relevante para a decisão dos poderes, e até para os intelectuais, da época (aquilo não tinha qualquer valor arquitetónico, diziam!se calhar com razão), e a contestação que se opôs àquela intenção, na qual me incluí apesar da minha pouca idade, residiu apenas em querer preservar o que conheciamos, aquilo que fazia parte da "memória colectiva" (detesto esta terminologia mas reconheço que aqui faz sentido) de gerações que não tinham conhecido outra coisa,  que tinham crescido a vê-la ali, com a sua torre erguida à nossa espera quando saíamos da ponte, e não queriamos perdê-la, porque nada conforta mais do que aquilo que sempre conhecemos, diga-se o que se disser. Se Vieira Guimarães veio à baila naquele processo, e não sei se veio, teria sido por mero caso. E a casa manteve-se!
 (Um parêntisis: coisa semelhante aconteceu e penso que ainda acontece com a remoção da estátua de Gualdim Pais, da Praça - ela está lá há pouquissimo tempo em termos históricos, faria mais sentido estar noutro local, talvez, mas quem vive nunca conheceu outra realidade - e isso tem muita força, afinal o tempo que vivemos é o tempo dos presentes não o dos do passado nem o dos do futuro, independentemente do egoísmo que isso possa representar, esta é a realidade. )
 Mas, esquecido ou reaparecido, com pouco ou muito valor, Vieira Guimarães foi, inquestionavelmente, um homem que amou a sua terra,  sobre ela escreveu .….cidade, onde eu nasci e a que tantas recordações saudosas tão extremamente me ligam, d’este belo torrão em que brinquei com meus irmãos e ouvi dos lábios santos d’uma mãe extremosa as preces a um deus de Fé e os conselhos inolvidáveis de honra e de trabalho, que tem sido sempre a minha norma de vida.
Como me recordo d’essa terra em que tudo para mim encerra uma saudade, e oculta na amenidade de seus prados, na beleza de seus vales, nas sombras de seus pinheirais, no pitoresco do seu Nabão e na grandiosa majestade de seus monumentos, uma lembrança, quase uma parcela do meu eu!! Como eu quereria viver ali longos anos, na convivência intima dos meus, no lar onde crepita o fogo que primeiro me aqueceu, sob esse belo azul, onde refulge um sol benéfico e vivificante, e depois… morrer, descansando, enquanto as leis da física e da química me não transformem de todo, n’esse santo campo do Adro, dormindo no seu seio o ultimo sono! (1)

Voltando ao seu tempo, era então uma figura muito conhecida, senão a nível nacional, pelo menos lisboeta; sendo mesmo, ao que parece, merecedor que a sua casa fosse exibida nas revistas do jet set de então.
A revista Ilustração Portuguesa publica em 30 de Julho de 1921 uma reportagem em que descreve, no estilo pomposo da época, a casa de Vieira Guimarães situada na quinta que detinha à beira do Nabão. Aquela publicação, refere-se-lhe como sendo a casa "de um artista é também a casa destinada ao viver de um lavrador entregue à labuta dos campos, que sabe conciliar a vida material com a vida do espírito, a vida da alma com a existência do corpo", descrevendo o exterior como de estilisação portuguesa,  com o seu elegante alpendre ao topo, cujo telhado tem por zingamocho uma esbelta esfera armilar em ferro; as janelas vão desde os simples quatro pedaços de cantaria, às vergas recortadas e ombreires esculpidas de D.Manoel I e D. João III e ás de balanço molduradas dos séculos XVII e XVIII; os ventiladores são formados pela cruz dos templarios e o rodapé por azulejos com a mesma cruz. 



« A casa do sr. Dr. Vieira Guimarães fica situada junto ao rio Nabão, n'uma quinta em que
 a opulência dos olivais rivaliza com a das magnificas árvores de deliciosa fruta.
..»


Quanto ao interior, era, segundo quem escrevia,   "o verdadeiro museu do espirito de Tomar, são evidentes os traços portugueses nas mesas, cadeiras, camas e nos guarda-loiças de vidros de catedral dos séculos XIII e XVIII. São inumeras as cerâmicas portuguêsas antigas que a paciência do seu possuidor tem coleccionado, assim como muito grande é a colecção de cerâmica moderna onde há talhas originais e curiosos vasos das olarias de Tomar. E dá destaque às paredes que têm aqui e acolá grandes pratos da olaria Roseira  com os retratos de D.Guladim Pais, D.Gil Martins, D.Dinis, D.Henrique (por ligados às ordens templárias e de Cristo) e com as vistas de Tomar e da celebérrima fachada poente da igreja manoelina do Convento de Crista. Também em uma das paredes se vê um "panneau" com o monograma do dr. Vieira da Silva, assente na cruz de Cristo, indicativa da sua comenda ...






Ficamos, por este meio, a conhecer uma casa  cuja arquitectura e decoração não nos espantam, pois correspondem, tão só, ao gosto do seu proprietário de se rodear dos símbolos daquilo que o apaixonava e a que dedicou os seus estudos - os Templários, a Ordem de Cristo, Tomar, enfim. Como muitos contemporâneos seus fizeram, nos inicios do sec.XX, em que era habitual replicar, naquilo a que durante muito tempo se considerou um pastiche de mau gosto mas que agora se volta a apreciar, o estilo manuelino e o gótico em geral, em prédios construídos então (sendo exemplos conhecidissimos desta prática o palácio da Regaleira em Sintra e o "Restaurante Abadia" no Palácio Foz em Lisboa), Vieira Guimarães também aplicou este estilo nesta casa e depois no edificio que construiu no topo da Corredoura. 
Neste aspecto, portanto, o artigo não nos trás nada de novo; que se encontrem cantarias esculpidas à moda neomanuelina nas fachadas, e cruzes templárias e de Cristo espalhadas pela casa, nada mais natural atendendo ao seu proprietário.
O que, para a mim, emerge de novo nesta leitura, é a personalidade do nosso homem. Aconteceu-me aqui o que, há muito, me acontece quando vejo  as deslumbrantes mansões de estrelas de várias galácticas, da TV ao futebol, passando pelas das boas famílias, espelhadas nas nossas Holla! de trazer por casa e na propriamente dita. O que leva aquela gente a mostrar a casa em que vive, a casa da sua família, onde têm as suas coisas, onde se desenrola a sua vida íntima? O que raio é que os outros têm a ver com as nossas vidas? Parece que têm, se for para lhes mostrarmos aquilo que possuimos a mais que eles, o que nos destingue e nos deslumbra, o que pensamos os vai ofuscar, a nossa superior aparência, em suma, a nossa vaidade, que aqui, no caso do nosso personagem, até vai envolta num "panneau" com o monograma da sua comenda!

Fiquei portanto a saber que Vieira Guimarães teria prazer em exibir-se, a si e às suas coisas, e daí inferi (porque sou mázinha ou porque conheço um bocadinho a natureza humana?) que não seria propriamente um homem recatado e modesto, o que, juntamente com outros deficits de virtudes de que  gozaria (segundo outras fontes que consultei e junto em anexo -uma delas agora, outra noutro post um dia destes), o mostram como detentor de uma nobreza de carácter digamos... pouco exemplar. Situação que, adianto desde já, não tira nem põe à qualidade da sua obra nem à contribuição que deu para a promoção de Tomar- importa, sempre, destinguir o autor do homem que o suporta.

 Continuando e voltando aos pratos de loiça nas paredes, às colecções de cerâmicas antiga e moderna, às esferas armilares, às cantarias, enfim, ao museu "do espírito de Tomar" que plasma a "vida do espírito" deste homem, aquela não pode ter deixado de ser, muito prosaicamente, alimentada pela "vida material" proveniente dos seus rendimentos, que viriam, pelo menos parcialmente, dos seus "opulentos" olivais. E, a ser como Fernando Ferreira nos conta abaixo, façamos uma "continha" simples só para exemplo: o preço do belo prato com a efígie do fundador Gualdim Pais elegantemente pendurado na parede da casa de jantar, terá correspondido a quantas sardinhas, batatas, feijão e couves a menos por boca do pessoal da apanha


Excerto do opúsculo de Fernando Ferreira "Alguns Aspectos de Tipismo e Tradição Tomarenses", à base da palestra proferida pelo autor no «Seminário Regional de Tomar sobre Defesa do Património», em 1980.

            - Oh sr. Dr. Vieira Guimarães! Que Aquele deus de Fé a Quem a sua mãe extremosa dirigia preces, tenha descontado estes seus pecados no rol das benfeitorias que as gerações actuais lhe atribuem e que, contas feitas, descanse em Paz!
E, para terminar,  uma última consideração, a riquesa dos azeites de Tomar que empurrou caravelas pelo mundo fora, foi sempre riquesa amaldiçoada para os pobres. Desde os Frades, que a monopolizaram, até àqueles que os estudaram e enlevaram, confessos amantes da liberdade, como Vieira Guimarães, sempre aquela riquesa foi produzida à custa da servidão e da miséria. (MFM)




(1) in preâmbulo, pags.10 e 11, do Catálogo da Exposição Concelhia Industrial e Agrícola, da sua autoria. Exposição levada a efeito por ocasião do sétimo centenário da morte de Gualdim Pais-1895.


Fotografias retiradas de Ilustração Portuguesa

«Si hortum in biblioteca habes, deerit nihil»



29 de dezembro de 2019

Menos Feio que o Pai!



Há cem anos, a Ilustração Portuguesa  agoirava desta forma o novo ano de 1920 que se aproximava. Fazendo as devidas adaptações no saco das desgraças, seria caso para ...mas não,  não vamos fazer o mesmo, antes vamos esperar, mas temos que esperar com muita força, que o nosso Ano Novo de 2020  seja um bocadinho menos feio do que o pai 2019!





«Si hortum in biblioteca habes, deerit nihil»

26 de dezembro de 2019

Da "Estalagem do Com Ovos" a " A Primorosa"




João de Deus (1830-1896) grande poeta lirico e pedadogo, autor da Cartilha Maternal, estudou em Coimbra, primeiro no Seminário e depois na Universidade, onde se formou em Direito em 1859.
O Coronel Vasco da Costa Salema no seu livrinho "Coisas e Loisas de Tomar", conta que aquele poeta, uma vez vindo de Coimbra de férias, com destino à sua terra natal, S. Bartolomeu de Messines, passando por Tomar, ao sair da ponte "vê a tabuleta de uma hospedaria, existente à época numa casa já hoje desaparecida e que ficava à entrada da Corredora, do lado norte, e mesmo em frente da dita ponte. Escarranchado na mula do almocreve, João de Deus atenta na tabuleta, «Estalagem do Com Ovos», e maliciosamente lê para os companheiros «Estalagem do Comovos", logo acrescentando: Nesta não fico eu." 
Essa casa, já desaparecida, foi sofrendo alterações, bem como o edificado à sua volta, até aos dias de hoje. Pelo meio, o edificio que a substituiu em 1922, também sofreu a degradação do tempo, com menos de cinquenta anos de vida já estava condenado à morte, conseguindo, porém, sobreviver e ser hoje quase um dos ícones da cidade - denominado Casa Vieira Guimarães. Nele funcionou, no piso térreo, durante décadas, um café - A Primorosa, o qual, à semelhança do sucedido com a sua antecessora "Com Ovos" também já se vai perdendo na memória tomarense.(MFM)


"...A tabuleta de uma hospedaria, existente à época numa casa já hoje
desaparecida e que ficava à entrada da Corredora, do lado norte,
 e mesmo em frente da dita ponte."


 Na casa em questão observa-se a janela do último andar de guilhotina e a fachada, toda branca, na qual se vê um letreiro que, infelismente, não se consegue ler, será o anúncio à estalagem? A ponte tem guardas de pedra, assim como a  corredora ainda mantém os "frades", também de pedra (anos 1870). 

A janela do último andar ainda é de guilhotina mas o piso de baixo apresenta agora aspecto diferente, talvez revestido a azulejos. A Corredoura já com candeeiros de iluminação pública (colocados em 1901) e sem os "frades". Não se vê, porque este é um recorte, mas a foto original  mostra a ponte com grades  de ferro que substituiram as anteriores guardas de pedra, em 1888.




Aqui  verifica-se que a janela superior já tem dois batentes e o r/c parece ser uma casa de comércio com artigos expostos no
exterior. Atente-se à publicidade, na casa do lado esquerdo, às "Máquinas Singer para coser".


Repare-se no anúncio a "Auto Gazo Mobiloil" apesar de toda a gente andar a pé ou de burro.




A "nossa" casa já não tem lá muito bom aspecto.


Foi construído um edificio novo em 1922, que veio substituir o anterior, mantendo-se, no lado esquerdo, as primeiras casas do anterior edificado, mas surgindo uma outra, mais alta, onde se pode ler  "Havaneza".


 Já se avistam automóveis e o competente policia sinaleiro, acompanhado por colegas (quase tantos policias como restantes cidadãos) e até uma bomba de gazolina. A ponte ainda mantém gradeamento de ferro.


 Repare-se no gradeamento da ponte que já vai na terceira versão (inaugurada em 1940). Desconheço se, nesta data, já estaria "A Primorosa"  instalada no  rés do chão do edificio em causa.

A demolição dos pequenos edíficios da esquerda e uma nova construção, onde estava instalada, na época desta foto, uma agência do Banco de Portuga, deram origem a um pequeno largo que recebeu o nome de Praceta de Olivença, onde se destacava a  esplanada da pastelaria   "A Primorosa" a qual funcionava  no r/c do edificio recuado da esquerda desde 1952,  enquanto que o "café, cervejaria, snack-bar pastelaria" continuava no local anterior.
Nota: Cerca de cem anos mediarão entre a primeira e a última fotografia.



Abril de 1952









1955








Fontes:
Fotografias retiradas de diversos locais não identificados na net e em Memória Digital de Tomar, nesta última também os quatro recortes da imprensa. A última publicação foi retirado da página de facebook de "Gabinete de Curiosidades de Tomar".