4 de maio de 2013

Recordações da Nossa aldeia

(continuação)

A represa armazenou uns bons metros cúbicos de água. Uma boa piscina onde alguém veio tomar banho. Havia um senhor da terra, o Joaquim Tomás, um bom metalúrgico, com perto de quarenta anos que tinha construído um barquito de madeira para experiência de barco com motor. Levou o barquito para a represa. Foi uma brincadeira para os mais novos.
        

                                                 

















Uma bela noite quente houve malandrice. Alguém que estava por ali a observar quem andava a passear de barco ofereceu uma cerveja a quem conseguisse virar o barco para que o passageiro vestido de fato branco caísse na água. Dito e feito. Logo apareceu um voluntário que mergulhou e passou debaixo do barco.          
Lá foi o homem de fato branco para dentro de água. Até houve uma grande salva de palmas da assistência.                                       

Claro que o nosso amigo do fato branco não gostou nada do banho e abandonou o local. Não sei quem o levou a casa. Já lá vão 62 anos. A pessoa que ofereceu a cerveja, a que foi virar o barco e o do fato branco já todos três faleceram há muito. O autor da ideia (o João Pedro) era muito brincalhão. Há quem descreva esta história com todos os pormenores.


A mocidade desse tempo, os que estão vivos, já ronda os oitenta anos e mais. Os seus netos não imaginam o que eram os divertimentos numa aldeia. Tínhamos que os inventar. Nem uma bicicleta as raparigas possuíam. A nossa década de 1950 deixou marcas que ainda são recordadas com saudade!



(continua)



Recordações da Nossa Aldeia


                                                            (continuação)



O tio João Mota anota assim, no seu registo diário a partida
dos "sobrinhos estudantes" em 4.11.1956.
Neste Verão organizaram uma récita e um passeio ao Agroal. Quando regressámos desse passeio o Dr. Henrique Mota viu-nos chegar, foi ter connosco e abordou um assunto interessante: organizarmos um arraial popular na margem da ribeira junto ao açude. Ouvimos mas ninguém fez caso. Passou o Outono, o Inverno, entrou a Primavera e quando nos aproximámos de Junho o Dr. Henrique Mota voltou ao assunto do arraial popular.




 O grupo mais activo uniu-se e toca a trabalhar. Levantou-se uma muralha de terra para reter a água que ainda corria da queda do açude; fizemos uma pista com terra barrenta amassada com palha; ficou como se fosse uma eira para debulha de cereais.




A autora destas linhas a "amassar" a terra para fazer a pista de dança. Curiosa maneira de trabalhar, de gravata e calça afiambrada, o companheiro, lá atrás, até parece queixar-se de pingos nas calças
  
Ora estava feito o espaço para quem quisesse dançar.
Tivemos bailaricos aos fins-de-semana, Santo António, São João e São Pedro, mais uns domingos de Julho. Havia barraquinhas para comer e beber. De Randufas, Torres Novas, vinha o Francisco Honório ainda rapaz novo tocar com o seu acordéon as músicas da época que nós pedíamos. Este Francisco Honório era pai dos elementos do actual popular conjunto FH5 de Tomar.
Eram divertimentos simples e modestos mas para a época era uma alegria.

(continua)