do tempo em tal sazão, que sói ser fria;
esta água que d'alto cai acordar-m'-ia
do sono não, mas de cuidados graves.
ó cousas,
todas vãs todas mudaves,
qual é tal
coração qu'em vós confia?Passam os tempos vai dia trás dia,
incertos muito mais que ao vento as naves.
Eu vira já
aqui sombras, vira flores,
vi tantas
águas, vi tanta verdura,as aves todas cantavam d'amores.
Tudo é seco
e mudo; e, de mestura,
também
mudando-m'eu fiz doutras cores: e tudo o mais renova, isto é sem cura!
Francisco Sá de Miranda 1481, 1558