Si hortum in biblioteca habes deerit nihil

Si hortum in biblioteca habes deerit nihil
Todos os textos aqui publicados podem ser utilizados desde que se mencione a sua origem.

21 de outubro de 2016

Apresentação

Os parágrafos que seguem abaixo são os que encerram o livrinho de Ilídio Mota Teixeira intitulado "Terras da minha memória". Naqueles, o autor faz um resumo e emite explicações sobre os dois grandes temas que aborda: os locais e paisagem do "lugar da sua origem e dos seus mais próximos antepassados" e as lembranças da sua tenra idade.
Decidi, no entanto, colocá-los já aqui, no inicio, como introdução, para que, desde já, saibamos o que nos espera, antes de começar a ler "o livrinho" e antecipemos, com avidez, os próximos "capítulos." Os restantes textos irão surgindo conforme a ordem estabelecida no livro.




Imagem retirada de "Ribeira da Beselga" de Óscar Mota
«...Neste despretensioso apontamento sobre Paço da Comenda, do açude com a sua levada e azenha, das motas e dos muros da várzea e da ribeira, da famosa mina da fonte do moinhoto, da pequena azenha do ribeiro da Longra, dos extintos lagares de azeite, do vivente olival, tenho como finalidade apoiar as minha memórias deste lugar da minha origem e dos meus mais próximos antepassados e também para despertar alguma curiosidade dos que habitam nestes lugares.




Ilídio, Dulcinda e Estela.
As lembranças da minha infância e puberdade dirigem-se aos que se seguem na via da continuidade para poderem arquitectar de algum modo o meu quotidiano no seio da família nesses tempos tão distantes com modo de viver tão diferente do actual. As carências eram muitas e as achegas inexistentes. No entanto recordo com encanto e muita saudade a minha infância a caçar ratos, a tentar pescar peixinhos da bela ribeira e no encantador ribeirinho da Longra, a fazer recados a correr, os mergulhos forçados no Agroal, a imaginar o menino Jesus e o S. Pedro a descerem pela chaminé da lareira coberta de fuligem e com uns pequenos orifícios no topo de saída, a cantar as lengalengas com as minhas irmãs, os açoites de minha mãe quando me ausentava para distâncias fora da sua vigilância, do som do pio dos mochos no olival ao anoitecer na Primavera, do som cadenciado das cigarras no início do Verão, da chegada das andorinhas a anunciarem a vinda da Primavera, do belo espectáculo da água clara da ribeira a cair do muro do açude sobre o fundo rochoso, o verdejar dos primeiros rebentos das videiras, o florido de rebentos de canas com as flores azuis e brancas das margens do ribeiro, das belichas de farinha de pão de trigo barradas com azeite, açúcar e canela quando minha mãe cozia pão ao Sábado para comermos durante a semana...» (IMT)


Desenho de Maria Keil