Si hortum in biblioteca habes deerit nihil

Si hortum in biblioteca habes deerit nihil
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30 de dezembro de 2020

Eurico Rosa (1949-2020)

 

                                               



Também foste um portodalagense de alma. Também sentiste o cheiro das raízes e o dos outros tempos. Mas eles prendiam-te e expulsaste-os, porque expulsavas tudo o que te prendia. És  finalmente livre.  
Até um dia primo. M.F.



29 de dezembro de 2020

E 2021?

No ano passado pusemos aqui os votos que, na Ilustração Portuguesa, o ano de 1919 pressagiava para o seguinte, um ano mais feio que o anterior carregado com um saco cheio de desgraças. Esperávamos, então, que cem anos depois o agoiro não se repetisse. Mas 2020 conseguiu sair pior do que a encomenda. À nossa desgraçada situação, de que nunca saímos, de crescentes desigualdades sociais, de corrupção, de falta de justiça e educação adequadas, de uma dívida brutal e uma economia moribunda, junta-se agora a enorme crise sanitária mundial. É muito para outros, é terrivel para nós, portugueses. Tanto mais que não é uma situação nova, nem sequer de décadas. É desesperante comparar as preocupações de há cem anos com as actuais - as mesmas! Até o último par de botas que está aí a chegar da Europa já prevemos que, como na canção, só o descalça quem souber. A esmagadora maioria não saberá.  Como se sai daqui também não sei. Muito provavelmente, como a história nos ensina, não se sai. Infelizmente. Num país onde se fabrica tantas leis a única que nos mantém, não digo vivos mas existentes, não é dessas, é a da Inércia- corpo em repouso ... Acho que já "deu para entender" o estado de espírito com que encaro a chegada do novo ano. O máximo a que a minha esperança me deixa ir é até à interrogação, como será? Apesar disso, para não romper de todo com a tradição, faço votos para que tenham saúde e estejam mais optimistas que eu. (MFM)

 



23 de dezembro de 2020

Bom Natal


Muitos lamentam que a essência do Natal se tenha perdido. Carpem o Natal Cristão pois, dizem, o outro esqueceu Jesus. Mas o Natal "profano", o que comemoramos nos nossos dias, sem fé nem rito, se calhar, bem vistas as coisas até nem é mau, é mais verdadeiro, mais natural. Como aquelas coisas de que fazemos uso diariamente sem nos lembrarmos da sua origem. A água, a luz, o gás, a TV, a internet, entram-nos pela casa dentro sem que a gente se preocupe em saber como lá chega ou quem fez o quê, num tempo qualquer, para que tal fosse possível.  Assim nós, uma vez por ano, sem já saber porquê, corremos afogueados a lembrarmo-nos dos outros, a comprar-lhes coisas, a juntarmo-nos a eles! E sofremos quando o não fazemos, quando não podemos por qualquer circunstância ou mesmo, até, quando não queremos. Sabem aquelas pessoas que não gostam do Natal? Nunca vi ninguém dizer com desapego que não gosta do Natal. É sempre com desagrado, com raiva mesmo. O Natal é para nós, ocidentais que crescemos neste caldo cristão que rejeitamos, algo que ultrapassa o nosso entendimento, mas que não discutimos e, muito menos, recusamos deixar cair em desuso como nos habituámos a fazer com o que é velho. E persistimos com todo o entusiasmo a comemorá-lo, cada vez com mais veemência, com o formato e a maneira dos nossos tempos, como outros, antes de nós, o fizeram à maneira deles. Porque sé ele nos permite, por um dia, mostrar o ser gregário que somos e sentir em relação ao outro o mandamento novo de dois mil anos, o ferrete que nos marcou à nascença – o amor.

Desejo-vos a todos um Bom Natal, na companhia de um pintor/ilustrador do sec.XX que retratou como ninguém (com cor, fantasia, harmonia, humor e optimismo, o que levou a que não fosse levado muito a sério) o quotidiano da América do seu tempo, e  nos mostra aqui o Natal como nós ainda o vivemos: com a alegria da preparação da partida/chegada para as Festas (na ilustração, não obstante se tratar de tempo de guerra) e do contentamento exultante do reencontro, cuja expressão máxima é o rosto feliz de uma criança. (MFM)


Ilustração de Norman Rockwell (1894-1978) retirada   daqui        





14 de dezembro de 2020

Ao fundo ....a memória.


Desenho de J.A.


Ao fundo [ da ladeira que conduz à cidade] está a oficina do Ferrador Zé Paulo para onde entram por um largo portão e vão prender o animal, mesmo atrelado, a uma estaca ao fundo do pátio

A oficina do Ferrador ficava num amplo pátio onde se abrigavam (acoitavam) as carroças, as galeras e as charretes de quem vinha a Tomar: era uma espécie de caravanserai, estrategicamente situada à entrada da cidade, ao fundo da “estrada de Paialvo” que a ligava à Estrada Real de Lisboa a Coimbra em Porto da Lage e de lá seguia para Leiria.

Nesse pátio caravanserai havia uma “estação de serviço” onde um ferrador – Zé Paulo – cuidava das alimárias enquanto esperavam.

E, provavelmente uma hospedaria para quem podia; os outros poderiam ficar no albergue vizinho, fantasio.

 Pelo mesmo portão se entrava para casa da família Coito, da nossa tia Mª José casada com o tio João (dos Olivais), de que recordo uma longa varanda (da antiga hospedaria?) virada a poente como a da tia Anita em Porto da Lage. Era ali que eu procurava boleia para casa aos sábados à tarde. Recordo a forja, o barulho da bigorna, dos cravos na ferradura, das patadas no chão térreo e, sobretudo, do cheiro dos cascos queimados. HCM

12 de dezembro de 2020

Dezembro

 Eu sou o Dezembro-

Engordo o meu porco

E como torresmos,

Regalo o meu corpo


                                                                 Dezembro ou seca as fontes ou levanta as pontes















                                              

                      

               Em Dezembro ande o frio por onde andar, pelo Natal há-de chegar.


«Si hortum in biblioteca habes, deerit nihil»



Quadra e ilustração  retirados de  "Cantares de Todo o Ano"(selecção de cantigas populares portuguesas), 2.ª edição, Colecção Educativa, Série F, número 6, Ministério da Educação Nacional, Direcção Geral do Ensino Primário, 1971.