Si hortum in biblioteca habes deerit nihil

Si hortum in biblioteca habes deerit nihil
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13 de novembro de 2019

Outros tempos na Antiguidade




Já lá vão cinco anos (cinco, confirmei agora!) que falei aqui sobre o meu irascível e profético professor de Físico-Química, nos anos idos em que frequentei o colégio.

Revejo-o agora! Lá está ele conforme o recordo, só o chapéu está a mais, relativamente à figura que se passeava na sala, em frente ao quadro, reflectindo sobre os males do mundo em geral, e da gente que tinha à sua frente, em particular. O seu interlocutor mostra um ar sorridente ao ouvi-lo. Sempre é padre, quiçá mesmo um frade, cumpre o seu ofício!

Mas como para me mostrar que nem tudo era mau, vejo, também,  abaixo, uma figura querida de avô bonacheirão, culto, permissivo, compreensivo mas rabugento, truculento mesmo, quando provocado. Um homem aparentemente tranquilo, apagado até, que se empolgava a reviver as guerras da antiguidade, as Púnicas, a primeira, a segunda e a terceira, com o grande Aníbal dum lado e Cipião o Africano, do outro, a desfilarem à nossa frente, à compita com a do Peloponeso, com o  enorme Péricles, governante como nunca houve nem haverá outro, a defender a sua cidade (atenção! eram cidades-estado) contra a poderosíssima Esparta, já para não falar das do inexcedível Alexandre que, com o seu cavalo Bucéfalo, que só a ele deixava montar, fundava um império! O ambiente das aulas de História Universal (chamava-se assim a disciplina, salvo erro) indiciava, por vezes, também, um pré estado de guerra. O professor, todo embrenhado nas suas descrições das marchas de Aníbal mais os elefantes e na triste e lamentável devastação de Cartago, e as alunas que, faça-se-lhes essa justiça, conseguiam estar atentas meia aula mas não todas na mesma meia hora, transformavam a sala num receptáculo de um cochichar sistemático no qual sobressaía a voz grossa do mestre. Se, por acaso (graças aos Céus não aconteceu muitas vezes e por isso estou aqui para contar), ele acordava do seu enlevo e se apercebia do zum-zum à volta, a sua paciência de touro manso, que nos ouvia sempre, perdoava e consolava até, quando os outros professores se queixavam (era o director do colégio feminino), a sua paciência, dizia eu, esfumava-se e os berros saíam-lhe vibrantes da garganta, ou, muito pior, víamos soltar inesperadamente, qual leão sorrateiro,  aquele corpanzil enorme do estrado abaixo e correr aos tabefes quem lhe parecesse que tinha a boca aberta. Tabefes? aquelas mãos  não davam tabefes (observem-nas na foto e imaginem!). Um valente chapadão, o único da minha vida, foi o que eu levei, a ponto de me saltarem as lágrimas. E lá fiquei, mais humilhada que dorida, e a dor não era pouca! Que nem um pobre cartaginês escravizado às mãos de qualquer centurião romano! (MFM)











































Fotografias retiradas daqui .