Na Gripe Asiática, toda a família adoeceu em Tomar excepto o meu pai, que se ocupava a ir ao restaurante diariamente buscar comida e distribuí-la não só pela nossa casa, onde a minha mãe estava muito doente, mas também pelas de outros familiares, nas quais estava tudo de cama. Nunca perguntei quem lavava a loiça ou a roupa (só o nosso presidente poderia fazer lembrar-me destas minudências), mas o meu pai não foi de certeza. Eu, com meses, e o meu irmão mais velho fomos enviados para Porto da Lage, porto seguro onde, pelo menos aos Olivais, nada chegou.
Um outro meu irmão, que ainda não existia então, informou-me há horas, que está a pensar em "barricar-se" em Porto da Lage com o que mais lhe importa, a sua neta. Não perguntei se, com ou sem, o aval dos pais da criancinha, mas pareceu-me que o barricar-se queria dizer, também, dos ditos. Porto da Lage continua, assim, a ser, sempre, o nosso porto de abrigo, mesmo de medos imaginários. Eu, daqui da capital, tão linda, cujo belo céu azul só pode estar incrédulo com o que está a suceder debaixo de si, desejo-vos a todos muita, muita saúde e que seja breve, muito breve, este tempo mau que nos anunciam. (MFM)