No ano passado pusemos aqui os votos que, na Ilustração Portuguesa, o ano de 1919 pressagiava para o seguinte, um ano mais feio que o anterior carregado com um saco cheio de desgraças. Esperávamos, então, que cem anos depois o agoiro não se repetisse. Mas 2020 conseguiu sair pior do que a encomenda. À nossa desgraçada situação, de que nunca saímos, de crescentes desigualdades sociais, de corrupção, de falta de justiça e educação adequadas, de uma dívida brutal e uma economia moribunda, junta-se agora a enorme crise sanitária mundial. É muito para outros, é terrivel para nós, portugueses. Tanto mais que não é uma situação nova, nem sequer de décadas. É desesperante comparar as preocupações de há cem anos com as actuais - as mesmas! Até o último par de botas que está aí a chegar da Europa já prevemos que, como na canção, só o descalça quem souber. A esmagadora maioria não saberá. Como se sai daqui também não sei. Muito provavelmente, como a história nos ensina, não se sai. Infelizmente. Num país onde se fabrica tantas leis a única que nos mantém, não digo vivos mas existentes, não é dessas, é a da Inércia- corpo em repouso ... Acho que já "deu para entender" o estado de espírito com que encaro a chegada do novo ano. O máximo a que a minha esperança me deixa ir é até à interrogação, como será? Apesar disso, para não romper de todo com a tradição, faço votos para que tenham saúde e estejam mais optimistas que eu. (MFM)