Esta água foi nascer/Naquela encosta do monte/Para vir dar de beber/A quem passar pela fonte
Si hortum in biblioteca habes deerit nihil
30 de dezembro de 2020
Eurico Rosa (1949-2020)
29 de dezembro de 2020
E 2021?
23 de dezembro de 2020
Bom Natal
Muitos lamentam que a essência do Natal se tenha perdido. Carpem o Natal Cristão pois, dizem, o outro esqueceu Jesus. Mas o Natal "profano", o que comemoramos nos nossos dias, sem fé nem rito, se calhar, bem vistas as coisas até nem é mau, é mais verdadeiro, mais natural. Como aquelas coisas de que fazemos uso diariamente sem nos lembrarmos da sua origem. A água, a luz, o gás, a TV, a internet, entram-nos pela casa dentro sem que a gente se preocupe em saber como lá chega ou quem fez o quê, num tempo qualquer, para que tal fosse possível. Assim nós, uma vez por ano, sem já saber porquê, corremos afogueados a lembrarmo-nos dos outros, a comprar-lhes coisas, a juntarmo-nos a eles! E sofremos quando o não fazemos, quando não podemos por qualquer circunstância ou mesmo, até, quando não queremos. Sabem aquelas pessoas que não gostam do Natal? Nunca vi ninguém dizer com desapego que não gosta do Natal. É sempre com desagrado, com raiva mesmo. O Natal é para nós, ocidentais que crescemos neste caldo cristão que rejeitamos, algo que ultrapassa o nosso entendimento, mas que não discutimos e, muito menos, recusamos deixar cair em desuso como nos habituámos a fazer com o que é velho. E persistimos com todo o entusiasmo a comemorá-lo, cada vez com mais veemência, com o formato e a maneira dos nossos tempos, como outros, antes de nós, o fizeram à maneira deles. Porque sé ele nos permite, por um dia, mostrar o ser gregário que somos e sentir em relação ao outro o mandamento novo de dois mil anos, o ferrete que nos marcou à nascença – o amor.
Desejo-vos a todos um Bom Natal, na companhia de um pintor/ilustrador do sec.XX que retratou como ninguém (com cor, fantasia, harmonia, humor e optimismo, o que levou a que não fosse levado muito a sério) o quotidiano da América do seu tempo, e nos mostra aqui o Natal como nós ainda o vivemos: com a alegria da preparação da partida/chegada para as Festas (na ilustração, não obstante se tratar de tempo de guerra) e do contentamento exultante do reencontro, cuja expressão máxima é o rosto feliz de uma criança. (MFM)
Ilustração de Norman Rockwell (1894-1978) retirada daqui |
14 de dezembro de 2020
Ao fundo ....a memória.
Desenho de J.A. |
Ao fundo [ da ladeira que conduz à cidade] está a oficina do Ferrador Zé Paulo para onde entram por um largo portão e vão prender o animal, mesmo atrelado, a uma estaca ao fundo do pátio.
A oficina do Ferrador ficava num amplo pátio onde se abrigavam (acoitavam) as carroças, as galeras e as charretes de quem vinha a Tomar: era uma espécie de caravanserai, estrategicamente situada à entrada da cidade, ao fundo da “estrada de Paialvo” que a ligava à Estrada Real de Lisboa a Coimbra em Porto da Lage e de lá seguia para Leiria.
Nesse pátio caravanserai havia uma “estação de serviço” onde um ferrador – Zé Paulo – cuidava das alimárias enquanto esperavam.
E, provavelmente uma hospedaria para quem podia; os outros poderiam ficar no albergue vizinho, fantasio.
Pelo mesmo portão se entrava para casa da família Coito, da nossa tia Mª José casada com o tio João (dos Olivais), de que recordo uma longa varanda (da antiga hospedaria?) virada a poente como a da tia Anita em Porto da Lage. Era ali que eu procurava boleia para casa aos sábados à tarde. Recordo a forja, o barulho da bigorna, dos cravos na ferradura, das patadas no chão térreo e, sobretudo, do cheiro dos cascos queimados. HCM
12 de dezembro de 2020
Dezembro
Eu sou o Dezembro-
Engordo o meu porco
E como torresmos,
Regalo o meu corpo
Dezembro ou seca as fontes ou levanta as pontes
Em Dezembro ande o frio por onde andar, pelo Natal há-de chegar.
«Si hortum in biblioteca habes, deerit nihil»
25 de novembro de 2020
Grande Incêndio III
16 de novembro de 2020
Grande Incêndio II
12 de novembro de 2020
Gonçalo Ribeiro Telles
Homenagem de uma "urbana com memória rural", republicana que votou PPM. Que tenha, finalmente, encontrado a sua cidade. (MFM)
11 de novembro de 2020
Novembro
Eu sou o Novembro,
O mês dos Santinhos.
Em que os lavradores
Provam os seus vinhos.
Pelo S.Martinho prova o teu vinho
«Si hortum in biblioteca habes, deerit nihil»
2 de novembro de 2020
Mortos de Porto da Lage
Hoje, dia 2 de Novembro, que a liturgia católica dedica aos fiéis defuntos, lembro-vos as exéquias de um notável portodalagense da sua época. Figura esquecida no tempo, tal como o serão aquelas que o acompanharam na sua última viagem, quando os que ainda as recordam já cá não estiveram e tal como o seremos nós, um dia, quando o pó da lembrança desaparecer de vez com a partida dos nossos contemporâneos. Para todos, os que eu conheci e os outros que, num tempo passado qualquer, contracenaram as suas vidas no palco de Porto da Lage (as pedras são maiores que nós), vai a minha homenagem e o desejo de eterno descanso, onde quer que estejam (MFM)
Numa noite de Outono de há perto de cem anos, um lúgubre mas imponente cortejo deixava Tomar em direção a Porto da Lage. Tratava-se do grandioso acompanhamento fúnebre do cadáver encerrado num rico caixão daquele que em vida se chamara João dos Santos Faustino.
O falecido, comerciante benquisto e muito conhecido, que fora dotado de invulgares qualidades sendo, por assim dizer o procurador de toda a gente que precisava de serviços na Estação de Paialvo e a quem muita gente devia favores, teve funeral condizente com o estatuto e amizade que todos aqueles predicados tinham granjeado em vida.
Nesta conformidade, priores de várias freguesias, representantes de diversas forças vivas, desde a Confraria do Smo. Sacramento, passando pela Banda dos Carrascos até um dr. e um engenheiro naval, mais muitas senhoras e muitíssimos cavalheiros, o acompanharam, no dia seguinte, desde Porto da Lage até à sua última morada, em Cem Soldos.
O sr. João dos Santos Faustino seria o mesmo Faustino dos Santos (ou um filho seu?), que vinte anos antes, comprara uma casa a João Maria de Sousa, para que este nela instale uma taberna, permanecendo os antigos donos ainda com o pátio mas comprometendo-se a não o utilizar de forma a fazer concorrência ao negócio. Esta taberna, por transmissão direta entre herdeiros, seria aquela que as últimas gerações ainda conheceram como "a do José Jaime".(MFM)
2 de outubro de 2020
Outubro
Eu sou Outubro,
O mês dos Outonos.
Engrosso as terras
Proveito dos donos
«Si hortum in biblioteca habes, deerit nihil»
1 de setembro de 2020
Setembro
Eu sou Setembro
Que tudo recolho
Trigos e milhos
Palhas e restolhos
Em Setembro, ardem os montes e secam as fontes.
«Si hortum in biblioteca habes, deerit nihil»
17 de agosto de 2020
Grande Incêndio I
Dias depois da publicação da trágica notícia, sai
no mesmo jornal uma pungente crónica em que o autor (que não necessita
apresentação) nos testemunha a eclosão do inferno vermelho naquela que, tudo fazia prever, seria mais uma noite calma de
aldeia, e nos
transporta ao horror arrepiante vivido pelas vítimas e a todos os
outros funestos incidentes do incêndio.
Espero que consigam ler apesar da má imagem que se
deve, segundo me explicaram, à defesa da saúde pública. Não percebi de que
forma, mas como aquela começa a ser a justificação para quase tudo nos
tempos que correm, e, à semelhança da fé noutros tempos e do futebol hoje
(segundo me dizem), qualquer dúvida sobre o assunto é vilipêndio, calei-me (a
velhice faz-nos aprender tudo!) MFM
Jornal "Cidade de Tmar", 29.05.1948 |
14 de agosto de 2020
3 de agosto de 2020
Agosto
Que toco guitarra
E vendo vinho
A meia canada
«Si hortum in biblioteca habes, deerit nihil»
6 de julho de 2020
Julho
Que encho o paúl
Farto cidades
Aldeias e tudo
Em Sant' Iago pinta o bago
«Si hortum in biblioteca habes, deerit nihil»
Junho
Eu sou o Junho
Que não dou nada
Mato a fome
Com a minha cevada.
Junho, foice no punho
«Si hortum in biblioteca habes, deerit nihil»
11 de maio de 2020
Fogo! ! ! Voltaram a desafiá-Lo?
Fátima 13.10.1948 |
1 de maio de 2020
Maio
Eu sou o Maio
Da pouca ventura
Que não guarda grão
Para amassadura.
Em Maio bebe o boi no rego.
«Si hortum in biblioteca habes, deerit nihil»
30 de abril de 2020
Afinal este Blog é Fixe!
«Avó, hoje não estou nada chateado, mas estou super feliz porque comecei a ler o blog da avó e achei muito fixe. Eu acho que a avó podia publicar um livro sobre porto da lage, a avó escreve super bem😃»
24 de abril de 2020
Chateiam-me estes Filhos de José da Graça de Hoje
A Família a que Pertenço
A Ribeira de Beselga era a hipotenusa do triangulo rectângulo, cujos catetos eram o Caminho de Ferro e a estrada Tomar-Torres Novas.
Originalmente, a aldeia ocupava essa área triangular, mas foi crescendo para fora do triângulo, o que obrigava a população a atravessar 1 de 3 obstáculos:
Destas, a mais próxima era a Ponte de Cimento na Estrada Real, que nós usávamos para ir à Escola. No meu imaginário, teria conduzido a Minha Mãe (da Família Carmona, Bragança) à aldeia natal do meu Pai Henrique Pereira da Mota, onde ele foi Médico, desde 1933.
As outras pontes eram de Sul para Norte: A sólida ponte de Pedra e
e a ponte do Tio João dos Olivais, que evocava o Poeta Miguel Torga:
“Sobre a ponte insegura é que épassar…
É sentir o rio correr dentro das veias”…
Esta aldeia deu-nos uma sólida plataforma de apoio: Mãe, Pai, Avós, Irmãos, Tios, Primos…
Há invejosos que disputam essa honra: Vila de Rei e Chorente!
Vila de Rei até tem um Marco Geodésico gigante.
Chorente. Há também um mapa, APÓCRIFO, mandado elaborar pela sua Morgadinha – Mapa de Portugale como ele deberia sere – que, para atingir os seus objectivos, remove a Mouraria (TUDO a Sul do Mondego) e acrescenta o Reino da Galiza, ao Norte.
Assim Chorente se vai aproximando do Centro…. Invejosos!
INTERDEPENDÊNCIA, pois havia um só profissional por cada ofício e todos nós dependíamos uns dos outros;
ERGONOMIA, o exemplo do Relógio da Estação da CP – mais caro - com 2 faces para servir os utentes, sem risco para eles;
Não tínhamos TELEFONES, nem ÁGUA CORRENTE, nem ENERGIA ELÉCTRICA, mas nós concentrávamo-nos no que tínhamos.
DOMÉSTICAS, Falo mais à frente na Engrácia, mas há muito mais exemplos: Celeste Pequena, Maria dos Anjos, por ex.
JORGE/JÚLIA, exploravam a Padaria, alimentando várias freguesias. Dali a noção de contrapeso! Pais da Mª Augusta e do Artur.
Fascinantes: as mós a moer as azeitonas, bem espremidas depois. Havia dois: Tio António Mota e Tio Augusto Rosa.
MÉDICO, Dr. Mota, Consultas das 9 às 12… e das 12 às 9! Correspondente de “O SÉCULO”, diário do João Pereira da Rosa.
NITRATO DO CHILE, A Cª União Fabril, representada pelo snr. Carlos Nunes -vendia adubos, fazendo lucros com cocó das aves do Chile.
OLEOS FISKE'S & PNEUS INDIA, do João Peixoto. Só 2 vezes na minha vida encontrei referências a tais marcas!
SERRAÇÃO DE MADEIRAS, cheia de cascas de pinheiros, (barcos) e os peças de madeira (cubos e paralelipipedos).
SERRALHARIA, O serralheiro Carlos Sousa fixava aros de ferro nas rodas de madeira, aquecendo-os!
( Extracto do discurso do seu 80º aniversário, 03.03.2019)