Amorim Rosa descreve da seguinte forma os limites da Freguesia de S. Miguel de Porrais (Carregueiros) no seu livro História de Tomar, vol I, pag.143, aquando da reforma de que já falámos anteriormente:
«- Freguesia de S. Miguel de Porrais (Carregueiros):
Em 1570 abarcava as actuais Freguesias de S. Silvestre da Beselga e Pedreira com os seguintes limites:
Começa na foz da Ribeira da Arrascada onde entra no Rio desta Vila de Tomar e vai dai pelo Rio acima ate a Cabeça do Carqueijal. que é acima do Porto dos Cavaleiros, e dai volve contra o poente, ao Vale da Amarela, e dai pela Ladeira da Ferraria direito ao Vale de Mós e dai direita a paredinha que esta na estrada que vai para Ourem, alem dos sobreiros. onde esta uma Cruz. e dai vai pela dita estrada direito aos sobreiros da Cabeça Aguda. e dai vai as Barreiras Vermelhas, e dai ao Monte Ruivo. e dai ao Ribeiro que vem do Furadouro. e dai pelo regato que vem da Fonte do Azorrague. e torna dai por detrás da Cabeça de S. Pedro. ate que vem partindo do norte com a Freguesia de Santa Maria do Vale do Sancho (Sabacheira), e começa a partir com o termo da Vila de Ourem, e vai ao Algás das Cruzes, e dai ao Castelo Pequeno. partindo com o termo de Torres Novas. e dai vai ter às Cruzes que estão no Castelo Grande, num penedo da banda do levante, e dai desce ao Porto da Ovelha que é na Ribeira de Fungalvaz e vai pela ribeira a fundo. partindo com o dito termo de Torres Nova e seguindo o dito termo desce a Fontainha de Fungalvaz que esta de alem da dita Ribeira assim como vai a demarcação entre os termos destas ditas Vil e sobe até à Sesmaria e dai a águas vertentes pelo Vale do Prior abaixo e vai ter ao caminho que vai desta Vila de Tomar para Alcobaça, as Pedras Antas e dai torna pelo dito caminho e estrada contra levante partindo do sul com a Freguesia da Madalena, pela dita estrada até a Ponte do Cerzedo, e dai vai pela mesma estrada ate à Cruz de S. Martinho onde se aparta o caminho que vai para o Sonegado; por este caminho vai ter a estrada de Ourem, e daqui vai pela dita estrada de Ourem ate ao cabo das oliveiras onde se aparta o caminho da Pedreira da dita estrada e dai vai ao valado da vinha que foi de Rodrigo Anes Gordino e dai direito ao forno de cal que foi de Lopo Fernandes Toscano e dai pelo Vale abaixo ate a Ribeira da Arrascada e dai pela Ribeira abaixo ate a Foz dela onde se mete no Rio onde começou.
A Igreja Paroquial é a actual e havia nela os seguintes templos em 1570:
S. Silvestre da Beselga e S. Lourenço.Mais tarde construiu-se o de Nossa Senhora das Neves, na Pedreira.
Em 1570 havia nesta Freguesia 20 lugares sendo o mais importante a aldeia de Arrife com 17 fogos (cerca de 70 habitantes); Carregueiros tinha apenas 13 fogos; S. Silvestre da Beselga. 4; e os Casais da Pedreira 5. O total da Freguesia era de 106 fogos, cerca de 430 habitantes.»
Posteriormente, não se sabe exactamente quando, a freguesia de S.Silvestre da Beselga autonomiza-se, sendo certo que já existia em 1712 como vimos no post anterior.
As duas freguesias, Madalena e Beselga, mantêm-se com os limites territoriais conhecidos até aos dias de hoje, nos três séculos seguintes não obstante as reformas administrativas de 1840, da Primeira República e do Estado Novo.
Como curiosidade apresentamos abaixo a evolução do número de fogos (ou vizinhos) nas duas freguesias nos séculos XVIII e XIX.
Segundo o censo de 2011 a Beselga tinha 751 habitantes enquanto na Madalena havia 3 239.
Para quem quiser fazer comparações entre a população de então com a de agora pouco posso ajudar. Sempre direi, no entanto, de acordo com as "regras" demográficas que pude consultar (não garanto a fiabilidade absoluta das minhas fontes) que a cada vizinho correspondiam no sec.XVIII 3,3 almas, sendo que eram considerados "almas" os indivíduos, nalguns casos com idade superior a sete anos e noutros casos a onze anos.
Data | Beselga | Madalena | |||
1732 | 101 | 313 | |||
1757 | 110 | 300 | |||
1856 | 187 | 288 | |||
1864* | 212 | 483 | |||
* data do 1.º censo realizado em Portugal
Não encontrando mapas com as localidades / lugares referidos no texto (talvez nalgum mapa do exército), tento fazer uma interpretação literal.
ResponderEliminarSe bem percebi, a estrada que ia de Tomar a Alcobaça dividia (partia) as Freguesias de Carregueiros e a de Marmeleiro / Madalena (a norte e a sul da estrada, respetivamente). Nesta estrada, de leste a oeste, situavam-se 3 lugares: Cruz de S. Martinho (perto do convento de Cristo, o extremo NE da freguesia da Madalena), depois a Ponte da ribeira do Cerzedo (a norte da quinta da Anunciada Velha de Cem Soldos) e Pedras Antas.
Depois de Pedras Antas e da estrada Tomar a Alcobaça, o limite de Carregueiros seguia pelo Vale do Prior (pelas suas águas) até Sesmaria, depois descia até Fontainha de Fungalvaz, (lugar situado a oeste da Ribeira de Fungalvaz ou de Chão de Maçãs, ribeira esta que, com a de Beselga onde desagua, separavam e separam os concelhos de Tomar do de Torres Novas), subia por esta ribeira acima até Porto da Ovelha e depois passava sucessivamente por Cruzes no Castelo Grande, Castelo Pequeno e Algás das Cruzes e seguia até ao sítio onde se cruzavam os limites do concelho de Ourém e da freguesia de Sabacheira (o limite NW de Carregueiros). Depois de contornar o limite sul daquela freguesia de Sabacheira até ao rio Nabão, descia por este até um seu afluente, a Ribeira da Arrascada, seguia por esta até ao caminho da Pedreira, seguia por este até à estrada de Ourém e, depois do Sonegado, seguia por um caminho até à Cruz de S. Martinho, o extremo NE da freguesia da Madalena já referido no início.
Assim, estrada de Tomar a Ourém não era a mesma que a estrada de Tomar a Alcobaça. Seria esta a que, vinda do convento de Cristo, passa hoje pelos Pegões, Longra / Assamaça?
Seria, por outro lado, o extremo SW de Carregueiros, uma estreita faixa de terreno seguindo pela ribeira de Fungalvaz abaixo, um bico que quem desenhou a freguesia teve de acrescentar para poder conter a igreja de S. Silvestre, no seu extremo sul?