Si hortum in biblioteca habes deerit nihil

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22 de janeiro de 2022

Paialvo


Paialvo é um dos meus pontos de passagem quando vou de Lisboa para Porto da Lage. Se quero evitar a velha estrada ferozmente curvilínea de Torres Novas, o caminho mais aprazível, que junta a alguma planura solitária do Ribatejo  a beleza bucólica dos lugarzinhos de floridas casinhas bem arranjadas,  é aquele que passa por Atalaia, Carrazede e Paialvo. Como os caminhos escolhidas pelas antigas gerações demonstram, a passagem por Tomar é absolutamente dispensável.
Será essa razão pela qual apenas no sec. XIX, e apenas também por uma decisão administrativa,  as localidades  desta freguesia passaram a fazer parte do concelho de Tomar? Essa ou outra, o que me parece é que esta cidade e a ruralidade sob a sua administração (e aqui refiro-me a todo o concelho) não vivem exactamente no mesmo mundo,  tendo os mesmos interesses e auferindo das mesmas regalias. Por motivos que têm a ver com a resolução de problemas administrativos e civicos (serviços camarários e mandar os filhos à escola, por exemplo) as populações não urbanas do concelho de Tomar  recorrerem  à sede deste por obrigação. De resto, para trabalhar, adquirir outros bens e até para nascer  servem-se de concelhos vizinhos. Mercê do comboio, o Entroncamento é outro exemplo, e vias rodoviárias razoáveis inter-concelhos, outras cidades ficam mais à mão. E a cidade de Tomar não me parece que se esforce muito para inverter este estado de coisas e estreitar laços com as freguesias rurais. Não falando já noutros aspectos básicos, pensemos no turismo, com uma economia quase só assente neste, a câmara empenha-se fortemente na sua promoção  na cidade mas descura completamente os arredores que apresentam potencial que outros concelhos, sem Convento de Cristo como bandeira, aproveitariam sem pestanejar. Tenho lido casos como este ou ainda este ou mesmo a nossa ribeira da Beselga que tem merecido alguma atenção no concelho de Torres Novas mas que está completamente descurada no de Tomar, quanto aos seus interesses histórico e ambiental, o seu leito é um imenso canavial que impede a simples visibilidade, quanto mais alguma observação monumental ou paisagistica, salvo nos locais onde os particulares limpam. São estes e algumas juntas de freguesia, os únicos que ainda se esforçam por manter viva a história das suas terras, honra seja feita ao blog conhecerfreguesialémdaribeiratomar e a este site da junta de Paialvo e acredito que haja outros de que não tenho conhecimento. Só me resta pedir que não esmoreçam, continuem e que outros mais se lhes venham juntar. (MFM)



Aguarela de Fernando Perfeito de Magalhães Vilas Boas  publicada em "Pelou
rinhos Portugueses" do mesmo autor e de Vasco da Costa Salema.



Foto de tempos idos. Hoje em dia este monumento
está restaurado assim como se encontram bem
recuperadas as casas à sua volta .





Nesta e na foto anterior:vindimas e procissão nos anos trinta do Sec. XX em Paialvo.

Nota: Imagens retiradas da net, sem alusão a identificação de autor.