Si hortum in biblioteca habes deerit nihil

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3 de maio de 2013

Recordações da Nossa Aldeia

                                                      (continuação)
                                                                          II
                                                                 ANOS CINQUENTA





A nossa aldeia era pequena mas muito beneficiada com o comboio, servida por duas empresas de camionagem “Os Claras” e “Cernache” todos os dias, incluindo sábados, domingos e feriados. Penso que durante os anos críticos da guerra de 1939 a 1945 não havia transportes todos os dias. Quase todos os comboios paravam, só não paravam os rápidos e o internacional. Poucos automóveis por aqui circulavam por isso os transportes públicos, as bicicletas e os fiéis burricos tinham muita procura.


Havia em Porto da Lage, médico, farmácia, mercearias, comércio geral, tabernas, costureiras, escola primária com duas professoras, uma fábrica de álcool onde trabalhavam vários operários, uma moagem a motor, outra mais pequena movida a água por uma vala (no principio eram duas que trabalhavam com a força da água). Havia talhos, padaria, sapateiro, dois barbeiros. Na época das matanças de porco havia depósito de sal. Tinhamos dois lagares de azeite públicos e três particulares e uma oficina de bicicletas onde se ia remendar a câmara-de-ar em vez de comprar uma nova. Todos os dias o comboio trazia o “Diário de Notícias” e “O Século”; a ambulância dos C.T.T. deixava o correio do Norte e Sul nos comboios da noite e outras tantas malas nos comboios de dia.
A nossa terra só em 1960 teve o privilégio de ver chegar a electricidade. A água canalizada chegou em 1950, o telefone público em 1954, a estrada alcatroada entre Tomar e Torres Novas talvez em 1956.



A água canalizada chegou a Porto da Lage no Verão de 1950. Nessa época o Dr. Henrique Mota era vereador na Câmara de Tomar, penso que seria Presidente o sr. Capitão Oliveira, mais tarde General Oliveira.
A água veio de uma propriedade situada na margem esquerda do ribeiro que nasce talvez no lugar da Longra, banha Porto Mendo, vem correndo chegando então à propriedade que em tempos remotos pertenceu ao proprietário Manuel de Sousa Rosa que foi dos primeiros habitantes de Porto da Lage. Havia nessa propriedade, chamada Azenha, uma mina cavada na rocha com a entrada em arco, da altura de uma pessoa de estrutura regular. Dessa mina saía sempre água, fosse Inverno ou pleno Verão. A água da mina vinha para um enorme tanque rectangular e daí iria alimentar a azenha e ainda regar as terras de cultivo. A propriedade foi herdada por uma filha de Manuel de Sousa Rosa de nome Soledade que, por sua vez teve os filhos António, Lúcia e Ana.  Quando o vereador Henrique Mota trouxe a água até Porto da Lage fez um agradecimento aos proprietários da mina mandando colocar no fontenário uma lápide com o nome daqueles: António Rosa Mota, Manuel Augusto Mota e Luís Pereira Teixeira, isto é, respectivamente António e os maridos de Lúcia e Ana.

Talvez esta mina da Azenha tivesse sido aberta no tempo dos frades do Convento de Cristo, quando o Infante D. Henrique viveu em Tomar e era dono dos grandes olivais à volta de Tomar. Hoje ainda há muitas oliveiras dessa época.
No Verão de 1950, férias grandes para as escolas, juntavam-se na terra natal alguns jovens. Penso que ainda consigo nomeá-los:
Armindo Cardoso, Ilídio Teixeira, Luís Dupont (vindo de Moçambique) Henrique António Narciso, Virgílio Cardoso, José Braz, José Vital, Henrique João Mota, Mário Reis, Artur Simões, Mário Nunes, Luis Filipe Sousa. Havia uns outros mais novos e ainda o Manuel Cordeiro que nunca se juntava.
As raparigas eram mais: Arminda, Maria do Rosário e Dulcinda Teixeira, três irmãs; Isaura e Georgina Silveira, duas irmãs; Ana e Mercedes Cordeiro, irmãs; Isaura e Luciana Rosa, irmãs; Celeste, Gracinda e Benvinda Rodrigues, três irmãs; Angelina e Deolinda Sousa, irmãs; Maria Augusta Simões, Maria Estela V. Taxa, Maria Filomena Narciso; Ilda e Maria Celeste Sousa, irmãs; Maria de Lurdes Nunes, Maria do Rosário Vasconcelos (casou em Outubro), ainda a Marília Reis.


Dos rapazes já faleceram seis, das raparigas também seis.
(continua)