Si hortum in biblioteca habes deerit nihil

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31 de dezembro de 2019

A Vida do Espírito e os Pés de Barro


O Dr. Vieira Guimarães


Já falámos neste blog do Dr Vieira Guimarães a propósito do Aniversário do Passamento de Gualdim Pais , de que foi grande impulsionador, da recepção apoteótica na nossa estação e em Tomar, por ocasião da sua formatura e também aqui .
Vieira Guimarães, é actualmente  conhecido pela casa que leva o seu nome, na Corredoura (cuja história abordámos em anterior post), e por a sua obra histórica sobre Tomar, que começa agora a ser divulgada pelas novas gerações. Mas nem sempre foi assim, se, a fazer fé na leitura da imprensa da época, parece ter sido idolatrado pelos seus contemporâneos,  não me consta que o mesmo tenha sucedido nas gerações  imediatamente seguintes. No inicio dos anos setenta não era popularmente reconhecido em Tomar, não me recordo que fosse lembrado com saudade por aqueles que o tinham conhecido e que escreviam habitualmente na imprensa (as redes sociais do meu tempo), ao contrário do que sucedia, por exemplo, com o "Dr. Sousa", o qual teve mesmo a sua obra reeditada nos anos oitenta, o que nunca aconteceu, que eu saiba, com as de Vieira Guimarães.
Talvez a diferença de tratamento, pelas gerações seguintes, destes dois tomarenses contemporâneos resida, precisamente, na diferença entre os dois, enquanto João Maria de Sousa, falando de história (não ei se será um historiador), fá-lo com alguma objectividade e sentido critico, embore arrase os cavaleiros de Cristo vendo apenas neles seculares exploradores e opressores do povo, toda a história de Vieira Guimarães é panegirica, o seu estilo encomiástico exalta os cavaleiros, puros e sem mácula, exalta Costa Cabral, estadista exemplar e incompreendido, enfim, ele só conhece heróis e vilões, e as gerações recuadas, de que eu ainda faço parte, impregnadas consciente, ou inconscientemente, pelo materialimo dialético, para além de não se reverem nem no estilo nem na metodologia (mesmo na ideologia, no caso de alguns, uma dezena de anos mais novo e V.G. não escaparia de levar com o epíteto de fascista em cima de si) tinham pouca paciência para encontrar, entre tantos elogios, louvores, angústias patrióticas, muita gente angélica e outra tanta digna de subir ao altar, algum valor de carácter histórico nas obras de Vieira Guimarães.
E atenção, eu era dos poucos jovens da minha idade que sabia da existência de um senhor chamado Vieira Guimarães, sabia-o através da minha avó, ela conhecera-o, contava que era professor no Liceu Camões e lembrava-se, com saudade, da insistência, mal sucedida, que aquele fizera junto do seu pai para que a deixasse ir para Lisboa continuar os estudos.
Uma prova, penso eu, da indiferença a que este historiador da Ordem de Cristo esteve votado, foi a proposta de demolição da sua casa, de que já  falei aqui, quem a teria ou não construído ou lá teria vivido, não era coisa relevante para a decisão dos poderes, e até para os intelectuais, da época (aquilo não tinha qualquer valor arquitetónico, diziam!se calhar com razão), e a contestação que se opôs àquela intenção, na qual me incluí apesar da minha pouca idade, residiu apenas em querer preservar o que conheciamos, aquilo que fazia parte da "memória colectiva" (detesto esta terminologia mas reconheço que aqui faz sentido) de gerações que não tinham conhecido outra coisa,  que tinham crescido a vê-la ali, com a sua torre erguida à nossa espera quando saíamos da ponte, e não queriamos perdê-la, porque nada conforta mais do que aquilo que sempre conhecemos, diga-se o que se disser. Se Vieira Guimarães veio à baila naquele processo, e não sei se veio, teria sido por mero caso. E a casa manteve-se!
 (Um parêntisis: coisa semelhante aconteceu e penso que ainda acontece com a remoção da estátua de Gualdim Pais, da Praça - ela está lá há pouquissimo tempo em termos históricos, faria mais sentido estar noutro local, talvez, mas quem vive nunca conheceu outra realidade - e isso tem muita força, afinal o tempo que vivemos é o tempo dos presentes não o dos do passado nem o dos do futuro, independentemente do egoísmo que isso possa representar, esta é a realidade. )
 Mas, esquecido ou reaparecido, com pouco ou muito valor, Vieira Guimarães foi, inquestionavelmente, um homem que amou a sua terra,  sobre ela escreveu .….cidade, onde eu nasci e a que tantas recordações saudosas tão extremamente me ligam, d’este belo torrão em que brinquei com meus irmãos e ouvi dos lábios santos d’uma mãe extremosa as preces a um deus de Fé e os conselhos inolvidáveis de honra e de trabalho, que tem sido sempre a minha norma de vida.
Como me recordo d’essa terra em que tudo para mim encerra uma saudade, e oculta na amenidade de seus prados, na beleza de seus vales, nas sombras de seus pinheirais, no pitoresco do seu Nabão e na grandiosa majestade de seus monumentos, uma lembrança, quase uma parcela do meu eu!! Como eu quereria viver ali longos anos, na convivência intima dos meus, no lar onde crepita o fogo que primeiro me aqueceu, sob esse belo azul, onde refulge um sol benéfico e vivificante, e depois… morrer, descansando, enquanto as leis da física e da química me não transformem de todo, n’esse santo campo do Adro, dormindo no seu seio o ultimo sono! (1)

Voltando ao seu tempo, era então uma figura muito conhecida, senão a nível nacional, pelo menos lisboeta; sendo mesmo, ao que parece, merecedor que a sua casa fosse exibida nas revistas do jet set de então.
A revista Ilustração Portuguesa publica em 30 de Julho de 1921 uma reportagem em que descreve, no estilo pomposo da época, a casa de Vieira Guimarães situada na quinta que detinha à beira do Nabão. Aquela publicação, refere-se-lhe como sendo a casa "de um artista é também a casa destinada ao viver de um lavrador entregue à labuta dos campos, que sabe conciliar a vida material com a vida do espírito, a vida da alma com a existência do corpo", descrevendo o exterior como de estilisação portuguesa,  com o seu elegante alpendre ao topo, cujo telhado tem por zingamocho uma esbelta esfera armilar em ferro; as janelas vão desde os simples quatro pedaços de cantaria, às vergas recortadas e ombreires esculpidas de D.Manoel I e D. João III e ás de balanço molduradas dos séculos XVII e XVIII; os ventiladores são formados pela cruz dos templarios e o rodapé por azulejos com a mesma cruz. 



« A casa do sr. Dr. Vieira Guimarães fica situada junto ao rio Nabão, n'uma quinta em que
 a opulência dos olivais rivaliza com a das magnificas árvores de deliciosa fruta.
..»


Quanto ao interior, era, segundo quem escrevia,   "o verdadeiro museu do espirito de Tomar, são evidentes os traços portugueses nas mesas, cadeiras, camas e nos guarda-loiças de vidros de catedral dos séculos XIII e XVIII. São inumeras as cerâmicas portuguêsas antigas que a paciência do seu possuidor tem coleccionado, assim como muito grande é a colecção de cerâmica moderna onde há talhas originais e curiosos vasos das olarias de Tomar. E dá destaque às paredes que têm aqui e acolá grandes pratos da olaria Roseira  com os retratos de D.Guladim Pais, D.Gil Martins, D.Dinis, D.Henrique (por ligados às ordens templárias e de Cristo) e com as vistas de Tomar e da celebérrima fachada poente da igreja manoelina do Convento de Crista. Também em uma das paredes se vê um "panneau" com o monograma do dr. Vieira da Silva, assente na cruz de Cristo, indicativa da sua comenda ...






Ficamos, por este meio, a conhecer uma casa  cuja arquitectura e decoração não nos espantam, pois correspondem, tão só, ao gosto do seu proprietário de se rodear dos símbolos daquilo que o apaixonava e a que dedicou os seus estudos - os Templários, a Ordem de Cristo, Tomar, enfim. Como muitos contemporâneos seus fizeram, nos inicios do sec.XX, em que era habitual replicar, naquilo a que durante muito tempo se considerou um pastiche de mau gosto mas que agora se volta a apreciar, o estilo manuelino e o gótico em geral, em prédios construídos então (sendo exemplos conhecidissimos desta prática o palácio da Regaleira em Sintra e o "Restaurante Abadia" no Palácio Foz em Lisboa), Vieira Guimarães também aplicou este estilo nesta casa e depois no edificio que construiu no topo da Corredoura. 
Neste aspecto, portanto, o artigo não nos trás nada de novo; que se encontrem cantarias esculpidas à moda neomanuelina nas fachadas, e cruzes templárias e de Cristo espalhadas pela casa, nada mais natural atendendo ao seu proprietário.
O que, para a mim, emerge de novo nesta leitura, é a personalidade do nosso homem. Aconteceu-me aqui o que, há muito, me acontece quando vejo  as deslumbrantes mansões de estrelas de várias galácticas, da TV ao futebol, passando pelas das boas famílias, espelhadas nas nossas Holla! de trazer por casa e na propriamente dita. O que leva aquela gente a mostrar a casa em que vive, a casa da sua família, onde têm as suas coisas, onde se desenrola a sua vida íntima? O que raio é que os outros têm a ver com as nossas vidas? Parece que têm, se for para lhes mostrarmos aquilo que possuimos a mais que eles, o que nos destingue e nos deslumbra, o que pensamos os vai ofuscar, a nossa superior aparência, em suma, a nossa vaidade, que aqui, no caso do nosso personagem, até vai envolta num "panneau" com o monograma da sua comenda!

Fiquei portanto a saber que Vieira Guimarães teria prazer em exibir-se, a si e às suas coisas, e daí inferi (porque sou mázinha ou porque conheço um bocadinho a natureza humana?) que não seria propriamente um homem recatado e modesto, o que, juntamente com outros deficits de virtudes de que  gozaria (segundo outras fontes que consultei e junto em anexo -uma delas agora, outra noutro post um dia destes), o mostram como detentor de uma nobreza de carácter digamos... pouco exemplar. Situação que, adianto desde já, não tira nem põe à qualidade da sua obra nem à contribuição que deu para a promoção de Tomar- importa, sempre, destinguir o autor do homem que o suporta.

 Continuando e voltando aos pratos de loiça nas paredes, às colecções de cerâmicas antiga e moderna, às esferas armilares, às cantarias, enfim, ao museu "do espírito de Tomar" que plasma a "vida do espírito" deste homem, aquela não pode ter deixado de ser, muito prosaicamente, alimentada pela "vida material" proveniente dos seus rendimentos, que viriam, pelo menos parcialmente, dos seus "opulentos" olivais. E, a ser como Fernando Ferreira nos conta abaixo, façamos uma "continha" simples só para exemplo: o preço do belo prato com a efígie do fundador Gualdim Pais elegantemente pendurado na parede da casa de jantar, terá correspondido a quantas sardinhas, batatas, feijão e couves a menos por boca do pessoal da apanha


Excerto do opúsculo de Fernando Ferreira "Alguns Aspectos de Tipismo e Tradição Tomarenses", à base da palestra proferida pelo autor no «Seminário Regional de Tomar sobre Defesa do Património», em 1980.

            - Oh sr. Dr. Vieira Guimarães! Que Aquele deus de Fé a Quem a sua mãe extremosa dirigia preces, tenha descontado estes seus pecados no rol das benfeitorias que as gerações actuais lhe atribuem e que, contas feitas, descanse em Paz!
E, para terminar,  uma última consideração, a riquesa dos azeites de Tomar que empurrou caravelas pelo mundo fora, foi sempre riquesa amaldiçoada para os pobres. Desde os Frades, que a monopolizaram, até àqueles que os estudaram e enlevaram, confessos amantes da liberdade, como Vieira Guimarães, sempre aquela riquesa foi produzida à custa da servidão e da miséria. (MFM)




(1) in preâmbulo, pags.10 e 11, do Catálogo da Exposição Concelhia Industrial e Agrícola, da sua autoria. Exposição levada a efeito por ocasião do sétimo centenário da morte de Gualdim Pais-1895.


Fotografias retiradas de Ilustração Portuguesa

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29 de dezembro de 2019

Menos Feio que o Pai!



Há cem anos, a Ilustração Portuguesa  agoirava desta forma o novo ano de 1920 que se aproximava. Fazendo as devidas adaptações no saco das desgraças, seria caso para ...mas não,  não vamos fazer o mesmo, antes vamos esperar, mas temos que esperar com muita força, que o nosso Ano Novo de 2020  seja um bocadinho menos feio do que o pai 2019!





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26 de dezembro de 2019

Da "Estalagem do Com Ovos" a " A Primorosa"




João de Deus (1830-1896) grande poeta lirico e pedadogo, autor da Cartilha Maternal, estudou em Coimbra, primeiro no Seminário e depois na Universidade, onde se formou em Direito em 1859.
O Coronel Vasco da Costa Salema no seu livrinho "Coisas e Loisas de Tomar", conta que aquele poeta, uma vez vindo de Coimbra de férias, com destino à sua terra natal, S. Bartolomeu de Messines, passando por Tomar, ao sair da ponte "vê a tabuleta de uma hospedaria, existente à época numa casa já hoje desaparecida e que ficava à entrada da Corredora, do lado norte, e mesmo em frente da dita ponte. Escarranchado na mula do almocreve, João de Deus atenta na tabuleta, «Estalagem do Com Ovos», e maliciosamente lê para os companheiros «Estalagem do Comovos", logo acrescentando: Nesta não fico eu." 
Essa casa, já desaparecida, foi sofrendo alterações, bem como o edificado à sua volta, até aos dias de hoje. Pelo meio, o edificio que a substituiu em 1922, também sofreu a degradação do tempo, com menos de cinquenta anos de vida já estava condenado à morte, conseguindo, porém, sobreviver e ser hoje quase um dos ícones da cidade - denominado Casa Vieira Guimarães. Nele funcionou, no piso térreo, durante décadas, um café - A Primorosa, o qual, à semelhança do sucedido com a sua antecessora "Com Ovos" também já se vai perdendo na memória tomarense.(MFM)


"...A tabuleta de uma hospedaria, existente à época numa casa já hoje
desaparecida e que ficava à entrada da Corredora, do lado norte,
 e mesmo em frente da dita ponte."


 Na casa em questão observa-se a janela do último andar de guilhotina e a fachada, toda branca, na qual se vê um letreiro que, infelismente, não se consegue ler, será o anúncio à estalagem? A ponte tem guardas de pedra, assim como a  corredora ainda mantém os "frades", também de pedra (anos 1870). 

A janela do último andar ainda é de guilhotina mas o piso de baixo apresenta agora aspecto diferente, talvez revestido a azulejos. A Corredoura já com candeeiros de iluminação pública (colocados em 1901) e sem os "frades". Não se vê, porque este é um recorte, mas a foto original  mostra a ponte com grades  de ferro que substituiram as anteriores guardas de pedra, em 1888.




Aqui  verifica-se que a janela superior já tem dois batentes e o r/c parece ser uma casa de comércio com artigos expostos no
exterior. Atente-se à publicidade, na casa do lado esquerdo, às "Máquinas Singer para coser".


Repare-se no anúncio a "Auto Gazo Mobiloil" apesar de toda a gente andar a pé ou de burro.




A "nossa" casa já não tem lá muito bom aspecto.


Foi construído um edificio novo em 1922, que veio substituir o anterior, mantendo-se, no lado esquerdo, as primeiras casas do anterior edificado, mas surgindo uma outra, mais alta, onde se pode ler  "Havaneza".


 Já se avistam automóveis e o competente policia sinaleiro, acompanhado por colegas (quase tantos policias como restantes cidadãos) e até uma bomba de gazolina. A ponte ainda mantém gradeamento de ferro.


 Repare-se no gradeamento da ponte que já vai na terceira versão (inaugurada em 1940). Desconheço se, nesta data, já estaria "A Primorosa"  instalada no  rés do chão do edificio em causa.

A demolição dos pequenos edíficios da esquerda e uma nova construção, onde estava instalada, na época desta foto, uma agência do Banco de Portuga, deram origem a um pequeno largo que recebeu o nome de Praceta de Olivença, onde se destacava a  esplanada da pastelaria   "A Primorosa" a qual funcionava  no r/c do edificio recuado da esquerda desde 1952,  enquanto que o "café, cervejaria, snack-bar pastelaria" continuava no local anterior.
Nota: Cerca de cem anos mediarão entre a primeira e a última fotografia.



Abril de 1952









1955








Fontes:
Fotografias retiradas de diversos locais não identificados na net e em Memória Digital de Tomar, nesta última também os quatro recortes da imprensa. A última publicação foi retirado da página de facebook de "Gabinete de Curiosidades de Tomar".



21 de dezembro de 2019

BOM NATAL


A todos os que tiveram a atenção de nos acompanhar durante esta ano, desejamos, como sempre

Boas Festas!




                                   Alegrem-se céus e terra
                                   Cantemos com alegria
                                   Já nasceu o Deus Menino
                                   Filho da Virgem Maria*



                                                                                               


«Até fim do Natal
Crescem os dias um saltinho de pardal»*


 *Fonte: "Cantares de Todo o Ano"(selecção de cantigas populares portuguesas), 2.ª edição, Colecção Educativa, Série F, número 6, Ministério da Educação Nacional, Direcção Geral do Ensino Primário, 1971.)

17 de dezembro de 2019

A Gente Fina Tomarense do Final de XIX



O Serão, Columbano Bordalo Pinheiro c.1880
                 

As duas últimas publicações, na companhia de Virginia de Castro e Almeida,  transportaram-nos ao  fim de século XIX. Aproveitando a maré, lembrei-me, recorrendo ainda ao resto das cartas da nossa amiga, de procurar, na imprensa e em fotos, mostras da forma como a burguesia de Tomar passava o seu tempo de lazer (ou seria o seu tempo?). De dia faziam-se pic-nics, passeava-se de barco no rio. À noite davam-se festas, saraus musicais, nos quais se tocava piano, bandolina e cantava, como já vimos acontecer em casa das senhoras Mouzinho, jogava-se, ria-se conversava-se ao luar.  Ia-se a bailes, ao teatro, organizavam-se récitas para financiar obras de caridade, às quais se tinha de assistir....Enfim, para alguns era uma estopada e um calor!
Pela imprensa temos notícia de um exemplo, o"esplêndido baile" realizado no Grémio de Ensino e Recreio Tomarense, que durou até às cinco da manhã, onde "muitas e formosas damas" formaram "pares alegres e gentis, cheios de vida e de alegria" com a "flor da mocidade máscula" local, dançando quadrilhas, lanceiros, valsas e polcas, enquanto trocavam " bastos e agradáveis tiroteios de amabilidades e ditos espirituosos". Entretanto, seriam servidos bons e delicados serviços de chá e doces, mais tarde sandwiches e vinho do porto, e depois doces e o dito Portwine e, por fim chocolate e [adivinhem!] doces (outra vez!, oh belos tempos sem preocupações saudáveis!). Mas nem tudo era comportadinho, havia também lugar a exibições mais ou menos brejeiras, como a do sr. Dr. João do Valle (que já conhecemos das relações na nossa heroína) que apareceu vestido de "donzela  um tanto durázia, de modos delambidos" e declamou um "monólogo bem apimentado, dito com todo o chiste " que arrancou muitas gargalhadas e muitas palmas "aos presentes.(MFM)



....Numa ilha que temos no meio do Nabão. (Cipriano Martins )


«Na quinta-feira fizemos um pic nic com as tomares numa ilha que temos no meio do Nabão, perto do Moinho Novo. Depois do Jantar entre os choupos, que esteve animadíssimo, fomos dar um belíssimo passaio de barco pelo rio. 


.......Depois do Jantar entre os choupos, que esteve animadissimo.....(1)




.......fomos dar um belíssimo passaio de barco pelo rio


Estava uma tarde encantadora. Depois viemos todos para a quinta onde passámos o resto do tempo até à meia noite, na varanda, ao luar, a jogarmos jogos, a rir e a conversar.»



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Serenata Thomarense


«Hoje vamos ao teatro a Tomar. Récita de amadores em beneficio do asilo de crianças cegas em que te tenho falado.
Entra o João do Valle e a menina Petrony e não sei quem mais; e um homenzinho muito janota, o Vizeu Pinheiro, que é escrivão e recita uma poesia que inventou de propósito. O teatro esta enfeitado com flores e leques e parece que as meninas Tomarzinhas vão decotadas e de manga curta etc. ...  Imagina a estopada e o calor! Eu mandei pedir ao João do Valle que nos arranjasse um camarote com o dos Charruadas. Se ao menos assim for não é mau de todo ...»

Nota: As tomares ou meninas tomarzinhas referem-se às filhas do conde de Tomar.

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Fevereiro 1896


"Excursão do Grupo Dramático de Silva Magalhães a Cernache".Este grupo, que adivinho republicano, também actuaria
 nas récitas, destinadas a obras de caridade, para a assistência acima?

Fontes:
(1) Imagem do quadro "Hip Hip Hurrah, 1888", de Peter Severin Kroyer (1851-1909).
- Fotografias Fundo Silva Magalhães.
- Recorte da imprenda de Memória Digital de Tomar.

13 de dezembro de 2019

Virginia de Castro e Almeida, o Nabão e a Ribeira da Beselga



Continuação das cartas de Virginia de Castro e Almeida, desta feita com a acção a passar-se em localidades junto à quinta, Santa Cita, Asseiceira, e, sobretudo, nas margens do Nabão. E, como estamos em Porto da Lage, vemos, com agrado, que a nossa ribeira da Beselga também foi imortalizda pela pena desta escritora (MFM).


.....e ali, naquele cantinho de terra à beira do rio, podíamos bem julgar-nos as únicas criaturas vivas no mundo inteiro....(1)






...Ontem meti-me no meu carro com a Cristina e abalei, para Santa Cita.Levava uma saqueta de bolos para os meus fregueses que os comeram todos que foi um regalo. 


Antigo convento e igreja de Santa Cita, existenes à época

E de Santa Cita fui ao Moinho Novo onde ambas nos apeámos atravessando o Rio sobre uma ponte carunchosa e embrenhando-nos depois no choupal que se estende pela margem fora. Andámos, andámos até chegar a um ponto onde o Nabão é cortado por um grande açude de pedra e cal, já antigo, de muitos e muitos anos e sentámo-nos ali no chão muito caladas. 


......até chegar a um ponto onde o Nabão é cortado por um grande açude (5)


Porque o silencio e sossego à roda de nós era absoluto, e ali, naquele cantinho de terra à beira do rio, podíamos bem julgar-nos as únicas criaturas vivas no mundo inteiro. Por diante de nós o rio estendia-se tão sereno que parecia nem ter corrente e perdia-se lá muito longe, entre as suas margens verdes riquíssimas, que àquela hora o cobriam de sombra. 

.......diante de nós o rio estendia-se tão sereno que parecia nem ter corrente e perdia-se....


E os choupos levantavam-se orgulhosamente, e o sol quase escondido, doirava-lhes ainda os ramos mais altos enquanto os chorões tristíssimos mergulhavam desalentados os seus braços no Rio. Perto das margens saíam da água juncos e outras plantas de folhas largas, muito verdes, onde uns tiraolhos pequenitos e azuis gostavam de poisar.  Por trás de nós estava um choupo onde há 3 anos, de uma vez que ali fizemos um picnic, o Bartolomeu escreveu o meu nome. Em três anos o choupo e o meu nome está lá muito alto e tão marcado que a mais do 6 metros se pode ler. Desde esse dia eu nunca mais ali tinha tornado. Três anos! Estive para riscar aquelas letras, depois, deixei ficar! Mas a este tempo o sol escondera-se de todo e a tristeza serena da paisagem que uma roda aumentava gemendo lamentavelmente a meio quilómetro talvez, a baixo no rio, ia pouco a pouco, descendo em mim.
A Cristina estava entregue aos seus pensamentos e não falava. E eu, por um momento, entreguei-me também aos meus que não me largavam.


.....e a tristeza serena da paisagem que uma roda aumentava gemendo lamentavelmente a meio quilómetro talvez .....  (6)

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Fomos, eu e a Cristina dar um passeio lindo. Fomos a Santa Cita e depois pela estrada de Tomar, até Marianaia, onde nos apeámos. Atravessamos a pé a ponte sobre o Nabão e por tal maneira nos encantou a serenidade das suas margens lindas e a poesia dos seus juncos nascendo à sombra dos 

            A Fábrica de papel de Marianaia na época da autora
O que resta da antiga fábrica de papel.










tristes chorões e a roda da fábrica e o barco amarrado no fim de uma vereda misteriosa, tanto e por tal maneira nos encantou tudo isso que, esquecidas do tempo, nos deixámos ficar um grande bocado encostadas ao parapeito da ponte sem falar a ver no fundo do rio a areia muito clara e os seixos polidos da água e as sombras cada vez maiores que o pôr do sol dava à paisagem. Senti-me tão bem, tão descansada, tão feliz! Uma paz absoluta e profunda. Como se respirava ali bem a felicidade serena que, no fim de contas, é a melhor, e a maior de todas….


........e o barco amarrado no fim de uma vereda misteriosa...(7)

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Está hoje um dia lindo, o céu azul e o sol tão brilhante. Já quase ao sol posto apareceu-me cá a Luiza Quintela e o irmão. Saí com eles no carro. Daqui à Asseiceira pelo pinhal. Íamos a descer a azinhaga quando vimos passar em baixo na estrada, como um raio, o tibury do Frank Quintela e com ele um tenente Pessoa de Tomar. Chegando ao fim da azinhaga toquei o Ali e durante uns 5 minutos voamos positivamente.

...A tarde estava encantadora.(2)
Alcançámos o tibury e fomos um pedacito a par pela estrada fora a meio trote, de conversa. A tarde estava encantadora. 
Era já muito depois do sol posto e fomos encontrando muitos rebanhos que recolhiam e grupos de gente do serviço que voltava a suas casas. Uma rapariga ia a cantar! e que bem se respirava! 


...  fomos encontrando muitos rebanhos que recolhiam e grupos de
 gente do serviço que voltava a suas casas.(3)

Depois segui pela estrada até Santa Cita e o Frank voltou para a Quinta do Valle. Ainda andámos um pedaço no pinhal a passo; era já escurito e os pinheiros tinham um aspecto todo solene! Afinal fui deixar os meus companheiros no pateo de sua casa e voltei para a Quinta a toda a pressa por já ser noite.

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Esta manhã fui à horta dar um passeio. À ida para baixo comemos amoras apanhadas "a dente" da própria árvore. Não imaginas como sabem bem assim.
Fica a gente com os beiços ensanguentados e a cara marcada como se se tivesse morto alguém à dentada ... Eu gosto muito de ir à horta num dia de calor. As ruas muito sombrias cobertas com arvores de frutas, os encaniçados de feijões em flor, as latadas de aboboras e até as melancias à torreira do sol têm um aspecto fresco.



Eu gosto muito de ir à horta num dia de calor....(4)


Sente-se correr a água das biqueiras para os tanques das regas e as regueiras cheias de água muito clara correndo entre as bordas batidas da enxada fazem sede. Depois o Luís e a Rosa foram apanhar morangos e trouxeram-nos numa folha de couve que puseram num instante dentro de agua. Por isso vinham entre os morangos gotinhas que pareciam de orvalho e que eram como brilhantes. E os morangos souberam-nos pela vida ..
E fomos até à ribeira [da Beselga] dar banho ao Tritão [cão] e sentámo-nos a sombra de uma azinheira ao pé do açude a escutar os gemidos e as lamentações do engenho. Estava tao bom! Para baixo do açude andam os patos num cerrado que se lhes armou com mato. E a ribeira ali leva a agua tão clara que se lhe podem contar os seixos do fundo e é toda assombreada pelos choupos e freixos que lhe crescem pelas margens.


e é toda assombreada pelos choupos e freixos que
 lhe crescem pelas margens
Fontes:-Imagens de pinturas de Maria de Lurdes de Mello e Castro (1e2), Silva Lopes (3) e Malhoa (4);
-Imagens do livro Coisas Simples da Terra Tomarense O Rio, os Açudes e as Rodas, Fernando Ferreira, edição da junta Distrital de Santarém, 1976-5 e 6
- Imagem do livro Tomar, pag.123, José - Augusto França, Editorial Presença, Lda, Lisboa, 1994.-7
-Outras - Fotos do blog e retiradas da net, sem identificação.

9 de dezembro de 2019

Um dia em Tomar em 1893




Virgínia de Castro e Almeida (1874-1945) foi uma intelectual portuguesa que desenvolveu a sua obra e se notificou no primeiro quartel do sec.XX. Amiga de intelectuais e políticos de antes  e depois do Estado Novo, viveu vários anos em Paris e Genebra, sendo nesta cidade representante de Portugal na Sociedade das Nações. Em Janeiro de 1926 assiste como delegada de Portugal às cerimónias de inauguração do Instituto Internacional de Cooperação Intelectual, em Paris, sendo uma das quatro mulheres (uma delas Madame Curie) presentes entre os cinquenta convidados, no almoço oferecido pelo Presidente do Conselho e Ministro da Instrução. 
Foi escritora, autora de livros infantis, dos quais ainda hoje se publicam História de Dona Redonda e da sua Gente e Aventuras de Dona Redonda e produtora de cinema. Produziu a  A Sereia de Pedra, adaptado de um conto seu intitulado A Obra do Demónio, realizado por Roger Lion, com exteriores rodados no Convento de Cristo, em Tomar, o qual estreia em Paris, onde  obteve elogios por parte da crítica.
Apesar de todo o seu valor, o motivo pelo qual aqui a lembro hoje prende-se, tão só, com a sua ligação a Tomar. Filha do Conde de Nova-Goa, dono da quinta da Beselga, passava quando jovem largas temporadas pela quinta e convivia com a burguesia tomarense do tempo. 

No Boletim Cultural da Câmara Municipal de Tomar n.º18, de Março de 1993, encontram-se duas cartas de Virgínia de Castro e Almeida, dirigidas à sua futura cunhada, nas quais aquela, numa linguagem cheia de vivacidade, conta o seu dia-a-dia passado na quinta. Na carta aqui reproduzida fala de uma ida a Tomar na companhia de uma amiga, Cristina. Na cidade encontra-se com amigos pertencentes à alta burguesia da terra: as Mouzinhos, a baronesa de Alvaiázere e a Senhora D. Maria Teresa de Vasconcelos. É de forma torcista que se refere a esta  última, deixando perceber uma certa superioridade cosmopolita face aos costumes e presunções provincianas, como a ida de uma menina  sozinha às compras e o rídiculo de um alferes, muito arrebicadinho e empomado, exibindo-se no seu velocipede, tentando impressioná-la, rodando com um pé só, de braços cruzados .
Esta carta encantadora remete-nos para um dia no tempo, há mais de 120 anos, em Novembro, em que na Várzea Grande, com as amoreiras de ramos meio-despidos, as crianças brincam, ao sair da escola, passam os ranchos de azeitona, prevendo a boa safra desse ano, transitam os trens e a nossa heroína, passeando o seu cavalo Ali, acompanhada do trintanário Rafael, se sente importunada com um modernaço ciclopedista que a tenta impressionar. Vamos ler que não perdemos o nosso tempo. (MFM)

«Almocei com a Cristina e abalámos para Tomar arrastando com os lameiros que estão de respeito por estes caminhos fora.
Fomos para casa das Mouzinhos de onde mandámos recado ao médico; e daí, depois do clássico lunch de pão com manteiga, queijo “cabreiro” e doce de ginja, fomos pela Avenida fora. Deixei a Crista no princípio da Corredoura e eu fui andando até á casa da baronesa de Alvaiázere que me tinha mandado recado que me queria falar. 


....fomos pela Avenida fora. Deixei a Crista no princípio da Corredoura ....


.....e eu fui andando até á casa da baronesa de Alvaiázere...


Achei os meus primos já a meterem-se no trem para irem a um magusto num casal que têm na estrada da fábrica, ia com eles a senhora D. Maria Tereza de Vasconcelos que toda se indignou quando eu lhe disse que a Cristina tinha ido sozinha fazer compras.
- "Sozinha .... Ora essa! ... "
Tratei de receber o recado da minha prima, que por sinal, era um convite para lá irmos jantar no dia 7, e fi-los partir,apesar de todos os seus protestos.
- "Então hás-de ficar só à espera da Cristina?!"
- "Não se incomodem. O Ali está com alguma tosse. Não quero que ele fique aqui parado. Vou dar umas voltas pela Várzea Grande".
- "Quer Vossa Ex.ª vir connosco ao magusto, prima?"
- "Muito obrigada, primo. Desejo-lhe alegria."
A Senhora D. Maria Teresa de Vasconcelos não disse nada. Creio que ficou com a Cristina a fazer compras sozinha atravessada na garganta. Quando te falo desta senhora, digo sempre o nome e um dos apelidos, para te dar um pouco a ideia da sua majestade. É a senhora mais majestosa de Tomar. Mas tem um cachet. Ela, a sua casa, as suas maneiras, a sua dama de compagnie, as suas toilettes ...  Verás. Tudo isso vale um dinheirão.
Foram-se e eu comecei o meu passeio pela Várzea que estava linda. Eu, o Ali e atrás, todo teso, o Rafael. Sempre a minha equipagem havia de fazer um vistão .... 





e eu comecei o meu passeio pela Várzea que estava linda  
Ciclopedista na Av. da
Liberdade, Lisboa

Pelo menos um alferes que há em Tomar, muito arrebicadinho e empomado, velocipedista ainda por cima, assim achou. E começou a fazer-me tonturas na cabeça com círculos e mais círculos por aquela várzea e por diante de mim, que era mesmo uma coisa por demais. 


Ciclistas na Várzea Pequena c. 1876





Voltei a casa do barão, bati a porta, declarei a uma criada: que bem sabia que os senhores não estavam em casa. mas que eu ia para a sala porque esperava ali a minha prima Cristina. Assim foi. Mandei estender uma manta por cima do Ali e pus-me à janela.



                                                              .....e pus-me à janela.
Passou uma carroça de areia; depois um carro de bois com as trouxas de um rancho da azeitona. Depois três barrosas a conversarem da safra que há-de ser boa. 



Rancho de azeitona em período de lazer 

Nisto saíram os rapazes da escola e durante alguns minutos toda a várzea se inundou das suas gargalhadas e dos seus gritos. Por entre os ramos meio despidos das amoreiras, vi-os passar lá em baixo correndo de uma banda para a' outra .
- "He, Manel!!"
- "Ladrão do diabo!" ...
- "Malandro" …
Pedrada para aqui, pedrada para ali ...o Rafael, defronte do Ali, de mãos nas algibeiras, superior, olhava para eles e ria-se.
Cada palavrão que eu ouvi! ... Falem-me da inocência dos meninos de escola ...



Nisto saíram os rapazes da escola ...
(A escola Conde de Ferreira, existente à época na Varzea Grande, construída entre 1864-1874, com o donativo do referido Conde)



A localização da escola Conde de Ferreira na Várzea Grande



Vai senão quando, quem havia de passar? O alferesinho empomadado. A fazer círculos, a andar com um pé só, de braços cruzados ... um nojo! Vim para dentro já se vê. Sentei-me.
Para passar o tempo, nem um recurso. Nem um livro, nem um jornal, nem uma gravura sequer. Sala nua; pior do que a sala de espera de um dentista. Alguns bilhetes de visita. Li-os uma vez; duas vezes; aprendi-os de cor: Sofia Loureiro Vizeu Pinheiro, a agradecer; Maria Augusta de Freitas; Bebiana Correia.
E mais ainda. Muitos, muitos ...
O que seria que a Sofia Loureiro agradecia? Cismei nisso algum tempo, mas distraiu-me dessa ideia uma voz de mestre, grave, muito grossa, a ralhar. Percebi que era o mais novo dos rapazes a dar lição. Como percebi isso, entendi que não era indiscrição espreitar pelo buraco da fechadura. E vi a cara do rapaz triste de aborrecimento. Lembrei-me de quando ele era muito pequenito, o meu pobre Tai; quando se agarrava a mim a dizer que era meu. Chamava-me Tia Gi ...
Ao principio cuidei que ele recitava alguma passagem dos Lusíadas. Recitação exagerada com a intonação quase do Luís Osório declamando .... Escutei melhor. Ouvi distintamente:

" ... Mas, sem lhes poder chegar disse:
estão verdes não prestam
 só os cães as podem tragar. .."

 Senti um trem. Fui à janela ver: era o médico que voltava da  quinta. Trazia a receita na esperança de me encontrar ainda e de eu poder levar os remédios. Viu o meu carro à porta do barão, parou e entrou. Sufoquei-o de perguntas sobre o estado da minha prima. Ele não é homem que fale sem fazer um discurso; e tão embrulhado foi o tal discurso desta vez que não percebi nada.
Pouco tempo depois chegou finalmente a Cristina. Julguei que tencionava deixar-me a apodrecer naquela casa! ... O tempo de virem os remédios da botica e vamos nós a caminho da quinta, a toda a pressa.»


.....era o médico que voltava da  quinta.






Notas: Fotografias, e extractos de fotografias, de Silva Magalhães, excepto a da escola de Conde Ferreira cuja autoria não consegui identificar e a do ciclista em Lisboa.

                                               


A casa dos Barões de Alvaiázere na actualidade. Aqui se fundou a Fábrica de Fiação em 1789; em 1869 o edificio foi vendido a Manuel Vieira da Silva Borges e Abreu, primeiro Barâo de Alvaiázere; a partir de 1911 foi Quartel General da Região Militar, mas um incêndio em 1975 destruiu todo o interior; a parte restaurada acolhe, actualmente, os Serviços de Registo e Notariado e o Juízo de Trabalho de Tomar (Tribunal).

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