Si hortum in biblioteca habes deerit nihil

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26 de dezembro de 2019

Da "Estalagem do Com Ovos" a " A Primorosa"




João de Deus (1830-1896) grande poeta lirico e pedadogo, autor da Cartilha Maternal, estudou em Coimbra, primeiro no Seminário e depois na Universidade, onde se formou em Direito em 1859.
O Coronel Vasco da Costa Salema no seu livrinho "Coisas e Loisas de Tomar", conta que aquele poeta, uma vez vindo de Coimbra de férias, com destino à sua terra natal, S. Bartolomeu de Messines, passando por Tomar, ao sair da ponte "vê a tabuleta de uma hospedaria, existente à época numa casa já hoje desaparecida e que ficava à entrada da Corredora, do lado norte, e mesmo em frente da dita ponte. Escarranchado na mula do almocreve, João de Deus atenta na tabuleta, «Estalagem do Com Ovos», e maliciosamente lê para os companheiros «Estalagem do Comovos", logo acrescentando: Nesta não fico eu." 
Essa casa, já desaparecida, foi sofrendo alterações, bem como o edificado à sua volta, até aos dias de hoje. Pelo meio, o edificio que a substituiu em 1922, também sofreu a degradação do tempo, com menos de cinquenta anos de vida já estava condenado à morte, conseguindo, porém, sobreviver e ser hoje quase um dos ícones da cidade - denominado Casa Vieira Guimarães. Nele funcionou, no piso térreo, durante décadas, um café - A Primorosa, o qual, à semelhança do sucedido com a sua antecessora "Com Ovos" também já se vai perdendo na memória tomarense.(MFM)


"...A tabuleta de uma hospedaria, existente à época numa casa já hoje
desaparecida e que ficava à entrada da Corredora, do lado norte,
 e mesmo em frente da dita ponte."


 Na casa em questão observa-se a janela do último andar de guilhotina e a fachada, toda branca, na qual se vê um letreiro que, infelismente, não se consegue ler, será o anúncio à estalagem? A ponte tem guardas de pedra, assim como a  corredora ainda mantém os "frades", também de pedra (anos 1870). 

A janela do último andar ainda é de guilhotina mas o piso de baixo apresenta agora aspecto diferente, talvez revestido a azulejos. A Corredoura já com candeeiros de iluminação pública (colocados em 1901) e sem os "frades". Não se vê, porque este é um recorte, mas a foto original  mostra a ponte com grades  de ferro que substituiram as anteriores guardas de pedra, em 1888.




Aqui  verifica-se que a janela superior já tem dois batentes e o r/c parece ser uma casa de comércio com artigos expostos no
exterior. Atente-se à publicidade, na casa do lado esquerdo, às "Máquinas Singer para coser".


Repare-se no anúncio a "Auto Gazo Mobiloil" apesar de toda a gente andar a pé ou de burro.




A "nossa" casa já não tem lá muito bom aspecto.


Foi construído um edificio novo em 1922, que veio substituir o anterior, mantendo-se, no lado esquerdo, as primeiras casas do anterior edificado, mas surgindo uma outra, mais alta, onde se pode ler  "Havaneza".


 Já se avistam automóveis e o competente policia sinaleiro, acompanhado por colegas (quase tantos policias como restantes cidadãos) e até uma bomba de gazolina. A ponte ainda mantém gradeamento de ferro.


 Repare-se no gradeamento da ponte que já vai na terceira versão (inaugurada em 1940). Desconheço se, nesta data, já estaria "A Primorosa"  instalada no  rés do chão do edificio em causa.

A demolição dos pequenos edíficios da esquerda e uma nova construção, onde estava instalada, na época desta foto, uma agência do Banco de Portuga, deram origem a um pequeno largo que recebeu o nome de Praceta de Olivença, onde se destacava a  esplanada da pastelaria   "A Primorosa" a qual funcionava  no r/c do edificio recuado da esquerda desde 1952,  enquanto que o "café, cervejaria, snack-bar pastelaria" continuava no local anterior.
Nota: Cerca de cem anos mediarão entre a primeira e a última fotografia.



Abril de 1952









1955








Fontes:
Fotografias retiradas de diversos locais não identificados na net e em Memória Digital de Tomar, nesta última também os quatro recortes da imprensa. A última publicação foi retirado da página de facebook de "Gabinete de Curiosidades de Tomar".