Si hortum in biblioteca habes deerit nihil

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30 de abril de 2020

Afinal este Blog é Fixe!




Que "se lixe" a privacidade, acabei de receber a mensagem seguinte e ninguém, nem mesmo eu, me vai impedir de a colocar aqui, com a recomendação prévia a toda a gente: se não têm netos,  roubem-nos, peçam emprestados, adoptem-nos, arranjem-nos que não há nada melhor para nos fazer acreditar em tudo, mesmo em tudo (MFM):


«Avó, hoje não estou nada chateado, mas estou super feliz porque comecei a ler o blog da avó e achei muito fixe. Eu acho que a avó podia publicar um livro sobre porto da lage, a avó escreve super bem😃»



                           

24 de abril de 2020

Chateiam-me estes Filhos de José da Graça de Hoje


Eu e o meu neto mais velho criámos, (não exactamente para fazer face aos tempos que correm mas devido à igual natureza de que ele e eu somos feitos), um chat a que demos o nome do clube dos chatiados (ccc). O clube era secreto e os assuntos lá debatidos continuam a sê-lo, mas faço aqui uma excepção. A este tenho que dar a maior divulgação possível! É que estou mesmo CHATEADA com esta situação que não pode ficar só para debate entre velhos e crianças.(MFM)





                                                                        retirado daqui

A Família a que Pertenço



« Nasci em Porto da Lage, bem no Centro do País, aldeia criada pelo Caminho de Ferro – entre os Milagres de Fátima e os Fenómenos do Entroncamento. Esta importante “Linha do Norte” unia o Norte ao Sul e – a partir dali - abastecia o Leste (Castelo Branco, Alvaiázere, Tomar) e o Oeste (Nazaré) por galeras M.A.M., do Tio Manuel Augusto Mota.


A Ribeira de Beselga era a hipotenusa do triangulo rectângulo, cujos catetos eram o Caminho de Ferro e a estrada Tomar-Torres Novas. 





Originalmente, a aldeia ocupava essa área triangular, mas foi crescendo para fora do triângulo, o que obrigava a população a atravessar 1 de 3 obstáculos:






. a estrada, pelas inexistentes passadeiras;
. o Cº Ferro, pelas passagens de nível;e
. a Ribeira, pelas Pontes. 




Destas, a mais próxima era a Ponte de Cimento na Estrada Real, que nós usávamos para ir à Escola. No meu imaginário, teria conduzido a Minha Mãe (da Família Carmona, Bragança) à aldeia natal do meu Pai Henrique Pereira da Mota, onde ele foi Médico, desde 1933. 



As outras pontes eram de Sul para Norte: A sólida ponte de Pedra e 









e a ponte do Tio João dos Olivais, que evocava o Poeta Miguel Torga: 
“Sobre a ponte insegura é que épassar…
 É sentir o rio correr dentro das veias”…







Esta aldeia deu-nos uma sólida plataforma de apoio: Mãe, Pai, Avós, Irmãos, Tios, Primos…
Porto da Lage, Centro do País! A minha primeira contribuição científica! Achei um mapa das estradas e dobrei-o cuidadosamente, segundo as duas diagonais! O Cento lá estava, era óbvio! Por isso, Porto da Lage não vem no mapa… Não precisa! Vê-se a linha preta da CP, a linha azul da Ribeira e a linha vermelha da estrada TMR-TN. Nessa confluência está PdL! 
Há invejosos que disputam essa honra: Vila de Rei e Chorente! 
Vila de Rei até tem um Marco Geodésico gigante.

 Nós, um modesto “Marco da Paciência”, também geodésico, mas nada temos a ver com o Rei! 
Chorente. Há também um mapa, APÓCRIFO, mandado elaborar pela sua Morgadinha – Mapa de Portugale como ele deberia sere – que, para atingir os seus objectivos, remove a Mouraria (TUDO a Sul do Mondego) e acrescenta o Reino da Galiza, ao Norte. 
Assim Chorente se vai aproximando do Centro…. Invejosos!

A ESFERA SOCIAL ONDE ME INSERI onde compreendi as noções de: 
INTERDEPENDÊNCIA, pois havia um só profissional por cada ofício e todos nós dependíamos uns dos outros; 
ERGONOMIA, o exemplo do Relógio da Estação da CP – mais caro - com 2 faces para servir os utentes, sem risco para eles;
COMUNICAÇÕES, físicas – como se disse acima - ou orais e do uso de MODELOS que construía com Cubos, pedaços de madeira substituindo o Mecano, hoje LEGO! 
Não tínhamos TELEFONES, nem ÁGUA CORRENTE, nem ENERGIA ELÉCTRICA, mas nós concentrávamo-nos no que tínhamos. 

Escrevi “O ABECEDÁRIO DE PORTO DA LAGE” que espelha as 30 actividades únicas da aldeia, donde destaco o trabalho por turnos (da Fábrica do Álcool a partir do Figo, da Guarda Fiscal e da Estação do Cº de Ferro).





foto de guarda-fiscal retirada daqui















ABECEDÁRIO de PORTO DA LAGE (idealizado por miúdo de 5 anos, mas escrito 75 anos depois!):


ÁLCOOL+AGUARDENTE DE FIGO, turnos na Fábrica e material de escritório no dito.
BARBEARIA, O Zé Vasconcelos “Cocó” criava cocós, dava injecções, reparava bicicletas, e tinha luz a Carbureto.

COMPANHIA PORTUGUESA dos CAMINHOS de FERRO – CP, Turnos e o tal relógio ergonómico de 2 faces. 
DOMÉSTICAS, Falo mais à frente na Engrácia, mas há muito mais exemplos: Celeste Pequena, Maria dos Anjos, por ex.
ESCOLA PRIMÁRIA, onde fiz os 4 anos de Instrução Primária, com Professora de eleição: D. Amélia.
FARMÁCIA, hoje não existe; foi “ALFA”, antes “AFRICANA” pois o Sr. Oliveira fez o seu Pé de Meia em Moçambique.
GRÉMIO, Grupo Recreativo, mais tarde Clube, onde havia Teatro, Bailes, Ping Pong, Rádio etc.
HORTAS, Toda a gente tinha a sua, donde tirava as verduras com que se alimentava.
IGREJA, Apenas a 1ª pedra. A 2ª nunca apareceu. Mas o Padre Nicolau – um santo - compensava. ..Muito mais tarde fez-se a Capela nos Vales, com material cedido pelo Tio João Pereira da Mota, o tio João dos Olivais.
JORGE/JÚLIA, exploravam a Padaria, alimentando várias freguesias. Dali a noção de contrapeso! Pais da Mª Augusta e do Artur.
KREMLIM, Alguns exilados em Porto da Lage que preferiam o Norton de Matos ao Carmona. Daí o meu 1º discurso!

LAGARES DE AZEITE, 
Fascinantes: as mós a moer as azeitonas, bem espremidas depois. Havia dois: Tio António Mota e Tio Augusto Rosa.





MÉDICO, Dr. Mota, Consultas das 9 às 12… e das 12 às 9! Correspondente de “O SÉCULO”, diário do João Pereira da Rosa.





NITRATO DO CHILE, A Cª União Fabril,  representada pelo snr. Carlos Nunes -vendia adubos, fazendo lucros com cocó das aves do Chile.









OLEOS FISKE'S & PNEUS INDIA, do João Peixoto. Só 2 vezes na minha vida encontrei referências a tais marcas!
PASSAGENS DE NÍVEL, 3, tipo lição de geometria fazendo ângulos: 1 agudo, 1 obtuso e 1 recto.
QUIXOTESCO, O Marco da Paciência que era impaciente, mudando de lugar consoante a largura da camionete da Serração…
RIBEIRA DE BEZELGA, Dantes atravessada a vau o que se chamava Porto, e tinha uma estalagem, daí PORTO ESTALAGEM … Porto da Lage com “G.”


SERRAÇÃO DE MADEIRAS, cheia de cascas de pinheiros, (barcos) e os peças de madeira (cubos e paralelipipedos).


SERRALHARIA, O serralheiro Carlos Sousa fixava aros de ferro nas rodas de madeira, aquecendo-os!
TELEFONES, 3, privados: A CP, uso interno; Fábrica do Álcool, uso interno e o Secreto, do vinho a martelo.
UTÓPICO, A água canalisada que só chegou em 1950. A fonte é o ex-libris do Portodalage.blogspot da Prima M.F.M.
VELOCÍPEDE, 2 irmãos ciclistas (Seixos) tinham oficina de reparações e vendas. O Zé Cocó era rival.
WHISKY, A preferência local era pelas equivalentes: a aguardente: de alambique ou a abafada (Jeropiga), fortíssimas. O álcool etílico era desnaturado!
XAROPE, O Dr. Lopes (Farmácia) tinha 2 produtos “sui generis”: o Hemon Bê (tosse) o Fosfoglucer (memória.
YYY = INCÓGNITAS, A “Velha do Chá” e o “Pobre Alegre” faziam 1 lindo par mas evitavam-se!
ZINCO, O Latoeiro e Pastor Adventista João Pena, foi o 1º a descansar ao Sábado e ao Domingo! Também fazia graxa.

Aprendi a noção de contrapeso duma maneira drástica: O Sr Jorge amassava o Pão, mas nem sempre conseguia o pão de 1 quilograma, o tabelado! Assim a D. Júlia, tinha um pão extra, donde cortava a fatia para contrapesar. Eu – dedicado – oferecia-me sempre para ir buscar o Pão. Era tempo do racionamento!
Um dia, vinha encantado a saborear o contrapeso, quando o meu inimigo “Cão do Talho”, se atirou a mim, cobiçando o pão. A minha empregada Engrácia, não achou graça à brincadeira e com um pedaço de tijolo, afastou a fera. Daí a minha afeição pela cor de tijolo… Por gratidão decidi seguir Engenharia, cujas insígnias académicas são as fitas cor de tijolo!
O problema não acabou ali. Ao fugir do cão, fui atropelado por um carro de bois que seguia - em flagrante excesso de velocidade -na Estrada Principal, hoje Rua Dr. Henrique Pereira da Mota.



Assisti a um enterro de pessoa corpulenta. Todos diziam: “Ali vai uma grande Alma!” Será que Alma e Nadegueiro são sinónimos? Na catequese não fui esclarecido…

ANO SABÁTICO, EM COIMBRA Os jovens de agora, gostam de ter um ano sabático a separar o Curso Liceal, do Curso Universitário. Para amadurecer? Tal não é original, pois eu tirei um ano sabático, em Coimbra - entre os 5 anos de observação do meio ambiente, com tempo de sobra para ver os “ninhos” - e a Escola Oficial. Fui fazer companhia aos meus Avós maternos, que por sua vez, acompanhavam o Estudante de Direito e meu Tio, António João. .. No seu 1º ano a sós, vindo do Colégio Nun´Álvares, vulgo Colégio das Caldinhas, Santo Tirso, não atinou com o caminho para a Universidade…
Quando cheguei, o Tio já sabia os caminhos e levou-me a ver a UNIVERSIDADE de Coimbra (Enorme), a Sede da Associação Académica de Coimbra (para quê mesas com panos verdes?), o campo de Santa Cruz, quando a Briosa Académica (AAC) defrontou o Sporting Clube de Portugal, com os 5 Violinos, e por fim, levou-me de “CHORA” (Eléctrico) a ver o Portugal dos Pequeninos, que me encheu as medidas, em especial a universidade!
(De lá veio o Mapa, mostrando a epopeia marítima dos navegadores portugueses. Eu sonhei emular os navegadores, mas tal não aconteceu… Descendentes meus – em meu nome - já cobriram Angola, Espanha (Par de netos), França, Escócia, Inglaterra (1 neto), Holanda, Omã (2 netos), Brasil (1 neta), Dinamarca, Estados Unidos (1 neta), etc.
De Coimbra, importei o jogo de mesa: Futebol de Botões, que poucos conhecem, aparte dos PortoLagenses e do Ançanense Zé Veloso, que também o aprendeu! A vantagem era nossa pois tínhamos uma fonte inesgotável de matéria prima: os “Trapos”, onde a roupa velha - destinada a fazer pasta de papel - era espoliada de todo o corpo estranho, mormente botões!

Nasci no ano do triunfo da Académica sobre o Benfica, nas Salésias para a 1ª Taça de Portugal.

ESCOLA PRIMÁRIA DE PORTO DA LAGE 1945-49 Sou o #2 dum conjunto de 9 crianças – 7 rapazes e 2 meninas. 6 dos 7 rapazes – um morreu cedo - foram alunos da Professora D. Amélia Silva Santos, que nos aturou durante cerca de 20 anos (1943/63). Sendo o 2º, tive a tarefa facilitada: bastava seguir as pisadas do mais velho. Ali aprendemos as primeiras letras e os números.
Minto! O Henrique, aprendeu as letras, ao colo do Pai, lendo os cabeçalhos do jornal “O Século”, dando-lhe nomes mais apropriados: “T”= martelo, “O” = roda, o “C”= roda partida… Até escreveu o que poucos conseguiram ler correctamente: HVTA (A gaveta!).
O meu irmão mais novo, o Luís Manuel, preferia os números, fossem eles árabes ou romanos. Desde tenra idade, se sentava no seu poleiro preferido, ardósia sobre a mesa, molhava a ponta do lápis de pedra com saliva, punha a língua de fora e esperava o desafio… “Escreve o 3” e ele olhava para o horizonte, para se inspirar e gatafunhava o “3” e desenhava o “III” e assim por diante… Até que, convencidos que ele dominava a técnica, lhe pedimos o “13”. Debalde,,, É que o nosso relógio de sala, convenientemente colocado na linha de horizonte, só tinha no mostrador os números de “1” a “12” tanto em algarismos como em números romanos!
# Também reforcei o meu entendimento da noção de contrapeso, só que aqui não davam côdeas mas sim “bolos” da menina dos 5 olhos!
Fiz o exame da 4ª classe da Instrução Primária, em Tomar e antes do exame de Admissão ao Liceu, no Liceu Nacional de Santarém, recebi o prémio raro, que também tinha sido dado ao Henrique: Aulas de Condução, dadas pelo Pai! “Vai à Mamã e pede uma almofada…”
Naquele tempo, em que não havia motor de arranque, deixar o motor ir abaixo implicava usar a manivela. Isso exigia um certo cabedal! Felizmente o Austin MN-36-95 era fácil! Para dosear o ar, puxava-se um botão que se mantinha na posição correcta entalando uma caixa de fósforos… O uso prolongado revertia nos “Malefícios do Tabaco”, doença de que o meu Pai só curou aos quarenta e tal anos!»
                                                                                  Augusto Carmona da Mota
                                                              ( Extracto do discurso do seu 80º aniversário, 03.03.2019)
   

23 de abril de 2020

O Sr. José Sapateiro



Leitor de Jornal - José Malhoa, 1905


Dizem que no Paço não havia leitores do Século. Ora havia pelo menos um, o Sr. José Sapateiro - na última casa do Paço na estrada para Além da Ribeira. Ele gostava de ler, e eu tinha o cuidado de embrulhar o calçado para remendar, nas folhas do Século mais recente e assim atraía a atenção do artista que ultrapassava os outros clientes com as botas embrulhadas em papel pardo.

                                                                                                          Augusto Carmona da Mota

22 de abril de 2020

José da Graça III ou Dois Contos, Verdadeiramente.



"Nada mais que na primeira página de O Século” de 10.01.1947. Continuo a citar ao acaso: “Ao fundo, canto inferior da última coluna do lado esquerdo, naquelas folhas enormes … a Dulcinda conhecia a dita família Graça, e a respectiva casinha no Paço da Comenda, ... a tal senhora Brasoneira também tinha existência certificada, mas,… não é que (…) era verdade, que o pai comprara a casa por dois tostões nas circunstâncias descritas no jornal! Grande correspondente de O Século que deu a conhecer o exemplo de generosidade que dispensava comentários …” (MFM) 







Sim, o editor deu-lhe o destaque merecido de primeira página e logo a primeira coluna da parte baixa. Agora, os jornais estão dobrados ao meio sobre as bancadas. Naquele tempo apresentavam-se de corpo inteiro, suspensos por molas de madeira. A parte alta era para ser lida pelos mais altos, mas o editor colocou a história de H. Mota logo na primeira coluna da parte para os mais baixos. De facto, “a gente de hoje nem imagina como a gente as lia”. 




                                                     



Aquela história do milagre dos tremoços de dois tostões. Belíssima alegoria daqueles tempos de tristeza do após grande guerra. Contou-a Henrique Pereira da Mota aos seus quatro filhos de então, à lareira, naquela noite de passagem do ano. Aguardavam o nascimento do José António, mais outro filho. Deitadas as crianças, H. Mota passou-a a escrito, o rascunho a lápis em duas costas de envelopes velhos. Seria enviada depois para o jornal, revista e reescrita com caneta de aparo, em papel timbrado “H. Mota, consultas da 9h às 12h”. 


Mas dois contos, de verdade? Dois contos, verdadeiramente. O de, cito “José da Graça, trabalhador que vive naquela casinha com a mulher e dez filhos pequenos…. – Ora! Se eu mal tenho dois tostões para tremoços – que é quanto me ficou da féria!”. Exclamações a mais? As bastantes. Em Lisboa, os operários ganhavam 17 escudos por dia e, no campo, as jornas seriam muito menores. Cito de algures “No sul, a maioria dos jornaleiros gastava 70% dos salários de todos os membros da família com a alimentação”. Alimentação insuficiente. 


Senha de racionamento.
    Naqueles anos de 1947 ainda estariam bem vivos os tempos das senhas de racionamento que se prolongaram por vários natais após a grande guerra. 




Na foto, o adulto lê notícias da catástrofe. A criança lê o outro conto, o daquele natal em que os dois irmãos de Lisboa estiveram no Paço da Comenda e, cito, “Então, é tua a casa. Dá cá o meio tostão de sinal e entregarás o resto quando se fizer a escritura. … que dispensa comentários.“ Não, a senhora J. de Jesus não disse toma lá a prenda de natal, mas disse, dá cá o meio tostão - comentou a criança. 

Esta história de natal foi contada e escrita na lareira da saleta na noite de passagem daquele ano, podem crer; que o testemunhem os meus irmãos mais velhos. Eu, por mim, lembro-me muito bem. Daquelas noites de inverno à lareira, à luz frouxa do candeeiro de petróleo. Candeeiro de sala, que os de vidro eram para os quartos e para a cozinha. Chaminés limpas a papel de jornal O Século.

 Ou teria sido contada no natal? H. Mota pensaria muito em M. da Graça, muito pobre e com muitos filhos; mas a casa H. Mota não era muito rica; era bem governada, com muito, muito trabalho. Mais um filho, pensaria. E mais outro e mais outro, haveria de pensar três vezes mais. Cito de algures “entre 1941 e 46 … o custo de vida aumentou de forma exponencial. Por exemplo, entre 1943 e 1944, o quilo do arroz e das batatas aumentaram, respectivamente, de 3$50 para 4$80 e de 1$20 para 2$40, o peixe, de 10 para 20$00, a manteiga de 4$20 para 9$20, o açúcar de 3$60 para 4$20 e um par de sapatos de 180$00 para 300$00. Os meus pais comiam pão escuro, que o de primeira era para as crianças. 

Cito “A notícia acima esteve quase, quase, a não o ser. Aqui no blog, evidentemente”. De verdade? Perdida depois de descoberta? [...] Eu gostei muito e estou grato.

Finalizo com a estatística: dois contos, dois tostões, dois casas de duas famílias, uma muito pobre a outra remediada, dois irmãos, dois José António, duas personagens, da Graça ele, de Jesus, ela."

                                                                                                                               Óscar Mota


21 de abril de 2020

Correspondentes


O termo correspondente remete-me para um tempo, que conheço através da literatura e do cinema, o correspondente de guerra,  um misto de espião, detective, literato e aventureiro. Desde aqueles que estavam inquestionavelmente do lado do bem, como o heróico Miguel Strogoff que tudo enfrenta para cumprir a sua missão ao serviço do Czar e, noutro registo, os "eu diria mais" trapalhões Dupond e Dupont das Aventuras de Tintim, até aos protagonistas dos meus queridos filmes noires, almas de morais ambíguas, que circulam no clima perturbador das noites obscuras de cidades violentas, mulheres duvidosas e manipuladoras, herós ainda mais, frios, cínicos, até cruéis. Jóias e vestidos decotados cobertos com sofisticados casacos de peles; fatos completos e gravatas, chapéus e cigarros em bocas com batom ou com barba, eis o figurino das situações desesperadas, fruto das fraquezas humanas, cheias de intriga, assassinatos e máquinas de escrever, a que estes filmes nos transportam, e que nunca cessam de me encantar, encarnados pelas fíguras míticas de Bogart, Joseph Cotton, Rita Haywoord, Orson Welles, Bacall e muitos mais.

Numa versão doméstica e mais terra a terra (num país onde não existe gente equívoca, é tudo a preto ou a branco), os grandes jornais nacionais, os regionais, os semanários, tinham correspondentes espalhados por todo o território, os quais conseguiam, assim, que o acontecimento da mais pequena aldeia, desde que merecesse evidente interesse, chegasse a todo o país. Esses correspondentes, eram, geralmente, pessoas interessadas na sua terra ou região, que procuravam pugnar por ela e que, cada qual no seu estilo, mais gongórico, clássico ou coloquial, acarinhava e prezava a sua língua mãe o melhor que sabia e podia. Depois, com o declinio da imprensa e, dizem, por razões orçamentais, os correspondentes  foram desaparecendo, não tendo a televisão, depois,  suprido essa falta, mais preocupada que estava com os "grandes desígnios" do que com a falta de estrada ou de médico na remota província. 
Hoje assiste-se ao fulgurante regresso do correspondente. Rapazes e raparigas perfilados "em reportagem" de microfone em punho, de madrugada ou na noite escura, ao frio, vento ou sol tórrido, lá se apresentam eles, as mais das vezes em frente a coisa nenhuma. E falam, falam, falam ...e voltam a falar, repetindo até à nausea as mesmas palavras entremeadas por lúgubres soluços  (sobre o crime que..., o julgamento que não..., a cabeça decepada de ...o corpo que ...), utilizando uma língua que já não se ouvia desde que o homo sapiens ganhou este estatuto. Eu, como a maioria das pessoas sensatas e que tentam manter-se saudáveis, bem tentamos fugir deles, mas, a menos que nunca liguemos a televisão, é impossível que eles, nem que seja só por breves segundos, não nos apanhem! Mas, cada vez havendo mais e em mais canais, tirem-me desta inquietação, sou só eu que acho que a gente passava bem sem estes correspondentes actuais, ou há mais alguém? * (MFM)



* Não senhores, não os quero mandar para o desemprego. Acho apenas que estariam mais bem empregues numa ocupação em que não fosse preciso nem pensar nem verbalizar.








                           




                                                























                           

Correspondente Ilustre



Em post anterior ,por causa de um equívoco, uma notícia que de inicio  parecia não se confirmar, apresentei as minhas  desculpas ao correspondente portodalegense de O Século, fosse ele quem fosse, por ter duvidado da sua seriedade.Sei agora quem ele era, julgo também saber que estou desculpada. O texto abaixo, escrito por um dos seus filhos, mostra-nos um bocadinho dele, na sua qualidade de correspondente. Conhecido o autor, resta-nos encontrar mais notícias suas (ajudaria se a família tivesse, pelo menos, datas) (MFM)



          

             


Em Porto da Lage, havia dois correspondentes dos 2 grandes diários da capital, o "Diário de Notícias" e "O SÉCULO". O sr. da Farmácia era correspondente do primeiro e o Médico do segundo.

E assim Porto da Lage começou a aparecer no mapa. O Editor do Século na altura era pragmático se não gostava, não publicava, doutro modo a notícia era publicada tal como o correpondente tinha escrito. O Médico gostava de histórias humanas na falta delas uma vez ou outra eram os animais domésticos os heróis da fita.

Tudo correu sobre esferas até que apareceu um novo editor que começou a alterar tudo, género Laje por Lage...  atá que o Médico decreveu a epopeia da Ti Maria do Correio, que 6 dias na semana, 3 x por dia vinha de Cem Soldos a Porto da Lage ajoujada ao peso do saco do correio.

Ela tinha uma doença qualquer que a fazia arfar como uma locomotiva, mas nunca faltou ao seu dever. Claro que toda a gente lhe dava boleia, se possível. Havia poucos carros. O Médico, sabedor da sua condição, não a deixava falar até ela estar completamente descansada o que demorava. De qualquer maneira, ele antecipava as questões dela e ia dizendo que ele estava bem, a esposa tambem  e que os meninos continuavam a fazer das suas. Isto ia-se repetindo até sendo ela mais velha, só à chegada a Tomar é que estavajá serena e disse:
- Oh Sr. Dr. eu agora já estou descansada, mas eu queria apear-me em Cem Soldos! 
O Médico voltou atrás para corrigir a omissão e no regresso a Tomar resolveu escrever a história da abnegação da Ti Maria do Correio. A enfase era o cansaço, tão grande que precisava de 8 kilometros a 30 Km/hr para se restabelecer.

O tal editor truncou a história e o bom da fita era agora o Médico que saia do seu caminho para levar os conterrâneos a casa. O Médico ficou fulo e perdeu o entusiamo para enviar notícias. Nessa altura, tentou convencer os filhos a fazê-lo, com pouca sorte. recordo apenas o filho do meio ter escrito algo sobre a calçada romana descoberta em S. Silvestre e uma história do mais novo sobre a pobre cadela Jolly que recebeu ajuda dos leitores do Século. Eu ainda pensei em escrever sobre o "Pobre Alegre" mas desisti...


A ligação João Pereira da Rosa - dono do Século - e do Médico  tinha duas facetas: o Médico tinha sido Redactor dum periódico de Coimbra "O Ponney" que era respeitado pelo correspondente em Coimbra do Século. Daí ser correspondente.


A outra faceta era a Colónia Balnear Infantil de "O SÉCULO" , ideia do João Pereira da Rosa, que em S. Pedro do Estoril tinha instalações para receber crianças do interior que ali passavam 15 dias deliciosos a apanhar o iodo caracteristicos daquela paragem. A selecção da miudagem era delegada aos Médicos das regiões mais desfavorecidas.


                                                                                                        Augusto Carmona da Mota

            

19 de abril de 2020

José da Graça II - Testemunho.




«Eu conheci o Sr José da Graça e muitos dos seus 10 filhos. Muitos deles  após a Escola Primária - onde foram meus colegas - vivem agora na Grande Lisboa; as primas gémeas são a melhor referência pois vivem perto da Mãe Gracinda, uma das filhas do Sr. José da Graça.






Trabalhei nos escritórios da Fábrica, durante umas férias. Lembro-me do Sr. Zé da Graça como ajudante de motorista. Este era o benfiquista Sr. Pombo, que tinha uma teoria imbatível em relação à condução sob os efeitos do álcool. Ora ambos só transportavam Álcool do figo.Dentro dos estomagos não iam figos. 

Aqui vem a lenda. O Sr Pombo achava que os acidentes eram devidos não ao excesso de álcool mas a pequena quantidade deste. Com pouco vêm-se duas estradas e é difícil saber qual a certa. Com excesso vêm-se 3 estradas e todos sabem que a do meio é a certa. Por isso se diz no meio está a virtude....


Eu lembro-me da mais velha, a Maria dos Anjos, que trabalhou lá em casa. Era uma moça bonita e despachada. Esteve um pintor de tabuletas a trabalhar no escritório cedido pelo Dr. Mota e ali ele pintava nomes no vidro para os diferentes clientes. Era muito boa pessoa mas tinha uma perna bastante mais curta o que o obrigava a ter uma sola muito mais grossa que a outra. De qualquer maneira  eles apaixonaram-se, casaram e foram para perto da Nazaré.... 

Perdi o contacto. Julgo que agora a Mª dos Anjos regressou ao Paço da Comenda.»

                                                    

                                                                                              Augusto Carmona da Mota

17 de abril de 2020

José da Graça I ou Outra História com Final Feliz ou Coisas de Tempos de Quarentena e ainda uma breve incursão pelos enjeitados




( O Post publicado antes a que dei o nome de Notícia Verdadeira, por querer pôr o enfâse no facto de a verdade ter prevalecido, não obstante tudo a dar como falsa, e de a voz do povo, às vezes, não reter tudo o que Deus quer, parece que afinal, vai ficar conhecido como o post  dos dois tostões. De facto a obra não é do autor, é de quem lê! -bela e modesta frase, caso não tenham reparado!- Pois que assim seja!
Os valiosos comentários que se seguiram e que vamos ler -cronologicamente por ordem de chegada- por estes dias, não vão ser só para entreter a quarentena, como disse o mais ilustre leitor deste blog, mas, sim, sobretudo, para mostrar que o que não falta é gente, com muito valor, na escrita, na criatividade e no conhecimento sobre Porto da Lage. A esses, que costumam ser sempre muito amáveis comigo e agradecer o que aqui publico, sem querer ser ingrata, só lhes digo que não precisam de o fazer, ninguém tira mais prazer do que eu no que faz. Mas já que tanto insistem, há uma maneira de compensar o que dizem gostar. Retribuam!)





Depois do último post, o meu irmão JJ telefonou-me a perguntar se o Joaquim da Graça seria um dos filhos da notícia. O Joaquim da Graça? Quem diabo era o Joaquim da Graça? Então eu não me lembrava que …. ? E eu: é verdade! Sabem aquelas histórias contadas inúmeras vezes pelos nossos pais e que a gente, enjoada, jura que vai lembrar cem anos que viva, de cor e salteado e com todos os pormenores visíveis e invisíveis? Pois, trata-se de uma dessas, mas as coisas, no final de contas, como vão ver, não se passam bem assim. 







Contava o meu pai que, uma vez em que entrava, a toda a pressa, no pátio lá nos Olivais, onde ele não esperava encontrar, a brincar, as criancinhas Graça, filhas de um trabalhador do meu avô, não sucedeu uma tragédia terrível ficando uma delas debaixo de uma roda de carroça (diz o JJ), do tractor (digo eu) que o meu pai conduzia, por lhe valer o irmãozito Joaquim que, num ápice, corajosamente, se atirou para a frente e a puxou. O Joaquim era, positivamente, o herói do meu pai! A forma viva como ele contava aquilo, o suspense, o ritmo, a cara aflita e resoluta do grande salvador, fazia-nos transportar a todo o drama daquele dia. Eu consigo, ainda hoje, vejam lá, ouvir o grito apavorado do meu pai por cima do barulho ensurdecedor do tractor, que era grande e verde, ao deparar-se com o pequenino à sua frente, prestes a ser esmagado! E depois, sentir o seu alivio e gratidão, quando tudo acabou em bem, graças ao grande Joaquim! Mas qual tractor? o pai tinha lá um tractor em 1950? contrapõe o JJ, era uma carroça, ele trazia, naquele dia, não sei o quê de Tomar!!! Mas como é que se vê alguém ser atropelado por uma carroça, não é primeiro pelo burro, pelo cavalo, seja o que for que puxa? digo eu cuja memória já é toda motorizada? (e depois se há coisa com que eu engalinho é que me desarranjem as memórias, o que com a idade piorou, aquilo não são construções ideais, são já factos, constituem provas, criminais, se for preciso!) Bom, questão em aberto, concluo que ser pai é, de facto, tarefa inglória, esforçam-se eles (e chegou a nossa vez de sermos eles), entre outros esforços, a contar-nos as mesmas histórias milhares de vezes a ponto de nos aborrecer mortalmente, para acabarem, os filhos, a discutir detalhes desta natureza! Mas, ao menos, duas coisas ele conseguiu que persistissem na nossa memória, o ambiente dramático vivido então, como numa canção, em que só ficou a música e a letra há muito se foi, e o Joaquim da Graça, figura que, enquanto foi vivo, o nosso pai nos mostrou, literalmente, ao vivo e a cores, sempre que a ocasião se proporcionava. – Olha quem ele é! – parava o carro, fosse onde fosse, perto ou longe, desde que o visse, o Joaquim não se livrava nem dele nem da própria história! Viu-o a última vez há poucos anos, num quintal da Beselga, onde eu fora tratar de arranjar quem me fizesse um portão de ferro. Estava eu a falar com o artífice em questão quando lhe chega o sogro, era o Joaquim da Graça, que logo me reconheceu, eu, de imediato nem tanto, mas bastou o inicio da história, para reatarmos a nossa amizade, velha de tantos anos, anterior ao meu nascimento!

Mas o telefonema do JJ trazia outra preocupação, sabia ele que a casa do Joaquim se situava no concelho de Tomar e o terreno adjacente em Torres Novas (ou seria o contrário? não interessa) tanto que pagava dois IMI, um a cada município. Mais, como por necessidades familiares o Joaquim se vira obrigado, em tempos, a alargar o espaço de habitação para o referido terreno, morava agora numa casa que fica metade dela em cada um dos dois concelhos! Este meu irmão que, além de saber tuuuuuudo (fosse este um blog de má língua....), é pessoa apoquentada por natureza, para não dizer cismática (não tens culpa, está-te na massa do sangue, uma coisa e outra!) inquietava-se como é que o Joaquim teria gerido a sua vida doméstica nestes dias de proibição de transição entre concelhos! Eu disse-lhe que não se ralasse pois não seria provável que as autoridades o autuassem , até porque não estariam lá, por o homem sair de um concelho, mantendo-se debaixo do mesmo tecto, para ir a outro, dormir ou à casa de banho. Mas, pegando-lhe na deixa, sugeri-lhe que fosse lá a casa, saber como as coisas se estavam a passar, dando-lhe as seguintes instruções: 1.Que não se esquecesse (o mais importante), de lhe dar cumprimentos meus,  2. Perguntar como estava a correr a quarentena inter-concelhos, 3. Tirar a limpo se a roda em questão era de tractor ou de carroça, 4. Saber se o pai tinha comprado a casa por dois tostões. Era tudo e não lhe custava nada. O que ele me respondeu, por não ser bonito, não conto, mas também não adiantou porque não me demoveu. Insisti. Que não, que uma pessoa não se apresenta, por esses motivos, em casa de outra (tretas, tens muito mais lata do que eu!) e, por fim, para me calar (pelo menos, isso, consegui!), que era grupo de risco e não podia sair de casa!

Pelo que, por falta de informação, não posso dizer, aqui, se esta família Graça, também com muitos filhos, cujo pai trabalhou para o meu avô, é a mesma da noticia dos dois tostões! Também não posso afirmar que, por serem Graça, fossem aparentados. Porque, se há apelido, como muitos aliás, que não têm raízes de sangue comuns, este é um deles. Também eu sou Graça e não tenho nada a ver, com estes, por exemplo, ou com outros que tenho encontrado por esse país fora. 




retirado daqui

Mas uma coisa em comum tenho descoberto entre as pessoas com este sobrenome. Temos um antepassado nascido, ou criado como dantes se dizia, em Tomar ou no seu concelho (ou, antes ainda, no seu termo), alguém que foi entregue aos cuidados da Misericórdia e que, em Tomar recebia o apelido da sua patrona, Nossa Senhora da Graça. No meu caso um Vasco, entregue na roda da Misericórdia de Lisboa, com a indicação de ter nascido em Sacavém (que se chamou Vasco, por, no dia em que chegou, o “livro de entradas” ir na letra V), depois entregue a uma ama de leite da Pedreira, Tomar (a “base de dados” das amas da  Misericórdia de Lisboa estendia-se por toda a antiga Extremadura até à fronteira, singular como aquelas mulheres se punham em Lisboa, a buscar as crianças, em menos de dois dias, sem contar que alguém as teria que ter avisado!) e, a partir dele, se formaram os Graças de que faço parte. Muitos mais há, um famoso é Fernando Lopes Graça, filho de um exposto, criado na Longra, freguesia da Beselga. Por isso, em Tomar, dantes se dizia, à boca pequena, tão pequena que se perdeu o dito (já quase ninguém o conhece, quando o proferi, há tempos, perante um Graça, mais novo que eu, muito ele se ofendeu, e põs-me no meu lugar declarando-me que, eu que falasse por mim, pois ele era filho e neto de gente muito bem casada!), mas tive a compensação de ter encontrado, há muitos anos, em Lisboa, a Teresa Graça, que o sabia por o seu pai ter remotas origens em Tomar, o que nos fez aproximar e ficar amigas até hoje “Graça é nome de Enjeitado”. (MFM)

Nota: já depois de ter escrito fiquei a saber que o Joaquim era filho do João, não do José da Graça. Eram três os irmãos Graça: José, o da casa dos 2 tostões, João (que trabalhou muitos anos para o meu avô, tendo o filho mais velho nascido nos Olivais) e Manuel, todos nascidos lá por inicio de XX, no Paço da Comenda  filhos de um ferroviário, cujo nome não apurei, e de mãe chamada Ludovina.


16 de abril de 2020

Rubem Fonseca










A Grande Arte é o último dos grandes livros que a língua portuguesa produziu. Recomendo tão vivamente como recomendo o grande Camilo. O sentido de humor, a ironia e a escrita seca e objectiva encantam-me. A violência e a brutalidade, para mim, já são um pouco demais e, por isso, alguns outros livros dele, francamente, não consegui....mas o mal é meu. Tinha 94 anos, era filho de portugueses, e, talvez por isso, ou não, escrevia como já ninguém. Estou sempre a repetir-me. (MFM)