Este blog está às
moscas já há algum tempo, é verdade. Mas não é para suprir ou
penitenciar-me desse vazio, em que as ditas são metáfora na expressão, que por
aqui passo hoje. É para me queixar delas, das próprias, em carne e osso, do insecto, que
nos trespassa com seu estilete até ao cérebro, nestes dias em que os 40 graus nos deixaram e elas revivesceram,
vindas sei eu lá de onde as moscas se escondem, quando a canícula parece ser, também para elas, insuportável. Findos os trópicos, chegadas as moscas! Não há
sossego neste Verão incendiário!
Mas como em tudo, até para ouvir sobre ferroadas de
moscas, é preferível deixar falar quem sabe, do assunto e da língua portuguesa, calo-me
e deixo-vos com o Mestre. Que há precisamente 150 anos, a 16 de Agosto de 1866,
sofrendo naquele ardentíssimo mês, do calor e das picadelas das moscas desejava ser elefante para em cada ruga do seu coiro as entalar e esmagar!
Deleitem-se com este belo naco da maravilhosa prosa de
Camilo Castelo Branco, o qual, tal como afirma sobre o Padre Manuel Bernardes, faz da
língua portuguesa a mais graciosa do mundo. (MFM)
Uma pequena adenda, em exclusivo para os Mota: no mesmo dia em que Camilo, invectivava as moscas, este nosso avô festejaria o seu oitavo aniversário dando murros e bofetões às ditas que sobrevoavam naqueles tempos o Paço da Comenda?
Pior que as moscas só os mosquitos
ResponderEliminarQuissama, Angola 1963
Muxima
À noite, quando não chovia, íamos de jeep até ao forte, no cimo do morro. À medida que subíamos víamos, à luz dos faróis, ir-se rarefazendo a densidade das nuvens de mosquitos; nem pensar em usar roupa curta-- íamos jantar de camuflado com mangas e polainitos de coiro; mesmo assim picavam-nos através da roupa - nos pulsos, artelhos e nas pregas das nádegas. Não queiram saber como tenho os pulsos e os artelhos. Depois do crepúsculo não se pode sair de casa nem é conveniente acender a luz lá dentro pois que, apesar dos mosquiteiros e redes nas portas, há um mosquitito miseravelmente pequeno - o miruí - que atravessa tudo e nos aborrece como pólen dum campo de milho despontado quando o atravessamos.
Cabo Ledo
Cabo Ledo é um local a 130 km de Luanda, sobranceiro ao mar, a sul da barra do Cuanza. Aqui a costa cai a pique, uma escarpa de muitas dezenas de metros. Há um poço de extracção de petróleo da Petrofina, casas de zinco, tipo caravana e outras pré-fabricadas. A um canto está o nosso quartel, de um tipo semelhante. Bom clima, luz eléctrica todo o dia, caça abundante (estávamos na reserva de caça da Quissama), mar com praia.
Ali ia dar consulta uma vez por semana quando a chuva o permitia; era uma maravilha porque lá não havia mosquitos. As noites eram perfeitas ao contrário do dia, um inferno de milhões de moscas, porque os operários, de rabo para o mar, usavam as escarpas como latrinas.