Si hortum in biblioteca habes deerit nihil

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23 de julho de 2019

A Grandeza do Fim






Num sábado do último mês de Março vi a porta aberta e entrei. Pareceu-me estar tudo em pé de guerra, em vias de, se não é agora, nunca mais, e saquei do telemóvel. 
- Então, está a fazer uma reportagem? - ouvi.
Contei o que queria, quem era. Não era preciso, eu era conhecida, olá se era, tão conhecida que estava tudo zangado comigo!
Por causa do que  aqui escrevi! Escrevi mas que, o meu interlocutor e mais um outro que se aproximou logo de seguida, muito mais zangado ainda, não tinham lido! Mas tinham ouvido dizer!
Segundo eles eu tinha opinado sem ter ouvido as duas partes, as coisas não eram como eu dissera. Não custava nada ter ido falar com eles! E também não era preciso insultar! Eu tinha-os comparado ao Trump!
Pois se estavam ofendidos só me restava pedir desculpa, não era minha intenção. Até porque eu não conhecia os senhores, não sabia quem eram, muito menos sabia que estavam ligados ao clube, a que propósito haveria de os querer ofender? Parece-me que não acreditaram nesta parte. Lá tentei dizer que não era jornalista, que não tratava de factos, que ressalvara bem "que tinha ouvido dizer", que tudo era uma extrapolação acerca de um princípio que para mim era vital: a democracia! Acho que acreditaram nas minhas boas intenções mas não nos resultados, sempre foram dizendo: - é preciso cuidado com o que se escreve, as pessoas só lêm o que querem ler! Concordei. 
Mas já agora, que estávamos ali, queriam dizer o que se passara que eu iria, desde já, pôr tudo no seu lugar? Que não, ainda estava tudo muito fresco, talvez um dia.
Foi, pois, este, o intróito daquele encontro naquela manhã de sábado, com aqueles senhores que não me deram autorização para dizer os seus nomes, mas que estavam, muito solidariamente a ajudar um amigo que recebera ordem de despejo.
Segundo contaram, há vários anos já, que um portalegense (agora não sei se diga ou não o nome,  que merece é indubitável, mas que é melhor não, é) sobrecarrega os seus encargos pessoais com mais um que já ascende a milhares de euros: fazer face às despesas do clube, entre elas, pagar mensalmente a renda ao senhorio.Sem conseguir obter as necessárias receitas junto de outros sócios, ele sozinho se encarregou de garantir que a sociedade continuasse a ter uma sede! Acontecendo, porém,  que a proprietária do prédio quisesse reaver o espaço arrendado, não achou mais ninguém a quem intimar para o deixar limpo do que quem lhe pagava a renda! E assim se viu o pobre homem em trabalhos! E por isso, ali estavam os amigos a despejar e transportar os despojos do velho clube para duas salas da desocupada escola primária, cedidas pela Associação do Paço da Comenda que, por sua vez, as detém cedidas pela Câmara Municipal de Tomar.
E eis as razões que me aqui trouxeram: 1-pedir desculpa àqueles senhores (que, apesar de mostrarem o seu desagrado comigo, nunca deixaram de se mostrar corteses e me  autorizaram a tirar todas as fotografias que quis) por não me ter feito entender no texto que escrevi, embora continue a pensar o mesmo; 2-mostrar o desprendimento e generosidade de um homem, que não me consta que seja rico, em prol do património da história da sua terra;3- deixar aqui testemunhos do fim de uma era. (MFM)








 

























Nota: Este acontecimento exigia imediata "postagem", mas não me foi possível por razões pessoais, primeiro, e depois, por razões pessoais também, mas que se prendem com a tecnologia que, graças a sabe-se lá o quê, assim como morre, ressuscita, e, aqui deu nova vida a um telemóvel fazendo aparecer do nada estas fotos que eu já chorava (MFM)


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