Si hortum in biblioteca habes deerit nihil

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14 de março de 2012

As uvas de Porto da Lage que Lady Jackson admirou

Chegamos a Payalvo (Paialvo) estação da interessantissima cidadesinha de Thomar. Os arrabaldes são bonitos, com graciosas estradas enverdecidas, e toda a campina em redor ás ondulações graciosas. O arvoredo é magnifico. Como os olhos se refrigeram n'aquellas copas de folhagens! A terra faz muita differença do que é lá para Santarem. Aqui não ha aquelle faiscar cauzado pelas scintillações do saibro branco tão incommodas para a vista. Feracissima vegetação, flores e fructos por toda a parte em abundância. Desejava que visse os esplendidos cachos de uvas que comprei n'esta estação, a uma rapariga rozada, de ollios ardentes e chapéu desabado e empennachado de murtha e cravos. O cacho estava mais perto de pesar dous arráteis que um. Os bagos todos perfeitos e grandes, verdes e levemente tintos de azul. «Quanto é?» perguntei eu quando ella m'o chegou a portinhola da carruagem, «é uma pataca, minha senhora». Uma pataca é quarenta reis.

Eu poderia obte-lo por trinta, se regateasse, mas apenas encolhi os hombros, a la portugaise, e respondi: «Caro, muito caro».                                    Ao que ella redarguiu com razão:« Porém, é tão boa». Estufa nenhuma ainda produziu mais perfeita pintura, nem mais delicioso sabor. Tencionara eu, n'esta direcção, estender a minha viagem a Thomar, que contém diversos edifícios antigos, e outras relíquias do passado.
Trecho de «A Formosa Lusitânia» por Lady Jachson,  tradução de Camilo Castelo Branco1878

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