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Alfredo Keil (1850-1907)- Estrada com vista de Thomar |
Em 11 de Abril de 1897 a Companhia Real dos Caminhos de Ferro organizou uma excursão, como já então se dizia, de Lisboa a Tomar, a preços reduzidos, a fim de os lisboetas virem admirar as "belezas naturais e os monumentos históricos" da "nossa formosa cidade". É claro que a viagem de comboio se realizou até à Estação de Payalvo (a de Tomar só passou a funcionar em 1928) e daqui, os excursionistas alfacinhas terão seguido, por estrada, em carruagens ou nos famosos chars-a-bancs. Esta última parte do percurso é que, pelas descrições da época, deixava muito a desejar. Quem sabe se, fazendo eco das impressões colhidas por aqueles viajantes, no dia 23 de Maio seguinte, uma notícia no jornal A Verdade lastima, numa tão pungente e gongórica prosa, o estado da estrada, que não resisto a transcrevê-la "aquela estrada de Payalvo é tudo quanto há de mais estúpido e aborrecido no mundo. No Verão nuvens de pó compactas invadem-nos os pulmões, os olhos, as narinas, e polvilham-nos o fato e os cabelos de forma a parecer que vimos de alguma folgança de entrudo quando chegamos a este oásis que se chama Tomar. No Inverno torna-se aquela via intransitável, formada por uma série ininterrupta de covas, covinhas, covões, alguns de vastidão de valas comuns onde caberiam à vontade as ossadas dos inventores daquele leito de martírio, onde os ossos se desconjuntam e as lesões se desenvolvem mercê do susto continuado em que vem sempre o mísero passageiro que o destino atira para dentro de uma diligência durante uma longa hora de jornada..."
E Alfredo Keil que, com certeza, também chegou a Tomar via estação de Paialvo, que terá ele achado da estrada? O pintor, fotógrafo, poeta, coleccionador de arte e compositor (autor de A Portuguesa - o nosso Hino Nacional) ter-se-à inspirado na outra (a da vala comum) para pintar esta, bucólica, plana, solitária? (MFM)
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Jornal A Verdade 4.04.1897 |
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Jornal A Verdade 21.05.1891
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Jornal A Verdade, 20.12.1891 |
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Jornal A Verdade 21.08.1898 |
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