Si hortum in biblioteca habes deerit nihil

Si hortum in biblioteca habes deerit nihil
Todos os textos aqui publicados podem ser utilizados desde que se mencione a sua origem.

9 de dezembro de 2019

Um dia em Tomar em 1893




Virgínia de Castro e Almeida (1874-1945) foi uma intelectual portuguesa que desenvolveu a sua obra e se notificou no primeiro quartel do sec.XX. Amiga de intelectuais e políticos de antes  e depois do Estado Novo, viveu vários anos em Paris e Genebra, sendo nesta cidade representante de Portugal na Sociedade das Nações. Em Janeiro de 1926 assiste como delegada de Portugal às cerimónias de inauguração do Instituto Internacional de Cooperação Intelectual, em Paris, sendo uma das quatro mulheres (uma delas Madame Curie) presentes entre os cinquenta convidados, no almoço oferecido pelo Presidente do Conselho e Ministro da Instrução. 
Foi escritora, autora de livros infantis, dos quais ainda hoje se publicam História de Dona Redonda e da sua Gente e Aventuras de Dona Redonda e produtora de cinema. Produziu a  A Sereia de Pedra, adaptado de um conto seu intitulado A Obra do Demónio, realizado por Roger Lion, com exteriores rodados no Convento de Cristo, em Tomar, o qual estreia em Paris, onde  obteve elogios por parte da crítica.
Apesar de todo o seu valor, o motivo pelo qual aqui a lembro hoje prende-se, tão só, com a sua ligação a Tomar. Filha do Conde de Nova-Goa, dono da quinta da Beselga, passava quando jovem largas temporadas pela quinta e convivia com a burguesia tomarense do tempo. 

No Boletim Cultural da Câmara Municipal de Tomar n.º18, de Março de 1993, encontram-se duas cartas de Virgínia de Castro e Almeida, dirigidas à sua futura cunhada, nas quais aquela, numa linguagem cheia de vivacidade, conta o seu dia-a-dia passado na quinta. Na carta aqui reproduzida fala de uma ida a Tomar na companhia de uma amiga, Cristina. Na cidade encontra-se com amigos pertencentes à alta burguesia da terra: as Mouzinhos, a baronesa de Alvaiázere e a Senhora D. Maria Teresa de Vasconcelos. É de forma torcista que se refere a esta  última, deixando perceber uma certa superioridade cosmopolita face aos costumes e presunções provincianas, como a ida de uma menina  sozinha às compras e o rídiculo de um alferes, muito arrebicadinho e empomado, exibindo-se no seu velocipede, tentando impressioná-la, rodando com um pé só, de braços cruzados .
Esta carta encantadora remete-nos para um dia no tempo, há mais de 120 anos, em Novembro, em que na Várzea Grande, com as amoreiras de ramos meio-despidos, as crianças brincam, ao sair da escola, passam os ranchos de azeitona, prevendo a boa safra desse ano, transitam os trens e a nossa heroína, passeando o seu cavalo Ali, acompanhada do trintanário Rafael, se sente importunada com um modernaço ciclopedista que a tenta impressionar. Vamos ler que não perdemos o nosso tempo. (MFM)

«Almocei com a Cristina e abalámos para Tomar arrastando com os lameiros que estão de respeito por estes caminhos fora.
Fomos para casa das Mouzinhos de onde mandámos recado ao médico; e daí, depois do clássico lunch de pão com manteiga, queijo “cabreiro” e doce de ginja, fomos pela Avenida fora. Deixei a Crista no princípio da Corredoura e eu fui andando até á casa da baronesa de Alvaiázere que me tinha mandado recado que me queria falar. 


....fomos pela Avenida fora. Deixei a Crista no princípio da Corredoura ....


.....e eu fui andando até á casa da baronesa de Alvaiázere...


Achei os meus primos já a meterem-se no trem para irem a um magusto num casal que têm na estrada da fábrica, ia com eles a senhora D. Maria Tereza de Vasconcelos que toda se indignou quando eu lhe disse que a Cristina tinha ido sozinha fazer compras.
- "Sozinha .... Ora essa! ... "
Tratei de receber o recado da minha prima, que por sinal, era um convite para lá irmos jantar no dia 7, e fi-los partir,apesar de todos os seus protestos.
- "Então hás-de ficar só à espera da Cristina?!"
- "Não se incomodem. O Ali está com alguma tosse. Não quero que ele fique aqui parado. Vou dar umas voltas pela Várzea Grande".
- "Quer Vossa Ex.ª vir connosco ao magusto, prima?"
- "Muito obrigada, primo. Desejo-lhe alegria."
A Senhora D. Maria Teresa de Vasconcelos não disse nada. Creio que ficou com a Cristina a fazer compras sozinha atravessada na garganta. Quando te falo desta senhora, digo sempre o nome e um dos apelidos, para te dar um pouco a ideia da sua majestade. É a senhora mais majestosa de Tomar. Mas tem um cachet. Ela, a sua casa, as suas maneiras, a sua dama de compagnie, as suas toilettes ...  Verás. Tudo isso vale um dinheirão.
Foram-se e eu comecei o meu passeio pela Várzea que estava linda. Eu, o Ali e atrás, todo teso, o Rafael. Sempre a minha equipagem havia de fazer um vistão .... 





e eu comecei o meu passeio pela Várzea que estava linda  
Ciclopedista na Av. da
Liberdade, Lisboa

Pelo menos um alferes que há em Tomar, muito arrebicadinho e empomado, velocipedista ainda por cima, assim achou. E começou a fazer-me tonturas na cabeça com círculos e mais círculos por aquela várzea e por diante de mim, que era mesmo uma coisa por demais. 


Ciclistas na Várzea Pequena c. 1876





Voltei a casa do barão, bati a porta, declarei a uma criada: que bem sabia que os senhores não estavam em casa. mas que eu ia para a sala porque esperava ali a minha prima Cristina. Assim foi. Mandei estender uma manta por cima do Ali e pus-me à janela.



                                                              .....e pus-me à janela.
Passou uma carroça de areia; depois um carro de bois com as trouxas de um rancho da azeitona. Depois três barrosas a conversarem da safra que há-de ser boa. 



Rancho de azeitona em período de lazer 

Nisto saíram os rapazes da escola e durante alguns minutos toda a várzea se inundou das suas gargalhadas e dos seus gritos. Por entre os ramos meio despidos das amoreiras, vi-os passar lá em baixo correndo de uma banda para a' outra .
- "He, Manel!!"
- "Ladrão do diabo!" ...
- "Malandro" …
Pedrada para aqui, pedrada para ali ...o Rafael, defronte do Ali, de mãos nas algibeiras, superior, olhava para eles e ria-se.
Cada palavrão que eu ouvi! ... Falem-me da inocência dos meninos de escola ...



Nisto saíram os rapazes da escola ...
(A escola Conde de Ferreira, existente à época na Varzea Grande, construída entre 1864-1874, com o donativo do referido Conde)



A localização da escola Conde de Ferreira na Várzea Grande



Vai senão quando, quem havia de passar? O alferesinho empomadado. A fazer círculos, a andar com um pé só, de braços cruzados ... um nojo! Vim para dentro já se vê. Sentei-me.
Para passar o tempo, nem um recurso. Nem um livro, nem um jornal, nem uma gravura sequer. Sala nua; pior do que a sala de espera de um dentista. Alguns bilhetes de visita. Li-os uma vez; duas vezes; aprendi-os de cor: Sofia Loureiro Vizeu Pinheiro, a agradecer; Maria Augusta de Freitas; Bebiana Correia.
E mais ainda. Muitos, muitos ...
O que seria que a Sofia Loureiro agradecia? Cismei nisso algum tempo, mas distraiu-me dessa ideia uma voz de mestre, grave, muito grossa, a ralhar. Percebi que era o mais novo dos rapazes a dar lição. Como percebi isso, entendi que não era indiscrição espreitar pelo buraco da fechadura. E vi a cara do rapaz triste de aborrecimento. Lembrei-me de quando ele era muito pequenito, o meu pobre Tai; quando se agarrava a mim a dizer que era meu. Chamava-me Tia Gi ...
Ao principio cuidei que ele recitava alguma passagem dos Lusíadas. Recitação exagerada com a intonação quase do Luís Osório declamando .... Escutei melhor. Ouvi distintamente:

" ... Mas, sem lhes poder chegar disse:
estão verdes não prestam
 só os cães as podem tragar. .."

 Senti um trem. Fui à janela ver: era o médico que voltava da  quinta. Trazia a receita na esperança de me encontrar ainda e de eu poder levar os remédios. Viu o meu carro à porta do barão, parou e entrou. Sufoquei-o de perguntas sobre o estado da minha prima. Ele não é homem que fale sem fazer um discurso; e tão embrulhado foi o tal discurso desta vez que não percebi nada.
Pouco tempo depois chegou finalmente a Cristina. Julguei que tencionava deixar-me a apodrecer naquela casa! ... O tempo de virem os remédios da botica e vamos nós a caminho da quinta, a toda a pressa.»


.....era o médico que voltava da  quinta.






Notas: Fotografias, e extractos de fotografias, de Silva Magalhães, excepto a da escola de Conde Ferreira cuja autoria não consegui identificar e a do ciclista em Lisboa.

                                               


A casa dos Barões de Alvaiázere na actualidade. Aqui se fundou a Fábrica de Fiação em 1789; em 1869 o edificio foi vendido a Manuel Vieira da Silva Borges e Abreu, primeiro Barâo de Alvaiázere; a partir de 1911 foi Quartel General da Região Militar, mas um incêndio em 1975 destruiu todo o interior; a parte restaurada acolhe, actualmente, os Serviços de Registo e Notariado e o Juízo de Trabalho de Tomar (Tribunal).

<

6 de dezembro de 2019

O Meu Menino Jesus (fora do Natal)


  Este é um post que tenho guardado nos "rascunhos" há anos (aliás, a publicação dos últimos posts corresponde a uma limpeza que estou a levar a cabo nesta pasta, por isso todos parecem  nada terem a ver com nada, ultimamente).
Comecei por pensar em o publicar num Natal. Mas não! Não podia ser. Natal é paz e conciliação, não é provocação (embora não fosse essa a minha intenção, poderia ser interpretado assim). E foi ficando, há espera de oportunidade. Mas agora vai, não para demonstrar coisissima nenhuma (poema é considerado por alguns como um sacrilégio, uma afronta a Deus e à criação, pretenso destruidor das bases do Cristianismo, o próprio Fernando Pessoa se demarcava do seu heterónimo dizendo não ser, como o "outro", blasfemo nem antiespiritualista), mas tão só porque gosto dele, porque me encanta este menino Jesus da infância de todos nós, que brinca, ri, chapinha nas poças de água e faz pequenas patifarias. E porque, afinal, sempre me interrogo se não é Ele o divino que sorri e que brinca., se Ele não é o Menino Jesus verdadeiro?
Não deixa de ser um admirável poema, mesmo para aqueles que se sentem beliscados na sua crença. Se poderem, usufruam-no na sua totalidade, lendo-o, ou ouvindo-o, por exemplo, na voz de  Maria Betânia. (MFM)



VIII - Num meio-dia de fim de Primavera


Num meio-dia de fim de primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.
Tinha fugido do céu.



 Era nosso demais para fingir
 De segunda pessoa da Trindade.
 No céu era tudo falso, tudo em desacordo
 Com flores e árvores e pedras.
 No céu tinha que estar sempre sério
 E de vez em quando de se tornar outra vez homem
 E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
 Com uma coroa toda à roda de espinhos
 E os pés espetados por um prego com cabeça,
 E até com um trapo à roda da cintura
 Como os pretos nas ilustrações.


 Nem sequer o deixavam ter pai e mãe
 Como as outras crianças.
 O seu pai era duas pessoas
 Um velho chamado José, que era carpinteiro,
 E que não era pai dele;
 E o outro pai era uma pomba estúpida,
 A única pomba feia do mundo
 Porque não era do mundo nem era pomba.
 E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.


Não era mulher: era uma mala
Em que ele tinha vindo do céu.
E queriam que ele, que só nascera da mãe,
E nunca tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a bondade e a justiça!

Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz
E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.
Depois fugiu para o sol
E desceu pelo primeiro raio que apanhou.

Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz ao braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
Rouba a fruta dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas pelas estradas
Que vão em ranchos pela estradas
com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.

A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as cousas.
Aponta-me todas as cousas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.

Diz-me muito mal de Deus.
Diz que ele é um velho estúpido e doente,
Sempre a escarrar no chão
E a dizer indecências.
A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia.
E o Espírito Santo coça-se com o bico
E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.
Diz-me que Deus não percebe nada
Das coisas que criou —
"Se é que ele as criou, do que duvido" —
"Ele diz, por exemplo, que os seres cantam a sua glória,
Mas os seres não cantam nada.
Se cantassem seriam cantores.
Os seres existem e mais nada,
E por isso se chamam seres."
E depois, cansados de dizer mal de Deus,
O Menino Jesus adormece nos meus braços
e eu levo-o ao colo para casa.
.............................................................................
Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos.
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate as palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.

.............................................................................
Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural,
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.
Esta é a história do meu Menino Jesus.
Por que razão que se perceba
Não há de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam?


Alberto Caeiro. In O Guardador de Rebanhos

4 de dezembro de 2019

As Senhoras Mouzinho


A minha mãe, nascida e criada no Bairro das Flores (o que ela referia com todo o orgulho mas que era motivo de brincadeiras para os filhos, como se tal fosse uma fantasia dela, pois, nas nossas vidas aquele nome já não constava da giria tomarense) costumava dizer quando alguém mostrava dúvidas sobre a sua própria aparência, para a convencer do contrário, que não, que até estava muito bem:
- Ora essa, até estás capaz de ir à mostra às senhoras mozinhas!
Para mim aquilo era um "dito" da minha mãe, coisa antiga, de Tomar concerteza pois nunca o ouvira noutro lado qualquer, e estava acabado. 
Mas, deparei com este opúsculo de Amorim Rosa, do qual extraí o que vai abaixo. Afinal o Bairro das Flores existiu mesmo (quer dizer, ainda lá está mas - desculpe mãe, a incredulidade desta filha parva! - só agora eu confirmo o nome) que tinha como limite a norte " a linda estrada do Prado, por entre um túnel de folhagem verdejante das copadas árvores que a extremam", passando pelas encostas da Senhora da Piedade e da Anunciada Nova, e terminava como diz o autor "em apoteose, perante a trindade que foi pelos séculos fora, o farol que ilumina a senda do progresso da nossa querida terra" que seriam a Igreja, o Municipio e Gualdim Pais.
Fiquei também a saber que as senhoras Mouzinho tinham sido ilustres habitantes do bairro. E assim comprendi que, por ser dali, a minha mãe conhecera,  por tradição, o legado da importância das "senhoras mozinhas" (com a alteração lexical que o tempo sempre opera) na apresentação do outfit (isto é para mostrar que sou actual e sei actualizar) das tomarenses e dos tomarenses (mais outro sinal do mesmo). 
Está tudo explicado! (MFM)


A casa das senhoras Mouzinho, à direita.


«Na segunda metade do Sec.XIX viviam naquela casa duas jovens senhoras que, ricas, nobres e prendadas, constituiam o que se chama um bom partido - talvez o melhor partido da terra.
Mas, apesar da concorrência de pretendentes, as duas senhoras continuaram solteiras e solteiras morreram de provecta idade.
Na sua juventude, todo o moço ansiava por lhes ser apresentado e, conseguindo, e a muito custo, tal desideratum, vestia-se a primor para tão grata visita. E o mesmo sucedia com as damas; que ser visita das senhoras Mouzinhos, não era para todos; e era de tom, nessa época!
Por isso, durante muito tempo - e não sei se ainda existem reminiscências desse hábito, quando se via alguém, janota e aperaltado, soia dizer-se-lhe:
- Vais à amostra às senhoras Mouzinhos?...»

(Amorim Rosa, Uma volta pelo Bairro das Flores, palestra realizada na Sociedade Nabantina em 18.11.1961 )


                                               
 Uma das senhoras em causa , em destaque na imprensa, recebendo "srªs hespanholas a 
tocarem piano e cantarem admiravelmente" em sua casa. A Verdade, 16.08.1885



P.S- As senhoras Mouzinho eram ascendentes da mulher do dr. João Maria de Sousa, Maria Ezequiel de Sousa Mouzinho.

                                   
 

1 de dezembro de 2019

Portugal



Hoje é dia 1 de Dezembro. O dia em que os portugueses de 1640 decidiram recuperar a independência de Espanha, ao contrário de 60 anos antes em que, salvo poucas excepções, se lançaram quase nos braços daquele país. O que os fez mudar, o que os ligava ou deixava de ligar à pátria portuguesa. E hoje, como seria? Os portugueses gostam de Portugal, gostam de ser portugueses? 
Como acontece muitas vezes, quando não se sabe, cita-se! E eu, hoje, socorro-me de Eça de Queirós. Criou ele duas magistrais personagens de portugueses, daqueles que, desde A.Vieira precisam de um mundo para viver e um pedaço de terra, a sua, para morrer.
O cosmopolita Jacinto, de A Cidade e as Serras, nado e criado em Paris, homem de cultura, possuidor de tudo o que a ciência e técnica já descobrira no seu tempo, vivendo, no entanto, neurastécnico, a "sofrer de fartura", resgata-se encontrando a alegria de viver em Portugal, na sua serra, que lhe mata uma velhíssima fome e de onde brota o vinho, o vinho que lhe entra mais na alma que muito poema ou livro santo. 
A outra é Gonçalo Mendes Ramires, da obra A Ilustre Casa de Ramires, rapaz elegante, instruido, formado em Coimbra, com talentos literários (escreve uma monografia medieval sobre um antepassado seu), de fidalguia remontando aos godos mas ... sem meios. Meios que lhe permitam seguir os seus sonhos e alcançar a vida que pensa "ser vida". Para o conseguir, por cobardia, por insegurança, comete actos algo infâmes, mas, apesar disso, a generosidade, a simpatia, o heroismo, de que dispõe, conseguem triunfar e redimi-lo.
Espero que os dois trechos que aqui trago,  para além de abrir o apetite para quem nunca  leu as obras completas ou para quem não as lê há muito tempo, vos reconcilie (andamos sempre um pouco zangados com ela, não é?) com "a terra formosa de Portugal, tão cheia de graça amorável, que seja para sempre bendita entre as terras" (MFM)




[Na cidade, no jantar de celebração do 35.º aniversário de Jacinto]:




[Nas serras, quando Jacinto chega intempestivamente, sem ser esperado]:










[Na quinta os três amigos comentam a próxima chegada de Gonçalo, de Moçambique]:










26 de novembro de 2019

80 Anos!





A inveja é um pecado! Certo!

Mas esta vitalidade, energia e talento são o quê caramba?

hAPPY


Happy Birthday  Tina!

Muitos, muitos mais anos a mostrar esta força a uma humanidade cada vez mais pusilânime!

Rolling on, rolling on the river!  FOREVER!

Tomar


 O portodalagense João Maria de Sousa (1838-1905), autor de Notícia Descriptiva e Histórica da Cidade de Thomar, dá-nos, neste livro, uma visão muito clara e objectiva da cidade de Tomar do seu tempo. 
António da Silva Magalhães (Tomar 1834 -1897) é igualmente um cidadão interveniente na cidade, o seu primeiro fotógrafo (contemporâneo e amigo de Carlos Relvas), editor, proprietário e responsável do jornal “A Verdade” (1880-1916), fotografou a sua terra,  as suas gentes e o seu património.

Os textos de um e os registos fotográficos de outro são uma imprescindível e riquissima fonte de informação sobre Tomar no final do século XIX. 

Ao nascente d’esta parte da cidade corre o rio Nabão e a Levada que a separam do outro bairro; por esta levada deriva a agua que vae servir de motor a uma fabrica de moagens, a antigos lagares de azeite e á turbina que transmite o movimento ao dymnamo para a luz eleclrica




...por esta levada deriva a agua que vae servir de motor a uma fabrica de moagens, a antigos lagares de azeite 





Seguindo a margem do rio para o norte corre uma avenida, denominada Marquez de Thomar, arborisada e ajardinada que vae desembocar na Varzea Pequena; esta obra de construcção moderna alem de aformosear muito a cidade collocou-a em melhores condições hygienicas, fazendo desappárecer d'aquelle local os recantos do rio onde se depositavam lôdos e immundicies que eram prejudiciaes á saude publica.



A ponte, anterior, com " guardas que eram de alvenaria cobertas de lages" ....


 ......recantos do rio onde se depositavam lôdos e immundicies que eram prejudiciaes á saude publica...

....para o norte corre uma avenida, denominada Marquez de Thomar, arborisada e ajardinada que vae desembocar na Varzea Pequena....


Liga-os [ao bairro de além da ponte]uma ponte de pedra não se sabe ao certo se mandada construir se reedificar por D. Manoel, mas ê muito provável que fosse reedificada; [...]; a ponte está realmente bem construida, [...] galga por sobre a Levada e o rio em arcos de cantaria de uma solidez a toda a prova, pois tem sempre resistido sem o menor abalo ao impelo violento de grossas enchentes, que muitas vezes leem saltado por cima dela em escarceus formidáveis sem que d’isso se haja resentido.

Esta ponte soffreu ha alguns annos uma modificação: as guardas que eram de alvenaria cobertas de lages foram substituídas, para lhe dar maior largura, por grades de ferro e n'essa occasião foi removida não sabemos para onde a imagem em pedra de tamanho natural de Santo Estevão que se achava sobre a do lado do sul logo á entrada, vindo de Alem da Ponte; é verdade que ella ameaçava desabar, porque a crença popular de que o pó raspado das pernas do santo curava as sezões. tinha-lhfas por tal forma adelgaçado, que mal podiam já sustentar o tronco


a ponte está realmente bem construida, [...]  em arcos de cantaria de uma solidez a toda a prova, pois tem sempre resistido sem o menor abalo ao impelo violento de grossas enchentes [...]sem que d’isso se haja ressentido


As guardas que eram de alvenaria cobertas de lages foram substituídas, para lhe dar maior largura, por grades de ferro.


Ao norte e de encontro ao primeiro pégão da ponte eleva- se o açude que deriva as aguas para a Levada e quando estas são em maior abnndancia d elle se precipitam formando uma bonita cachoeira, cujo sussurrar monotono e continuo é como um acompanhamento em baixo do trinar agudo dos rouxinoes, que durante a primavera soltam melodiosos cantos pousados nas flexiveis vergonteas dos salgueiros e chorões, que de uma e outra margem se baloiçam sobre o rio, dando áquelle local em noites amenas de maio ou junho um tom de suave melancholia, que altrahe e enleva.


....formando uma bonita cachoeira, cujo sussurrar monotono e continuo é como um acompanhamento em baixo do trinar agudo dos rouxinoes ....



Transpondo esta ponte, do poente para o nascente, entra-se em uma rua denominada Marquez de Pombal (antiga rua Larga)









entra-se em uma rua denominada Marquez de Pombal (antiga rua Larga)
O segundo bairo denominado Alem da Ponte é menos regular que o primeiro, não deixando por isso de ter uma certa belleza; sobe por uma pequena elevação e ramifica se em tres direcções principaes.


              ... sobe por uma pequena elevação e ramifica se em tres direcções principaes.


logo à entrada e à direita estão os restos do antigo convento conhecido hoje pelo Convento de Santa Iria e ainda na muralha, que mergulha no rio, se vê em um nicho de pedra a imagem daquella santa; hoje aquelle convento está transformado, parte em casas de habitação e outra parte em uma fabrica de tecidos de lã; só resta d'elle intacta a capella, notável pelo seu porlico e sobre tudo por um retábulo em alto relevo, de muito valor artístico; .



logo à entrada e à direita estão os restos do antigo convento conhecido hoje pelo Convento de Santa Iria 
Logo adeante desta capella há um arco que ligava o convento antigo com a parte que posteriormente foi construída 

......há um arco que ligava o convento antigo com a parte......


e por debaixo d‘elle passa a estrada, que conduz ao cemiterio e à notável egreja de Santa Maria e vae para S. Pedro;



....a estrada, que conduz ao cemiterio e à notável egreja de Santa Maria. [seta indica o cemitério]













quasi defronte deste arco a rua Marquez de Pombal dá uma ramificação para a esquerda, que é a rua da Fabrica (antiga rua das Poças) e vae terminar na Fabrica de Fiação e Tecidos de Algodão, uma das melhores do nosso paiz;




um pouco adeante, ao subir uma pequena elevação bifurca-se, dando origem á rua de Santo André e á de S. Braz; a primeira assim chamada por ter ao cimo, em uma pequena eminência, uma capella com a invocação d’aquelle santo, a segunda porque tinha logo á entrada, ao lado esquerdo, outra capella dedicada a S. Braz, da qual já não restam vestígios alguns, tendo sido demolida para no seu local se edificarem casas de habitação.

O sentido da rua de Santo André indicado a verde e o da rua de S.Brás a laranja.

19 de novembro de 2019

O blog da avó




Estive outro dia a falar com um dos meus netos sobre o blog. A iniciativa foi dele, queria saber o que  fazia eu na net. Perante a sua reacção à palavra blog tive a certeza do que eu já desconfiava. Os blogs são uma coisa ultrapassada, pertencentes à pré-história da rede, assim como as disquetes o são para os computadores, fósseis, ninguém nascido neste século sabe o que são. Mas lá lhe expliquei e ele, rapaz esperto, fazendo transferências e adaptando para os interesses actuais e os seus em particular (é um youtuber em potência - fã de um tal unspekable - embora sem grandes perspectivas futuras próximas, coitado, devido às chamadas “restrições parentais”) percebeu. Leu posts, ele é um interessado por Porto da Lage, interroga-se porque é que as pessoas não arranjam as casas velhas em vez de fazerem novas, piores que as primeiras e, sobre isso, já delineou um plano de intervenção "para quando crescer" diz ele. Gostou do tema, apoiou-me. A sua cabeça, que ainda frequenta, parcialmente, o mundo das fadas, aceita com toda a naturalidade que uma avó alimente dinossauros. Mas a coisa mudou de figura depois de, de olhos brilhantes de entusiasmo, perguntar:
- Quantos seguidores tem, avó?
Seguidores? Desconheço, acho que nenhum. Aí é que já não, a cabecinha dele já não me conseguiu acompanhar. Como é possível que ninguém me siga e, a ser assim, para que serve o seu blog avó?

Que pena ter desapontado o meu menino! Nunca ele soubesse que a avó tem um blog! (MFM)





15 de novembro de 2019

Estalagem I



A estalagem existente em Porto da Lage de que já falámos aqui e aqui, que beneficiava do facto de se localizar à   beira da estrada real , e da qual  tão bem nos falou Ilídio Mota Teixeira  que defendia que aquela se localizara aqui, teria, eventualmente sido criada em 1747, quando da licença concedida pela Câmara de Tomar, a  Manuel da Silva, "de Porto da Laje, para usar da sua estalagem no forma do seu Regimento, e poder vender cevada a 240 réis o alqueire, e palha a 20 réis a joeira"

Porém, neste assento de baptismo de António, em 1717, verificamos que os pais, João Jorge e Joana da Silva, moravam na Estalagem de Manuel Vaz. Este Manuel Vaz, morador no Casal de S.Silvestre, localidade da  freguesia de S.Silvestre, seria, então, dono de uma estalagem. Mas onde se localizaria ela? Uma vez que o assento abaixo consta na freguesia da Madalena, a dita estalagem só poderia pertencer a esta freguesia. Daqui resulta que Manuel Vaz era proprietário de uma estalagem sim, mas na Madalena. De outros assentos ficamos a saber que Manuel Vaz era pessoa muito presente em Porto da Lage, sendo padrinho dos filhos dos poucos habitantes aí existentes, a partir de 1703. Concluo eu, portanto, e acho que não especulo muito, que a estalagem do nosso (só pode ser nosso, já falámos tanto dele que a intimidade está estabelecida) Manuel Vaz só pode ser a estalagem de Porto da Lage, até porque na freguesia não tenho noticia de existência de outra. Assim sendo, a estalagem é mais velha do que se pensava, talvez já existisse no sec.XVII, e a licença de 1747, dada a Manuel da Silva, seria uma nova licença, um up grade, segundo um novo Regimento, quem sabe. (MFM)




13 de novembro de 2019

Outros tempos na Antiguidade




Já lá vão cinco anos (cinco, confirmei agora!) que falei aqui sobre o meu irascível e profético professor de Físico-Química, nos anos idos em que frequentei o colégio.

Revejo-o agora! Lá está ele conforme o recordo, só o chapéu está a mais, relativamente à figura que se passeava na sala, em frente ao quadro, reflectindo sobre os males do mundo em geral, e da gente que tinha à sua frente, em particular. O seu interlocutor mostra um ar sorridente ao ouvi-lo. Sempre é padre, quiçá mesmo um frade, cumpre o seu ofício!

Mas como para me mostrar que nem tudo era mau, vejo, também,  abaixo, uma figura querida de avô bonacheirão, culto, permissivo, compreensivo mas rabugento, truculento mesmo, quando provocado. Um homem aparentemente tranquilo, apagado até, que se empolgava a reviver as guerras da antiguidade, as Púnicas, a primeira, a segunda e a terceira, com o grande Aníbal dum lado e Cipião o Africano, do outro, a desfilarem à nossa frente, à compita com a do Peloponeso, com o  enorme Péricles, governante como nunca houve nem haverá outro, a defender a sua cidade (atenção! eram cidades-estado) contra a poderosíssima Esparta, já para não falar das do inexcedível Alexandre que, com o seu cavalo Bucéfalo, que só a ele deixava montar, fundava um império! O ambiente das aulas de História Universal (chamava-se assim a disciplina, salvo erro) indiciava, por vezes, também, um pré estado de guerra. O professor, todo embrenhado nas suas descrições das marchas de Aníbal mais os elefantes e na triste e lamentável devastação de Cartago, e as alunas que, faça-se-lhes essa justiça, conseguiam estar atentas meia aula mas não todas na mesma meia hora, transformavam a sala num receptáculo de um cochichar sistemático no qual sobressaía a voz grossa do mestre. Se, por acaso (graças aos Céus não aconteceu muitas vezes e por isso estou aqui para contar), ele acordava do seu enlevo e se apercebia do zum-zum à volta, a sua paciência de touro manso, que nos ouvia sempre, perdoava e consolava até, quando os outros professores se queixavam (era o director do colégio feminino), a sua paciência, dizia eu, esfumava-se e os berros saíam-lhe vibrantes da garganta, ou, muito pior, víamos soltar inesperadamente, qual leão sorrateiro,  aquele corpanzil enorme do estrado abaixo e correr aos tabefes quem lhe parecesse que tinha a boca aberta. Tabefes? aquelas mãos  não davam tabefes (observem-nas na foto e imaginem!). Um valente chapadão, o único da minha vida, foi o que eu levei, a ponto de me saltarem as lágrimas. E lá fiquei, mais humilhada que dorida, e a dor não era pouca! Que nem um pobre cartaginês escravizado às mãos de qualquer centurião romano! (MFM)











































Fotografias retiradas daqui .

11 de novembro de 2019

Capela de S.Sebastião



Eu, o meu pai e a minha avó nascemos na mesma casa, consta que no mesmo quarto, da rua de S. Sebastião, em Tomar. É uma rua insignificante, estreita e curta, que passa quase despercebida logo à direita de quem entra na cidade pela estrada de Paialvo. Tem, por isso, inicio na rua da Graça, a nossa casa era a primeira deste lado fazendo esquina, e vem, ou vinha, morrer na Várzea Grande. E digo, vem ou vinha, porque a Várzea Grande tendo diminuído com o tempo, parece estar, no momento em que escrevo, novamente maior depois de terem demolido a antiga "messe dos oficiais" que por ali esteve pouco mais de cinquenta anos ao lado da igreja de S.Francisco, e que, durante esse tempo "tapou" as últimas casas, casas pobres e baixinhas, desta minha rua, que, agora, como dantes, se encontram desafogadas, com vistas, outra vez, para a Várzea.

                                                             


O nome da rua dever-se-ia a esta ir dar à capela de S.Sebastião? Não sei, sei é que era o lugar de culto da minha gente, que, pelo menos desde o fim do sec.XVII vivia por esta zona, o Alto da Pissarra,  pela Rua dos Arcos e Várzea Grande, e aqui vinham à missa e participavam nas festas religiosas, um dos meus antepassados celebrou mesmo nesta "ermida" o seu casamento, em 1780, com licença especial, "precedendo alvará de fazamento e especial licença do ilustre reverendo Ouvidor Geral e administrador da Prelazia Frey João Alves do Couto". A minha avó e a irmã contavam-me das imagens dos "santos" que lá existiam, uma das quais, de que me não me lembro o nome, estava entregue à minha tia que tinha a seu cargo lavar-lhe e passar a ferro as vestimentas de seda, veludos e rendas, coisa trabalhosa mas de que muito se envaidecia, uma vez por ano,  de forma a ficar toda catita para não sei que solenidades do calendário católico (quem dera ter estado mais atenta ou ter tomado notas!).
Esta capela ficava aproximadamente onde hoje se encontra a estação de caminho de ferro, numa alameda ao fundo da Várzea Grande (na fotografia abaixo contornei a vermelho o local provável), onde também se situavam um coreto e um jardinzinho dentro do qual "se levantava uma agulha de pedra", cujo significado tanto Alberto Pimentel como João Maria de Sousa ignoravam (ver abaixo extractos dos seus livros). 
Esta "agulha de pedra" já em 1712  era mencionada pelo Padre António Carvalho da Costa na sua Corografia Portuguesa, como o magnifico padrão da Várzea Grande  que é uma agulha sobre dez degraus com as quinas reais e no remate uma cruz sobre uma esfera.
A origem deste padrão, diz-nos Amorim Rosa (ver abaixo texto), estará no reconhecimento da Câmara de Tomar a Filipe III  por este rei ter decidido a favor daquela numa pendência mantida com a Ordem de Cristo. Actualmente, designado de padrão filipino, encontra-se no centro da Várzea Grande.(MFM)



Fotografia de Silva Magalhães c.1870


A vermelho o local onde se situaria a capela e o padrão filipino, em 1870


O mesmo local no inicio do século XX.




O padrão Filipino ainda no local anterior mas, aparentemente, já sem a capela de S.Sebastião.




Alberto Pimentel, "Portugal Pittoresco e Illustrado, A Extremadura Portuguesa, Primeira Parte, O Ribatejo", pag. 437. Empreza da História de Portugal, Lisboa, 1908




Extracto da pag. 12 de Noticia descriptiva e histórica da cidade de Thomar, 1903, de J.M.Sousa





Padre António Carvalho da Costa, Corografia Portuguesa, etc., 1712, Tomo III, pag.155 (extracto)

«Em 1562 a Ordem Franciscana do Convento de Santa Cita, que já tinha uma casa em Tomar, onde convalesciam os seus enfermos, porque era seu desejo edificar um Convento na vila, veio a conseguir licença régia e a cedência do terreno necessário na Várzea Grande, por parte da Câmara.
Todavia, como o então Grão Mestre da Ordem de Cristo se opôs à cedência do terreno, declarando que a Várzea Grande era propriedade da Ordem de Cristo, a Câmara não se conformou e levou a questão aos tribunais.
O processo arrastou-se por mais de um ano, até que em 15 de Maio de 1624, Filipe III decidiu a favor da Câmara, o que levou a edilidade, como reconhecimento do que entendeu ter sido “uma justa sentença”, a mandar erigir, em 25 de Novembro de 1627, um padrão (padrão filipino) ao meio do velho Rossio da vila, actualmente na zona central da Várzea Grande, para onde foi transferido há anos.
Os Franciscanos foram então autorizados a edificar o Convento, com a condição de não abandonarem o velho Convento de Santa Cita.
Iniciadas as obras em 1625 (e não 1628 conforme consta na lápide), o Convento de S. Francisco veio a ficar concluído em 1660, com a construção da torre, mandada fazer pelo reverendo padre Manuel Esperança, então ministro providencial…»

O Padrão Filipino na localização actual
Fotografias de fundo Silva Magalhães, Gabinete de Curiosidades de Tomar, identificadas e deste Blog.