Si hortum in biblioteca habes deerit nihil

Si hortum in biblioteca habes deerit nihil
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2 de julho de 2013

Ao que chegámos

 

Isto é tão degradante  que nem consigo ser cínica.





  Deve chamar-se tristeza                                                         
  Isto que não sei que seja
  Que me inquieta sem surpresa
  Saudade que não deseja.
  Sim, tristeza - mas aquela
  Que nasce de conhecer
  Que ao longe está uma estrela
  E ao perto está não a Ter.

 Seja o que for, é o que tenho.
 Tudo mais é tudo só.
  E eu deixo ir o pó que apanho
  De entre as mãos ricas de pó.

Fernando Pessoa

21 de junho de 2013

Juventude na Azenha


 Junto à mina da Azenha (sensivelmente em frente, do outro lado do estradão) existia (destruído nos anos sessenta) um " enorme tanque  rectangular para onde corria a água da nascente  [que] daí iria alimentar a azenha e ainda regar as terras de cultivo" ao lado do qual foi tirada esta fotografia com jovens portalegenses, em 1937. As duas crianças sentadas à frente, a contar da esquerda, são os nossos conhecidos e grandes amigos deste blog os irmãos Ilídio e Dulcinda Teixeira.


Fotografia cedida por DMT




20 de junho de 2013

Debaixo do Carvalho



















mina da Azenha (curioso que em Porto Mendo, por onde o acesso para lá chegar é mais fácil, lhe chamam  a-sse-nha, com a sílaba sse bem acentuada) onde nasce a água que foi canalizada  para Porto da Lage  em 1950.





19 de junho de 2013

Clero, Povo e Sobejos de Carne


Açougue do Clero

«Na Sessão de 28 de Março [de 1813], sendo presentes os Representantes e o Juiz do Povo desta Vila, mandados convocar pelo Acórdão último para responderem à Provisão Régia, ouviu-se a súplica que o Clero desta Vila dirigiu a Sua Alteza Real para poder vender ao público os sobejos da carne do Açougue que, por Privilégio, o mesmo Clero tem; foi pelos presentes unanimemente dito que tal concessão não convinha ao Bem Público não só por haver Açougue próprio dele e arrematado por esta Câmara, mas também porque os recorrentes pretendem que o Povo lhe gaste os Sobejos da carne que eles não puderem gastar e, por consequência, não pode por tal forma o Público ser deste modo bem servido, nem era decente o irem fazer aquelas compras, muito mais havendo Açougue Público, que supere muito bem todo o fornecimento preciso.
A Câmara acrescentou que isto iria defraudar a boa fé em que o marchante público se acha, pela arrematação que fez na Câmara...»*


*Sessão da CMT descrita nos Anais do Município de Tomar, 1801-1840, Amorim Rosa

7 de junho de 2013

"Boys" de Antanho em Caça aos Lobos


 


Sir Edwin Landseer (1802, 1873), Fox and Wolf Hunting
Na Sessão de 8 de Janeiro [1813] a Câmara satisfazendo ao Ofício do Monteíro-Mor do Reino, sobre um requerimento de Rodrigo Jácome Raimundo de Noronha a fim de o nomear Monteiro-Mor do Distrito, informou:
«....Que os requisitos recomendados no Ofício do Monteiro-Mor do Reino se encontravam realmente no mesmo requerente, por ser dotado da mais bela capacidade, duma gravidade e desembaraço que o fazem digno de qualquer emprego. Que a sua Nobreza é das mais antigas e qualificadas desta Vila. Que é sucessor duma grande casa. Que nesta Vila tem a sua residência, sem que haja presunção de que ainda de futuro largue o seu antigo Solário. Que a precisão de Monteiro-Mor nunca se fez sentir tão necessária; porque os lobos e bichos são tantos, e vagueiam tão atrevidamente que não só têm entrado em muitas aldeias e casais do Termo, aonde têm comido os mesmos cães de guarda desses casais, mas até têm chegado aos mais próximos arrabaldes desta Vila; asseverando muitas pessoas terem-nos visto dentro das suas ruas; sendo pelo menos certo que próximo a ela tem sido visto algumas pessoas atacadas e acometidas por eles, e por isso persuadem seria muito conveniente a promoção deste Ofício, que se acha vago por morte de Leonardo Camelo de Carvalho, declarando-se ultimamente que o recorrente nem é miliciano nem nos consta que para isso fosse chamado. E que em vista disto é de deferir o requerimento*




*Sessão da CMT, descrita nos Anais do Município de Tomar, 1801-1840, Amorim Rosa

6 de junho de 2013

Cartelização das Câmaras ou Jornaleiros Especuladores



J.F.Millet (1814, 1875) Angelus, Museu D'orsay


«...Mais se deliberou nesta Sessão [4 de Maio de 1814], que devendo esta Câmara promover, na conformidade da Ordenação, L.O I Título 66 § 32, sobre a taxa dos jornaleiros, receia justamente dar esta Providência de seu ofício, temendo qualquer alteração que traga nos preços correntes nestas Vilas Comarcãs, uma vez que não seja unanimemente e ao mesmo tempo feita por todas, possa privar aquela aonde somente se faça dos braços precisos para a agricultura, porquanto os jornaleiros procurarão os sítios onde os preços lhe sejam mais favoráveis, e fugirão daqueles em que lhe sejam menos, e seria neste caso a providência assim dada na sobredita luz nociva ao Público. Para evitar portanto este sério inconveniente, se determina que se oficie ao Intendente Geral da Polícia, relatando as circunstâncias políticas a este respeito, e implorando-lhe que por efeito da sua autoridade haja fazer com que as Câmaras desta Comarca de Ourém Santarém e Alenquer, como vizinhas, satisfaçam a sobredita Ordenação, dentro de certo prazo, a fim de haver igualdade em todas as partes nos preços dos jornaleiros, regulada segundo as circunstâncias particulares das terras e dos preços dos géneros comestíveis, cujo módico preço é desvantajoso aos lavradores relativamente à carestia nunca vista, do preço dos jornaleiros.»


Sessão da CMT, descrita nos Anais do Município de Tomar, 1801-1840, Amorim Rosa

31 de maio de 2013

Apuramentos e multas de há cem anos


O cidadão portalegense João Pereira da Mota é apurado definitivamente para infantaria para servir a Pátria em 1912 (por motivos desconhecidos não vai à guerra) mas fica obrigado a reinspecção a que comparece em 1916, 1917, 1919 e 1920. Em 1918 só o trabalho (ou o desconhecimento) o poderá ter impedido de se deslocar a Tomar para aquele efeito, pelo que foi obrigado a pagar um escudo e vinte e um centavos de multa pela falta!
Se os benefícios da ausência não foram superiores ao custo da multa, imagino quanta penitência não se seguiu até redimir o saldo negativo!(MFM)






28 de maio de 2013

27 de maio de 2013

O Açude

As quedas de água na Ribeira da Beselga em Porto da Lage, nos anos cinquenta e em 1985 (última fotografia). Notam-se as diferenças.




 


Fotografias de Dulcinda Mota Teixeira. 

24 de maio de 2013

Os Pregões da Paciência nas Badaladas da Velhinha Santa Margarida


Este pequeno texto é dedicado aos Portalegenses de gema no qual tento recriar episódios que, embora banais, ajudam a dar um retrato do que era Porto da Lage nos anos 30.

Tremo….oooooooooooooços!!!..




Marco da Paciência

 Apregoava uma pobre mulher, aos Domingos em períodos estivais, tremoços adoçados nas águas da ribeira, dentro dum pequeno alguidar de barro que colocara em cima do marco de pedra, dito da paciência, que está junto das grades de ferro que ladeiam o largo da estação.

A dose, uma pequena medida de madeira com um fundo muito grosso e embutido, custava 20 centavos, 2 tostões como então a moeda era conhecida. Era uma fortuna para mim. Entregava-se a moeda ou moedas, podiam ser duas de 10 centavos ou de tostão, aparavam-se as mãos em formato de concha ou o bolso das calças e estava-se atendido. Depois é só dar-lhe uma dentadinha, premi-lo com o dedo polegar e o indicador e logo estava pronto para ser mastigado.

As medidas que doseavam na venda ambulante de tremoços e amendoins tinham uma característica muito curiosa: aparentavam grande capacidade por fora mas eram bem mais pequenas por dentro. Era a velha arte de lograr o consumidor.



O velho marco da paciência que hoje está torto mas bem direito quando a humilde senhora lhe pousava o alguidar com tremoços, deve ter servido para outros serviços mais nobilitantes noutros lugares mais distantes. Alguma informação terá para nos dizer. Não se destrua como também não se devia ter destruído a mais que velhinha capelinha de Stª Margarida, no cume do monte a que deu o próprio nome. Seria talvez a orada mais antiga da freguesia. A que a substituiu é uma simples construção com 4 paredes caiadas, sem qualquer valor histórico.



                       Juventude portalegense no monte de Santa Margarida em  1952 (fotografia cedida por DMT)


Da inesquecível velhinha, muito velhinha Santa Margarida, ainda soam no ar as vozinhas de algumas crianças que diziam em coro e voz alta as ladainhas incompreensíveis, para elas. Entre os mesmos sons também se ouve o badalar do pequeno sino que do cimo da frontaria voltada para Poente, anunciava algum triste acontecimento ou convidava alguns crentes para as orações no período da quaresma

A pobre Margarida, mártire do sec. III d.c., degolada em Antioquia por se afirmar cristã, não terá abençoado os “bota a baixo o que é velho e bota a cima mamarracho que é coisa nova, moderna”.(Ilídio Mota Teixeira)

23 de maio de 2013

A Diáspora Portalegense

 " um palmo de terra para nascer, um mundo inteiro para morrer".
Padre António Vieira


Outro dia encontrei um DeSousarosa (assim mesmo) no facebook (para os detractores e desconfiados da coisa por a acharem invasora, sempre direi que o preconceito é muito mais, para além de nefasto não tem mais utilidade nenhuma). Pois perguntei ao tal DeSousarosa, que lá está inglesando pelas américas com barbecues, festas de graduação de filhos e mais tudo a que tem direito e a gente vê nos filmes, se tinha alguma relação com Porto da Lage, resposta (em português, que em português tinha sido a pergunta):
- sou Mota e  meu bisavô foi instrumental no estabelecimento de Porto da Lage.

Pelo que me enchi (mais) de razão. Não interessa a vestimenta cultural, as raízes transportam-se, preciso é conhecê-las.(MFM)