Si hortum in biblioteca habes deerit nihil

Si hortum in biblioteca habes deerit nihil
Todos os textos aqui publicados podem ser utilizados desde que se mencione a sua origem.

15 de março de 2015

Senhora Vizinha





Capa da Revista Serões, Novembro de 1906.
  Senhora vizinha           o seu gato deu
uma sapatada
na cara do meu

Senhora vizinha
ralhe com o seu gato
que a minha gatinha
anda a namorá-lo

Senhora vizinha
ralhe com o seu frango
que vem cá pra casa
dançar o fandango.






(continuação das poesias populares co(a)ntadas pela tia Alice)

14 de março de 2015

Dia de Aniversário

Frederick Daniel Hardy (1827-1911)- Baby's Birthday (1867)

-Sobre Porto da Lage? Mas o que é que há a dizer sobre Porto da Lage? -Espantava-se um jovem quando transmiti a minha ideia peregrina sobre o blog. Hoje, três anos passados sobre o primeiro post, sou eu quem se espanta por ainda aqui andar. É certo que nem sempre o que aqui se publica é sobre Porto da Lage, que, às vezes, não resisto e lá me desliza o pé para a chinela daquilo que me rodeia. Uma inevitabilidade de estarmos vivos e de termos esta tendência para pensarmos e mostrar a nossa opinião. Mas enfim, faço por me conter e a maioria dos posts são sobre o tema e se não são, paciência, afinal quem manda sou eu. Outro motivo para a "duração" do blog são os longos períodos de intervalo; afinal, em três anos só foram publicados 290 posts (estatística do blog diz, e eu acredito), o que, feitas as contas para mostrar serviço, até nem seria assim tão mau, equivalendo, sensivelmente, à saída de um post de quatro em quatro dias (estatística minha que vale muito pouco pois este é um dos casos em que a média não se aplica, por não representar quase nada). As "paragens" foram, de facto, longas e só não se tornaram definitivas graças a quem me lê. Não fosse o interesse manifestado por quem faz o favor de acompanhar este blog e ele já teria chegado ao seu destino.
Dei inicio a este blog porque tinha recolhido um pequeno acervo sobre as origens de Porto da Lage e sobre a estação de Paialvo e achava que devia partilhá-lo.
Porto da Lage é um dos casos raros do nosso velho Portugal, uma povoação da qual, escarafunchando bem, quase se pode saber em que dia nasceu. É um produto da revolução industrial, do tardio desenvolvimento dos transportes, do Fontismo, depois, do condicionamento industrial do Estado Novo. Num país como o nosso, onde as preocupações com as origens mais recentes ascendem aos Godos e as mais antigas aos dinossauros (não, não estou a confundir as coisas, na história de todos os dias, já não se estabelece diferença entre gente e "não gente"), questões destas são irrelevantes. Ao contrário dos países novos da América e da Austrália, por exemplo. Basta procurar na net para encontrarmos inúmeros blogs com a história de cidadesinhas brasileiras, nascidas no sec.XIX, em que, para eles uma velha fotografia ou um ferrolho de porta é uma peça histórica de valor incalculável.
Este meu interesse "académico" por Porto da Lage, que se esgotaria em pouco tempo porque eu pouco mais teria a dizer, foi, felizmente, acompanhado pelas emoções e pela memória de quem lia o blog. Embora este blog não seja, não quero que seja, "um roteiro da saudade" (será "de memórias" senão puder ser outra coisa - o facto de não viver em Porto da Lage dificulta trazer para aqui coisas do presente) pois recuso-me a meter Porto da Lage algures, noutra dimensão, e pôr este blog a fazer  de máquina do tempo para lá ir em visita. Porto da Lage existe no espaço e teve, tem e terá uma vida, como todos nós, que se desenvolve no tempo. Não existe no tempo de quem lá viveu esse tempo. Ou existirá, mas eu não partilho essa vivência. Por isso digo que este blog não é "um roteiro da saudade", não porque tenha qualquer hostilidade contra a saudade ou contra quem tem saudades. Exemplo vivo desta forma de ver as coisas é, já o disse aqui, Dulcinda Mota Teixeira, com uma memória prodigiosa sobre Porto da Lage e uma profunda preocupação com Porto da Lage e há mais como ela, afinal de contas Porto da Lage é habitada, não é propriamente Pompeia.
Expressa a origem do blog e a sua intenção, que ainda não tinha aqui referido, resta-me agradecer a todos os que contribuíram para que ele se mantenha. A todos os que enviaram comentários, sugestões e felicitações, quer directamente para o blog quer de outras formas, muito, muito obrigada, espero não os vir a desiludir. Aos que colaboraram, também agradeço, reconhecida, o esforço e a generosidade. Não posso, ainda, deixar de mencionar três pessoas especiais: os irmãos Dulcinda e Ilídio Mota Teixeira que, com as suas crónicas, não deixaram morrer este blog em determinado momento e H.C.M (como nunca sei como hei-de escrever, primo, desta vez vai com siglas) que, com a sua simpatia, várias vezes me incentivou a continuar. Bem hajam todos.(MFM)




12 de março de 2015

Oh que lindo rapazinho


José Malhoa, A vizinha



Oh que lindo rapazinho                             
toda a noite aqui andou
eu queria falar com ele
minha mãe não me deixou

Minha mãe não me deixou                                    
ó que sisma de mulher
eu hei-de falar com ele
quantas vezes eu quiser

Quantas vezes eu quiser
quantas mais me apetecer
começo de madrugada
e acabo ao escurecer

Toda a noite aqui andou
toda a noite a passear
ó que lindo rapazinho
para comigo casar.

 (continuação das poesias populares co(a)ntadas pela da tia Alice)

10 de março de 2015

Lisboa Luminosa


Eu gosto de Lisboa. Mais bem dito, porque é a verdade - eu adoro Lisboa. Há, debaixo do sol, luz tão linda como a dela  (tive ocasião de ver quase igual nas antípodas) mas não tão terna, tão aconchegante. É uma luz que não resplandece nem exalta como o ouro, por isso fria e distante, antes ilumina, acariciando tudo em que toca, desde a planície macia do Tejo e a das pedras da calçada até às almas dos transeuntes que têm a felicidade de serem trespassados por ela. Um dia, se me der para aí, hei-de falar deste amor de quarenta anos, que, como em todos os amores, já se deixou de encantar só com a beleza. Por agora, vem este meu arrobo apaixonado a propósito desta imagem que encontrei, do final do sec.XIX, de O António Maria, e dos nervos que já começam a atacar alguns lisboetas por causa de excesso de turistas que "assaltam" todos os dias a cidade, e a transformação que, por via deles, a está a transformar numa diversão pegada.
Propunha em 1891 Rafael Bordalo Pinheiro que, em vez de "se vender Moçambique que talvez seja uma coisa triste", [para prover à eterna divida] se alugasse Lisboa à batota universal, que "será com certeza uma coisa alegre e nos permitirá prolongar indefinidamente este nosso dulce far niente" [os chamados países do norte não diriam melhor sobre nós, nos dias de hoje].
E descreve as alterações necessárias, vale a pena ler, que, comparadas com o que estamos hoje a ver em Lisboa, fazem pôr os cabelos em pé, pela premonição, àqueles que acham que a "identidade" se está a perder e que a bela capital se está a transformar num parque de diversões. Eu, por mim,  gosto de Lisboa incondicionalmente . (MFM)


O António Maria, n.º 309. 18.06.1891





8 de março de 2015

Grande Velocidade!

Grande Velocidade! Ironizava o jornal A Verdade com a demora da chegada das encomendas à estação de Paialvo causando grandes prejuízos " a todos os ramos da industria" e muito mais, pois até o comerciante de louças das Caldas  ficou com os barros e faianças sem clientes, na Feira de Santa Iria, por não terem chegado a tempo.
Mas se a lentidão era causadora de grandes queixas, a ponto de a fazerem rivalizar com (carros) alentejanos (já então os nossos compatriotas compadres  eram vitimas destas comparações? vem de longe a injustiça e o vitupério!), as ditas queixas não se ficavam por aí. A estação, "uma das mais importantes", estava num estado "vergonhoso", com cais descoberto e pequeno para tanto tráfego. Sem dúvida, "não é só com comboios de luxo que se acredita uma companhia", que o digam os utilizadores da Linha de Sintra aos dos Alfa, 150 anos depois.



Jornal A Verdade 7.11.1886



Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha, 1887 retirado daqui

Jornal A Verdade 21.10.1888

Feira semanal de Tomar, 1872-1896 retirado de Memória Digital de Tomar (seria aqui a Feira Anual? Quem sabe?)








7 de março de 2015

Discurso (Remarcante)

(continuação)

-Não assino!
Foi a única frase que o marco pronunciou quando lhe levei o papel selado; fiz-lhe um discurso ao coração (e vós percebeis quão persuasivo eu posso ser), mas ele tem um coração de pedra e não se (co)moveu um milímetro sequer.

Vale a pena tentar demover/comover uma pedra? (a falar nisso, fizeram bem em a remover e a voltar a colocar aqui).

-Não assino!

Voltei à capital para ver se conseguia inaugurar sem a sua assinatura; voltei ao mesmo sítio.
Desta vez, uma senhora bem mais simpática leu o alvará e depois de fazer alguns estranhos esgares, pediu-me para ir falar com o chefe; daí a pouco, era uma data de gente de volta dela, do chefe e do documento; a risada era geral. Não percebo que piada podia ter um alvará, mas que se riam, riam.
Voltou a senhora e perguntou-me quando tinha comprado o documento e se tinha sido na Feira da Ladra.
-Ó minha senhora, esse documento anda na minha algibeira há mais de cem anos, foi assinado por Sua Alteza Real, ou por alguém em seu nome, aliás pode verificar que tem aí o meu nome!
- Pois, o sr é o tal que já faleceu há umas dezenas de anos... Lamento, mas a repartição que trata do seu caso será talvez no Miguel Bombarda.
-E esse Largo, presumo que seja Largo, fica perto?
- Fica para os lados do Campo de Santana.
E lá fui eu à procura da repartição no edifício, não era um largo, Miguel Bombarda que encontrei facilmente. Não parecia mesmo nada uma repartição das Obras Públicas, mas lá procurei um guichet.
-Este seu atestado já não é válido, tem de pedir um novo ao seu psiquiatra
-Desculpe minha senhora, deve haver um lamentável equívoco, eu não tenho nem careço de psiquiatra; quem assinou esse “atestado” foi Sua Alteza Real, ou alguém em seu nome. Só aqui venho para o renovar.
-Queira aguardar que já tratam de si, pode sentar-se nessa cadeira.
Lá me sentei, mas algo me pareceu deslocado; nisto apareceram quatro enfermeiros (vim a sabê-lo depois) que me enfiaram dentro duma camisa de forças (vim a sabê-lo também). Enfiaram-me dentro duma cela almofadada (Pois, consideravam-me doido, doido só por pedir a renovação dum alvará?)
Felizmente que o psiquiatra me considerou, não “não louco”, mas “não perigoso” e me deixou sair da cela, mas não do Hospital Psiquiátrico (era aonde eu próprio me tinha conduzido). Chamavam-me o D. Quixote de lo marco, cavalheiro da triste figura.
Eu nem me importava, a minha missão tinha acabado, o marco continuava por inaugurar...
Com o tempo permitiam-me umas saídas.
Entretanto, numa madrugada de nevoeiro, ouviu-se:
-Aqui posto de comando do movimento das forças armadas...
Não percebi bem o que sucedeu, mas percebi que já não era necessária a tal declaração, que se podia fazer a inauguração. Fui radiante à estação de Sta Apolónia comprar o bilhete, enquanto estava na bicha (fila para quem preferir) ouvi dizer que andavam a prender os ministros do antigo regime; ora penso ser o único ministro do antigo regime; que este que acabou de cair, velho, de podre nunca o podia ser.
Quando o bilheteiro me perguntou para onde queria o bilhete, respondi:
-Para o Brasil.
-Vexa é o Pantaleão? Que eu saiba só esse conseguiu ir ao Brasil de comboio. Mas se quer mesmo um bilhete para lá, paga mais e vai de barco (que os outros foram de avião!).
Eu que não tinha pressa, aceitei, fui num cargueiro.
Eu sei que se fosse banqueiro, ou mesmo político do regime que tinha caído, voltaria rapidamente com os bolsos cheios, mas como só era um ex-ministro dum antigo regime, continuei por lá a vegetar. Valeu-me o Real Gabinete Português de Leitura, pois foi de leitura que me alimentei todos estes anos; também lia os jornais que vinham da Pátria.
Foi por eles que soube da pseudo descoberta do marco; pseudo que só eu já lá tinha ido duas vezes.
Consegui que outros leitores reunissem o necessário para regressar à pátria (de avião - acreditem, voei); em Sta Apolónia o mesmíssimo bilheteiro perguntou-me se queria outro bilhete para o Brasil, que não, que o queria para a estação mais próxima de Vila Nova de Ourém (não podia adivinhar que estava tudo na mesma). Saí no apeadeiro de Seiça, chamei o meu valoroso cocheiro que se tinha dedicado à agricultura e ala que se faz tarde e aqui estou!

Nisto a multidão desata num tal aplauso, nuns VIVAS a D.Quixote de lo marco, cavalheiro da triste figura, que tive de meter a viola no saco e ceder-lhe a honra da inauguração.
Tenho de reconhecer que o tipo me conseguiu bater aos pontos, que conseguiu contar melhor a estória do que se tivesse sido eu a contar; até nos podia ter convencido de ser verídica, que a tinha mesmo vivido; mas se eu tentasse levantar a lebre, só levava com o rótulo da inveja.
A cerimónia acabou com o Hino de Payalvo e Nacional.
Há marcos que merecem.   
RIP

 (lm)




As caras expressivas dos membros da Filarmónica Paialvense no final da inauguração, e do discurso.

6 de março de 2015

Discurso (Remarcante)


(continuação, talvez seja bom reler o penúltimo episódio- nota do blog) 

.....Só que já não ia a tempo (continuou ele como se nenhum tempo se tivesse passado), tinha caducado o alvará que me permitia ser inaugurador; como todos sabem, só podia valer, no máximo 100 anos, é como os casamentos.

A multidão suspirou uns imensos OHHHH e AHHH... aldrabão, mas não se percebeu o final. E ele continuou:
Ainda vim até ao marco tentar que me deixasse inaugurá-lo...

-Se estou há mais de cem anos para ser inaugurado, exijo uma banda e um Presidente, pelo menos, e claro, muito povo! DAQUI NÃO SAIO! 

Ainda vim até ao marco tentar que me deixasse inaugurá-lo...     - DAQUI NÃO SAIO!
Fui pois até à capital tentar resolver o assunto nos ministérios.
Antes passei por casa, fui corrido por alguém que podia ser meu neto; que não me conhecia de lado nenhum, e que se eu era quem dizia ser, ainda me corria com mais gana, que a avó não se cansava de se queixar do marido que a tinha deixado sem sequer um “vou ali comprar cigarros”.
Dirigi-me então ao Ministério das Obras Públicas, um porteiro interpolou-me:
-Que deseja?
-Falar com o sr ministro, respondi.
-Tem audiência marcada?
-Mas é só para revalidar um alvará.
-Revalidações de alvarás não são aqui, talvez na Secretaria-Geral, isso fica na rua...
-Muito obrigado.
Ainda tentei demorar na esperança de me cruzar com o ministro... educadamente correu comigo.
Cá fora um guarda autuava o meu cocheiro por estacionamento indevido, e por o cavalo não usar fraldas; um cavalo que já vinha da monarquia, e queriam pôr-lhe fraldas? Não me contive e dei umas bengaladas no polícia. Fui preso. Pelo menos levaram-me à esquadra.
-Identificação?
-Fulano de tal, Ex-ministro das Obras Públicas do governo de Sua Majestade.
-AH-Ah-Ah, carregou numas teclas com letras e apontou-me para uma coisa que apresentava uma lista de ministros de Sua Majestade.
-O sr. é algum destes? Qual?
Apontei para o meu nome e ele rebolou a rir. Um polícia a rir-se daquela maneira desrespeitosa...
-Está a ver estes dois números debaixo do “seu” nome? Pois o primeiro indica-nos o seu nascimento, e o segundo, a data do seu falecimento. O sr, se é mesmo o sr. que diz ser, já faleceu.
-Pode lá ser, reconheço que andei pela província alguns anos, mas isso não é razão para ter falecido, para me darem por morto! E, fazendo as contas, até era bem vivo quando “me” faleceram. Presumo que a minha família tenha usado a faculdade legal de me declarar morto ao fim de 7 anos, na verdade esperaram bem mais.
-Olhe, quer que lhe seja honesto? Desampare-me a loja antes que o mande internar?
-Internar? Aonde? Eu só quero mesmo que me carimbem o alvará.
-Carimbo-lhe mas é a cara, ponha-se na rua.
E lá tive de sair, vejam como tratam um ex-ministro de Sua Majestade (felizmente não paguei a multa, agora usam uma moeda que desconheço; tenho de ir ao câmbio, mas primeiro tenho de ver se me pagam alguns contos de reis por conta).
Dirigi-me à tal rua supracitada em que ficaria a secretaria-geral, estava fechada, mas abriria daí a pouco; aproveitei para apreciar o trânsito, na verdade já quase se não viam carros de tracção animal. Pior, já nem cocheiros existiam; eram os próprios utentes que conduziam as carruagens; coisa mal pensada, as ruas estavam pejadas de carruagens paradas sem condutor. Se tivessem cocheiros, estes poderiam levá-las de regresso a suas casas enquanto os proprietários estivessem nos seus afazeres. Há deles que despendem mais de 10 horas diárias por Lisboa, vejam a quantas carruagens paradas isso corresponde; felizmente que já não têm cavalos; estariam a trabalhar?
Lá entrei, uma data de letreiros por cima de cada guichet, procurei, procurei mas nenhum vi que me parecesse corresponder às minhas necessidades, por falar nisso... não vou aqui falar nisso.
Escolhi um, quase ao acaso, na verdade escolhi-o por estar quase livre.
Esperei, esperei e por fim, lá apresentei o meu caso; a senhora que me atendeu, perguntou-me se já tinha assinado a declaração,  que sem ela nenhum funcionário podia ser atendido. Bem tentei explicar-lhe que era só para poder inaugurar o marco.
Que teria de assinar uma declaração, tanto eu como o marco!   (lm)

(continua)

5 de março de 2015

Discurso (Remarcante)

(continuação)

[É isto que me irrita, anda um tipo há anos a tentar criar leitores e vem-me um ex-ministro e não só consegue manter em suspense (leia-se como se lê suspensórios) os “meus” magros leitores, como uma imensidão de gente, Payalvo em peso, a banda perfilada, Portalagem que embora com muito pouco peso actualmente, tem uma data de gente que por lá passou ou vai passando, e tanta gente mais que a polícia teve de cortar o trânsito da estrada real nº 15.Se fosse eu a escrever, não conseguia nem uma parcela deste suspense que faz com que os autores possam manter viva nos leitores a chama das suas novelas.Começa a apoderar-se de mim um pecado, não sei se mortal, se capital, se real mesmo, o da inveja!Começo a sentir uma necessidade imensa de desacreditar o orador que me chamou mentiroso.Começo a tentar a introduzir o veneno da suspeita no seu auditório, será real este ex-ministro?Começo a tentar adivinhar como vai ele descalçar a bota de demorar mais de meio século a percorrer um caminho que mesmo a passo de cavalo não leva mais que algumas horas.
Recordo que ficámos no “Só que...” e aqui estamos nós ainda no mesmíssimo impasse.
É que nem é pr'a ver a banda passar, que ela, a de Payalvo, continua perfilada, imóvel, o mesmo acontece ao maestro, mas, pasme-se, também acontece a toda aquela multidão; até eu estou sem fala...Sim estou estático fisicamente, que o meu cérebro fervilha, antecipando o que ele vai dizer.


........a de Payalvo continua perfilada e imóvel enquanto o cérebro do autor fervilha 


Passou por aqui? Viu este marco? Não o viu? Fez que não viu?
Não passou por aqui? Enganou-se? Foi retido? Voluntária ou involuntariamente? Voltou atrás?
Já viram a quantidade de hipóteses a que tenho de saber responder?
Espero que não recorra a Einstein, e à teoria da relatividade, isso não sei eu rebater.
O mesmo acontece se aventar algum rapto por extra-terrestres (OVNI/UFO), ou mesmo almas doutro mundo.
Continuo convencido de que só tentou prolongar o pagamento das ajudas de custo, daí ter aparecido a reivindicar a inauguração. Sim que sendo outro a inaugurar, quem lhe pagaria as ajudas de custo por tal tarefa?
Mas não posso falar disso sem primeiro o ouvir até ao fim; e ele pôs-nos em suspense; e assim estamos... firmes e hirtos...
Mas, no meu caso, com os neurónios a ferver.
Veio por aqui?
E não viu, dir-nos-á ele com olhos doces? E que, ao passar na fronteira dos distritos, estavam a colocar um indicativo disso mesmo e não viu este enorme marco?
Na verdade, a placa que em ambos os lados diz: “Direcção de estradas do distrito de” e dum lado acrescenta “Santarém” e do outro, “Leiria”, fica do lado contrário da estrada; Se duvidam, andem 100 metros na direcção de Leiria; Acresce que já lá passei muitas vezes e nunca vi este marco...
Mas se passou e não viu, terá muito que contar do tempo que resta, havemos de lhe pedir para mostrar os recibos que espera apresentar para justificar as ajudas de custo.
Mas se passou e viu, o caso muda de figura, queremos tudo muito bem contado, quero vê-lo a meter os pés pelas mãos. Quero ver como descalça esta bota (ou será “esta luva”?).
Ainda nos vai cantar a canção do ceguinho, que não podia proceder à inauguração sem a pompa que se impõe, sem uma banda à altura; que não tinha pensado na banda de payalvo, mas que até era boa ideia; que tinha andado todo este tempo a recolher as necessárias licenças; e com esta era bem capaz de nos convencer; a falar em licenças, espero que o presidente da junta tenha tratado disso, que eu só pensei no improviso (e nas palmas que lhe sucederiam).
Fez que não viu?
Acho que essa hipótese nunca ele vai usar, mas tenho de estar preparado para tudo; e o povo aqui presente não comeria qualquer justificação.
Não passou por aqui?
Enganou-se?
Passou por outro lado? Mas [...] indicou-lhe tão bem o caminho: Não há que enganar, segue esta estrada até Ourém, atravessa a vila e segue a estrada para Leiria...

Agora me lembro que Vila Nova de Ourém, como o próprio nome indica, não é Ourém; que já foi Aldeia da Cruz. Só há pouco tempo (estou a falar ao tempo da inauguração inaugural) a sede do Concelho mudou de Ourém para a Vila Nova, o facto pode não ter sido pacífico. Imagino que tenha perguntado a alguém se a terra era Ourém e que lhe respondessem que Ourém ficava no cimo do monte, e lá tivesse ele ido ao engano e que tenha tomado outro caminho para chegar a Leiria. Isto seria desculpa suficiente, não fora o tempo. Esse enorme gigante que ele engoliu. Espero pela explicação. Ai perde pela demora, perde!

Foi retido? Voluntária ou involuntariamente?Numa pequena aldeia como a minha, rapidamente se saberia da presença duma real figura na terra; Ainda por cima um ex-ministro. Imagino que muita gente quisesse recebê-lo, ou por ele ser recebido...
Estou a imaginar que passaria pela Junta de Freguesia, pela Câmara Municipal de Vila Nova de Ourém...cujo povo teria barrado a estrada para não deixar passar tão ilustre figura, na junta ofertar-lhe-iam um livro “Seiça, a terra e o povo”, de David Simões Rodrigues, que não deixará de relatar os pormenores do sucedido.Mas continuaríamos a desconhecer o que lhe sucedeu em todo este tempo.
Continuo com muitas suspeitas sobre o homem, que querem? Roubou-me o suspense!
Na verdade o que me roubou, foi o silêncio, mas acho que fica melhor deixar o “suspense”.
Estamos num tempo em que mesmo um ex-ministro podia ser preso sem culpa formada; não imaginam a quantidade de gente que desaparecia sem sequer ser presente a um juiz; é evidente que a polícia política nada temia dos monárquicos, mas primeiro tinha de garantir a realeza do ex-ministro; se um ministro pode ser perigoso, imaginem um ex à solta!
Mas a polícia política finou-se com o 25 de Abril e daí até agora há muito tempo para justificar.
E aqui continuamos nós ainda num impasse, tudo o que aventei, nada acrescenta; continuamos no mesmo espaço/tempo.
Não, não me sugiram que viajou no espaço/tempo; que algures à saída de Seiça haverá um portal espaço-temporal? Será assim que se diz?
Só assim se explica que a besta seja a mesma. Falo da alimária, não do ex-ministro, nem sequer do cocheiro, que não é por não falar dele que ele deixa de existir; ou quem julgam que tem tratado do cavalo? Estão a imaginar um ex-ministro a fazê-lo? Julgam que aparelhar um cavalo a uma carroça é fácil? Eu que já andei por essa “escola”, garanto que não sei se o saberia ainda fazer.
Quem julgam que ele mandava aos recados, se disso carecesse? Lembrem-se que nem secretário já tem.Não é que esteja preocupado com os seus problemas logísticos, mas isso poderá dar-me algumas luzes sobre o que mais poderá ele vir a dizer? ]
(lm)

(continua)



4 de março de 2015

Marcos com outras histórias

Marco da VI Légua,Castanheira do Ribatejo


Marco de Légua em Alenquer



Marco da Légua, entrada de Azambuja




Marco  da antiga Estrada Real n.º59  de Leiria a Nazareth

Discurso (Remarcante)

(continuação)

Estava a banda a tocar quando me lembro da possível existência de algum outro marco esquecido, morto e enterrado.
Então, fiz sinal ao maestro, este finalizou a música e eu fiz um exaltante improviso ao marco desconhecido que pode jazer à beira da estrada noutro local esquecido, claro que fui muito aplaudido, mas consegui interromper os aplausos para pedir um minuto de silêncio em sua homenagem.

E o silêncio fez-se, imaginem esse silêncio...

Ao longe, muito ao longe ouve-se um som que se vai percebendo tratar do trote de um cavalo.
Começa-se o descortinar nesse longe um tremeluzir que se vai aproximando, percebe-se que será um carro de tracção animal.
Estranhamente não se ouve o rodar sobre o pavimento, estranho pavimento que também ainda não foi inventado, mas se não se ouve o rodar, ouve-se gritar; como é ao longe, muito ao longe, adivinha-se mais do que se ouve.
Mas com o aproximar da carruagem, vê-se quem vem lá dentro a berrar: 
-PAREM! PAREM!PAREM! Essa inauguração é minha!
-Eu sou/fui o ministro encarregado desta inauguração, por isso eu é que vou proceder ao descerramento da bandeira payalvense à falta da azul e branca. Vendo o meu ar, vendo as caras dos assistentes, mas sobretudo o cenho franzido da “DE PAYALVO”, resolveu explicar-se:
- Vou tentar explicar o que na verdade sucedeu; Para começar é falso que eu tenha inaugurado o Marco da Paciência (marco de Porto da Lage - Estação de Payalvo).
É verdade que foi marcada a inauguração d'ESTE marco, seria desta estrada se o orçamento do meu ministério o permitisse, e o problema foi mesmo de orçamento, não havia dinheiro para as ajudas de custo. Pois, para um ministro de sua majestade se deslocar no reyno, era preciso libertar verba, era preciso despacho do Ministro da Fazenda. E foi ai que tudo se complicou. Estava o meu secretário à espera do despacho quando o governo caiu. Mas ainda conseguiu o despacho em meu nome, como ministro das Obras Públicas. Só que, como o governo caiu, eu já não era ministro das ditas. Fui à cocheira Real requisitar um meio de transporte, que não podia ser, que não batia a bota com a perdigota; que sim, que lá figurava o meu nome, mas que já não era ministro. Já viram o problema? Pois, caso bicudo. Tão bicudo que pedi um parecer à Procuradoria Geral do Reyno. Esse parecer veio, só que a cocheira Real já não era cocheira real, já era museu dos coches. Que fazer? Pois, que fazer? Pus-me a ler o parecer a ver se tinha alguma inspiração. O parecer, ao fim de cinquenta e duas páginas de considerandos concluía que o importante era inaugurar o marco, que o hábito não faz o monge, mas desde que fosse alguém de fraque, a inauguração podia e devia fazer-se. E lá voltei à cocheira real, digo, museu dos coches, para tentar um empréstimo duma carruagem e lá o consegui só que, já não tinham cavalos. Mais um contratempo. A minha sorte, ou o meu azar, foi que entretanto se deu a revolução do 5 de outubro de 1910 e, ao rebentar uma bomba, espantaram-se uns cavalos e um fugiu para o museu dos coches...
Foi logo atrelado, este que aqui vêm.
 - Então e demorou um século a aqui chegar? Perguntais vós com toda a razão.
E eu tento explicar. Há cem anos não havia estradas, muito menos placas a indicar as localidades; mas eu nem sequer sabia a localidade em que estava este marco, se ele estava nalguma localidade; só adivinhava que estaria na fronteira entre os distritos de Santarém e de Leiria
Se a carruagem tivesse GPS (coisa que, como pressupõem, ainda não foi inventada), marcava as coordenadas (mas se nem as sabia, nem existiam ainda) e aqui vinha eu.
Imaginam o que penei se souberem que o único guia de viagem foi “Viagens na minha terra ” dum tal Almeida Garrett. Foram tantas as peripécias que dava para um livro. O que sofri pela Serra d'Aire à procura dalguma coisa que se assemelhasse a uma estrada, alguma pedra que pudesse passar por marco.
Lembro-me que, acho que era nos anos de 1917, houve grandes aglomerações de povo por um sítio não muito longe daqui, presumo; mas como tenho andado perdido, não o posso confirmar.
Tão perdido andei que encontrei um marco, digno marco, tão digno que tinha a cruz de Christo. Logo percebi que estava junto à terra dos Templários, depois chamada ordem de Christo (se tivesse GPS tinha registado as coordenadas e alguém me agradeceria). Desci continuando a procura da arca, digo, do marco perdido, fui dar a Chão-de Maçãs, estavam a instalar uma placa em que acrescentavam Fátima ao nome da estação (se eu tivesse ouvido o discurso precedente, teria concluído estar perto, mas como o não ouvi, continuei a descer...).
Fui-me orientando pela linha dos caminhos de ferro, que de estrada, quase nada vi. Sei que passei por Fungalvaz, também foi doada por D.Isabel ao convento, mas só agora, ao ver o documento acima citado, o sei.
Continuei a descer, passei pela igreja de S.Silvestre, Paço da Comenda e fui dar a uma aldeia que tinha estação de comboio, Thomar -Payalvo, estavam a mudar a designação  para Porto da Lage - Payalvo (se não era com um Y, era com I, não garanto). Ia a chegar à estação quando vejo um miúdo sentado numa pedra, virei-me para ele e perguntei-lhe:
-Ó menino, de quem és tu filho?
- Do sr. meu pai, respondeu.
Enchi-me de paciência para continuar o interrogatório quando reparo que a pedra em que o puto se sentava tinha uma inscrição:
ERNº 15
DE SANTARÉM A LEIRIA
ALTITUDE 68.64M


Seria esta a pedra?
Era a ERNº15 (aquela cujo marco eu ia inaugurar). Só que continuava sem saber para que lado me dirigir, lá consegui que o puto me levasse ao pai que me falou na hipótese de ser depois de Vila Nova de Ourém, mas espere por quinta-feira que eu vou para esses lados e indico-lhe o caminho.
Fui procurar a estalagem da terra, que, ao que me diziam, o nome da terra vinha duma estalagem, que a aldeia até se devia chamar de Portalagem (Porto da Estalagem – passagem da ribeira a vau junto a uma estalagem).
Lá ia eu à procura da dita estalagem se o dito pai da dita criança não me tivesse adivinhado o pensamento e não me tivesse oferecido alojamento:
-Esteja Vª Exª descansada que palha não falta para o cavalo de Vocelência.
Isto dito no quintal de sua casa enquanto ensaboava demoradamente as suas grossas mãos.
Chegada a quinta-feira, depois de almoçarmos, lá encetámos a viagem, já me imaginava a proceder à inauguração.
Curiosa a carruagem em que se deslocava, sem cavalos!
Que não, que não tinha nenhuma máquina a vapor, que tinha um motor a gasolina, disse-me; que mais irão inventar? Perguntei eu para os meus botões.
Penso que fiz a viagem precedente em sentido inverso; Porto da Lage, Paço da Comenda, Fungalvaz, aqui meteu-se pela terra e parou. Se eu tivesse sequer um mapa actualizado, teria continuado por minha conta e risco, mas como o não tinha, esperei.
Ao fim de alguma horas, lá seguimos o caminho, voltámos a passar por Chão-de-Maçãs, primeiro pela gare, aí, numa ponte, que não era ponte, antes um viaduto sobre a linha do comboio, mostrou-me lá em baixo a entrada dum túnel que me disse ir sair a Chão-de-Maçãs propriamente dita, do outro lado mostrou-me um canal que acompanhava aponte/viaduto que conduzia a água dum ribeiro (curiosa construção que fazia inveja a muito aqueduto). Seguindo, antes da povoação tivemos de parar na passagem de nível para a passagem do comboio, impressionante a velocidade que atinge, falou-me em muitos quilómetros por hora, que se fazia viagem de Lisboa ao Porto em menos de meio dia; e eu há quase um século a percorrer os caminhos deste país...
A paragem foi junto a Seiça; preparava-me para agradecer e seguir viagem quando recebo um convite formal:
-É uma honra para esta casa receber um governante de sua majestade, mesmo que já o não seja, mesmo que já tal não exista.
Depois duma farta refeição e de recordações várias sobre a realeza, fui conduzido a uma magnífica cama, e no dia seguinte, pela manhã, parti para a derradeira etapa da viagem inaugural.
Só que...    (lm)


(Continua)

3 de março de 2015

Discurso (Remarcante)

(continuação)

Mas antes disso, convém explicar o que se conseguiu descobrir, depois de porfiados estudos sobre a outra falsa inauguração!



O outro marco (o da outra falsa inauguração?)
Era uma vez um reino.... (qualquer semelhança com a realidade...) ...
Num dia apareceu à audiência real um delegação do distrito de Santarém e outra do distrito de Leiria (se aqui estiver algum dos delegados, agradeço que se aproxime e que testemunhe) ambas se iam queixar da falta de estradas dignas desse nome nos respectivos distritos.
O rei, ou a rainha, não consegui saber ao certo, chamou o ministro que logo prometeu uma estrada a ligar os dois distritos
No dia seguinte, em todos os jornais: "O governo de Sua Majestade vai construir uma estrada".
Toda a gente percebeu que o governo não ia construir nada, que, quanto muito, ia mandar construir alguma coisa.
Melhor percebeu o secretário que perguntou ao ministro:
-Posso marcar a inauguração?
-Já o devias ter feito! Responde-lhe o ministro.
- Sim, Sr. Ministro! O marco inaugural pode considerar-se feito.

Passados uns dias:

- Sr. Ministro, posso marcar a inauguração da estrada, digo, do marco?
- Podes, e onde vai ficar o dito marco?
- Sr. Ministro, para ligar os distritos de Santarém e de Leiria, e com o orçamento que temos, o melhor mesmo é ficar entre os dois, foi onde o mandei colocar...
- Mas isso não fica muito longe do comboio? Detesto andar pelas estradas esburacadas deste país, e pior ainda, andar pelas estradas desses dois distritos, devem ser péssimas pelo que me disseram na audiência real, manda colocar um marco, mas perto do comboio, em Santarém não passa o comboio?
- Mas sr. Ministro, assim teríamos de fazer a estrada desde Santarém até, pelo menos, a fronteira com Leiria, onde está o marco inaugural (ESTE!).
- Arranja-me então outro sítio, mais perto da confrontação dos distritos, que tenha comboio.
- Em Chão-de -Maçãs passa o comboio, até estamos à espera das aparições de Fátima para lá mandarmos pôr uma placa alusiva,  a estação seguinte é a de Payalvo.
- Gosto mais desse nome, e nem aprecio maçãs, manda fazer outro marco com os dizeres  ERNº... qual é o número livre? e com a inscrição: DE SANTARÉM A LEIRIA, se sobrar espaço, podes mandar pôr a ALTITUDE.
- Pois, à falta de atitude... (mas isto dito baixinho).
- Já agora, manda gravar no outro a distância que eu poupei, quanto foi? Como se chama mesmo essa terra?
E assim ficou: DE PAYALVO 34308,3 M.
Estou convencido de que o secretário foi medir a distância passando por todas as tascas do caminho, mas não o posso garantir.
Se não foi assim, foi o transportador/assentador que inflacionou a distância...
E a estrada? Perguntam os que aqui chegaram.
De estradas não reza esta estória, respondo e assim me calo.
A banda toca uma marcha de despedida.
(Não se canta o hymno nacional por que ninguém sabe o Hymno, mas devo ser muito aplaudido).
E assim termina o sofrimento da minha família por aqui, bem hajam por me terem aturado, boa viagem de regresso a vossas casas, até à descoberta do próximo marco estórico... (lm)


(continua)