Si hortum in biblioteca habes deerit nihil

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14 de setembro de 2015

E isto ajuda?

Este não era um blog de estados de alma. Até hoje. Há um dia em que o peso que a vida nos obriga a suportar sozinhos tem de ser partilhado com o resto do mundo, que não é possível calar-mo-nos mais e o grito entalado não só na garganta, mas em todos os átomos do nosso corpo,se expele e revolta e ecoa por tudo o que está à nossa volta, blog incluído. É hoje o dia! Resolvi partilhá-lo com os meus irmãos na desdita. Quem nunca andou doido atrás das chaves do carro? Quem nunca guardou aquele documento importantíssimo num lugar inalcançável por terceiros e não se lembra do bendito sitio? Quem nunca se esquece, depois de chegar, todo apressado, à cozinha, do que lá ia fazer? Esses, os felizardos que não sabem o que isto é, escusam de continuar a ler. Não entenderão a razão de ser  desta angústia crescente e irrevogável, em que consciencializamos que o que estava aqui se escondeu ou fugiu, que as coisas, matreiramente, mudam de lugar, que o lugar se desloca, inesperadamente, de sitio.E que, para esquecer este jogo de escondidas com as coisas, se vai ao cinema.
E o que é que lá está para nos animar? Uma criatura que, dado o estado cronológico da sua existência, tendo mais do que obrigação de se sentir como nós, não senhor,salta, dança, toca e canta, senhores, CAAAANNNTA metendo os Jagger e Springsteen desta vida num chinelo!!! Digam-me, isto ajuda??? Não, faz mal à saúde, deprime mais ainda, devia ser proibido! Como não é, só peço à Nossa Senhora dos Invejosos (acredito que neste mundo crente e cristão há-de haver, pecaminosamente, uma por aí, algures) que, pelo menos, faça a mulher, lá, na sua magnífica mansão do Connecticut, à semelhança dos outros miseráveis mortais, perder alguns minutos desesperados, várias vezes ao dia, à procura dos óculos!!!! ao menos isso, para a gente acreditar, senão que é humana, que nasceu em 1949!! (MFM)




A "Amante do Tenente Francês" e "África Minha" continuam a ser os meus 
preferidos por "no particular reason", só porque sim,pois a senhora é sempre
 uma actriz perfeita, este "Ricki and the Flash" é mais um exemplo de talento e 
vitalidade.



11 de setembro de 2015

A Feira de Santa Cita




Andor de Santa Cita que desfila na procissão do Senhor Jesus das Necessidades

Segundo nos conta J.M.Sousa (1) pelos anos 155, da era cristã, durante o domínio dos romanos, viviam perto do local onde hoje se situa a povoação de Santa Cita (2), Caio Atílio, cidadão bracarense e Cássia sua mulher. Tinham em sua companhia uma formosa donzela, de nome Cita que se convertera ao Cristianismo. Perseguida por causa das suas crenças religiosas, fugiu para um ermo, lugar onde os seus algozes a descobriram e lhe deram morte afrontosa.
O seu corpo foi insepulto, como era costume fazer-se por desprezo  para que as feras ou aves de rapina o viessem devorar. Teriam então vindo os cristãos da Nabância, às ocultas, dar sepultura àquele corpo santificado pelo martírio e abençoado por Deus. Sobre o seu sepulcro erigiram mais tarde uma capela, transformada depois em igreja.
Aqui teria sido erguido um  Convento de Frades Franciscanos, não se sabe exactamente em que data (3), embora se conheça a sua confirmação como Convento Franciscano em 1440 pelo Papa Eugénio IV (ver os postes sobre a história do convento neste excelente blog), convento esse que transitou em 1628 para um novo, da mesma Ordem, construído de raiz, nos terrenos da Várzea Grande, em Tomar.
No entanto, em Santa Cita deverá  ter continuado um pequeno convento pois o Padre Carvalho da Costa na sua Corografia Portuguesa e Descrição Topográfica do Famoso Reino de Portugal (1706-1712) refere, no Tratado IV Da Comarca de Tomar, Capítulo I,  Tomo Terceiro daquela obra,  que o  Convento de Santa Cita de Religiosos da Ordem de São Francisco está junto ao Rio Nabão, são seus Padroeiros os Senhores do Morgado e Quinta da Beselga, que tomou o nome da dita ribeira, que passa junto dela nesta Freguesia de Santa Maria Madalena. Diz a memória popular que, após a mudança, no velho convento ficaram apenas três frades "para a guarda das relíquias da Santa". 
E, em 1834 o convento ainda lá existia pois, na sequência da extinção das ordens Religiosas em Portugal, aquele foi mais um dos encerrados, sendo os seus bens secularizados e incorporados na Fazenda Nacional, à excepção dos vasos sagrados e paramentos que seriam entregues aos ordinários das dioceses (4), conforme o registo que se pode ler no ANTTA 19 de Julho de 1834, João António da Fonseca, juiz ordinário, o ex-guardião frei José da Conceição Pinto, António Pereira Mendes, escrivão dos Órfãos da Repartição da vila de Tomar, entre outros, procederam à posse e inventariação dos bens do dito Convento do Senhor das Necessidades no Lugar de Santa Cita na Vila da Asseiceira. 
À época em que J.M.Sousa escreveu sobre o martírio de Santa Cita já o convento estava em mãos de particulares.
Mas a  povoação que nasceu à volta da velha igreja cresceu, manteve até aos nossos dias o nome da Santa e Mártir e continuou com a devoção ao Senhor Jesus das Necessidades, dedicando-lhe uma festa anual. Em 15.06.1926 foi criada uma Confraria com este nome que, ainda hoje, se encarrega da procissão que todos os anos tem lugar em 11 de Setembro.
Nos finais do século XIX era famosa a Feira de Santa Cita (feira do ano, para se distinguir da mensal feira do gado que também aí se realizava), a ponto de suscitar negócios próprios para a ocasião como podemos ver abaixo, com todas as comodidades, incluindo para cavalgaduras, e a preços sem competência. Isto apesar dos eventuais contratempos, das inevitáveis desordens, de anos menos bons e até de grandes epidemias de cólera, em Espanha. 
Os transportes, os trens, os chars-à-bancs, eram providenciados, os normais e os extraordinários para que o público em geral ali chegasse prontamente. Porém, com a chegada do comboio passaram a ser mais fáceis as deslocações e por isso também a ida dos tomarenses à "procissão de Santa Cita " se tornou uma obrigatória e agradável rotina de fim de Verão, de que me fizeram (e muito bem, reconheço hoje) tomar parte, a qual, segundo as notícias, continua cheia de vida e para durar. (MFM)

(1) Autor da obra Notícia Descritiva e Histórica da Cidade de Tomar
(2) Localidade próxima de Tomar, situada na freguesia de Asseiceira, é também nome de uma estação de Caminho de Ferro do Ramal de Tomar.
(3)No sec.XIII  é doado aos Franciscanos pela Ordem do Templo, o Casal do Vale Bom para aí fundarem um convento ao lado da igreja.
(4) Artigos 2.º e 3.º da Lei da Extinção das Ordens Religiosas, da autoria de Joaquim António de Aguiar, promulgada por D.Pedro IV e publicada em 30.05.1834.




7.09.1879
                                                      31.08.1879


14.09.1879


                                    
                                                           
14.09.1880


14.09.1891




11.08.1895
6.09.1896






A Capela de Santa Cita ontem e hoje.

O cruzeiro ainda existente é a últma
 reminiscência do antigo Convento.

10 de setembro de 2015

Fruta da Época


Jan Roos, 1591-1638

Considerando que há eleições em Portugal, embora não universais, desde há quase duzentos anos, podemos dizer que evoluímos muito.
Os portugueses já não desfilam como ovelhas atrás do cacique regional pelas Corredouras do seu país, não votam movidos a vinho e a carneiro com batatas, sabem o que é um comício e já nem lhes ocorre que campanha pode ser militar. Quanto a brigas, brigam à mesma, mas agora é o futebol que os divide, como em qualquer Inglaterra cultíssima e democratiquissima
 deste mundo.


Podemos portanto concluir que Salazar, a Democracia e a Europa, cada qual à sua maneira, nos tornaram bem-comportados, civilizados e prontos a usar a própria cabeça.
Sem ironia, estou convencida que cada português é livre quando, em frente do boletim de voto, coloca a cruz naquilo que lhe parece ser o melhor para si e para a sua vida, consciente do que está a fazer, informado e sem se sentir pressionado, sem medo.

Esta é uma situação perfeitamente pacífica, hoje em dia, na sociedade portuguesa – o voto resulta da livre escolha individual de cada um e, como tal, é respeitável e respeitado por todos.
Há que aplaudir e ter orgulho no comportamento do povo português enquanto eleitor.
Resta agora esperar que os eleitos, aqueles que pretendem ter um lugar à frente deste povo exemplar,  se coloquem ao nível cultural de quem os elege, deixem de ser broncos e caudilhos trauliteiros (agora com palavras de mais ou menos verniz,: não fui eu, foi o senhor, não fui eu, se não foi o senhor foi o seu pai, etc), sob pena de continuarmos, cada vez em maior número, a ficar em casa por não termos em quem votar .(MFM)