Si hortum in biblioteca habes deerit nihil

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12 de abril de 2012

Dr.João Maria de Sousa - Natural de Porto da Lage

Em 13 de Novembro de 1836 nascia em Porto da Lage João Maria de Sousa, filho de João Manuel de Sousa e de Maria José da Piedade de Sousa, numa casa cujas ruínas ainda se mantinham de pé há perto de quarenta anos. Era "bacharel formado em Medicina", como se dizia então, na Universidade de Coimbra sendo depois médico em Tomar por mais de quarenta anos. Para além da sua actividade profissional foi um grande interveniente na vida cívica e política do seu tempo sendo considerado um grande republicano e democrata. O seu nome chegou aos nossos dias sobretudo devido à sua obra literária de cariz histórico Notícia Descriptiva e Histórica da cidade de Thomar, a qual foi editada pela primeira vez em 1903, e mais tarde reeditada em edição fac similada em 1991. Ainda hoje esta é uma obra de referência quando se quer consultar a história de Tomar e seus arredores.
O dr. João Maria de Sousa faleceu em Tomar a 8 de Agosto de 1905 e está sepultado no Cemitério dos Olivais daquela cidade. Foi avô de outro tomarense também interessado na história da sua terra, Amorim Rosa, responsável pela compilação dos Anais do Municipio de Tomar, pela História de Tomar em dois volumes e por outros trabalhos referentes a Tomar.

11 de abril de 2012

Dr. Henrique Pereira da Motta -Médico de Porto da Lage



O Pantaleão Faria hoje cem anos um dos mais queridos estudantes de Coimbra do seu tempo, onde viveu na Real República Ribatejana. Foi um estudante boémio que conseguiu conciliar o trabalho com a paródia e a graça com a elegância; estava tão à vontade em casa do lavrador como nos salões nobres.
Foi “padrinho” de “O Ponney” um jornal satírico da academia: “S. Ex. o Magnífico Reitor ... foi a Lisboa; ficou instalado no João do Grão...”
Recordo um das inúmeras partidas que congeminou: durante a Queima, ele e o seu amigo Castelão d’Almeida, ambos quintanistas vestidos a imitar lentes, pediram licença para jantar “de Borla e Capelo” no restaurante do Astória. O maitre, surpreendido, aquiesceu sorridente e indicou-lhes a mesa.
No fim, discursaram elogiando-se mutuamente, despediram-se de toda a gente e preparavam-se para sair quando o maitre, contrafeito, fez tenção de lhes entregar a conta.
Em voz alta, manifestaram surpresa, dado que lhes tinha sido concedido jantar “de borla” como qualquer dos ilustres hóspedes poderia testemunhar...
A graça foi compensada; logo houve quem se prontificasse a pagar a conta ...
Foi nesse ano que começou a “Venda da Pasta” em favor do Asylo da Infância Desvalida do Doutor Elísio de Moura, seu professor. Quando me encontrava, queria saber se o Pantaleão “continuava lúcido” ...
Foi um clínico geral notável em Porto da Lage, sua aldeia natal, tendo continuado a conciliar uma dedicação e uma competência exemplares com um espírito brilhante, em especial quando deixou de fumar.
Um dia, parou o carro em local proibido, à frente dum café. A um polícia, que o conhecia e lho fez notar, explicou ir tratar um doente. Tomado o café, ia a entrar no carro quando o polícia lhe perguntou, melindrado:
--Com que então, ia tratar um doente...?
--Era verdade, o doente era eu que precisava dum café....

Morreu há 24 anos, era meu pai e foi meu mestre
.

Texto publicado pelo professor Henrique Carmona da Mota em 14.01.05 aqui




10 de abril de 2012

Manuel de Sousa Rosa o "pai" de Porto da Lage da nossa era.

Manuel de Sousa Rosa nasce em Assentiz em 26 de Novembro de 1827. Descende de gentes que, em meados de quinhentos, já  amanhavam terras e pastoreavam gado no Casal da Pena, Casal da Charruada, Fungalvaz, Beselga, e outras localidades das freguesias de Assentis, Soudos e Santa Eufémia, todas pertencentes ao actual concelho de Torres Novas.

                                         Peter Bruegel, O Velho, casamento camponês, 1568

Quando se casa, em Outubro de 1851 na Igreja de Nossa Senhora da Purificação já não tem pais e não se sabe que tipo de rendimentos aufere e de que vive. Será provavelmente um agricultor remediado que com quatro filhos pequenos, dois rapazes e duas raparigas, decide por volta de 1864 arrendar a Quinta da Belida, em Porto da Lage, pertencente à casa de Vargos. Vinte anos depois a quinta já é sua e, quando morre em 1905 é considerado um abastado proprietário local. Tem mais três filhos e de todos os sete apenas dois não vão viver para Porto da Lage quando casam. Os outros terão uma descendência que irá construir Porto da Lage tal como a conhecemos hoje. Os seus netos, muitos casados entre si, e as suas famílias, constituirão a maioria dos habitantes de Porto da Lage até aos anos sessenta do sec. XX.  Apesar da maioria se ter dispersado pelo país e pelo mundo,  ainda hoje lá vivem alguns dos seus tetranetos.
Eis uma notícia, pouca abonatória à primeira vista (mas quem saberá as razões que terá tido?) sobre Manuel de Sousa Rosa, constante da acta da Câmara Municipal de Tomar de 1 de Julho de 1871: 

" foi presente um requerimento de 6 proprietários da Quinta do Porto da Lage e lugares circunvizinhos, representando que Manuel de Sousa Rosa, da Quinta da Belida , deste Concelho, sendo rendeiro da mencionada quinta, tinha completamente obstruído a estrada pública no sitio de Porto da Lage, junto à ponte que ali se acha reconstruída , tendo desviado a corrente do Ribeiro de Porto Mendo, lançando-o pela estrada pública, e tendo mudado esta para um olival que lhe ficava próximo, ficando de permeio, entre a estrada, a ponte eo mencionado ribeiro, que por este facto impede o transito de pé e cavalgaduras pela dita ponte; acrescendo ainda que a dita estrada está, por este motivo, intransitável, especialmente para o transito de carros, do que tudo resulta  grave prejuízo para os suplicantes, por se lhes dificultar a passagem para as suas propriedades, e também para o público em geral, pois que «aquela estrada é, ainda hoje, muito concorrida». Além disso, tendo-se reconstruído há pouco a ponte que ali existe, fica a mesma ponte inutilizada, em consequência das obras feitas pelo dito Rosa, naquele sitio.
Os suplicantes pediam que Manuel de Sousa Rosa, fosse obrigado a repor tudo no seu antigo estado, ou a fazer as obras necessárias para que o transito público naquele sitio não sofresse prejuízo.
A câmara encarregou o Zelador de ir ao sitio examinar as obras feitas pelo dito Manuel de Sousa Rosa, e informar a Câmara com respeito a este assunto"

A localização da Quinta e o Ribeiro de Porto Mendo ou da Longra
(em Porto da Lage também lhe chamam  ribeiro da Quinta) que vem
desaguar na Ribeira da Beselga em PL, sob a Ponte.







Casas de Porto da Lage



Casa mandada construir por um dos netos de
Manuel de Sousa Rosa por volta de 1920



 Outras casas pertencentes a netos de Manuel de Sousa Rosa



             A única casa existente nos Olivais até meados dos anos
             setenta do sec.xx, foi comprada em 1930 por João Pereira
              da Motta, um dos netos de Manuel de Sousa Rosa.
               

                                                                                                                               E mais....





3 de abril de 2012

Odisseia da ponte de Porto da Lage no sec.XIX




1)    Da Acta da Câmara Municipal de Tomar  de 8 de Dezembro de 1840 "terminou a obra de construção da Ponte sobre a Ribeira da Beselga, junto à Quinta de Porto da Lage, importando em 32$220 réis” 



2)    A câmara compromete-se perante o director das obras públicas de Santarém, a apresentar cal, os carros para a condução das madeiras e os 16$000 réis para o aparelho das mesmas, tudo isto destinado à ajuda para a construção da ponte que a câmara pediu a S.M. a graça de mandar fazer no sitio de Porto da Lage, na estrada velha de Coimbra - Acta da Câmara Municipal de Tomar  de 7 de Abril de 1855.


3)    Ponte da ribeira da Beselga -foi presente o projecto desta ponte de madeira - Acta da Câmara Municipal de Tomar 4 de Julho de 1869


4)    Na sessão de 19 de Maio a junta da paróquia da Madalena solicitou auxilio da câmara para a reconstrução da ponte sobre a Ribeira da Beselga, próximo da Quinta de Porto da Lage, que se achava então em completa ruína, sendo esta ponte de toda a conveniência pública «por ser a antiga estrada real de Lisboa e Coimbra», a qual ainda hoje é muito concorrida, tornando-se sensível a sua falta, em consequência de não haver outra, e por ser aquela Ribeira muito caudalosa -  Acta da Câmara Municipal de Tomar 19 de Maio de 1871.
Nota: as ilustrações são  imagens de lugares com mais sorte que Porto da Lage pois conservam as suas velhas pontes. Não se conhece o aspecto que teria(m) a(s)  ponte(s) de que falamos.