E lá foram eles! Os nossos pobres jovens compatriotas de há cem anos! Como escreveu o General Gomes da Costa:
" Devemos todos inclinar-nos cheios de respeito e cheios de admiração diante deste pobre ‘gambúzio’, que meteram num navio com uma arma às costas, sem lhe dizerem para onde ia; que colocaram numa trincheira diante do ‘boche’, sem lhe dizerem por que se batia; que passou meses queimado pelo sol do fogo, enregelado pela neve, atascado em lama, encharcado, tiritando com frio, encolhido num buraco enquanto as granadas lhe estoiram em redor; carregando à baioneta quando o ‘boche’ avança e que, com uma perna partida, ou o crânio amachucado por uma bala, estendido no catre da ambulância, ao ver-nos, tinha uma alegria imensa no olhar, murmurando: - O nosso giniral! Aí vem o nosso giniral! - Oh meu giniral, agora ganhei a Cruz de Guerra? Pois não?”
Todo o país, todas as famílias, têm histórias destes desgraçados, que voltaram ou não, com ou sem Cruz de Guerra!
Descobri um espantoso site que, graças ao trabalho árduo e generoso de meia dúzia de dedicados, apresenta a biografia de quase todos os que fizeram parte do Corpo Expedicionário Português e escolhi quatro de entre milhares. Todos eles nascidos na Madalena, todos embarcados no mesmo dia, 19 de Janeiro de 1917, em Lisboa para destino desconhecido, "sem lhes dizerem para onde iam", mas nem todos regressados, Faustino, do Porto Mendo, ficou, para sempre, nos campos da Bélgica.
António Ferreira e Francisco Sousa Rosa eram primos direitos do meu avô, um pelo lado paterno, outro materno. Juntos terão partilhado brincadeiras e trabalhos de infância entre o Paço e Porto da Lage, no tempo da sua inocência. E terão contado e ouvido contar, depois, pela vida fora, os infortúnios, os pesares, e mesmo as bravatas, criadas pelo medo e pela solidão, de rapazinhos ignorantes, de armas às costas, vítimas das incompreensíveis brincadeiras e caprichos dos poderosos. (MFM)
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