Si hortum in biblioteca habes deerit nihil

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14 de junho de 2022

Segredos Sanguíneos

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O público em geral que me desculpe que isto não vos interessa nada, mas não resisti a pôr aqui este segredo familiar. Pelo facto  peço a vossa compreensão e, já agora, discrição (isto que conto era dantes, agora já toda a gente é como nós). (MFM)


A minha avó paterna contava que não fora por falta de informes (avisos?) da sogra que deixara de tomar conhecimento das idiossincrasias da família daqueles a quem uma e outra tinham ligado os seus destinos. Segundo aquela minha bisavó, tratava-se de gente não totalmente "pura" da cabeça, que era dada à melancolia (cismadores descomedidos), à fantasia e à obstinação, três ingredientes que, quando juntos em grandes proporções, produziam entes (alguns saídos das suas próprias entranhas, ela reconhecia-o) aluados, pouco amigos da verdade ou do trabalho, ambiciosos (antigamente era defeito), inconscientes e muito, terrivelmente, desconfiados e teimosos. Seria para perguntar por que ponta, escolhendo dentro de tal sortido de pechas,  é que elas lhes teriam pegado. Pois parece que foi por isso tudo, a mistura era supostamente irresistivel. Pena que tal tenha perdido efeito nas gerações seguintes! Desse legado não nos teriamos queixado. 
Eram aquelas e outras  mais coisas que as senhoras em causa, as duas de que já falei a que se veio juntar depois a minha mãe que também se deixou prender por um, apontavam como estando no "sangue", aquela substância  terrível e única que escorre das feridas abertas, dos M. Mas mais não digo até porque herdei uma outra falta que lhes era bastamente assinalada, "eles" nunca, por nunca ser, falavam "mal uns dos outros", "encobriam-se", diziam. E assim me calo, corre-me no sangue, é mais forte do que eu.
Mas vá lá, até para tudo isto faça sentido sempre vos conto de uma frase que ouvi muitas vezes lá em casa quando um de nós, éramos todos low-profile,  inesperadamente e com toda a calma se saía, de dentro dos seus silêncio e invisibilidade habituais, com uma novidade estrondosa ou dava uma réplica ainda mais estrondosa a uma suposta novidade "é mesmo M. uma gente que nunca pergunta nada mas sabe sempre tudo ". (MFM)

Foto tirada num alojamento de turismo rural algures em Itália,
local onde ninguém soube dizer nada sobre os livros, bem
fechados num armário envidraçado.
 

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