Si hortum in biblioteca habes deerit nihil

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22 de maio de 2016

O Paço da Comenda


A Ordem de Cristo, enquanto herdeira da Ordem dos Templários, acolheu os bens que haviam pertencido a esta Ordem e que tinham tido origem nas doações dos monarcas como contrapartida , à semelhança do que acontecia com as outras ordens militares, do apoio dado no combate aos Sarracenos. O território doado, que incluía castelos, vilas, lugares, igrejas, etc, consistia num domínio senhorial no qual a Ordem, além de usufruir dos rendimentos, exercia direitos jurisdicionais e eclesiásticos.
Os bens afectos à Ordem estavam divididos entre aqueles que eram reservados ao Mestre ( da Mesa Mestral) e às Comendas.
As Comendas eram um espaço territorial organizado como um senhorio, nas quais o Comendador, um freire cavaleiro nomeado pelo Mestre, exercia a autoridade senhorial em nome daquele e usufruía dos seus bens e rendimentos. A comenda era entregue a título vitalício e de recompensa por bons serviços prestados. O Comendador não deveria acumular mais do que uma comenda, deveria fazer, mal tomasse posse, um inventário da sua comenda (tombo da Comenda) e residir na comenda, isto é, ter lá os seus “aposentos”.
O número de comendas da Ordem de Cristo variou ao longo do tempo, sabendo-se que em 1326 eram trinta e seis e cerca de 1510 já seriam cinquenta e nove, o que terá a ver com o aumento dos rendimentos da Ordem que beneficiava então dos dízimos das ilhas dos Açores e Madeira, da vintena do comércio da Guiné e Índia (ouro, escravos e outras mercadorias) e de muitos outros rendimentos provenientes da expansão ultramarina.

Do livro "Definições e estatutos dos Cavaleiros e freires da Ordem de
N.S. Jesus Cristo, com história da origem e principio dela"
impresso
em Lisboa por Pedro Craesbeeck em 1628,  

Mas nas Comendas antigas e situadas no território europeu o valor fundamental das rendas provinha das propriedades agrícolas nelas existentes, exploradas directamente pelo Comendador ou aforadas, e que asseguravam rendimentos em numerário, bens, géneros alimentares e outros serviços.
A Comenda da Beselga, da qual temos notícia já em 1326, suspeitando-se que já existiria no tempo da Ordem dos Templários, teve como comendadores conhecidos: em 1426 Frei João Afonso, em 1439 Frei Diogo Afonso, em 1475 Frei Rui Velho, em 1504 outro Frei Rui Velho, em 1560 Frei António de Saldanha, em 1607 dom Frei Francisco de Almeirim e em 1619 parece ter acabado a nomeação de comendadores freires pois a Comenda da Beselga é doada ao Conde de Soure.

No registo efectuado pelo escrivão da visitação Rodrigo Ribeiro em 17 de Outubro de 1504 a Comenda da Beselga tinha o seguinte património pelo qual recebia as seguintes rendas e foros (quadro retirado de “A ordem de Cristo (1417-1521)" pags. 196,197 ):






O território em que se situa actualmente Porto da Lage, pelo menos o localizado  nas margens da ribeira,  pertencia à Comenda da Beselga. Comenda limítrofe era a do Paul e Cem Soldos que deverá ter surgido mais tarde atendendo a que ainda não é nomeada em 1326.
Casal ou Quinta da Belida pagava foro à Comenda da Beselga pois em 1658 o licenciado Diogo Alvares de Sousa confirma o aforamento que tinha sido celebrado com o seu avô Jorge Fernandes, por três vidas. Em 1761, o seu bisneto Manuel Pereira de Sousa volta a confirmar o foral. Com o liberalismo, uma vez que a Ordem de Cristo foi "nacionalizada", o foro terá continuado a ser pago, neste caso à Fazenda Pública, terá cessado ou sido comprado?
A tradição popular atribui como sede da Comenda, o local onde o Comendador teria os seus aposentos, o seu Paço portanto, a aldeia que se designa, muito apropriadamente,  de Paço da Comenda. Será? Não encontrei nada que o confirmasse, também nada que dissesse o contrário. Fiquemos-nos pois por o que o povo diz, enquanto não aparece uma douta colaboração que nos esclareça.
A tradição indica também a casa onde terá residido o Comendador ou na qual, pelo menos, eram entregues e recolhidos os bens entregues pelos foreiros àquele. Casa essa em que a alegada "traça medieval" terá existido até há tempo suficiente para ainda haver gente com memória da mesma.
Outra "fonte histórica" associada à comenda, que foi removida do Paço da Comenda há pouco mais de quarenta anos com pesar por parte dos seus habitantes, alguns dos quais ainda hoje lamentam esta perda, é a "pia " que se encontra no adro da capela de S.João em Porto da Lage, mais propriamente nos Vales de Cima. Acredita-se que seria uma tulha em pedra onde se guardavam os cereais. Naturalmente não tenho resposta para isto mas, a ser assim, não será um bem público ou com interesse público  e  não deveria, pelo menos, ser registada em e por quem de direito? Convirá estudá-la ou será coisa tão banal que não valerá a pena? A ser assim, repito-me, porque não voltar ao local onde a memória e o coração ainda a mantêm? (M.F.M.)



Reprodução da "Casa do Comendador" num painel de azulejos existente na sede da Associação 
de Cultura, Desporto e Solidariedade  Social de Paço da Comenda, elaborada a partir de um 
desenho de Augusto Bento da Silva.



A "Casa do Comendador" com o aspecto actual. Fica
 situada no "Canto do Rouxinol."


                                             



O Comendador é lembrado na rua ao lado.

A "pia" da Comenda no adro da capela, nos Vales.


                                          


Bibliografia consultada: Silva, Isabel L. Morgado de Sousa e, A ordem de Cristo (1417-1521), revista Militarium Ordinum Analecta, publicação anual do Seminário Internacional de Ordens Militares, Instituto de Documentação Histórica, Faculdade de Letras da Universidade do Porto

21 de maio de 2016

Ainda o 3 de Maio

 Ainda sobre o contributo que H.C.M. nos trouxe sobre a comemoração do dia 3 de Maio pelos meninos da escola de Porto da Lage, temos mais uma informação: entre a proclamação da República e a Revolução de 1930, o Brasil celebrava aquele dia, que era feriado nacional, como o da sua descoberta.




14 de maio de 2016

13 de Maio de 1967


Cinquenta anos depois do primeiro, acontece, para nós netos, o segundo e desta vez incontestável milagre! João Pereira da Mota abandona, numa manhã de um semanal dia radioso, a sua faina diária, atravessa a sua pontesinha particular, entra no clube, senta-se e assiste maravilhado, pela TV, à celebração da missa pelo "Santo Padre" em Fátima. (MFM)







3 de maio de 2016

3 de Maio - Dia de Vera Cruz, em Porto da Lage e em Stratford-upon-Avon


O portodalagense H.C.M. diz:

"Em Porto da Lage, no dia 3 de Maio, os miúdos da escola iam “plantar” cruzes de cana cheias de flores; era dia da Vera Cruz e dizia recordar a descoberta do Brasil. Erro histórico que a professora tolerava."

                                                      
William Shakespeare (1564-1616)
                                     


Parece que o "erro histórico" felizmente, segundo S.Google, ainda se comemora ou comemorava há meia dúzia  de anos e tem mesmo que ver com a descoberta do Brasil.
 O Brasil foi descoberto, dizia-se dantes quando éramos eurocêntricos, foi achado, diz-se agora (ainda não percebi porque é que o verbo achar, ao contrário do descobrir, já não dá a perspectiva da Europa como centro do mundo mas é assim que correm as coisas) em 22 de Abril de 1500. Poucos dias depois a célebre carta de Pero Vaz de Caminha anuncia ao rei D.Manuel I: Deste Porto Seguro, da Vossa Ilha de Vera Cruz, hoje, sexta-feira, primeiro dia de maio de 1500…
É possível, portanto, que a população, que só deve ter sabido do acontecimento muito tempo depois e com a deturpação habitual, passasse a comemorar a data a 3 de Maio.
Ou então é tudo uma questão de Calendário Gregoriano e os onze dias de diferença são só os onze dias de acerto que aquele obrigou em 1582. E quando é para obedecer às ordens lá de fora sejam as do Papa Gregório sejam as de outros quaisquer papas de que tempo for, cá estamos nós prontos!
Melhor sorte, ou não fosse inglês, teve o grande William Shakespeare que, morrendo a 23 de Abril,  continuou a aniversariar a morte no mesmo dia ao longo de 400 anos.   

Mas que interessa uma data? Importante era o que os meninos de Porto da Lage faziam, importante é a lembrança de H.C.M.,mais importante ainda, que se lembre de nós para a partilhar porque, como dizia aquele grande poeta e dramaturgo, “aquilo a que chamamos rosa mesmo com outro nome teria igual fragrante perfume” (MFM) 

1 de maio de 2016

Primeiro de Maio




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Em Portugal celebrava-se desde tempos imemoriais o dia das "Maias" que teria como origem antigos ritos e cultos agrários destinados a assinalar o final do Inverno e a chegada da Primavera. Em algumas regiões colocavam-se na véspera, à noite, as maias (ramos de giestas amarelas) nos buracos das fechaduras, na parte de fora das portas, penduradas das maçanetas ou puxadores, nas varandas e nos parapeitos das janelas, para o diabo não entrar pois este andava à solta na noite de 30 de Abril para 1 de Maio

No dia 1 de Maio de 1886, lá longe nos EUA, milhares de trabalhadores de Chicago juntaram-se nas ruas para protestar contra as  más condições de trabalho e reivindicarem as 8 horas de trabalho diário, acontecimento de tal maneira fortemente reprimido pelas forças policiais que causou feridos e mortos, os quais ficaram conhecidos como "os Mártires de Chicago". Em 1889 o Congresso Operário Internacional, reunido em Paris, decretou o 1º de Maio como o Dia Internacional dos Trabalhadores. 
Ainda mal tinham passado seis anos sobre esta data e já temos noticias que os operários, "os artistas" de Tomar a celebravam convictamente! Passou a ser um dia tradicionalmente festejado pelo operariado e pela pequena burguesia, caixeiros, costureiras, empregados do comércio que, fosse por convicção associativa ou por resquícios  das velhas celebrações das maias, partiam para os campos durante a tarde a fazerem os seus pic-nics, à noite para o comício e terminavam o dia a bailarem nas associações de recreio. Até que o Estado Novo acabou com a festa. Mas uma classe profissional manteve sempre o 1.º de Maio como o seu dia. E celebrava-o. A oficina de um tipógrafo, meu tio cujos 93 anos cá estão para o confirmar,  fechava anualmente neste diatal como todas as outras tipografias,  para o pessoal  fazer o seu pic-nic destinado à prova de vinho (qualquer um). E não houve ditadura que se  atrevesse a acabar com essas provas. (MFM)



5.05.1895

                                                           


3.05.1896

                                               


9.05.1897

                                           

19 de abril de 2016

Uma questão de sapatos

A propósito de um programa de televisão que acabo de ver*, que pretendia, como sempre, concluir com a existência do racismo em Portugal, lembrei-me, como me lembro sempre mas parece que sou só eu, como é fácil justificar o pecado da menorização do próximo com o pormenor ridículo da pigmentação da pele. Espezinha, humilha, explora, no limite escraviza, quem tem poder para isso. Poder que as condições históricas do momento concedem e que, naturalmente vão variando com os tempos- a mó de cima vai alternando. Portugueses de meados de XX passavam fome e andavam descalços  em  Portugal, pelo que demandaram as franças onde eram porteiras e pedreiros e, por isso, eram vítimas de racismo por parte dos franceses,  enquanto outros portugueses exploravam  as colónias onde negros passavam fome e andavam descalços e, por isso, eram vítimas de racismo por parte dos portugueses. Outros portugueses, bem nascidos e bem pensantes, viajavam até Paris para arejar as cabeças oprimidas pelo obscurantismo da Pátria, envergonhando-se da bestialidade dos compatriotas que lavavam os vidros das montras e se empoleiravam nos andaimes dos "bâtiments", fugindo de falar português para não serem confundido e, por isso, tornavam vítimas de racismo duplamente outros portugueses (?). Hoje, os filhos daqueles também já rumam às franças por necessidade e os paisinhos deitam as mãos aos cabelos por os seus meninos, coitadinhos, serem obrigados a "ir para fora", enquanto hordas de angolanos escurinhos entram pelas lojas da Avenida da Liberdade e saem carregados de sacos a pernoitar no Ritz. A mó de cima é agora outra. Já não há portugueses rurais e de pé descalço, continua a haver africanos com fome e inúmeras doenças mas deixou de ser problema nosso, os subúrbios das grandes cidades  abarrotam de gente que trabalha nas mais desvairadas horas, se transporta de metro e deixa os filhos sozinhos o dia todo, o que faz com que o tuga bem comportado se recuse a enfiar "nos transportes públicos" por estes não terem "qualidade" e terem de chegar a horas aos empregos "superstressantes", pelo que precisam de comprar carro novo amiudamente,  e tenha que meter os filhos, quando os tem, no colégio tal, para não os misturar com os miúdos dos bairros sociais. Não, os portugueses não são racistas, seriam quanto muito castistas, de castas, se tivessem uma cultura que lhes permitisse permanecer numa casta algumas gerações ou para sempre como os hindus, mas não, os portugueses são "camadistas" vivem em camadas aspirando sempre a ascender à camada de cima. (MFM)

Eu sou a  que tem sapatos mas, lembro-me bem, muito contra a minha vontade.


* ontem dia 18/04

18 de abril de 2016

Mudam os tempos e as paisagens, apenas.


                                                  


À espera de alimentos na noite do Porto.

                                                   
15.02.1885






31.10.1886

























                                           10.02.1889


26.04.1896



11 de abril de 2016

Alfredo Keill



Alfredo Keill,o autor da nossa Portuguesa também, já aqui o dissemos,  deve ter entrado algumas vezes na estação de Paialvo, como desta vez, em que escolheu o local dos Valles, na Sertã, para veranear e trabalhar. Talvez fosse por aqui que encontrou este Telheiro do ferrador e decidiu passá-lo à tela.




20.09.1896

Telheiro do Ferrador, Alfredo Keill



1.12.1895





8 de abril de 2016

Adães Bermudes, mais excursionistas e sempre Paialvo


A tipologia geral das escolas Adães Bermudes.

Adães Bermudes  (1864-1948) foi um arquitecto neo-romântico, divulgador da arte nova em Portugal, vencedor do prémio Valmor, autor de muitos edifícios das chamada Avenidas Novas e de outros distribuídos por Lisboa e pelo país, co-autor do Monumento ao Marquês de Pombal em Lisboa, etc. Porém, é hoje em dia lembrado por o seu nome estar ligado à tipologia de escolas primárias projectadas nos finais de oitocentos. Em Tomar existiu uma destas escolas, a da Várzea-Grande, aquela onde durante décadas as crianças de todo o concelho iam fazer o velho exame da 4.ª classe. Foi demolida nos anos oitenta do sec.XX. Desconheço os motivos que levaram a edilidade tomarense a tomar esta decisão, hoje em dia estes edifícios são as meninas dos olhos das localidades que os possuem. Teria talvez, já um bocado fora de tempo, a “embirração” do escritor Fialho de Almeida que, quando morreu em 1911, deixou em testamento dinheiro para a construção de uma escola com a condição de não ser em "estilo Bermudes”.(MFM)


29.12.1895





14 08 1898


Fotografia da Várzea Grande de 1934 (parada de bombeiros) , onde se pode ver a antiga Escola Primária de tipologia Adães Bermudes. As fotografias abaixo são de autoria desconhecida e não se encontravam datadas.











O interior de uma sala de aula. Um festival de luz.
                                                           

6 de abril de 2016

Cipriano Martins



A Escola de Desenho Industrial Jacome Raton foi criada em Tomar em 1884 juntamente com mais outras sete em todo o país.



14.12.1884
19.10.1884
                                                   


26.07.1885


                       
9.11.1890

                                                     
                                                                                                 
Foi seu primeiro director outro pintor do Grupo do Leão José Joaquim Cipriano Martins (1841-1888) um paisagista, mas sobretudo retratista, que viveu em Tomar e se inspirou na paisagem tomarense para realizar algumas das suas obras.


Capela Real de S.João BaptistaJosé Joaquim Cipriano Martins, 1886
                                                           


13.12.1885





















4 de abril de 2016

Manuel Henrique Pinto

                                                       

Manuel Henrique Pinto (1853-1912) foi também um pintor naturalista, integrante do Grupo do Leão e grande amigo de Malhoa. A sua ligação a Tomar deve-se ao facto de, entre 1888 e 1911, ter sido director da Escola Industrial Jacome Raton. Alguns dos seus quadros retratam conhecidas paisagens urbanas da cidade.
Como sempre, especulamos quando dizemos que este pintor foi, como outros, e neste caso acompanhado pelos seus quadros, um passageiro da Estação de Paialvo. Mas este postal de aniversário ,que o seu amigo Malhoa lhe enviou, de certeza que passou por aqui. 


14.04.1895



















Desenho de pormenor da Janela da Sala do Capitulo, 1901