Si hortum in biblioteca habes deerit nihil

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17 de setembro de 2016

Quinta de Porto da Lage *


Ao meu avô que aqui nasceu completam-se hoje 124 anos.

                                                                       Prólogo

A designação porto da Lagem aparece no século XVII associada ao seu moinho de fazer farinha. Sabe-se o nome do moleiro daquela época, da mulher, da data do baptismo dos filhos. O pequeno território, situado na margem direita da Ribeira da Beselga, ladeado  pela estrada real proveniente de Coimbra desde a ponte onde o Ribeiro da Longra desagua naquela Ribeira e o local onde a estrada se começava a afastar para Paialvo e deixava de ser termo de Tomar, tudo indica ser a base do que se passou a chamar no final do século XVIII, também, quinta de Porto da Lagem. 
De acordo com os registos paroquiais da freguesia da Madalena, no século XVIII verifica-se alguma vida social em Porto da Lage: os moleiros e família, os administradores e criados da “quinta” e mais, "os assistentes" e o pessoal de passagem pela estalagem que, sabemos, tem autorização de funcionamento em 1747 embora existisse antes. Assiste-se nesta época a grande confusão: indiferentemente se chama Quinta de Porto da Lage à propriedade de Manuel Pereira de Sousa – o Casal ou Quinta da Belida (ou Velida) - ou à Quinta de Porto da Lage ou moinho de Porto da Lage de Raimundo José de Sousa.

                                                               I
                                                       Os Sousa 

Raimundo de Sousa, natural de Paião, hoje Figueira da Foz então Montemor-o-Velho, terá herdado a quinta ainda criança, tendo, no entanto, apenas passado a habitá-la por volta de 1780, já desembargador aposentado, quando se casa. Dos seus numerosos filhos será o mais novo, João Manuel de Sousa, nascido em 1798, o que vem a ficar com a quinta. 
De João Manuel conhece-se além das datas de nascimento e da morte (1871) que terá vivido com falta de dinheiro (as hipotecas e as dívidas em dinheiro à Misericórdia de Tomar provam-no) e terá mantido relação marital com uma rapariga dos Vales, Maria José (ou Maria da Piedade) de quem tem quatro filhos e com quem casa em 1861, data a partir da qual legitima os filhos (até então expostos). Desconhece-se porque não se casou antes e mais, por que só legitimou os filhos sendo estes já adultos. Será coincidência mas o certo é que, pouco depois do seu casamento, um cunhado, um tal Bacalhau irmão da agora mulher, lhe paga uma avultada hipoteca. Concluir que o pagamento desta dívida terá servido, também, para pagar a moralização da família é especulação que abonará pouco o carácter do senhor, que já Lá está há muitas décadas, pelo que ficaremos por aqui. Mas que a coisa está mal explicada está.
Dos quatro filhos é sobejamente conhecido João Maria de Sousa (n.1836), o médico e historiador, cujo nascimento a tradição atribui ter sido em Porto da Lage, o que eu acredito embora nenhum dos documentos relevantes da sua vida o ateste; consta como nascido em Tomar (o que fará sentido pois foi baptisado como exposto em S.João Baptista) no assento de casamento, e como nascido em Paialvo na certidão de óbito. O seu irmão Henrique será o primeiro chefe da estação de caminho-de-ferro de Paialvo, não tendo as duas irmãs, Maria da Conceição e Margarida da Glória, que se saiba, algo que se destaque nas suas vidas.
Após a morte de João Manuel, a viúva e três dos filhos continuam a morar em Porto da Lage, enquanto João Maria, casado, vive em Tomar, até que, em 1879, a família decide vender a quinta. Após a morte da mãe, que terá ocorrido cerca de 1893, tem-se notícia que Henrique é funcionário das alfândegas no Porto e as irmãs vivem em Coimbra, enquanto João Maria permanecerá em Tomar até à sua morte, que ocorrerá em 1905. Por essa época já terá acabado, de vez, a ligação da família Sousa a Porto da Lage. Por aqui viveram pouco mais de cem anos.

Jornal "Emancipação" -28.12.1879

                                                                II
                                                    Os Sousa Rosa

Em 1883  Manuel de Sousa Rosadono da Quinta da Belida,  compra uma propriedade rústica e urbana denominada Quinta de Porto da Lage, próxima à estação da via férrea de Paialvo, na freguesia da Madalena neste concelho [Tomar], que consta de terra de semeadura, vinha, uma morada de casas e diversas acomodações agrícolas e um moinho ou azenha na Ribeira, confrontando a Norte com António Gonçalves, Poente e Sul com estradas, Nascente ...  pagando um conto dezasseis mil seiscentos e trinta e dois réis aos vendedores e ficando com o encargo da hipoteca à Companhia Geral do Crédito Predial Português no valor de um conto, novecentos e oitenta e três mil trezentos e sessenta e dois réis.


Assinaturas do representante dos vendedores e do comprador, na escritura de compra e venda  da Quinta de Porto da Lage.


     A propriedade rústica e urbana denominada Quinta de Porto da Lage, conforme consta da escritura que transcrevemos, para além de não ser um corpo, pois tem três números matriciais, também, pela forma como é caracterizada - "propriedade denominada quinta ...",não parece ser, "institucionalmente" uma quinta, antes se chamará assim por tradição e hábito. A "quinta" também é mais pequena do que se julgaria, pois alguns terrenos contíguos, embora do mesmo dono, não fazem parte dela. É o caso de uma terra de semeadura com árvores denominada a Carreira separada da quinta pela estrada, que Manuel de Sousa Rosa também compra  e que consta da mesma escritura da quinta. Igualmente a casa que, suponho, terá sido a antiga estalagem não integra a quinta, continua na posse dos Sousa e só será vendida a Faustino dos Santos em 1893 para que este nela instale uma taberna, permanecendo os antigos donos ainda com o pátio mas comprometendo-se a não o utilizar de forma a fazer concorrência ao negócio de Faustino! 
Outro caso é aquele em que, em 1884 um tal Bernardino dos Santos Carneiro, de Lisboa, comprara à família Sousa " um talho de terra de semeadura no sitio limite da Quinta de Porto da Lage em cujo terreno está construído um prédio com fábrica de destilação e adega e mais arrecadações que confronta a norte e poente com a estrada .... a nascente com o ribeiro".Esta propriedade (1)será também comprada, em 1895, por Manuel de Sousa Rosa e por um tal Sousa, da Beselga. 
Aquele Bernardino teria também vendido, a Manuel Mendes Godinho, um ano antes, o armazém que conhecemos hoje como "da União Fabril" o qual, atendendo à data que ainda ostenta, deverá ter sido comprado por si, Bernardino, cerca de 1877, à família Sousa, também ele não fazendo  parte da quinta, conforme está comprovado.
Estranhos contornos tinha a famigerada quinta!
Manuel de Sousa Rosa e a mulher são agora donos e senhores da chamada Quinta de Porto da Lage e de alguns terrenos adjacentes, da Quinta da Belida e de outras fazendas avulsas dispersas pelas Sobreiras, Gaios, Galegos,etc. São grandes lavradores à moda antiga, com grandes olivais e figueirais, terras de semeadura, vinhas e hortas na várzea da ribeira, mas será que os tempos ainda correm de feição para quem só depende da agricultura e pretende deixar este modo de vida aos filhos? O casal pensa que sim e quer ajudá-los proporcionando-lhes já os meios necessários enquanto são novos, pelo que em 1894 faz uma escritura de doação de parte dos seus bens, entre eles a quinta de Porto da Lage, a quatro dos seus sete filhos: Manuel, Maria José, António e João, sendo que os dois primeiros já viveriam na quinta desde 1886, no valor de 750 000 réis para cada um (420 000 euros?). Mas os seus planos saem gorados, afinal os tempos, e os planos dos filhos, já são outros.
O filho João, a quem calhara a “fatia” correspondente ao moinho, poucos meses depois vende  a sua parte ao irmão Manuel e ao sogro Manuel Mendes Godinho. O que terá pensado (e até dito!) o pai desta apressada vontade do filho se desfazer do que lhe fora oferecido, embora enterrado nos segredos do passado, pode imaginar-se! enfim, pelo menos a cidade de Tomar terá lucrado com o desplante (seria graças a isso que foi financiada aquela a que hoje se chama Casa dos Tectos?).
Contas feitas, a antiga quinta, e só essa, passa a estar, nos finais do sec.XIX, dividida entre Manuel de Sousa Rosa filho, Maria José casada com Augusto Mota e Manuel Mendes Godinho, cujo filho construirá o casarão cujas ruínas ainda são bem visíveis, presumindo-se que Manuel de Sousa Rosa tenha conservado ainda alguma parte, como a "morada de casas" pois será uma outra sua filha, Ana, quem as virá a possuir (doação posterior ou herança). As propriedades resultantes da divisão da quinta deverão ter sido, então, sujeitas a novos registos cadastrais, os quais, por sua vez, serão subdivididos na geração seguinte (só a parte de Augusto Mota terá sido dividida em outras quatro ou cinco partes), forma em que permanecem, acho eu, até hoje. A Quinta é uma memória.  Os descendentes de Manuel de Sousa Rosa, casando entre si, trocando e vendendo entre si, vão preservando, embora divididos, a maioria dos terrenos da antiga quinta até aos anos oitenta do sec. XX, período a partir do qual começaram a alienar os bens. Mais cem anos.                                               

                                                              Epílogo 

 ... ao contrário dos Sousa, que desapareceram da face de Porto da Lage, os descendentes dos Sousa Rosa, o sobrenome actual não importa, ainda se agitam por ali, em corpo ou em espírito, fixos ou nómadas, almas errantes estrebuchando, aflitas, à procura das raízes. Se alguém, depois de 2080, continuar esta história que diga o que lhes aconteceu. (MFM)

(1)- onde fica, quem sabe?

16 de agosto de 2016

Com Moscas há 150 anos


Este blog está às moscas já há algum tempo, é verdade. Mas não é para suprir ou penitenciar-me desse vazio, em que as ditas são metáfora na expressão, que por aqui passo hoje. É para me queixar delas, das próprias, em carne e osso, do insecto, que nos trespassa com seu estilete até ao cérebro, nestes dias em que os 40 graus nos deixaram e elas revivesceram, vindas sei eu lá de onde as moscas se escondem, quando a canícula parece ser, também para elas, insuportável. Findos os trópicos, chegadas as moscas! Não há sossego neste Verão incendiário!
Mas como em tudo, até para ouvir sobre ferroadas de moscas, é preferível deixar falar quem sabe, do assunto e da língua portuguesa, calo-me e deixo-vos com o Mestre. Que há precisamente 150 anos, a 16 de Agosto de 1866, sofrendo naquele ardentíssimo mês, do calor e das picadelas das moscas desejava ser elefante para em cada ruga do seu coiro as entalar e esmagar!
Deleitem-se com este belo naco da  maravilhosa prosa de Camilo Castelo Branco, o qual, tal como afirma sobre o Padre Manuel Bernardes, faz da língua portuguesa a mais graciosa do mundo. (MFM)







Uma pequena adenda, em exclusivo para os Mota: no mesmo dia em que Camilo, invectivava as moscas, este nosso avô festejaria o seu oitavo aniversário dando murros e bofetões às ditas que sobrevoavam naqueles tempos o Paço da Comenda?

9 de junho de 2016

Mais Sobre o Paço da Comenda


A alegada casa do comendador



O tombo da Comenda da Beselga terminado em 17 de Outubro de 1504 e em boa hora publicado em letra de forma, em 2005, pelo Centro de Estudos Históricos da Universidade Nova de Lisboa, permite-nos conhecer com detalhe os limites da comenda, os seus bens, os rendeiros, os foreiros e mais os bens e rendas que auferia fora dos seus limites. Mas, mais do que isso, permite, a quem gosta destas coisas, preencher um território de há quinhentos anos com gente com nome e família e casas e terras e terras com árvores, e quais árvores, e culturas agrícolas, e quais, e com animais, e quais, e por aí fora, enchendo de vida uma terra que permanece, que foi pisada, lavrada e deu de comer a gente que, com muitas probabilidades, é antepassada de alguns dos que leem este blog.
Para inicio de conversa conheçamos o "aposentamento" do comendador e, com as devidas adaptações e imaginação, vejamos como habitariam aqueles nossos avós longínquos. Tinha ele uma casa com uma sala sobradada, isto é no sobrado, 1.ºandar diriamos hoje, com 9 m por 4,5 m (cada vara seriam 5 palmos, cada palmo 22cm), como as varas eram "bem medidas" talvez fosse um pouco maior que 40 m2, e com uma chaminé viradinha a sul! nada mal para quem não tinha grandes sofás nem plasmas devia sobrar! Ao lado, virado a poente, outra divisão, uma câmara (quarto de dormir?) de aproximadamente 20 m2. Para lá se subia por uma escada de pedra de peitoril e corrimão de tijolo. Seria este o corpo principal da casa, que tinha lojas (palavra que não tem nada a ver com comércio e que eu ainda conheci com o significado que aqui deve ter)  por baixo com a mesma área?
Além do celeiro e da cozinha existiam também todos os outros apoios que ainda hoje se verificam numa casa de lavoura, a estrebaria, um pardieiro que servia de lagar e que fora arranjado pouco tempo antes da vinda dos visitadores [encarregados de fazer o tombo]com novas madeiras e telha vã. Vem por fim o quintal, "cerrado de terra" todo murado, com horta de Inverno, pereiras que dão"pêra ferragial", mais três parreiras viradas a este e  uma grande figueira virada a Norte. Nada mais bucólico e actual. Também eu tenho uma horta toda murada, com pereiras, vou perguntar se são ferragial, e uma grande figueira, mas essa sei que é pingo de mel.(MFM)








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22 de maio de 2016

O Paço da Comenda


A Ordem de Cristo, enquanto herdeira da Ordem dos Templários, acolheu os bens que haviam pertencido a esta Ordem e que tinham tido origem nas doações dos monarcas como contrapartida , à semelhança do que acontecia com as outras ordens militares, do apoio dado no combate aos Sarracenos. O território doado, que incluía castelos, vilas, lugares, igrejas, etc, consistia num domínio senhorial no qual a Ordem, além de usufruir dos rendimentos, exercia direitos jurisdicionais e eclesiásticos.
Os bens afectos à Ordem estavam divididos entre aqueles que eram reservados ao Mestre ( da Mesa Mestral) e às Comendas.
As Comendas eram um espaço territorial organizado como um senhorio, nas quais o Comendador, um freire cavaleiro nomeado pelo Mestre, exercia a autoridade senhorial em nome daquele e usufruía dos seus bens e rendimentos. A comenda era entregue a título vitalício e de recompensa por bons serviços prestados. O Comendador não deveria acumular mais do que uma comenda, deveria fazer, mal tomasse posse, um inventário da sua comenda (tombo da Comenda) e residir na comenda, isto é, ter lá os seus “aposentos”.
O número de comendas da Ordem de Cristo variou ao longo do tempo, sabendo-se que em 1326 eram trinta e seis e cerca de 1510 já seriam cinquenta e nove, o que terá a ver com o aumento dos rendimentos da Ordem que beneficiava então dos dízimos das ilhas dos Açores e Madeira, da vintena do comércio da Guiné e Índia (ouro, escravos e outras mercadorias) e de muitos outros rendimentos provenientes da expansão ultramarina.

Do livro "Definições e estatutos dos Cavaleiros e freires da Ordem de
N.S. Jesus Cristo, com história da origem e principio dela"
impresso
em Lisboa por Pedro Craesbeeck em 1628,  

Mas nas Comendas antigas e situadas no território europeu o valor fundamental das rendas provinha das propriedades agrícolas nelas existentes, exploradas directamente pelo Comendador ou aforadas, e que asseguravam rendimentos em numerário, bens, géneros alimentares e outros serviços.
A Comenda da Beselga, da qual temos notícia já em 1326, suspeitando-se que já existiria no tempo da Ordem dos Templários, teve como comendadores conhecidos: em 1426 Frei João Afonso, em 1439 Frei Diogo Afonso, em 1475 Frei Rui Velho, em 1504 outro Frei Rui Velho, em 1560 Frei António de Saldanha, em 1607 dom Frei Francisco de Almeirim e em 1619 parece ter acabado a nomeação de comendadores freires pois a Comenda da Beselga é doada ao Conde de Soure.

No registo efectuado pelo escrivão da visitação Rodrigo Ribeiro em 17 de Outubro de 1504 a Comenda da Beselga tinha o seguinte património pelo qual recebia as seguintes rendas e foros (quadro retirado de “A ordem de Cristo (1417-1521)" pags. 196,197 ):






O território em que se situa actualmente Porto da Lage, pelo menos o localizado  nas margens da ribeira,  pertencia à Comenda da Beselga. Comenda limítrofe era a do Paul e Cem Soldos que deverá ter surgido mais tarde atendendo a que ainda não é nomeada em 1326.
Casal ou Quinta da Belida pagava foro à Comenda da Beselga pois em 1658 o licenciado Diogo Alvares de Sousa confirma o aforamento que tinha sido celebrado com o seu avô Jorge Fernandes, por três vidas. Em 1761, o seu bisneto Manuel Pereira de Sousa volta a confirmar o foral. Com o liberalismo, uma vez que a Ordem de Cristo foi "nacionalizada", o foro terá continuado a ser pago, neste caso à Fazenda Pública, terá cessado ou sido comprado?
A tradição popular atribui como sede da Comenda, o local onde o Comendador teria os seus aposentos, o seu Paço portanto, a aldeia que se designa, muito apropriadamente,  de Paço da Comenda. Será? Não encontrei nada que o confirmasse, também nada que dissesse o contrário. Fiquemos-nos pois por o que o povo diz, enquanto não aparece uma douta colaboração que nos esclareça.
A tradição indica também a casa onde terá residido o Comendador ou na qual, pelo menos, eram entregues e recolhidos os bens entregues pelos foreiros àquele. Casa essa em que a alegada "traça medieval" terá existido até há tempo suficiente para ainda haver gente com memória da mesma.
Outra "fonte histórica" associada à comenda, que foi removida do Paço da Comenda há pouco mais de quarenta anos com pesar por parte dos seus habitantes, alguns dos quais ainda hoje lamentam esta perda, é a "pia " que se encontra no adro da capela de S.João em Porto da Lage, mais propriamente nos Vales de Cima. Acredita-se que seria uma tulha em pedra onde se guardavam os cereais. Naturalmente não tenho resposta para isto mas, a ser assim, não será um bem público ou com interesse público  e  não deveria, pelo menos, ser registada em e por quem de direito? Convirá estudá-la ou será coisa tão banal que não valerá a pena? A ser assim, repito-me, porque não voltar ao local onde a memória e o coração ainda a mantêm? (M.F.M.)



Reprodução da "Casa do Comendador" num painel de azulejos existente na sede da Associação 
de Cultura, Desporto e Solidariedade  Social de Paço da Comenda, elaborada a partir de um 
desenho de Augusto Bento da Silva.



A "Casa do Comendador" com o aspecto actual. Fica
 situada no "Canto do Rouxinol."


                                             



O Comendador é lembrado na rua ao lado.

A "pia" da Comenda no adro da capela, nos Vales.


                                          


Bibliografia consultada: Silva, Isabel L. Morgado de Sousa e, A ordem de Cristo (1417-1521), revista Militarium Ordinum Analecta, publicação anual do Seminário Internacional de Ordens Militares, Instituto de Documentação Histórica, Faculdade de Letras da Universidade do Porto

21 de maio de 2016

Ainda o 3 de Maio

 Ainda sobre o contributo que H.C.M. nos trouxe sobre a comemoração do dia 3 de Maio pelos meninos da escola de Porto da Lage, temos mais uma informação: entre a proclamação da República e a Revolução de 1930, o Brasil celebrava aquele dia, que era feriado nacional, como o da sua descoberta.




14 de maio de 2016

13 de Maio de 1967


Cinquenta anos depois do primeiro, acontece, para nós netos, o segundo e desta vez incontestável milagre! João Pereira da Mota abandona, numa manhã de um semanal dia radioso, a sua faina diária, atravessa a sua pontesinha particular, entra no clube, senta-se e assiste maravilhado, pela TV, à celebração da missa pelo "Santo Padre" em Fátima. (MFM)







3 de maio de 2016

3 de Maio - Dia de Vera Cruz, em Porto da Lage e em Stratford-upon-Avon


O portodalagense H.C.M. diz:

"Em Porto da Lage, no dia 3 de Maio, os miúdos da escola iam “plantar” cruzes de cana cheias de flores; era dia da Vera Cruz e dizia recordar a descoberta do Brasil. Erro histórico que a professora tolerava."

                                                      
William Shakespeare (1564-1616)
                                     


Parece que o "erro histórico" felizmente, segundo S.Google, ainda se comemora ou comemorava há meia dúzia  de anos e tem mesmo que ver com a descoberta do Brasil.
 O Brasil foi descoberto, dizia-se dantes quando éramos eurocêntricos, foi achado, diz-se agora (ainda não percebi porque é que o verbo achar, ao contrário do descobrir, já não dá a perspectiva da Europa como centro do mundo mas é assim que correm as coisas) em 22 de Abril de 1500. Poucos dias depois a célebre carta de Pero Vaz de Caminha anuncia ao rei D.Manuel I: Deste Porto Seguro, da Vossa Ilha de Vera Cruz, hoje, sexta-feira, primeiro dia de maio de 1500…
É possível, portanto, que a população, que só deve ter sabido do acontecimento muito tempo depois e com a deturpação habitual, passasse a comemorar a data a 3 de Maio.
Ou então é tudo uma questão de Calendário Gregoriano e os onze dias de diferença são só os onze dias de acerto que aquele obrigou em 1582. E quando é para obedecer às ordens lá de fora sejam as do Papa Gregório sejam as de outros quaisquer papas de que tempo for, cá estamos nós prontos!
Melhor sorte, ou não fosse inglês, teve o grande William Shakespeare que, morrendo a 23 de Abril,  continuou a aniversariar a morte no mesmo dia ao longo de 400 anos.   

Mas que interessa uma data? Importante era o que os meninos de Porto da Lage faziam, importante é a lembrança de H.C.M.,mais importante ainda, que se lembre de nós para a partilhar porque, como dizia aquele grande poeta e dramaturgo, “aquilo a que chamamos rosa mesmo com outro nome teria igual fragrante perfume” (MFM) 

1 de maio de 2016

Primeiro de Maio




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Em Portugal celebrava-se desde tempos imemoriais o dia das "Maias" que teria como origem antigos ritos e cultos agrários destinados a assinalar o final do Inverno e a chegada da Primavera. Em algumas regiões colocavam-se na véspera, à noite, as maias (ramos de giestas amarelas) nos buracos das fechaduras, na parte de fora das portas, penduradas das maçanetas ou puxadores, nas varandas e nos parapeitos das janelas, para o diabo não entrar pois este andava à solta na noite de 30 de Abril para 1 de Maio

No dia 1 de Maio de 1886, lá longe nos EUA, milhares de trabalhadores de Chicago juntaram-se nas ruas para protestar contra as  más condições de trabalho e reivindicarem as 8 horas de trabalho diário, acontecimento de tal maneira fortemente reprimido pelas forças policiais que causou feridos e mortos, os quais ficaram conhecidos como "os Mártires de Chicago". Em 1889 o Congresso Operário Internacional, reunido em Paris, decretou o 1º de Maio como o Dia Internacional dos Trabalhadores. 
Ainda mal tinham passado seis anos sobre esta data e já temos noticias que os operários, "os artistas" de Tomar a celebravam convictamente! Passou a ser um dia tradicionalmente festejado pelo operariado e pela pequena burguesia, caixeiros, costureiras, empregados do comércio que, fosse por convicção associativa ou por resquícios  das velhas celebrações das maias, partiam para os campos durante a tarde a fazerem os seus pic-nics, à noite para o comício e terminavam o dia a bailarem nas associações de recreio. Até que o Estado Novo acabou com a festa. Mas uma classe profissional manteve sempre o 1.º de Maio como o seu dia. E celebrava-o. A oficina de um tipógrafo, meu tio cujos 93 anos cá estão para o confirmar,  fechava anualmente neste diatal como todas as outras tipografias,  para o pessoal  fazer o seu pic-nic destinado à prova de vinho (qualquer um). E não houve ditadura que se  atrevesse a acabar com essas provas. (MFM)



5.05.1895

                                                           


3.05.1896

                                               


9.05.1897

                                           

19 de abril de 2016

Uma questão de sapatos

A propósito de um programa de televisão que acabo de ver*, que pretendia, como sempre, concluir com a existência do racismo em Portugal, lembrei-me, como me lembro sempre mas parece que sou só eu, como é fácil justificar o pecado da menorização do próximo com o pormenor ridículo da pigmentação da pele. Espezinha, humilha, explora, no limite escraviza, quem tem poder para isso. Poder que as condições históricas do momento concedem e que, naturalmente vão variando com os tempos- a mó de cima vai alternando. Portugueses de meados de XX passavam fome e andavam descalços  em  Portugal, pelo que demandaram as franças onde eram porteiras e pedreiros e, por isso, eram vítimas de racismo por parte dos franceses,  enquanto outros portugueses exploravam  as colónias onde negros passavam fome e andavam descalços e, por isso, eram vítimas de racismo por parte dos portugueses. Outros portugueses, bem nascidos e bem pensantes, viajavam até Paris para arejar as cabeças oprimidas pelo obscurantismo da Pátria, envergonhando-se da bestialidade dos compatriotas que lavavam os vidros das montras e se empoleiravam nos andaimes dos "bâtiments", fugindo de falar português para não serem confundido e, por isso, tornavam vítimas de racismo duplamente outros portugueses (?). Hoje, os filhos daqueles também já rumam às franças por necessidade e os paisinhos deitam as mãos aos cabelos por os seus meninos, coitadinhos, serem obrigados a "ir para fora", enquanto hordas de angolanos escurinhos entram pelas lojas da Avenida da Liberdade e saem carregados de sacos a pernoitar no Ritz. A mó de cima é agora outra. Já não há portugueses rurais e de pé descalço, continua a haver africanos com fome e inúmeras doenças mas deixou de ser problema nosso, os subúrbios das grandes cidades  abarrotam de gente que trabalha nas mais desvairadas horas, se transporta de metro e deixa os filhos sozinhos o dia todo, o que faz com que o tuga bem comportado se recuse a enfiar "nos transportes públicos" por estes não terem "qualidade" e terem de chegar a horas aos empregos "superstressantes", pelo que precisam de comprar carro novo amiudamente,  e tenha que meter os filhos, quando os tem, no colégio tal, para não os misturar com os miúdos dos bairros sociais. Não, os portugueses não são racistas, seriam quanto muito castistas, de castas, se tivessem uma cultura que lhes permitisse permanecer numa casta algumas gerações ou para sempre como os hindus, mas não, os portugueses são "camadistas" vivem em camadas aspirando sempre a ascender à camada de cima. (MFM)

Eu sou a  que tem sapatos mas, lembro-me bem, muito contra a minha vontade.


* ontem dia 18/04

18 de abril de 2016

Mudam os tempos e as paisagens, apenas.


                                                  


À espera de alimentos na noite do Porto.

                                                   
15.02.1885






31.10.1886

























                                           10.02.1889


26.04.1896



11 de abril de 2016

Alfredo Keill



Alfredo Keill,o autor da nossa Portuguesa também, já aqui o dissemos,  deve ter entrado algumas vezes na estação de Paialvo, como desta vez, em que escolheu o local dos Valles, na Sertã, para veranear e trabalhar. Talvez fosse por aqui que encontrou este Telheiro do ferrador e decidiu passá-lo à tela.




20.09.1896

Telheiro do Ferrador, Alfredo Keill



1.12.1895





8 de abril de 2016

Adães Bermudes, mais excursionistas e sempre Paialvo


A tipologia geral das escolas Adães Bermudes.

Adães Bermudes  (1864-1948) foi um arquitecto neo-romântico, divulgador da arte nova em Portugal, vencedor do prémio Valmor, autor de muitos edifícios das chamada Avenidas Novas e de outros distribuídos por Lisboa e pelo país, co-autor do Monumento ao Marquês de Pombal em Lisboa, etc. Porém, é hoje em dia lembrado por o seu nome estar ligado à tipologia de escolas primárias projectadas nos finais de oitocentos. Em Tomar existiu uma destas escolas, a da Várzea-Grande, aquela onde durante décadas as crianças de todo o concelho iam fazer o velho exame da 4.ª classe. Foi demolida nos anos oitenta do sec.XX. Desconheço os motivos que levaram a edilidade tomarense a tomar esta decisão, hoje em dia estes edifícios são as meninas dos olhos das localidades que os possuem. Teria talvez, já um bocado fora de tempo, a “embirração” do escritor Fialho de Almeida que, quando morreu em 1911, deixou em testamento dinheiro para a construção de uma escola com a condição de não ser em "estilo Bermudes”.(MFM)


29.12.1895





14 08 1898


Fotografia da Várzea Grande de 1934 (parada de bombeiros) , onde se pode ver a antiga Escola Primária de tipologia Adães Bermudes. As fotografias abaixo são de autoria desconhecida e não se encontravam datadas.











O interior de uma sala de aula. Um festival de luz.
                                                           

6 de abril de 2016

Cipriano Martins



A Escola de Desenho Industrial Jacome Raton foi criada em Tomar em 1884 juntamente com mais outras sete em todo o país.



14.12.1884
19.10.1884
                                                   


26.07.1885


                       
9.11.1890

                                                     
                                                                                                 
Foi seu primeiro director outro pintor do Grupo do Leão José Joaquim Cipriano Martins (1841-1888) um paisagista, mas sobretudo retratista, que viveu em Tomar e se inspirou na paisagem tomarense para realizar algumas das suas obras.


Capela Real de S.João BaptistaJosé Joaquim Cipriano Martins, 1886
                                                           


13.12.1885