Si hortum in biblioteca habes deerit nihil

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16 de março de 2012

Capela de S.João em Porto da Lage


Capela construída no inicio dos
anos 70 do sec. XX
  Sem o saber, o dr. Henrique Pereira da Motta, que erigiu esta ermida, seguiu um "arquétipo" fenício. A começar pela escolha do sítio, nos Vales ou junto aos Vales. Este topónimo não tem a ver com a orografia (se o tivesse seria um contra-senso porque fica num alto) mas com a antiga cultura e religião dominante: a fenícia. Vales é uma deformação de Baal (Senhor) a divindade suprema da Fenícia. O facto de ter sido erigida num cabeço também está de acordo com as religiões semitas que se sentem atraídas pelas alturas. Esta acrofilia também se verifica ao nível da religião popular portuguesa.
A capela é dedicada a S. João. Ora S. João, no entender de Moisés Espírito Santo "encontra-se associado a uma divindade popular fenícia que é o Sol, ao messianismo hebraico...Antes de mais, S. João é deus solar...Baalseiman (Deus Sol)...A sua parceira era a Lua (Ishtar)..." A festa de S. João representa a cristianização de um antigo culto solar.
A forma hexagonal da capela..."corresponde ao perímetro do emblema solar formado por dois triângulos cruzados (o signo de seimão), um emblema do Sol, por referência à divindade Baal Seiman, Senhor Sol. O perímetro hexagonal sob o qual assenta a capela (de Gulpilhares) seria a "casa do Sol" (V. Moisés E.S. "Origens Orientais da Religião Popular Portuguesa")
As formas mais antigas dos cultos fenícios tinham lugar em sítios altos, ao ar livre, recorrendo a pedras como meio de sinalizar o local sagrado. As Pedras, conhecidas por bétilos representavam não a divindade, mas "Beth El", a casa de Deus. O local onde foi construída a capela era um local pedregoso, de tal modo que um poema que o dr. Motta escreveu para a inauguração começava com estas palavras: "Entre as pedras foi erguida..."



Porto da Lage e os transportes no ínicio do sec.XX

carro- tipo referido no texto.

Quando não havia ramal de Tomar, os passageiros saíam do comboio em Porto da Lage onde havia carros de mulas para os levar à cidade. Havia três classes como nos comboios; os preços eram diferentes mas os lugares eram semelhantes. Aos que reclamavam, o tio Manuel Augusto replicava que mais tarde perceberiam a razão.
No início das subidas mais suaves, apeavam-se os da terceira classe; depois os da segunda e, por vezes, os da primeira.Nas ladeiras mais íngremes os da terceira eram chamados a empurrar e assim sucessivamente até que, perto do cume, até os da primeira, contrariados, ajudavam. Era em Cem Soldos.

(texto publicado  aqui por H.C.M em 25.3.07)

Baptismo de Josepha, natural de Porto da Lage



 Cópia do livro de Assentos de Baptismo
1691-1713 da Paróquia da Madalena - Tomar, ANTT

"Ao primeiro dia do mês de setembro de mil seiscentos e noventa e sete anos baptisei e pus os santos óleos a Josepha filha de Joseph Lopes e de sua mulher Maria Lopes moradores no porto da lagem. Padrinho Joseph Godinho Ribeiro por procuração de Luísa Reis da Ribeira de ...... Bispado de Leiria e por ser verdade fiz este termo que assinei dia e mês dra ut sup
Frei António Amador "

A mãe e a Criança- Jon Steen (1625-1679)

15 de março de 2012

Porto da Lage e a Estação de Paialvo


Porto da Lage, tal como a conhecemos, nasceu com a chegada do comboio em 1864.
              A Linha do Norte, no seu traçado entre o Entrocamento e Coimbra tinha, duas paragens à frente daquele, uma pequena estação de 4.ª categoria, chamada de Payalvo, localizada precisamente em Porto da Lage.



Mas Porto da Lage, ou Porto da Lagem, já existia. Localização de um Moinho na Ribeira da Beselga, de uma estalagem à beira da velha Estrada Real que durou até finais do sec.XVIII ou nome de Quinta, Porto da Lage sempre esteve ali- varzea à beira da Ribeira da Beselga,

14 de março de 2012

O Que viu Lady Jackson?



                                    
                                                 Imagens de Portugal rural da época, retratadas pelo percursor
                                                 do Naturalismo em Portugal - Silva Porto

As uvas de Porto da Lage que Lady Jackson admirou

Chegamos a Payalvo (Paialvo) estação da interessantissima cidadesinha de Thomar. Os arrabaldes são bonitos, com graciosas estradas enverdecidas, e toda a campina em redor ás ondulações graciosas. O arvoredo é magnifico. Como os olhos se refrigeram n'aquellas copas de folhagens! A terra faz muita differença do que é lá para Santarem. Aqui não ha aquelle faiscar cauzado pelas scintillações do saibro branco tão incommodas para a vista. Feracissima vegetação, flores e fructos por toda a parte em abundância. Desejava que visse os esplendidos cachos de uvas que comprei n'esta estação, a uma rapariga rozada, de ollios ardentes e chapéu desabado e empennachado de murtha e cravos. O cacho estava mais perto de pesar dous arráteis que um. Os bagos todos perfeitos e grandes, verdes e levemente tintos de azul. «Quanto é?» perguntei eu quando ella m'o chegou a portinhola da carruagem, «é uma pataca, minha senhora». Uma pataca é quarenta reis.

Eu poderia obte-lo por trinta, se regateasse, mas apenas encolhi os hombros, a la portugaise, e respondi: «Caro, muito caro».                                    Ao que ella redarguiu com razão:« Porém, é tão boa». Estufa nenhuma ainda produziu mais perfeita pintura, nem mais delicioso sabor. Tencionara eu, n'esta direcção, estender a minha viagem a Thomar, que contém diversos edifícios antigos, e outras relíquias do passado.
Trecho de «A Formosa Lusitânia» por Lady Jachson,  tradução de Camilo Castelo Branco1878

Lady Jackson em Porto da Lage em 1873

Em 1873, de Junho a Outubro, Catherine Charlotte Jackson viaja por Portugal.
Das suas impressões sobre o nosso país resulta um livro "Fair Lusitânia" que será traduzido para português por Camilo Castelo Branco.
Também Porto da Lage faz parte deste "livro digno e honrado", como lhe chamou aquele escritor, embora o considere cheio de "inexactidões" e "excentricidades".

Gervásio Lobato em Porto da Lage em 1885


"Finalmente, como tudo passa n'este mundo, passaram-se os vinte minutos d'espera do Entroncamento e d'alli a coisa d'um quarto d'hora chegavamos a antiga estação de Payalvo, agora tão abreviada por Thomar que ate Ihe tirou o seu velho nome, e apeavamo-nos a correr.
A estação é pobre e modestissima.
A porta, - do outro lado - estacionam tres char-a-bancs medonhos, cremos que ainda da epocha dos templarios, e onde uns conductores mal vestidos accomodavam os passageiros com o mesmo carinho como que em Nantes se accomodavam sardinhas em latas.



char-a-banc
Com menos ainda, porque os fabricantes das conservas fazem certo capricho em que as suas sardinhas fiquem bem acariciadinhas e os homens do char-abancs importavam-se pouco com isso.
Gragas a Deus, e a um barbeiro da travessa da Victoria nós tinhamos mandado prevenir o Prista, o dono do melhor hotel de Thomar, para que enviasse à estação umas carruagens.
Essas carruagens são boas, commodas, tem bom

gado e fazem excellente serviços

A estrada da estação de Payalvo a Thomar é uma bella estrada real, cheia de excellentes pontos de vista, mas parece que não tem fim.
E comprida como o demónio, o caminho da estação à cidade, e ao cabo de boa meia hora de andar a bom andar, chegamos à cidade
".[extracto do artigo "Três dias em Thomar" publicado na revista "O Occidente"-1885] 

A Fonte 2

Hoje, já não somos, nem nos julgamos, obrigados a agradecer ...só desrespeitamos...

A Fonte 1

Num tempo  em que, apesar do esforço ser nosso, ainda se agradecia respeitosamente (a quem de direito?) ....

A Fonte

A fonte foi construída por iniciativa da população, para prover às suas necessidades.